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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
W_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
00
SUMARIO

"Minha Fé"

00 O Fiéis Leigos na Igreja


Ul

o A Declarapao de Colonia
I-
oo
LU O Linguajar do "Cristao Marxista"

"Os Versos Satánicos" por Salman Rushdie

As Seitas e seu avanpo

"A Cidade dos Sete Planetas" por Polo Noel Atan


tu
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Projeto "Palavra-Vida" e outros temas
00
O
ce
a.

ANO XXX JUNHO 1989


IGUNTE E RESPONDEREMOS JUNHO - 1989
Publicado mensal NP325

SUMARIÓ
retor-Responsdvel:
Estévao Betiencourt OSB "Minha Fé" (Joaquim Nabuco) 241
Autor e Redator de toda a materia
Os ecos do Sínodo dos Bispbs*:
publicada neste periódico
Os Fiéis Leigos na Igreja 243

retor-Adminisirador: A autoridade da Santa Sé:


D. Hildebrando P. Martins OSB A Declaracao de Colonia 255 /
Entre as correntes do pensamen'to mo- ' .-
Iministracao e distribuicao: derno: /
Edicoes Lumen Christi O Linguajar do "Cristáb Marxista" . . . 260 '
Dom Gerardo, 40 - 5? andar. S/501
Discute-se um livro: ,:
Tel.:(02J) 291-7122
"Os Versos Satánicos" por Salman '
Caixa Postal 2666
Rushdie. 267
20001 - Rio de Janeiro RJ
Desafio candente:
As Seitas e seu avanco 278

A "Ordem dos 49":


I 1URQUES-SAIMIVA- "A Cidade dos Sete Planetas" por Polo
. GMUCOS t tWTOVS 3 A
Noel Atan 284
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Fala o Celam:
Projeto "Palavra-Vida" e outros te
mas 287

NO PRÓXIMO NÚMERO:

326-Julho- 1989

"A Biblia na Linguagem de Hoje". — Profissáo de Fé e Juramento de Fideli-


dade. - "Perestroika" e Religiao. - Caricaturas do Sagrado. - "Pró-Vida.
Integragáo Cósmica". — As Pirámides:efeitos maravilhosos?

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

INATURA ANUAL: NCz$ 15,00


Pagamento (á escolha)-

1. VALE POSTAL a Agencia Central dos Correios do Rio de Janeiro.

2. CHEQUE BANCÁRIO

3. No Banco do Brasil, para crédito na Conta Corrente n° 0031, 304-1 em


nome do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, págável na Agencia da
Praga Mauá (n? 0435).
" Minha Fé" ^^
A historia está marcada, em todos os tempos, pela presenca de grandes
homens que se debrucaram seriamente sobre a questao do sentido da vida,
questao fundamental para que alguém possa fazer sua escala de valores e dar
rumo aos seus atos. Entre esses vultos, está o de Joaquim Nabuco (1849-
1910), parlamentar abolicionista e escritor hotável, que deixou consignado o
itinerario do seu pensamento na obra "Minha Fé".1
Filho de familia pernambucana católica, Nabuco se deixou impregnar
pelas idéias de Ernesto Renán. Este escreveu urna "Vida de Jesús" numen-
cantador estilo, mas em perspectiva racionalista e romántica — o que levou
Nabuco, estudante de nivel superior, a perder a fé na Divindade de Jesús.
Depois o jovem passou a leituras de evolucionismo, que Ihe empalideceram a
idéia do próprio Deus. Aos poucos, porém, Nabuco foi repensando o que le
ra, e percebeu a necessidade de admitir o Criador do Universo. Mais: refletin-
do sobre si mesmo, dotado de profundas aspiracoes, Nabuco chegou a certe
za de que estas só acham resposta naquele que é a Sabedoria e a Perfeicáo in
finitas; e, visto que nesta existencia terrestre, o homem nao encontra a plena
satisfacSo para os seus mais genuínos anseios, o pensador passou a professar,
sem hesitacáb, a realidade da vida postuma.
O seu caminhar foi progredindo... Nascido dentro do Catolicismo, pós-
se a comparar a fé católica com outras mensagens religiosas, acabando por
averiguar o que ele chama "a superíoridade do Cristianismo" (p.83). Mere-
ceu-lhe especial atencao o problema do mal, que ele finalmente conseguiu
conciliar com a fé em Deus Santo e Misericordioso; sim, o mal tem suas
rafzes na liberdade de arbitrio, da qual o homem abusa; mas Oeus oferece
resgate á criatura infeliz pagando o prego do seu sangue; Jesús, Deus feito
homem, assume a dor e a morte do homem para redimi-lo (cf. p. 66). De
resto, afirma Nabuco: "Deus, urna vez aceito, é urna contradicho absurda
pretender criticar-lhe a obra" (p. 66).
Assim procedendo, Nabuco chegou ao ámago do Catolicismo abracado
convictamente: o sacramento da Reconciliacáo, a veneracao da Virgem Ma
ría, a vida mística... passaram a integrar o conjunto de valores da sua vida.

"O cativeiro dos negros foi a sua apoteose da liberdade ofendida e


exaltada. Já nos últimos anos de vida, meditando sobre o destino do homem
e o seu drama religioso, chegou á conclusáo de que há um cativeiro que é li
berdade: o da fé. E fez-se servo de Deus, como na mocidade fora servo dos
servos" (Nilo Pereira, p. 154).
Historia dos antepassados, escola de vida para os pósteros!...
E.B.

1 Editora Massangana, Retífe 1985. Tradujo, de Aída Batista do Val, do


original francés Foi Voulue.

241
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXX - N? 325 - Junho de 1989

Os ecos do Sínodo dos Bispos:

Os Fiéis Leigos na Igreja

Em límete: A ExortacSo Apostólica do S. Padre Joio Paulo II lembra


aos fiéis leigos, antes do mais, a sua dlgnldade de ramos da Videira-Cristo fcf.
Jo 15,1-5); existe urna comunhSo de vida de cada um com Cristo Cabeca e Cor-
pó (— Igreja). Isto quer dizer que cada crístSo, por efeito mesmo do seu Ba-
tísmo, participa da missSo evangelizados e salvffíca da Igreja. Tal missao é
realizada pelos leigos no sáculo ou no mundo em suas diversos aspectos: a fa
milia, a profissSo, a política, a escola, a Universidade, a cultura, as artes...
Cada qual, a seu modo, pode exerceressa funció missionária, poispara tan
to recebe gracas espadáis do Senhor: jovens, adultos, andSos, atribulados,
homens e mulheres... sejam conscientes do papel que Ihes toca. 0 S. Padre
se detém com especial atencSo sobre o valor dos ancJSos e dos doentes e
sofredores na construcio do Reino de Deus pelo fato de comungarem mais
especialmente com a PaixSo Redentora de Cristo.

A fím de que todos possam exercer com fecundidade a sua missao


evangelizados, requer-se formacao espiritual e doutrinal, que há de ser
propiciada pelos Pastores a todos os fiéis leigos, nao f¡cando os próprios
Pastores excluidos da necessidade de urna permanente atualizacSo.

* * *

0 Concilio do Vaticano II svivou nos fiéis leigos a consciéncia de que


também s86 Igreja e participan) intimamente da comunhao e da missao da
Igreja.

A fim de aprofundar e explicitar esta conviccá"o, reuniu-se em Roma,


de 1? a 30 de outubro de 1987, um Sínodo Mundial de Bispos, que, tendo

242
OS FIÉIS LEIGOS NA IGREJA

considerado o assunto sob varios aspectos, entregou ao Santo Padre Joio


Paulo II as suas observares e propostas. Estas incluiam também as proposi-
c5es de observadores leígos (homens e muiheres) e deviam servir ao Papa co
mo subsidios para elaborar a ExortacSo Apostólica que foi finalmente assi-
nada e promulgada aos 30/12/1988.

O documento é denso e rico, compreendendo Introducao (n? 1-7) e


cinco capítulos:

I. A Dignidade dos Fiéis Leigos na Igreja-Mistério (n? 8-17);


II. A ParticipacSo dos Fiéis Leigos na Vida da Igreja-Comunhao
(n? 18-31);
III. A Co-responsabtlidade dos Fiéis Leigos na Igreja-Missáo (n? 32-
44);
IV. Bons Administradores da Multiforme Graca de Deus (n? 45-56);
V. A Formacá*o dos Fiéis Leigos (n? 57-64).

Examinemos sucessivamente as diversas partes dessa Exortacao.

Introdujo (n? 17)

A Introduclo parte da parábola dos operarios chamados a trabalhar na


vinha do Senhor em diversas horas do dia (Mt 20,1-16). Esses operarios sig-
nificam os cristátos, que sSo pelo Senhor Deus, através do Evangelho e dos si-
nais dos tempos, chamados a exercer seu apostolado em comunhao com a
Igreja. Este apelo nao é novo, pois já SSo Gregorio Magno (t 604) dizia:
"Considerai o vosso modo de viver, carfssimos irmáfos, e vede se já sois traba-
Ihadores do Senhor. Cada qual avalie o que faz e veja se trabalha na vinha do
Senhor" (Homilias sobre o Evangelho I, XIX 2).

Em nossos tempos, poróm, o chamado de todos a missao evangelizado-


ra da Igreja é mait premente, visto que vivemos "urna hora magnífica e dra
mática da historia no limiar do terceiro milenio" (n? 3). "Se o desinteresse
foi sempre inaceitável, o tempo presente torna-o ainda mais culpável. A nin-
guém é lícito f¡car ¡nativo" (n? 3). Entre os problemas que merecem espe
cial atencao dos cristáos, enumeram-se:

- o secularismo e a necessidade religiosa. Isto significa: o indiferentis


mo religioso e o ateísmo arrastam multidSes, "embriagadas pelas conquistas
prodigiosas do progresso científico-técnico. O homem se afasta de Deus e se
prostrá diante dos mais diversos ídolos" (cf. n? 4). — Ao lado disto, poróm,
persistem a aspiracáv< e a necessidade religiosas ligadas a interrogacoes bási
cas, como a do sentido do viver, do sofrer e do morrer. Bem dizia S. Agosti-

243
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

nho: "Senhor, Tu nos fizeste para Ti e inquieto é o nosso corapao enquanto


nSo repousa em Ti" (Confissoes 1,1). Cf. n° 4;

— a pessoa humana espezinhada e exaltada. O ser humano é feito ins


trumento a servipo de individuos ou grupos mais fortes: crianpas, jovens e
andaos sao manipulados, ao mesmo tempo que a miseria física e moral fere
de morte muitos inocentes. — Todavía também é crescente a convicpáo de
que a pessoa humana nao é coisa, mas é sujeito chamado a viver de forma
responsável na sociedade e na historia; a necessidade de participapao aflora
sempre mais na vida pública (n? 5).

Neste contexto está presente a Igreja para dizer a todos os homens que
Jesús Cristo é a esperanpa da humanidade, esperanpa que os fiéis leigos de-
ve m anunciar de maneira insubstitufvel.

I. A dignidade dos fiéis leigos (n? 8-17)

Por "leigos" entendem-se todos os cristaos que nao sao membros da


sagrada Ordem ou do estado religioso regular, mas pelo Batismo sao incorpo
rados em Cristo e participam das funpdes sacerdotal, proféticas e regias de
Cristo, exercendo, pela parte que Ihes toca, a missáo de todo o povo cristáo
(cf. Constituipáo Lumen Gentium n? 31). Nao apenas pertencem a Igreja,
mas sao a Igreja.

A dignidade de filhos de Deus ou filhos no Filho assume nos fiéis lei


gos urna modalidade que a distingue, sem todavia os separar, do presbítero,
do Religioso e da Religiosa. Sim; a índole secular é própria e peculiar dos
leigos. Isto quer dizer que o habitat e o setor de atividades dos leigos é o sé-
culo ou o mundo em seus diversos aspectos: vida familiar, vida profissional,
vida social, vida académica, vida artística... Compete aos leigos exercer suas
próprias funcoes no mundo de tal modo que as impregnem de espirito evan
gélico e contribuam para a santificado do mundo a partir de dentro, como
o fermento. Assim o agir dos leigos no mundo nao é apenas urna realidade
antropológica e social, mas é também teológica e eclesial.

A vocacao dos leigos é tal que, através do seu complexo trabalho no


mundo, devem santificar também a si mesmos, pois todos os cristaos, sem
excepSo, sao por Deus chamados á santidade, qualquer que seja a vocacao
particular que tenham recebido.

A santidade é um pressuposto fundamental da realizacao da missáo da


Igreja. "Só na medida em que a Igreja, Esposa de Cristo, se deixa amar por
Ele e O ama, é que E¡a se torna Mae fecunda no Espirito" (n? 17).

244
OS FIÉIS LEIGOS NA IGREJA

II. A Participado dos Leigos naVida da Igreja-Comunh§o


(n? 18-31)

A Igreja é Comunhá'o. Isto significa que os cristáos sao incorporados


na vida de Cristo e que esta passa de uns aos outros em todo o tecido dos
fiéis neste mundo e no outro. É uniao a Cristo e em Cristo; é uniao entre os
crista*os na Igreja. A comunhá'o eclesial nao pode ser entendida simplesmen-
te como realidade sociológica e psicológica. Os lapos que unem os membros
dessa común hao entre si, nao sao os da carne e do sangue, mas os do Espi
rito Santo, que todos os batizados recebem (n? 19).

Como todo corpo, a comunhao eclesial implica unidade dentro da


multiplicidade de funcSes ou de ministerios, carismas e responsabilidades.
Cf. n? 20.

1) Os ministerios sao todos participacao no próprio ministerio de Je


sús Cristo. Alguns se derivam do sacramento da Ordem e se destinam radi
calmente ao servico do Povo de Deus. Outros competem aos fiéis leigos em
virtude dos sacramentos do Batismo, da Crisma e, para alguns, do Matrimo
nio. O Código de Direito Canónico assinala varias das funcoes que assim
podem ser exercidas pelos fiéis leigos:

a) o ministerio da Palavra, o presidir ás oracoes litúrgicas, o conferir o


Batismo, o distribuir a S. Comunhao segundo as normas do Direito; cf. cá
nones 230 § 3; 517 § 2; 776; 861 § 2; 910 § 2; 943; 1112...

b) na organizacao e administracao das estruturas da Igreja, os leigos


podem exercer diversas funcoes ou tarefas, como membros de Conselhos da
Igreja (can. 228), como docentes de ciencias sagradas (can. 229), como mo
deradores de associacoes nao clericais (can. 317, § 3), como membros de Sí
nodo diocesano (can. 463, § 1, n? 5), como Notarios da Curia-diocesana
(can. 483 § 2), como Ecónomos diocesanos (can. 494), como ministros da
Palavra (can. 759), como catequistas (can. 776), como misionarios (can.
784), como juízes de tribunais eclesiásticos (can. 1421, § 2), comoassesso-
res do juiz eclesiástico (can. 1424), como auditores em tribunais ecle
siásticos (can. 1428 § 2), como promotores de justica e defensores do víncu
lo (can. 1435)... Observa a propósito o S. Padre:

"Na Assembléia Sinodal nio faltaram, ao lado dos positivos, pareceres


críticos sobre o uso indiscriminado do termo 'ministerio', a confusao e o ni-
ve/amento entre o sacerdocio comum e o sacerdocio ministerial, a pouca
observancia de leis e normas eclesiásticas, a interpretacSo arbitraría do con-
ceno de 'suplencia', urna certa tolerancia por parte da própria autoridade le-

245
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

gltima, e 'clericalizacSo' de fiéis higos e o risco de se criar de fato urna estru-


tura edesial de servico paralela á que se funda no sacramento da Ordem.

Precisamente para obviar a tais perigos, os Padres sinodais insistiram


na necessidade de serem expressas com clareza, ató na própria terminología,
quer a unidade de missSo da Igreja, em que partícipam todos os ba tizados,
quera diversidade substancial do ministerio dos pastores, radicado no sacra
mento da Ordem, em relacSo com os outros oficios e as outras funcdes ecle-
siais, radicadas nos sacramentos do Batismo e da Confirmacao... Os pastores
deverSo zelar para que se evite um recurso fácil e abusivo a presumíveis
situacdes de emergencia ou de necessária suplencia, onde objetivamente nSo
existam ou onde é possfvel remediar com urna programado pastoral mais ra
cional" (n? 23).

2} Os carismas sao especiáis dons do Espirito Santo ordenados a edifi-


cacao da Igreja, ao bem dos homens e ás necessidades do mundo. Podem ser
simples e humildes (o cuidado de criancas, o tratamento de enfermos, a cate-
quese...) como podem ser extraordinarios (dons de Ifnguas, profecías, cu
ras...).

Para que os carismas sejam realmente úteis á Igreja, requer-se o dom


do discernimiento, que distinga entre as auténticas gracas do Espirito Santo e
as inspiracoes meramente humanas, que podem brotar do entusiasmo dos
fiéis. É aos pastores da Igreja que compete exercer esse discernimento e vi
giar para que o exercício dos carismas se faca sempre dentro da comunhao
da Igreja

3) Outras formas da participacao dos leigos na vida da Igreja sao:

a) a ¡nsercao na acao pastoral da respectiva paróquia: pastoral do Ba


tismo, da Crisma, do Menor, dos Casáis, dos Enfermos, Conselhos paro-
quiais...

b) o apostolado pessoal ou individual, que cada um exerce entre fami


liares, vizinhos, amigos, colegas de trabaIho, pois onde quer que esteja um
fiel católico, ai está a Igreja, cuja Cabeca é Jesús Cristo;

c) O apostolado em grupos ou movimentos dos quais muitos estío


sendo atualmente suscitados pelo Espirito Santo, atendendo ás novas neces
sidades da Igreja. Sejam mencionados, em particular, os movimentos de
Acao Católica, fundada por Pió XI e ainda viva, sob novas formas, em alguns
países. Esses grupos sao genumos na medida em que correspondem aos cha
mados "criterios de ectesialidade" ou na medida em que conservam a comu
nhao com a Igreja universal. Tais criterios sao:

246
OS FIÉIS LEIGOS NA IGREJA

— o primado dado á vocacao de cada cristSo á santidade. Toda congre-


gapao de fiéis leigos é chamada a ser cada vez mais instrumento de santidade;

— a responsabilidade em professar a fé católica, em consonancia com o


magisterio da Igreja, que auténticamente a ensina;

— o testemunho de urna comunhao sólida e convicta, em relagao com


o Papa e com o Bispo local e na estima recíproca entre todas as formas de
apostolado da Igreja;

— a conformidade e a participacao na finalidade apostólica da Igreja —


o que implica um entusiasmo missionário que torne os fiéis leigos sujeitos de
nova evangelizacao;

— o empenho de presenca na sociedade humana, que, a luz da doutri-


na social da Igreja, se coloque a servico da dignidade integral do homem.

A fidelidade a estes criterios há de produzir seus respectivos frutos


concretos, tais como "o gosto renovado pela oracao, a contemplacao, a vida
litúrgica e sacramental; a animacao pelo florescimento de vocacóes ao matri
monio cristáo, ao sacerdocio ministerial, a vida consagrada; a disponibilidade
em participar nos programas e ñas atividades da Igreja a nivel tanto local co
mo nacional ou internacional; o engajamento catequético e a capacidade pe
dagógica de formar os cristaos; o impulso em ordem a urna presenca crista
nos varios ambientes da vida social e a criapao e animacáo de obras caritati
vas, culturáis e espirituais, o espirito de desapego e de pobreza evangélica em
vista de urna caridade mais generosa para com todos; as conversoes a vida
crista ou o regresso á comunhao por parte de batizados afastados" (n? 30).

Aos Pastores da Igreja toca o dever de acompanhar todas as formas de


apostolado dos leigos para o bem da Igreja como tal e para o bem dos pro-
prios fiéis. Existe o Pontificio Conselho de Leigos em Roma,que recebeu o
encargo de elaborar o elenco das associapoes oficialmente aprovadas pela
Santa Sé.

Concluindo este capítulo, observa o Santo Padre:

"Ser-responsáveis pelo dom da comunhSo significa, antes do mais, em-


penharmo-nos na Vitoria sobre toda tentacio de divisSo e contraposicSo que
ameaca a vida e o engajamento apostólico dos cristaos... Ressoem como ape
lo persuasivo estas palavras do Apostólo: 'Exorto-vos, irmios, em nome de
Nosso Senhor Jesús Cristo, a serdes unánimes no falar, para que nSo haja divi-
soes entre vos, mas viváis em perfeita uniSo de pensamento e de propósito'
(1 Cor 1,10)" (n? 31).

247
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

III. A Co-responsabilidade dos Fiéis Leigos na Igreja-Missáfo


(n? 32-44)

A insercSo dos leigos na ComunhSo da Igreja faz que participem da


missab da Igreja, que é, antes do mais, evangelizar o mundo: "Evangelizar é
a grapa e a vocacSo própria da Igreja, a sua identidade mais profunda" (Pau
lo VI, Evangelü Nuntiandi 14).

A situacáo atual do mundo e da própria Igreja, ameacados pelo sécula-


rismo, exige, da parte dos cristaos, uma resposta mais pronta e generosa ao
apelo de Cristo: "Ide e pregai o Evangelho" (Mt 28,18-20). Pode-se mesmo
falar de uma nova evangelizacao, que se destina nao somente aos pagaos,
mas também aos cristaos afastados do Evangelho: "O problema missionário
apresenta-se hoje a Igreja com tal amplitude e gravidade que só se todos os
membros da Igreja o assumirem de forma verdaderamente solidaria e res-
ponsável, tanto singularmente como em comunidade, é que se poderá con
fiar numa resposta mais eficaz" (n? 35).

Essa urgente evangelizacao há de se atualizar de modo especial em al-


guns setores, como

— a promocSo da dignidade humana. É preciso recordar em alta voz


que o homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem. "A pes-
soa humana nao é um número, nao é o anel de uma cadeia, nem uma peca
da engrenagem de um sistema. A afirmacao mais radical e exaltante do valor
de cada ser humano foi feita pelo Filho de Oeus ao encarnar-se no seio de
uma mulher" (n? 37);

— a promocfo da dignidade humana implica o ¡nviolável respeito á vi


da de cada individuo; cada qual tem direito á saúde, á casa, ao trabalho, á fa
milia, á cultura..., direitos decorrentes do direito frontal á vida. A defesa deste
direito é tanto mais urgente quanto mais sabemos estar ameacado por uma
"cultura de morte". - De modo especial, o respeito á vida humana se impoe
na área das ciencias biológicas e médicas; o homem já é capaz de manipular a
vida humana no seu infcio e ñas primeiras fases do seu desenvolvimento. Os
fiéis leigos que atuam ñas esferas médica, social, legislativa e económica, de-
vem corajosamente enfrentar os desafios que Ihes lancam os novos proble
mas da bioética;

— o reconhecimentó da dimensSo religiosa do homem, que implica o


direito a liberdade de consciéncia e á liberdade religiosa. A Igreja está ciente
do heroísmo de muitos filhos seus que vivem como incansáveis testemunhas
da fé em uniáo fiel com a Sé Apostólica, apesar das restricóes á liberdade e
da falta de ministros sagrados; a tais cristaos toca especial gratidao da Santa
Máe Igreja;

248
OS FIÉIS LEIGOS NA IGREJA

— a preservacao da familia, célula fundamental da sociedade e primei-


ro campo de apostolado dos fiéis leigos;

— o exercício da caridade, que se exprime pelas obras de misericordia,


é e será sempre necessário, embora se criem instituicoes que também pr.ocu-
ram responder as carencias humanas. Estas sao beneméritas, mas a sua com-
plexidade e a sua variegada organizacao acabam por esvaziá-las, dando lugar
á burocracia exagerada, ao funcionalismo impessoal e ao desinteresse fácil;

— participacSo na polftica, a fim de fomentar a justa ordem e o bem


comum da sociedade. O espirito de servico há de nortear a atividade, supe
rando certas tentacóes como o recurso á deslealdade e á mentira, o desperdi
cio do dinheiro público, o uso de meios ilícitos para conquistar o poder;

— a orientacao da vida económico-social para a pessoa humana. A pro-


priedade particular decorre dessa valorizapao do ser humano; cabe-lhe urna
intrínseca funcao social, de modo que deve estar encaminhada para o servi
co da coletividade. O trabalho há de ser urna das expressoes do zelo cristáo
empenhado em fazer o mundo mais digno de Deus; da i a necessidade de se
lutar contra o desemprego e as injusticas que ocorrem no mundo do traba
lho. - 0 respeito á natureza ou á ecologia nao é apenas urna exigencia da
saúde e do bem-estar públicos; é também um ditame da consciéncia moral,
que se senté responsável pelos dons outorgados por Deus ao homem;

— a evangelizado da cultura requer que os cristáos estejam presentes


ñas escolas, ñas Universidades, nos lugares de pesquisa científica e técnica,
nos ambientes da criacá*o artística e da reflexao humanista. Neste contexto
sao de enorme importancia os meios de común ¡cacao social ou os mass-
madia, nos quais os leigos costumam ter atuapao decisiva; sejam utilizados
para a difusfo da verdade e do bem e nunca para z manipulagao dos respec
tivos usuarios.

IV. Bons Administradores da Multiforme Grapa de Deus


(n? 45-56)

O Senhor chama para trabalhar na sua vinha operarios de diversas ho


ras do dia (cf. Mt 20,1-16), isto é, jovens, enancas, adultos, andaos... Entre
estes há o sexo feminino e o sexo masculino como também sadios, doentes e
atribulados...

J. Os jovens merecem especial atencao, pois em muitos países do mun


do representam a metade de toda a populacao. Nao sao apenas objeto da so-
licitude pastoral da Igreja, mas também su jeitos ativos de evangelizacáo. Pa-

249
10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

ra que a exercam devidamente, sejam envolvidos em um diálogo que Ihes es-


clareca as ¡nquietacoes, as angustias e os receios.

2. As cri ancas sSo o símbolo eloqüente das condicoes moráis e espiri-


tuais que sao essenciais para se entrar no Reino de Deus. Tém urna presenca
benéfica na Igreja doméstica, contribuindo a seu modo para a santificado
dos país.

3. As pessoas ¡dosas nao sejam consideradas como inúteis ou como far


do insuportável. Procurem superar a tentacSo de se refugiar nostálgicamente
num passado que ná"o volta mais e de fugir das solicitacoes presentes; as suas
funcóes na Igreja e na sociedade n3o se esgotam por razoes de idade, mas
adquirem modalidades novas. Oizia o Santo Padre por ocasiáo do Jubileu
dos idosos:

"A entrada na terceira idade deve considerarse um privilegio, nSo ape


nas porque nem todos tém a sorte de atingir essa meta, mas também e sobre
todo porque esse é o lempo das possibilidades concretas de pensar melhor
no passado, de conhecer e viver com maior profundidade o misterio pasca!,
de se tornar, na Igreja, exemplo para todo o Povo de Deus... Apesar da com-
plexidade dos problemas que tendes para resolver, as torcas que progressiva-
mente se vio enfraquecendo, e apesar das insuficiencias das organizares so-
dais, os atrasos da legislacio oficial, as incompreensoes de urna sociedade
egoísta, vos nSo estáis nem deveis sentir-vos á margem da vida da Igreja, ele
mentos passivos de um mundo em movimento excessivo, mas sujeitos ativos
de um período humanamente e espiritualmente fecundo da existencia huma
na. Tendes aínda urna missao para cumprir, um contributo a dar. Segundo o
plano divino, cada ser humano é urna vida em crescimento, desde a primeira
centelha da existencia até o último respiro" (cf. n? 48).

4. Á mulher toca indispensável papel na edificapao da Igreja e no pro-


gresso da sociedade:

"Embora nSo tenham sido chamadas para o apostolado próprio dos Do-
ze e, portanto, para o sacerdocio ministerial, muitas mulheres acompanham
Jesús no Seu ministerio e dSo assisténda ao grupo dos Apostólos (cf. Le
8,2s) e, na madrugada de Páscoa, recebem e transmitem o anuncio da ressur-
reicio (cf. Le 24,1-10); rezam com os Apostólos no Cenáculo á espera de
Pentecostés (cf. At 1.14).

Ñas pegadas do Evangelho. a Igreja das origens diferenciou-se da cultu


ra do tempo e confiou é mulher tarefas ligadas é evangelizacio. Ñas suas Car
tas, o Apostólo Paulo cita, até pelo nome, numerosas mulheres pelas suas va
riadas funcoes no seio e ao sen/ico das primeiras comunidades eclesiais (cf.

250
OSFIÉIS LEIGOSNAIGREJA 11

Rm 16,1-15; Fl 4,2s; C/ 4,15 e Wor 11,5; 1 Tm 5,16). 'Se o testemunho dos


Apostólos fundamenta a Igreja — disse Paulo VI -, o das muiheres contribuí
para alimentara fé das.comunidades cristas.

'£ como ñas origens, assim na evolucao sucessiva, a Igreja teve sempre,
mesmo se de modos diferentes e com diversas ácentuapoes, muiheres que de-
sempenharam um papel, por vezes decisivo, e realizaram tarefas de conside-
rável valor para a própria Igreja. É uma historia de ¡mensa operosidade, o
mais das vezes humilde e escondida, mas nem por isso menos decisiva para o
crescimento e para a santidade da Igreja. c necessário que essa historia con
tinué e, mesmo, se alargue e intensifique perante a crescente e universal
consciéncia da dignidade pessoal da mulher e da sua vocacSo, bem como pe
rante a urgencia de uma nova evangelizado e de rnaior humanizacao das
relacoes sodais" (n? 49).

0 S. Padre repete o que já escreveu na sua Carta Apostólica sobre a


Dignidade da Mulher: o que faz a grandeza de alguém, nao é a fungió que
exerce, mas a santidade (n? 26).' Ora a mulher é chamada a esta, exercendo
outras funcoes que nao o sacerdocio ministerial, funcSes que o novo Código
de Direito Canónico enuncia, dando ás muiheres, entre outras atribuicoes, a
participacá'o nos Conselhos pastorais diocesanos e paroquíais assim como
nos Sínodos diocesanos e nos Concilios particulares (ver cánones 228;
463 §1°, n? 5).

Acrescenta JoSo Paulo II:

"Ao desempenhar a sua tarefa de evangelizacSo, a mulher sentirá mais


viva a necessidade de ser evangelizada. Assim, com 'os olhos iluminados pela
fé' (cf. Ef 1,18), a mulher podará distinguir entre o que verdadeiramente res-
ponds á sua dignidade pessoal e á sua vocacSo, e tudo o que, talvez sob o
pretexto dessa dignidade e em nome da llberdade e do progresso, faz com
que a mulher nSo contribua para o fortalecímentó dos verdadeiros valores,
mas, pelo contrario, se torne responsével da degradacao moral das péssoas,
dos ambientes e da soaedade. Realizar um tal discernimento é uma urgénda
histórica inadiável e, ao mesmo tempo, uma possibilidade e uma exigencia
que derivam da participacá'o da funpfo profética de Cristo e da sua Igreja
por parte da mulher crista. 0 discernimento, de que fala multas vezes o
Apostólo Paulo, nio consiste apenas numa avaliacSo das realidades e dos
acontecímentos á luz da fé; é também uma decisSo concreta e um enga/a-
mentó operativo, nao só no ámbito da Igreja, mas também no di sociedade
humana" (n? 51).

Cf. PR 320/1989, p. 13.

251
12 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

5. De modo especial, cabem ás muiheres duas grandes tarefas no mun


do de hoje:

>— dar plena dignidade á vida matrimonial e a maternidade;

- assegurar a dimensao moral da cultura ou a dimensao de urna cultu


ra digna dohomem:

"A mulher Deus Criador confiou o homem. Sem dúvida, o homem foi
confiado a cada homem, mas de modo particular- a mulher, porque precisa
mente a mulher parece possuir, gracas á experiencia pessoal de sua materni
dade, urna sensibilidade específica para com o homem e para com tudo o
que constituí o seu verdadeiro bem, a comecar pelo valor fundamental da vi
da" (n? 51).

6. NSo se deveria, porém, esquecer que em varias situacSes da Igreja a


mulher está muito presente, mas faltam os homens; é o que se dá, por exem-
pío, na participacao na orac3o litúrgica da Igreja (S. Missa e Liturgia das Ho
ras), na educacSo e, em especial, na catequese dos próprios filhos e de outras
enancas, em encontros religiosos e culturáis e em iniciativas caritativas e mis-
sionárias. Em conseqüéncia, verifica-se a urgencia pastoral de conseguir a
presenca coordenada de homens e muiheres para se tornar mais completa e
rica a participacao dos leigos na missao salvffica da Igreja.

7. A realidade humana é profundamente marcada pelo sofrimento e a


dor. Por isto os atribulados e doentes merecem urna palavra de particular re
conforto. Também eles sao enviados pelo Senhor como trabalhadores á sua
vinha. O peso da dor permite-1hes participar no crescimento do Reino de
Deus segundo modalidades novas e preciosas; com efeito, "completam em
sua carne o que falta á Paixá'o de Cristo, em favor do seu Corpo, que é a
Igreja" (Cl 1,24), exercendo assim urna forma de corredenpao muito fecun
da. É necessário que este aspecto positivo e valioso do sofrimento seja ex
posto aos enfermos e atribulados para que se possam abrir ás grapas resultan
tes da compaixá*o com Cristo.

6. Na Igreja, os trabalhadores da vinha pertencem a diversos estados de


vida: uns sá*o sacerdotes, outros Religiosos ou Religiosas e outros ainda, lei
gos. Todavia essas diversas vocapoes sSo apenas modalidades segundo as
quais se vive a igual dignidade crista e a universal vocapáo á santidade. Sao
vocaeñes diferentes e, ao mesmo tempo, complementares.

O próprio estado laical comporta diversas vocapSes concretas, que po-


dem encontrar nos Institutos seculares a sua realizapao; estes abrem aos lei
gos a possibilidade de professar os conselhos evangélicos de pobreza, castida-

252
OSFIÉIS LEIGOSNAIGREJA 13

de e obediencia por meio'de votos oü promessas, sem perder a sua condigio


laical. S. Francisco de Sales, que muito promoveu a espiritualidade dos leí-
gos, lembra como os cristaos podem viver a vocacá*o á santidade em diversos
estados de vida:

"Na criacao Deus ordenou ós plantas que produzissem os seusfrutos,


cada qual segundo a própría espide. A mesma ordem dá aos cristaos, que
sao as plantas vivas da sua Igreja, para produzírem frutos de devocSo, cada
um segundo o seu estado e a sua condicSo. A devocSo deve ser praticada de
forma diferente pelo cavalheiro, pelo operario, pelo doméstico, pelo prínci
pe, pela viuva, pela mulher solteira e pela casada. Isto nSo basta; é preciso
também conciliar a prática da devocSo com as torcas, os empenhos e os de
veres de cada pessoa... é um erro, urna heresia mesmo, excluir do ambiente
militar, da oficina dos operarios, da corte dos príncipes, das casas dos cdnju-
ges, a prática da devocSo. É verdade, Filotéia, que a devocao puramente con
templativa, monástica e religiosa só pode ser vivida nesses estados, mas, além
destes tres tipos de devocSo, há muitos outros capazes de tornar perfeitos os
que vivem em condicdes seculares. Por isto, onde quer que nos encontremos,
podemos e devemos aspirar á vida perfeita" (n? 56).

V. A Formacao dos Fiéis Leigos (n? 57-63)

Para que os fiéis possam crescer e dar fruto, como ramos fecundos da
Videira-Cristo, requer-se, entre outras coisas, urna boa formacao.

Após ter descoberto o que Deus quer de cada um, disponham-se os


fiéis a realizá-lo por toda a sua vida. Esta deverá ser homogénea e coerente:
os valores espirituais penetrarlo todas as atividades seculares, domésticas,
profissionais e culturáis dos leigos.

A formacao que contribuirá para a realizapao deste ideal, apresenta


diversos aspectos:

— formagao espiritual, que leva a crescer necessariamente na intimida-


de com Jesús Cristo e na ded ¡cacao aos irmá'os;

— formacao doutrinal, que habilita a aprofundar a fé e a justificar pe-


rante o mundo e suas indagacdes a profissSo de fé católica;

— formagao em doutrina social da Igreja, que possibilida aos cristaos


colaborar na construcao de um mundo mais assemelhado ao Reino de Deus;

— formagao no campo dos valores humanos: honradez, justica, sinceri-


dade, fortaleza de ánimo, amabilidade..., virtudes sem as quais nao há vida
crista" auténtica.

253
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

A formacío múltipla assim preconizada é ministrada em ambientes di


versos, fecundados pela graca da Deus, que é o primeiro Educador do seu
povo:

- a Igreja, esclarecida pelo magisterio do Papa, dos Bispos, pela acao


pastoral de cada pároco e pelo estímulo das pequeñas comunidades eclesiais;

- a familia crista, Igreja doméstica, escola fundamental de fé;

- as escolas e as Universidades Católicas, bemcomo os centros de re-


novacfo espiritual, que hoje se vao espalhando cada vez mais;

- os grupos, as associacdes e os movimentos que contribuem para a


formacfo dos seus membros.

Importa "termos a conviccao de que cada um de nos é o termo e si


multáneamente o principio da formacá"o:quanto mais somos formados, mais
sentimos a exigencia de continuar a melhorar a formacSo; assim como, quan-
to mais somos formados, mais nos tornamos capazes de formar os outros"
(n° 63).

Apelo e Oracao (n? 64)

O Documento termina renovando, em nome do Senhor Jesús, o cha


mado: "Ide vos também para a minha vinha".

"Dirijo a todos e a cada um, pastores e fiéis, a vivi'ssima exortacao de


que nunca se cansem em manter despena, antes, enraizem cada vez mais na
mente, no coracao e na vida a consdénda eclesial, isto é, a consciénda de se-
rem membros da Igreja de Jesús Cristo, participantes no seu misterio de co-
munhSo e na sua energía apostólica e missionária" (n? 64).

Á Virgem Má"e ssfo finalmente confiados os anseios da Igreja referentes


aos fiéis leigos, para os quais o S. Padre pede a intercessao de María, penhor
de iluminacSo das mentes, corage m missionária e feliz éxito da nova evange
lizado.

* * *

O texto, be lo e profundo como é, merece ser lido e meditado porto-


dos os fiéis católicos, que nele encontrarSo os meios de renovar a alegria da
sua vocacSo e o ánimo para responder-lhe mais generosamente em meio aos
desafios da hora presente.

254
A autoridade da Santa Sé:

A Declaragáo de Colonia

Em sfntese: Urna DeclaracSo de 163 teólogos germánicos agitou a opi-


niSo pública em Janeiro pp., pois se insurgía contra certas medidas tomadas
pelo Papa Joao Paulo II para preservar íntegro o patrimonio da fé e da Mo
ral confiado por Cristo á Igreja. — Os Bispos da Alemanha responderán) a
esse Manifestó, apontando a índole exagerada e preconcebida do mesmo e
pedindo aos professores de Teología que exercam a sua fungió de modo a
construir a Igreja em comunhao afetiva e efetiva com a hierarquía; a esta
quis o Senhor outorgar o carisma da Verdade (cf. Constituicio De¡ Verbum
n? 8) para que governem a Igreja, que é o Sacramento ou o Corpo de Cristo
prolongado, e nao urna sociedade meramente humana.

Aos Bispos alemaes faz eco o Prof. Dr. Walter Kasper, teólogo alemao
que nSo assinou a Declaracio de Colonia e foi recen temante nomeado Bispo
de Rottenburg-Stuttgart.

A imprensa publicou em Janeiro pp. urna Carta assinada por 163 pro
fessores de Teología da Alemanha, da Austria, da SuTca, dos Países Baixos e
do Luxemburgo, com a data de 06/01/1989, referente á autoridade da Santa
Sé. Tal documento julgava haver intervencoes demasiado autoritarias do
Santo Padre no tocante a tres setores da vida da Igreja: 1) nomeapa~o de Bis
pos; 2) concessa'o ou recusa da missao canónica de ensinar em Facuidades de
Teologia; 3) magisterio da Igreja, principalmente em questoes de Moral.

A Carta tornada pública suscitou mal-estar nos ambientes eclesiásticos


e civis de varios países. Em vista da situacao assim originada, o Episcopado
Alemío, aos 26/01/89, emitiu urna Nota-resposta, cujo texto se segué
em tradupáo portuguesa.1 A essa Nota acrescentaremos parte de urna en
trevista do teólogo alemao Prof. Dr. Walter Kasper sobre o mesmo assunto.

1 O original se acha em Pressedienst der deutichen Bischofskonferenz {Ser-


vico de Imprensa da Conferencia dos Bispos da Alemanha) de 26/01/89.

255
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

I. DECLARACAO DO EPISCOPADO ALEMAO

"A Declaracáb, de Coldnia, doi professores de Teología Católica 'con


tra a tutela e em prol de urna Catolicidade aberta'foíredigidaem maioa
urna discussáb que provocou muitas emocoes na opiniáb pública e também
suscítou profunda inquietude em muitos católicos.

A crítica á Igreja e ás suas atitudes é coisa de todas as fases da historia.


Ela ocorrerá sempre também no futuro. Mas tratase de saber em que espiri
to e com que meios é levantada a contradicho. A Declaracáb de Colonia
aborda muitos temas dif Icéis; mas o seu modo simplista de os expor rao cor
responde á realidade. Assim a propósito das nomeacoes de Bispos, é evocado
um principio genérico segundo o qual as dioceses tem o direito de participar
na escolha de seu Bispo; ora tal direito nunca existiu ou desde muito já náb
existe como regra geral. A propósito da escolha do Arcebispo de Coldnia,
sáb feitas afirmacSes que náb resistem a urna averiguacáb seria. Na base des-
tas pretnissas, acusa-se o Papa Joao Paulo II de assumir numerosos compor-
tamentos arbitrarios, cujas dimensóes a Declaracáb exagera, falando, por
exemplo, de 'mudancas subrepticias de estruturas', 'desconsideracáb eres-
cante das Igrejas particulares' {dioceses), 'recusa da argumentacao teológica',
'marginalizacáb dos leigos na Igreja', etc.

É sempre perigoso generalizar urna situacao a partir de fatos ¡solados.


Isto se torna aínda mais discutível quando sá"b utilizadas Declaracoes inexa-
tas e abusos de linguagem correspondentes, slogans e apreciacoes precipita
das. Os teólogos que, naquela Declaracáb, apelam tío freqüentemente para
normas e criterios científicos, estáb obrigados a explicar meticulosamente ao
grande público as questSes dif icéis, em vez de estimular conclusoes simplis
tas. Os Bispos a lamías rejeitam categóricamente as muitas acusacoes formu
ladas contra o Papa Joáb Paulo II.

A Declaracáb torna difícil o diálogo sobre os temas em foco, pois se


refere ao Magisterio da Igreja como responsável de autoritarismo, uso e abu
so do poder, estagnacáb, etc. Alias, o concertó de relacionamento entre os
teólogos e o ministerio da Igreja que está subjacente á Declaracío, é insufici
ente por suas premissas, pois supoe certa autonomía da Teología, que náb
permite ver claramente a subordinacao da Teología e o auténtico servíco que
ela deve prestar á Igreja eao ministerio desta. Com afeito; na Declaracáb, de
principio a finí, s£o postos em antagonismo exclusivista ministerio e I ¡barda-
de, obediencia e responsabilidade.

É legítimo abordar publicamente na Igreja questoes dif icéis e contro


vertidas. Todavía nío se ganha coisa alguma se isto se faz sob forma de De
claracáb pública, de panfleto portador de acusacoes unilaterais, questiona-

256
A DECLARACAO DE COLONIA 17

mentos a deformacóes da realidade. Os Bispos da Alemanha pedem a todos


os professores de Teología que ajudam a esclarecer todos os pontos contro
vertidos mediante um diálogo serio e leal, equilibrado em todos os seus as
pectos e apto a apaziguar os ánimos".

II. A POSIQÁO DO PROF. DR. WALTER KASPER

Segue-se aínda parte do texto de urna entrevista concedida pelo teólo


go alemao Prof. Walter Kasper ao jornal L'Awenire de 12/02/1989. Walter
Kasper é famoso por suas obras teológicas, entre as quais Der Gott Jesu
Christi (O Deus de Jesús Cristo), que está sendo traduzida para o portugués
no Brasil.

Repórter: "Há quem, com Bemhard Haeríng, fale de um terremoto


que, a partir de Roma, está fazendo estremecer toda a Igreja. O Presidente
da Conferencia Episcopal da Alemanha, Mons. Kart Lehmann, ao contrario,
fala de inquietacio na base. Que está na realidade acontecendo?"

Walter Kasper: "Estou de acordó com Mons. Lehmann. A inquietacao


está na base; já há alguns meses que se nota um crescente mal-estar entre os
sacerdotes e ñas paróquias. Á primeira vista, isto é devido ás nomeacoes de
Bispos em algumas cidades: Coira (Suica), Salzburgo, Feldkirch e principal
mente Colonia. Mas a questáb da nomeacáb dos Bispos é apenas um sintoma
de um mal-estar mais profundo".

R.: "Qual é o mal latente da Igreja na Alemanha?"

W.K.: "Talvez nao seja apenas o da Igreja na Alemanha. O mal é um


déficit de eclesiologia e se exprime numa aceitacáb limitada e imperfeita do
Concilio do Vaticano II. Em muitas consciéncias este tornou-se um Conci
lio de anseíos, que nada tem que ver com a realidade dos textos. Judo se re-
tíuz a alguns slogans relativos á abertura para o mundo e á democratizacáb
da Igreja".

R.: "V. Rma. nao assinoua Carta dos 163teólogos denominada 'Decía-
racSo de Colonia'. Por qué?"

W.K.: "Alguns colegas ma propuseram, mas recusei. Náb compartilho


nem o seu estilo nem o seu conteúdo. É um estilo populista, que fala ao Pa
pa através dos mass media. Ora as críticas háb de ser feitas de outro modo,
dentro da Igreja. Ademáis há ali afirmacoes falsas, como a acusacáb de que o
Papa interveio na nomeacáb de alguns Bispos quando isto competía táb so-
mente ás Igrejas locáis. Náb ¿ assim. Nessa Declaracáb de Colonia há enorme
mal-entendido das intencoes de Joáo Paulo II e do Concilio".

257
18 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

R.: "A seu modo de ver, essa Declarado dos teólogos ó um dos muitos
Manifestos de protesto que tem havido após o Concilio ou é algo de novo?"

W.K.: "Eu diría que é algo de mais grave. É a mais ampia contestacao
ocorrida até hoje contra o Papa. O Catolicismo alemáb até agora apresentava
urna grande forca de Centro, distante das posicoes de direita e esquerda.
Agora existe urna brecha e até homens de centro se enfileiram á esquerda.
Professores serios, que eu estimo, sempre fiéis ao Papa, como, por exemplo,
Auer de Tübingen, e Deissler de Friburgo, assinaram essa Carta para expri
mir sua intolerancia frente a Roma".

R.: "Por conseguíate, renasce na Igreja da Alemanha o complexo anti


romano?"

W.K.:"H& um elemento novo: implicam principalmente com este Papa


polonés, que Ihes parece náb entender o Ocidente e a modernidade. Este é o
desencontro atual dentro da Igreja. Ora creio que o Papa Wojtyla li o espiri
to moderno muito mais profundamente do que tais teólogos. Joao Paulo II
compreendeu muito bem as grandes conquistas do espirito moderno; é o
campeáb da liberdade religiosa e dos direitos humanos, e precisamente por
isso compreende também a crise da cultura ocidental n a transformacab da
liberdade no seu contrario. Daí o seu apelo a urna nova evangelizado que
crie um novo humanismo. O Papa, para quem sabe ver, defende a grande
tradicáb humanista. O seu conceito de liberdade é o conceito cristáo, ao
passo que aqueles teólogos que protestam estad presos a um conceito de li
berdade do século das luzes. Este é o cerne da questao, que fica para além
das críticas á centralizado burocrática do Vaticano".

III. COMENTARIO

O conceito de democracia mal entendida tende a infiltrar-se dentro da


Igreja. Ora tal concepcao nao condiz com a realidade da Igreja, que o Conci
lio do Vaticano II enfatizou ser "um sacramento", ou seja, algo que é huma
no e divino ao mesmo tempo: humano, porque integrado por homens, sem
dúvida, mas também divino, porque Cristo vive realmente na sua Igreja e
atravás dos homens santifica a todos, comunicando-lhes a vida do Pai, do
Filho e do Espirito Santo. Isto quer dizer que a autoridade na Igreja difere
da autoridade no mundo; especialmente o ministerio do Papa, sucessor de
S. Pedro, usufrui das prerrogativas que Cristo Ihe quis confiar no Evangelho:
"Roguei por ti, para que tua fé nao desfaleca; voltando-te, confirma teus ir
ruios na fé" (Le 22,31 s).

É, pois, com especial assisténcia do Espirito Santo que o Papa governa


a Igreja. Disto nao se segué que nao possa falhar em certas questóes de indo-

258
A DECLARACAO DE COLONIA 19

le administrativa, mas é preciso que os fiéis nSo se precipitem na tendencia a


julgar o sucessor de Pedro... Dada a variedade de opinioes e sentengas exis
tentes na Igreja em materia de fé e de Moral, Joao Paulo II se vé constrangi-
do a ser especialmente vigilante na preservacao do patrimonio que Cristo
confiou a Igreja; é patrimonio nSo humano, mas divino, que nSo pode, em
hlpótese alguma, ser polufdo por ¡ntuigoes meramente humanas ou natura
listas. Joa"o Paulo II desempenha esta funcao com coragem, que é também
sacrificio e sofrimento, mas ele o faz por amor a Cristo, a Igreja e aos ho-
mens, ciente de que o tesouro do Evangelho puro é tesouro de toda a huma-
nidade, que por ninguém pode ser deteriorado.

Ém última análise, a perspectiva que o fiel católico tem sobre a Igreja


é de fé, transcendendo as categorías meramente racionáis ou filosóficas. Nao
se quer, com isto, dizer que os teólogos tenham perdido a intuicao de fé,
mas os Bispos Ihes mostram que o seu procedimento, no caso em foco, des-
toa da sua misslo. É preciso que sirvam com amor á Igreja ou a Cristo pro
longado em seu Corpo Mi'stico, em vez de dilacerar e perturbar a coesfo do
corpo eclesial. Um teólogo é essencialmente homem de fé; parte da fé e pro
cura penetrar na mensagem desta:fidas quaereni intellectum (é a fé que pro
cura compreender). Ora a fé terá sempre algo de transcendental, chegando
por vezes a ser loucura e escándalo (cf. 1Cor 1,23); pesquise o teólogo com
todo o acume da sua inteligencia e fale, mas tendo sempre em vista que trata
de assuntos subordinados a criterios superiores; lembra o Concilio do Vati
cano II (Constituidlo Dei Verbum n? 8) que quem tem o carisma da verda-
de em materia de fé e Moral, sao os Bispos, e nao os teólogos.

A fé (f¡des) gera a fidelidade, pois esta nao é senSo a fé (fides) prolon


gada até as últimas conseqüéncias.

* * *

(continuapao da pág. 288)

dos da sua finalidade religiosa para submeté-los a interesses heterogéneos,


é principalmente pela tática das semi-verdades ou dos pronunciamentos am
biguos que o Projeto procede: promover os pobres é altamente cristáo, nao,
porém, em ótica marxista ou materialista, pois esta redunda em nova forma
de opressao dos pequeninos, extinguindo o relacionamento do homem com
o Transcendental.

t, portanto, oportuno difundir o Comunicado de Imprensa dos Bis


pos Latino-americanos.

Ettévao Bettencourt O.S.B.

259
Entre as correntes do pensamento moderno:

O Linguajar do
"Cristáo Marxista"

Em síntese: Embora marxismo e Cristianismo nao se conciliem entre


si, há cristaos que se dizem marxistas. 0 seu linguajar é marcado por certas
notas características, que convém observar: acerba crítica da situacáo socio-
política vigente em países nao comunistas, otimismo em relacao ao futuro,
que deve resultar da acSó revolucionaria do homem; confíanca na capacida-
de transformadora do ser humano; rejeicSo de cortos temas teológicos, co
mo sio a fragilidade humana, a humildade {tida como passividade), a oracao
e a prática religiosa (tidas como fuga), a vida postuma (considerada como
alienante), a certeza e firmeza da fé (encarada como antitética á inseguranca
de tantos e tantos homens que estSo é procura de respostas).

Na verdade, porém, o discurso do cristao militante marxista, embora


fascine em primeira instancia, revelase ilusorio. A própría historia dos últi
mos decenios o atesta, pois certos países comunistas (como a ñússia, a Chi
na...) se vSo abrindo á transcendencia e aos valores espirituais; além do qué,
a consciéncia da pequenez e da insuficiencia do homem para responder aos
seus anseios mais naturais é um fato cada vez mais notorio nos países oci-
dentáis, onde o número de seitas e correntes místicas atrai sempre mais o
homem cansado das promessas da ciencia, da técnica e da política. Somente
os valores religiosos apresentados num discurso de fé auténtica podem satis-
fazer adequadamente ás aspiracSes congénitas de todo homem.

* * *

É fato que Cristianismo e Marxismo nao se compatibilizam entre si,


como teísmo e ateísmo, fé e negacao da fé nao se coadunam. Nao obstante,
há cristSos que tencionam conciliar entre si os dois sistemas e se dizem "cris
taos marxistas"; militam em favor da implantagao das concepcoes sócio-po-
I fticas de Marx.

Nasse conluio é o pensamento cristáfo que sofre cada vez mais, absor-
vido pela ideología marxista; a fé aos poucos vai-se apagando em tais militan
tes. — Ñas páginas que se seguem, ¡nteressar-nos-emos pelo linguajar desses

260
O LINGUAJAR DO"CRISTAO MARXISTA"

"cristaos marxistas" tal como ocorre em- palestras, jomáis, revistas, conver
sas...: tem seus temas predil$tos, como também seus "silencios" ou pontos
dos quais nao costumam falar - o que vai distorcendo paulatinamente o
Crudo.1

1. Pessimismo e Crítica

O militante marxista costuma dramatizar a situacao presente, tida co


mo absolutamente iníqua e próxima de catástrofe. Daí as suas críticas amar
gas ao regime vigente. Tem por objetivo politizar as carnadas sociais humil
des, levando-as á consciéncia de classes oprimidas; donde deverá resultar a
luta de classes. Esta tem por pressuposto o descontentamente, que gera a so-
lidariedade e, por fim, a combatividade. Um operario satisfeito ou contente
nao pode ser solidario com a classe trabalhadora; a sua satisfacao mostra
quanto ele está alienado pelo sistema capitalista.

A categoría de "oprimidos" ou "explorados", no discurso marxista,


tende a se alargar cada vez mais: a principio compreende os operarios ape
nas; aos poucos, porém, abrange também os estudantes "esmagados pelo sis
tema escolar", as mulheres discriminadas, as enancas abandonadas, os mili
tares na ativa, todos os profissionais mal assalariados, e até... os homosse-
xuais... Em conseqüéncia, os diversos setores da sociedade se sentem drama-
ticamente interpelados e vá*o tomando consciéncia "de que só urna solucao
política global e radical poderá resolver o problema gerado pelo regime ca
pitalista".

Assim, pois, dramatizar, criticar, disseminar descontentamente sao tra


eos típicos e obrigatórios do discurso do militante marxista.

2. Esperanca de melhor porvir

A dramatizagao seria estéril se nao propusesse a esperanca de um futu


ro melhor decorrente da luta. Por conseguinte, a ¡nsatisfacao disseminada
pelos marxistas é acompanhada pela fé no socialismo ("que construirá urna
sociedade mais satisfatória") e pela esperanca no bom éxito da luta.

1 O conteúdo destas páginas deve-se, em grande parte, ao artigo de Frangois


Donantes S.J.: Une logique influente. Etude des relations entre marxismo et
christianisme á partir de l'analyse du discours militant, em Etudes, outubro
76, pp. 293-312.

261
22 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

A esperanza marxista tem por objeto a antftese do que hoje existe


numa sociedade capitalista: quanto mais arduas sao as privacoes presentes
e quanto mais heroico for o esforco dos militantes, tanto mais be la será a
sociedade nova, com seu socialismo pacato e sólido; nao se prometem os
prazeres do consumismo, mas as alegrías da solidariedade e de urna presumi
da "libertacSo".

Assim retorna o esquema messianico, que Marx conheceu ñas tradi-


cSes judaicas, das quais foi herdeiro em seu berco. É, porém, um messianis-
mo irreligioso: o Messias ná"o é o Filho de Oavi, mas'o proletariado, que so-
fre, luta e morre, para que, mediante a sua imolacáo, prepare o advento de
urna nova humanidade; o determinismo da dialética histórica proporciona
rá, sem dúvida, a vitória á classe trabalhadora em luta.

Por conseguinte, pessimismo em relapao ao presente e otimismo no


tocante ao futuro, eis dois traeos essenciais do discurso marxista que assim
toca profundamente os afetos e as paixSes dos seus ouvintes. O militante
marxista coloca todas as suas afirmacoes no contexto da luta de classes,
instrumento que deve garantir a transido do presente negativo para o futu
ro positivo.

3. Silencio sobre a fragilidade humana

A exigencia de otimismo ligado á dramatizado leva o marxista a si


lenciar tudo o que possa obscurecer a prospectiva de melhores condicoes;
assim o egoísmo tSo radicado nos homens, a cobica do ter... e também o
sofrimento físico, o declmio da saúde, a velhice, a morte... inerentes á con
digno humana como tal; em suma... a dimensSo de radical fragilidade do ser
humano.

Tal silencio está na lógica do pensamiento revolucionario: o apelo a


urna ruptura radical com o presente nao se coadunaría com a consciéncia
do efémero e do precario humano. O marxista eré no poder da revoluclo
que ele arma e realiza.

Mais: nos discursos dos militantes marxistas nota-se a tendencia a divi


dir a sociedade simplesmente em duas categorías: a dos opressores e a dos
oprimidos; aqueles vém a ser os ¡níquos e pecadores, ao passo que estes sao
as vítimas inocentes. Os males da coletividade seriam da responsabilidade
dos capitalistas, enquanto os trabalhadores sao tidos como generosos, frater
nos e solidarios entre si. Assim parece que só urna parte da humanidade foi
contaminada pelo pecado. Esta perspectiva redunda em certo maniquefsmo.
Quem contradiga ao discurso marxista, é tachado de pecador, iníquo, expío-

262
O LINGUAJAR DO "CRISTÁO MARXÍSTA" 23

rador... mancomunado com os grandes escándalos do mundo atual: salarios


de fome, tortura de inocentes, corruppSo dos poderosos...

As realidades do sofrimento e da morte, próprias de todo homem, sao


entendidas em sentido unilateral: falar de dor e morte é desagradável a.nao
ser que se tenham em vista o sofrimento e a morte sublimes do revoluciona
rio devotado, que entrega a vida como mártir, precursor de um mundo
methor.

É certo que nenhum marxista nega a fragilidade da existencia humana


nem acredita que a dor e a morte desaparecerao numa organizapSo socialista.
Todavía, por causa dos seus objetivos otimistas, o militante marxista evita
falar da crua realidade do homem fraco e perecível e prefere exaltar a capa-
cidade ativa e transformadora da classe operaría em luta.

4. Linguagem teológica "censurada"

Quem faga o balanco dos assuntos abordados num escrito ou num dis
curso de "cristao marxista", verificará que todos os temas sao ai considera
dos em fungao da luta de classes. Mesmo os temas religiosos e teológicos sao
escolhidos de acordó com os preceitos e as proibipoes da opcao marxista; a
fé deve contribuir como suporte para a promopáo do ideal político ou, ao
menos, nao deve prejudicar a este (apresentando conceitos que relativizem a
luta de classes ou desestimulem os que Ihe sacrificam a sua vida). Por isto é
que o discurso do cristSb marxista militante exclui ou mesmo rejeita explíci
tamente alguns pontos fundamentáis da mensagem da fé:

— o sofrimento, a Cruz, a morte de Cristo e dos cristáos. A muitos pa


rece que a abordagem destes temas leva a resignacao e suscita tendencias ma-
soquistas, pessimistas, conformistas;

— a vida eterna, que se seguirá á ressurreipao dos mortos. A focaliza-


pao destes termos parece desviar a atencao do único verdadeiro futuro con-
cemente a todos os homens, até aos incrédulos, ou seja, o futuro político, a
constituigao de um mundo transformado pela ideología revolucionaria;

— a humildade, que é tida como sinónimo de passividade e capitulacao;

— a oragáo e a prática religiosa, consideradas como sinais de fuga das


preméncias políticas em demanda de refugio na piedade;

— a nocao de salvapao já adquirida mediante a obra de Cristo Reden


tor; o fato de que as bem-aventurancas podem ser formuladas no tempo ver-

263
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

bal presente. Proclamar estes artigos de fé parece fazer descaso ou mesmo


injuria ao sofrimento dos homens atualmente oprimidos e atenuar a dramati
zarlo do momento presente;

— em suma, as verdades da fé, de modo geral, $á"o objeto de menospre-


zo, na medida em que podem proporcionar áos fiéis certa garantía ou segu
ranza, quando tantos homens sao esmagados pela inseguranca. O cristao, di-
zem, deve viver fraternalmente a mesma inseguranca que todos os homens
entregues á luta e a procura...

A pessoa que, numa reuniao de "cristSos marxistas", ouse sustentar al-


gum dos temas atrás assinalados, corre o risco de ser atingida por acusacóes
passionais: "Estás do lado do capitalismo opressor, que oferece opio ao po-
vo; tu te deixaste envolver pela ideología de direita; estás professando a fuga
em vez da responsabilidade..." Parece que a profissSo da fé integral significa
abandonar os explorados em favor dos exploradores.

Pergunta-se entao: como se exprime a fé do cristao marxista, caracte


rizada por tantas restricdes?

— Ela se reduz geralmente ao moralismo,... moralismo centrado sobre


a justica social. O criterio da fé ná*o é a ortodoxia (= a reta fé ou doutrina),
mas a ortopraxis {= a reta prática). Importa mais fazer (a transformado
social) do que professar a verdade;alias, dizem, a verdade nüo é independen-
te da prática revolucionaria, pois a verdade só pode ser reconhecida como tal
pela sua eficacia transformadora. Só é verídica a proposicao que tenha poder
transformador, e na medida em que o tenha...

Á luz destas premissas, a Igreja parece ná"o ter outra razáo de ser se nao
a de pregar e sustentar a promocáo da justica social. As palavras "amor ao
próximo, fraternidade, caridade..." ná"o tém lugar no vocabulario do cristao
marxista, embora recebam muita énfase no léxico do Apostólo SSo JoSo
(Evangelho e epístolas).

Disto tudo resulta a secularizacSo da mensagem crista, ou seja, o apa-


gamento progressivo dos temas religiosos em favor de urna ética de cunho fi
losófico, a servico da qual pode ser colocado um ou outro tema de fé. As-
sim, por exemplo, á grandemente utilizada a passagem do Evangelho de Ma-
teus 25, 31-46, na qual Jesús aparece como o Juiz que recompensa ou pune
os homens em funcSo do comportamento assumido frente aos seus seme-
Ihantes. Pode-se mesmo encontrar, no discurso dos cristáos marxistas, a afir-
macao de que a fé é urna dimensao secundaria ou dispensável do ser huma
no, visto que o essencial mesmo é a preocupado com a justica; aquela pode
ter valor na proporcSo em que seja um estimulante ao engajamento ou ao
compromisso social. Ver L e Cl. Boff. Da Libertacao.

264
O LINGUAJAR DO "CRISTÁO MARXISTA" 25

Estes fatos explicam que a fé gen urna, com o que ela tem de transcen
dental, vá aos poucos morrendo nos cristaos que inadvertidamente se vSo
impregnando de mentalidade marxista.

5. Reflexao final

O discurso marxista, centrado sobre a luta de classes, otimista quanto


aos resultados "messiánicos" ou salvíficos que esta possa trazer, apoiado so
bre o poder do homem "conscientizado e militante", cai num esquematismo
demasiado simplista e simplificador. Com efeito, nao se podem reduzir to
dos os problemas da humanidade ao confuto "opressores-oprimidos"; nao
se pode colocar todo o peso do mal do lado daqueles e o do bem do lado
destes; nao se podem reduzir todos os anseios do ser humano ao m'veI eco
nómico-político...

Na verdade, a insatisfacao reinante no mundo de hoje tem caráter muí-


to mais complexo. A própria evolucáo do pensamento marxista na Rússia,
na China e em pafses comunistas é testemunho de que, mesmo quando se
faz o possi'vel para satisfazer ás necessidades económicas, o homem conser
va anseios voltados para os valores transcendentais... A tenacidade ou mes
mo o vigor renovado da religiao na URSS dizem eloqüentemente que o ho
mem aspira aos bens da fé, sem os quais ele terá sempre um vazio conscien
te ou inconsciente em seu coracao.

Além disto, o otimismo marxista pode, em teoria, atrair muitos adep


tos... Mas a experiencia da fragilidade humana, que todos os cidadaos neces-
sariamente fazem, contribuí para dissipá-lo:

— a consciéncia das limitacoes da própria ciencia, que está sempre a se


reformular;

— a mudanca de horizontes e perspectivas que de dez em dez anos aba-


lam certos parámetros dos antropólogos, economistas, politólogos, soció
logos...

— a presenca de molestias resistentes ao engenho do homem (a AIDS,


por exemplo);

— a velhice, cuja faixa se amplia, deixando numerosos anciáos na solí-


dao e no esquecimento como se fossem "peso morto" que os jovens devem
carregar;

— o próprio progresso da técnica, que ameaca a subsistencia do género


humano num suicidio coletivo;

265
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

— a realidade da morte "que nao pede (¡cenca" e que despena curiosi-


dade crescente em sociedades e seitas que a estudam atentament, em vez de
a dissimularem como outrora faziam muitos.

Isto tudo, em suma, evidencia que a solucá"o do descontentamento do


homem comtemporáneo náfo está simplesmente na luta de classes nem na
transformacSo sócio-polftico-económica (embora a justica social tenha, sim,
grande valor), mas está em algo de mais profundo, ou seja, no encontró do
homem com Aquele que o fez para Si e sem o qual o homem é urna agulha
magnética inquieta a procurar o seu Norte, que I he garante paz e estabilida-
de. Deste encontró é que resultará urna sociedade renovada, justa e fraterna,
tal como o marxismo jamáis a poderá produzir.

Vé-se, pois, que, num discurso destinado a atingir o ámago do ser hu


mano, é ¡mpossível silenciar os seguintes pontos:

— a fragilidade humana e a incapacidade que o homem tem de bastar a


si mesmo ou de ser a resposta para as suas aspiracoes mais naturais. A pre-
suncao de autosuficiencia, por muito bajuladora que seja, é totalmente
ilusoria;

— a humildade, que é a atitude decorrente da consciéncia de que o ho


mem é insuficiente a si mesmo. A humildade é a verdade; vem a ser grande
virtude na medida mesma em que a veracidade é urna grande virtude. A hu
mildade nunca é urna atitude meramente negativa; resulta do fato de que o
homem sabe que fo¡ chamado a urna santa nobreza, mas é incapaz, por si so,
de alcancar tío elevada meta;

— existem certezas de ordem transcendental ou da fé absolutamente


firmes, pois o homem foi feito para a certeza da verdade, certeza esta que
ele nao encontra no cultivo das ciencias meramente humanas. Sem certezas,
o homem é um errante pelas estradas da vida, errante que nao pode ter espe-
ranea alentadora;

— existe urna vida postuma, que será a resposta cabal ao desejo congé-
nito de VIDA, VERDADE, AMOR, BONDADE, JUSTIQA, FELICIDADE...,
valores estes que o homem jamáis atinge na vida presente e sem os quais ele
seria radicalmente frustrado.

Tal discurso é o discurso religioso propriamente dito; nada tem de


alienante, mas contém a mais veemente motivacao para a construcao de um
mundo novo, pois fala em nome de Deus, o mais poderoso motivador de to
da a atividade humana. Pro Deo fiunt eximia. Por Deus fazem-se as coisas
mais sublimes.

266
Discute-se um livro:

"Os Versos Satánicos"

por Salman Ruihdie

Em símese: 0 escritor anglo-indiano Salman Rushdie publicou o livro


"Os Versos Satánicos", que satiriza Maomé e zomba da crenca de que o Co
rao tenha sido inspirado por Deus ao Profeta mediante o arcanjo Gabriel. A
reacio muculmana tem sido veemente... Em última análise, o que Rushdie
intenciona, é criticar o literalismo com que os rrtuculmanos interpretam o
CorSo (cortando as maos do ladrao, matando quem namora um nao-mucul-
mano, discriminando os cidadaos.J; chama a atencao para o fato de que no
Corao há passagens de valor momentáneo e contingente..., que deveriam ser
repensadas ou reinterpretadas para que os maometanos nao continuem a vi-
ver hoje como viviam no sáculo Vil d.C. ... fs:o, porém, nao significaría
traicao ao Corao e á sua doutrina.

Algo de semelhante se deu no Catolicismo dos sáculos XIX e XX; de-


pois de sáculos de interpretado rigorosamente literal da Biblia, os católicos
perceberam que esta tem seus géneros literarios, dos quais o próprio Deus se
quis servir para transmitir a sua mensagem. Por conseguinte, a fidelidade á
mensagem bíblica exige que sejem levados em consideracio esses géneros li
terarios, de modo a se tomar ao pé da letra o que deve ser assim entendido e
interpretar mais amplamente o que o texto exige que se/a mais amplamente
interpretado.

* * *

0 caso do escritor anglo-indiano Salman Rushdie, autor do livro "Os


Versos Satánicos", tem ocupado a ¡m prensa do mundo inteiro. Através das
noticias veiculadas, sabe-se que a obra é injuriosa a Maomé e, por isto, pro
voca a réplica veemente do Governo do Ira e de setores do mundo maometa-
no. Mas nao se sabe propiamente de que se trata e em que termos o autor
desenvolve sua sátira. Na verdade, o livro é mais do que um libelo zombetei-
ro; aborda, em última análise, urna temática mais seria e profunda. A fim de
a por em evidencia, segue-se, em traducao portuguesa, um artigo do Pe.
Jean-Marie Gaudel, missionário da Congregacao dos Peres Blañes (Padres

267
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

Brancos, ¡sto é, de hábito branco), Professor convidado no Pontificio Insti


tuto de Estudos Árabes e Islámicos de París e perito no assunto.1

Antes, porém, de apresentar o texto do Pe. Gaudel, faz-se mister esbo-


par o respectivo paño de fundo:

O texto do Coráo (Qur'an = recitacao, em árabe) é composto de 114


suras ou capítulos dispostos em ordem decrescente de tamanho. Os mucul-
manos o consideram texto revelado por Deus a Maomé mediante o arcanjo
Gabriel, entre 610 e 632. Foi, a principio, redigido oralmente e conservado
pelos primeiros discípulos mediante memorizagao; em breve, porém, foi es
crito em estilo claro e simples num texto definitivo, que admite sete peque
ñas variantes (todas ortodoxas). Os mupulmanos afirmam que o Corao é a
própria palavra de Deus; por isto recusam-se a aplicar-lhe os métodos da crí
tica literaria e da análise de texto, usuais no estudo de qualquer livro huma
no; e isto... porque o autor do Coráo é Deus, e nao Maomé (como dizem).
Tendo sido ditado em árabe, o Coráo nao pode ser oficialmente traduzido
para outra língua; por isto os mupulmanos ná*o árabes sao convidados a
aprender o árabe, para poder ler o CorSo e participar da orapáo pública mu-
pulmana (sempre feita em árabe). O Coráo, ¡mutável em seu texto e em seu
conteúdo, é tao importante para os mupulmanos que Ihes faz as vezes de Bi
blia, Constituicao, Direito Civil, Direito Penal, Código de Rubricas Litúrgi
cas e Manual de Ética mupulmana...!

Comepa agora o texto do Pe. Gaudel.

QUE DIZ RUSHDIE?

"Sobre o cato Rusdhie tudo foi dito: o seu livro 'Os Versos Satáni
cos', as reacóes das multidóes muculmanas na Gra-Bretanha e no mundo is
lámico, a condanacáb do livro e as ameacas provenientes do Irá", as medidas
tomadas pelos Governos europeus, os protestos dos editores e dos intelec-
tuais ocidentais: tudo, tudo foi dito. Foram até propostas explicapoes milito
sabias para sugerir que a atitude de Khomeini Ihe era ditada por cálculos de
política interna.

Todavía pouco se escreveu sobre o conteúdo do livro mesmo e sobre


as razoes que possam ter causado tal reacio no mundo muculmano. É verda-
de que poucos jornalistas o puderam ler. O leitor tem muitas vezes a impres-
sfb de que todo essa alarde é irracional, ditado pelo fanatismo muito mais

1 O artigo foi publicado no Boletim S.N.O.P. do Episcopado Francés


n? 744, de 10/03/1989. pp. 11-16.

268
"OS VERSOS SATÁNICOS" 29

do qua pelo proprio livro.-Na realidade, que é que o livro contení? Que diz
Rushdia?

Escarnio requintado

Comecemos pelo tom geral do livro: ¿ um enorme romance, denso, es


crito num inglés muito difícil, porque enxertado com expressoes indianas e
trocadilhos construidos a partir dessas expressoes.

A que compararemos esse estilo? Há quem pense em Rabelais ou,


mais perto de nos, em San Antonio ou ao 'Pato Acorrentado'. A atmosfera é
de risadas, cacoadas, e o autor parece ter especial apreco pelas situacoes es
cabrosas e pelas tarcas pungentes.

Urna brincadeira de esconder

Os jornalistas conhecem bem o procedí mentó que consiste em dizer as


piores coisas sobre alguém, com as devidas cautelas para evitar eventuais per-
seguicdes: 'ñas esquinas da cidade, ouve-se dizer que o Prefeito se envolveu
em negocios turvos...' Quem assim escreve, aparentemente apenas refere um
boato, mas o leitor fica sensfvel ao conteúdo desse boato como se fosse fato
averiguado.

Salman Rushdie se empenha por fazer a mesma coisa: há de falar do


Isla", da Religiáb em geral e de Maomé em particular, dizendo que isto tudo
náb é senao um sonho sonhado por um ator indiano. Sonho ou realidade?
Nunca se sabe no decorrer do livro; o próprio herói náb sabe o que pensar
dos seus estranhos sonhos, mais reais do que o seu estado de vigilia.

De resto, o livro comeca com estranha cena: dois indianos — Chamcha


e Gibril — caem de um aviá*o que explodiu em pleno v6o; salvam-se, sem que
nunca se saiba se escaparam da morte ou se passaram para o além. O leitor é
inclinado a preferir a segunda htpótese, pois o mais honeüto dos dois heróis
— Chamcha — é transformado em demonio sob a aparéncia de bode. Ele só
se livra disto entregando-se á mais terrível crise de odio destruidor. Enquan-
to quer ficar calmo e manso, permanece prisioneiro de sua aparéncia demo
níaca. Desde que se entregue á furia..., torna-se de novo humano. Passando
para o além, os dois heróis entraram numa dimensao em que o bem e o mal
sao permutáveis entre si e onde Sata", os demonios e os anjos náb se distin-
guem uns dos outros.

A inspirado de Maomé

É assim que nos entramos nos sonhos de Gibril: será ele um anjo ou
um demonio? É ele ainda o simples ator que ele foi ou fora, ou está agora

269
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

em comunháb com outro ser misterioso — o arcanjo Gabriel/Gibril - que se


recorda do pastado e nos descreve o seu encontró com o Profeta do Isla?
Sonho ou recordacáb?1

A seguir, o escritor nos leva a percorrer a carreira profética de Maomó


focalizando episodios diversos, cuja seqüencia 6 entrecortada por cenas joco
sas da vida dos dois heróis - Chamcha e Gibril.

O leitor assiste entáo - é sonho ou 6 recordacáb de Gibril? - ao pri-


meiro encontró do Profeta com o anjo Gabriel. Este confia ao leitor que ele
nada tinha a dizer a Maomé, mas que tal comerciante árabe queria tío ávida
mente ouvir urna palavra... que ele mesmo a fez jorrar das suas entranhas,
sem se dar conta disto.

Sao evocados outros episodios de vida do Profeta, todos para mostrar


que, sem o perceber claramente, muitas vezes Maomé fabricava as revelacoes
que ele desejava; ele náb sabia distinguir o que vinha de Deus e o que vinha
de Sata"; de resto, terá havido alguma vez urna auténtica revelacáb? Por f im,
o leitor va i ouvir - sonho ou recordacáb? - as confidencias de um dos pri-
meiros muculmanos, isto é, do escriba que recebeu a revelacáo ditada pelo
Profeta. Esse escriba perde a fé em Maomé quandotoma consciéncia de que
o seu mestre nao percebe as fainas introduzidas voluntariamente no texto do
Coráb pelo secretario de Maomé.

Os heróis do sonho de Gibril insinuam que todos os versos do Coreo


tidos como revelados nao sáb sendo de f abricacáb humana.

Nao sáb meramente humanos os versos do Cqráb que parecem expri


mir tao somonte os desejos de Maomé e os impulsos do seu subconsciente?

— Humanos os versos que autorizam Maomé a esposar Zaynab, a mu-


Iher que ele desoja {33, 36-40); A'icha náb comentou entelo: 'Tu tens muita
sorte por cultuar um Deus que cumula todos os teus desejos'?

— Humanos os versos que inocentam A'icha, a mulher predileta de


Maomé, que caira sob suspeita de adulterio (24,11-13)?

— Humanas as passagens em que se exprime a inveja de um marido que


quer proteger as suas esposas contra os olhares dos outros homens e, por is
to, Ihes impó"e o véu, as declara míes dos crentes, para que elas náb se casem
com ninguém em segundas nupcias?

1 Como dito, os maometanos créem que o Corao foi por Deus revelado a
Maomé mediante o arcan/o Gabriel. (Nota do tradutor).

270
"OS VERSOS SATÁNICOS" 31

— Humanos os versos que dio razáb a Maomé em discussoes com suas


esposas, ou os que pedem aos fiéis que respeitem a sua intimidado quando
Maomé repousa com a familia?

Passemos sob silencio os trechos em que se v§em as prostitutas de um


bordel dar a si mesmas os nomes das esposas do Profeta e assim triplicar- o
seu rendimento comercial. Tratase de ficcáb criada por Rushdie.

Ao contrario, os outros fatos sáb dados históricos bem conhecidos na


tradicao muculmana, mas Rushdie Ihes dá urna interpretacao radicalmente
cética.

Um desses episodios chama-se precisamente 'o episodio dos Versos Sa


tánicos': segundo Tabari, um grande historiador muculmano, o verso 53,19
do Corao acabava de ser revelado quando 'Satffcolocou nos labios do profeta
o que ele tinha no fundo da sua mente e desejava para o seu povo'. Daf se
seguiram dois versos de compromisso com os pagaos reconhecendo ás tres
deusas da Meca urna certa funcáb de intercessáo junto a Deus. Mais tarde
corrigido por Gabriel, o profeta teria suprimido os versos satánicos e guarda
do o sentido estrita mente monoteísta do texto. Outra revelacáb, varios me
ses mais tarde, teria fornecido a chave do incidente: 'Nos náb enviamos antes
de ti nem Emissário, nem Profeta, sem que, quando ele desejava algo, Sata"
náb Iho tivesse feito exprimir. Alá apaga o que Sata enviou, e Alá reergue os
seus sinais (ou versos)" (22,52).'

Embarazados por este episodio, alguns comentadores o silenciam; ou


tros acusam os orientalistas ocidentais de ter inventado essa historia escabro
sa. Outros enfim insinuam que Sata" fez o público ouvir essas palavras sem
que Maomé as tenha proferido.

Oesta maneira o livro de Rushdie grita aos crentes: 'Abrí os olhos, bem
vedes que tudo isto mostra que o Coráb é um livro humano, produzido pelo
psiquismo de Maomé'. Mas podem os crentes realmente abrir os olhos? Náb
estáo eles encerrados numa cegueira que eles desejam conservar?

1 Ets o sentido desta confusa passagem: Sata diría a Maomé: "Todos os pro
fetas que enviei á Térra antes de ti, diziam o que eles queriam com a colabo-
racSo de Satanás. Alá, porém, terá apagado tais dizeres e sustentado os dize-
res de Alá".

rVo conjunto ñusdie imagina que até Maomé tenha sido ludibriado por
Satanás e posteriormente corrigido pelo arcanjo Gabriel. (Nota do tradutor}.

271
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

A fé que cega

Um dos últimos episodios do livro — sonho ou recordacao? — nos


mortra a comunidade muculmana atualmente na India; urna vidente arrasta
toda a populacáb de urna aldeia para urna peregrinacáb louca — a pé enxuto
— desde a India até a Meca. Ela também diz ter recebido urna revelacáb de
um anjo! Apesar de todos os esforcos de alguns livres pensadores da comu
nidade, que passam por infiéis e impíos, toda a populapáb se atira no mar e
ai morre. Longe de ser abalada em sua fé, a multidao dos patetas, impressio-
nada por este gesto, murmura que Deus os transportou milagrosamente para
a Meca.

Assim a fé se encerra no irracional e se serve até das suas derrotas para


confirmar os seus dogmas. Os erantes se fecham na sua própria cegueira.

Algumas reflexoes

Como se compreende, os leitores muculmanos do livro logo percebe-


ram que este ataca o fundamento mesmo do Isla*: a certeza de que Deus fa-
lou a Maomé e o Coráo é a transmissáb dessas revelacoes.

Tradicionalmente os muculmanos descreveram com muita complacen


cia o fenómeno da revé lacio como se fosse um ditado celeste transmitido
por meio do anjo Gabriel (Gibril). O único ser habilitado para distinguir o
que vinha de Deus e o que era cogitacao meramente humana, é o próprio
Maomé. Com efeito; o Isla* rejeita todo discemimento que nao seja o do Pro
feta pessoalmente. A clássica teología, portanto, teve de postular que Mao
mé era infalível, e até impecável, para poder nao cometer erro no discerní-
mentó e na transmissáb das revelaeoes.

O como desse fenómeno nunca é descrito: a maneira como funciona a


consciéncia profética na sua atividade deacolher a revelacáb fica muito mis
teriosa. Os muculmanos comprazem-se em crer que o ditado devia ser total
mente independente dos estados de alma do Profeta. Todavía a tradicáb
muculmana guardou vestigios de atitude mais hesitante e mais semelhante á
que conhecemos na vida dos Profetas bíblicos.

Tomando o episodio dos versos satánicos como título do seu romance,


Rushdie pos o dedo sobre o ñervo mais sensível da dogmática islámica. Co
mo urna Palavra Divina pode tornar-se Livro humano sem ser condicionada
pelos limites da linguagem humana, as particularidades do ambiente e o pen-
sementó do profeta que a transmite?

272
"OS VERSOS SATÁNICOS" 33

Para melhor afirmar que o Coráb é Palavra de Deus, os toólogos do Isla"


clássico julgaram que deviam negar esse condicionamento. Tudo no Corao
viria de Deus e de Deus só: mensagem e forma da mensagem, conteúdo e es
tilo, letra e espirito. Rushdie, ao contrario, acha o Livro demasiado huma
no, demais imbricado ñas circunstancias da vida do Profeta, para que tudo
ai seja divino. Como uma mensagem divina pode tomar forma tao humana?
Prefere entáb náb ver af senáb obra humana.

Parece dizer que o Isla jé nao se pode contentar com a af irmacáb de


que o Livro veio do céu, sem elaborar uma explicacáb coerente e crítica a
respeito do modo como um coracíb de homem pode perceber a Revelacab
divina.

Recentemente alguns pensadores muculmanos tentaram fazé-lo: uns,


como Mohammed Khalafallah, admitiram a presenca de géneros literarios
no Corao; o seu modo de pensar foi condenado. Fazlur Rahmbn, professor
paquistanas, tentou mostrar que o Corao podia ser ¡nteiramente Palavra de
Deus e inteiramente palavra de Maomé, um pouco á semelhanca dos livros
da Biblia; teve que se exilar por causa do escándalo provocado por essa tese
¡novadora.1 Mais parto de nos, encontramos um mais discreto ensaio de re-
flexáb sobre esse tema num livro atual: Ces Ecritures qui nous ¡nterrrogent2
(Centurión, Paris 1987, 159pp), fruto de colaboracáb entre intelectuais cris-
tábs e muculmanos. Mas o Isla" espera ainda uma teología da revelacab que
leve em conta todos os dados da fé e os das ciencias humanas, para fazer a
síntese de uns e outros.

Um grito de desespero

É preciso nao deixar de reconhecer que o livro de Rushdie náb é uma


contribuicáb seria para o debate. É deliberadamente provocador e, debaixo
do sarcasmo, vé-se despontar uma contestacáb feroz contra a religiao da in
fancia do autor e contra toda religiao.

1 A respeito de M. Khalafallah, ver J. Jomier, Quelques positions actuelles


de l'éxégese coranique en Egypte - Revéleos par une polémique récente
(1947-51), in: M.E.D.E.O. (Mélanges de l'lnstitut Dominicain des Etudes
Orientales) I (1954), pp. 39-72. - Quanto a Fazlur Rahman, poder-se-á
consultar o seu livro Islam (Doubleday Anchor Book, New York 1966,
33Jpp), especialmente pp. 26-29.

2 Essas Escrituras que nos interrogam. (N.d. T.)

273
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

Mas a rea cao que ele suscita, nos mostra também urna parte da chave
do livro. Trata do fenómeno histérico que está na base de toda a fé mucul-
mana. Zombeteia, cospe por cima, pisoteia-o. A multidío brada e quer punir
o autor, eüminá-lo; mas ninguém diz urna palavra sobre o problema de
fundo.

Todavia poder-se-ia falar livremente, explícitamente, de tal problema?


O livro de Rushdie náb é o sinal de que o autor perdeu a esperanca de po
der discutir calmamente o problema e encontrar urna resposta coerente com
as questdes que um homem do nosso tempo coloca diante do fato da revela-
cao? Teria Rushdie escrito esse livro, e escrito de tal maneira, se os centros
de pensamento islámico no mundo inteiro tivessem levado em consideracáb
esses novos questionamentos de fiéis mucuimanos e se tivessem permitido
a discussío á luz da fé?

Os cristaos experimentaran), há mais de um século, a mesma crise que


O Isla" atual. A urna interpretacáb demasiado rígida e estática da Biblia
opós-se de repente urna córrante que redescobria o ambiente histórico no
qual teve lugar a Revelacáb. Num primeiro tempo, essa corrente também se
deteve prazeirosamente na provocacáb, e algumas vozes se levantaram que
ná*o viam na Biblia senáb um livro meramente humano. Foram necessários
muitos anos para que se ultrapassasse o nivel do choque estéril da provoca-
cío e da indignacío que esta suscita. Aos poucos, os cristábs descobriram
nova maneira de abordar o texto, maneira que permitía acolher a Palavra de
Oeus através da linguagem humana que a tinha transmitido.

O Isla*, a seu turno, entra nessa crise. O livro de Rushdie nada resolve
rá; por certo, nao é nem um grande romance nem urna obra literaria excep
cional. Náb é o tom adotado por Rushdie que facilitará a discussáb sobre o
essencial. Também náb é o tom de desprezo, adotado pelo conjunto dos
meios de comunicacáb ocidentais frente aos crentes mucuimanos que fará
progredir a reflexáb. Os mucuimanos estío indignados, e tém razio; o livro
de Rushdie tinha, sem dúvida, esta f inalidade.

Mas, digamo-lo claramente, o apelo ao morticinio também nada resol


verá. Muito ao contrario, só contribuirá para suscitar outros livros ou outros
artigos escritos no mesmo estilo.

Estamos tío somante no prólogo de um confronto de idéias que levará


muito tempo e exigirá muita paciencia, mas que deverá ocorrer cedo ou tar
de. Desse traba I ho nascerá urna nova teología da revelacáb. O Isla" nada per
derá de sua fé no Livro e no Profeta, que o transmitiu. Ao contrario, adqui
rirá provavelmsnte urna nova compreensío e um sentido mais apurado da
mensagem do Coráb".

274
"OS VERSOS SATÁNICOS" 35

COMENTARIO

Em última análise, verifíca-se que o caso Rushdie tem por cerne o Co-
rao ou, mais especificamente, a maneira de entender o Corao. Tendo este li
vro como inspirado~por Deus, os muculmanos o tomam, de ponta a ponta,
estritamente ao pé da letra e, por isto, punem os ladrdes, cortando-Ihes as
máos; matam os correligionarios que namoram um nao muculmano (ver O
GLOBO, 15/03/89, p. 12), praticam a poligamia, a guerra santa... É este
entendimento rigorosamente literal que torna o Isla táo intransigente no
mundo moderno; vive ainda segundo os costumes e o modo de pensar do
sáculo Vil d.C.

Ora Rushdie, que é muculmano, critica isto em seu livro. De maneira


sutil e fantasiosa, mas muito provocadora, quer chamar a atencao para os as
pectos humanos do Corao. Se os muculmanos o tém como inspirado por
Deus, saibam que passou por mentalidade e estilo de um homem do sáculo
Vil d.C ; assumiu a roupagem e o expressionismo do sáculo Vil d.C. Oeve,
pois, haver nesse livro proposites de valor duradouro e outras já caducas
pelo decorrer do tempo.

O Catolicismo já passou por tal crise nos sáculos XIX/XX. Em meados


do sáculo passado, a exegese protestante liberal admitiu haver géneros litera
rios na Biblia (poesía, leis, prosa narrativa, parábolas, apocalipse...); por
conseguinte, nem tudo deveria ser tomado ao pé da letra; mas, antes de se
fazer a exegese de algum texto bíblico, se deveria averiguar o respectivo gé
nero literario e seguir as regras de interpretacao exigidas por tal género lite
rario. Isto assustou muitas escolas católicas, acostumadas a tudo tomar ao pé
da letra (a criacio do mundo em seis dias, a origem do homem a partir do
barro, a origem da mulher a partir de urna costela, etc.). Aos poucos, porém,
os próprios católicos verificaram que a inspiracáo brbiica nao excluia, mas,
ao contrario, assumia os modos de falar dos homens orientáis antigos: os
expressionismos, os matizes de linguagem, as figuras dos semitas e dos hele
nistas foram tomadas em consideracSo, de tal modo que hoje em dia nem to
do texto é interpretado literalmente. Uto, porém, se faz sem trair a mensa-
gem da Biblia, pois a interpretacao do texto sagrado nao fica entregue a cri
terios subjetivos ("eu acho que..., para mim é ..."), mas é dependente de
criterios objetivos; o estudioso é obrigado a recuar até os tempos dos autores
sagrados, impregnarse de sua mentalidade e de sua linguagem..., para, só de-
pois disto, afirmar que o texto, em seu sentido originario e genuino, quer di-
zer tal ou tal coisa. Conseqüentemente já nao se ensina, em nome da Biblia,
que Deus fez o mundo em seis dias, porque se tum ccnsciéncia de que o rela
to de -Gn 1,1-2,4a é um hiño litúrgico, que quer louvar a Deus Criador e
incutir o repouso do sétimo dia, sem intencionar ensinar ciencias naturais;
algo de semelhante se diga em relaclo á origem do homem e da mulher...

275
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

Frisemos que tal renovacao da exegese católica nao significa concessao ao ra


cionalismo ou á mentalidade liberal de nossos tempos, mas é a única atitude
dócil e fiel ao texto sagrado que se possa conceber, depois que a lingüística e
a historia do Oriente antigo vieram á tona no sáculo XIX. Alias, após madu
ra reflexáb sobre o assunto, o Papa Pió XII na sua Encíclica Divino Afflante
Spiritu (1943) houve por bem ná*o só aprovar a pesquisa dos géneros litera
rios, mas tomá-la obligatoria a todo exegeta.

Parece que neste fim do sáculo XX chegou o momento de fazer o Isla


mismo semelhante revisto de suas atitudes frente áo Corá"o, que os mucul-
manos querem tenha sido inspirado por Deus.

* * *

Acrescentemos ainda urna

NOTA DA SANTA SÉ
A respeito do problema internacional suscitado pelo livro de Salman
Rushdie, o jornal L'Osservatore Romano, quotidiano oficioso da Santa Sé,
em sua edicfo de 05/03/1989, publicou a seguinte Nota, que traduzimos pa
ra o portugués:

A PROPÓSITO DOS VERSOS SATÁNICOS


"Ná"o é raro que, sob a cobertura de motivacoes artísticas ou dos prin
cipios da liberdade de expressao, se procure justificar o uso improprio de
textos sagrados e de elementos religiosos que, em última análise, vém a ser
urna distorcío gratuita ou urna auténtica expressao blasfema.

É muito legítimo perguntar-nos de que arte e de que liberdade se tra


ta, quando em no me destas a dimensáo mais profunda das pessoas ó atacada
e a sua sensibilidade de crentes é ofendida. O direito de exprimir a própria
opiniao nao se pode exercer com prejuízo da dignidade e da consciéncia dos
outros.

Há duas semanas na catedral de Sfo Patricio, o Cardeal John O'Con-


nor, arcebispo de Nova lorque, def iniu o livro 'Os Versos Satánicos' de Sal
man Rushdie como um insulto ao Isla*. O Cardeal Decourtray, arcebispo de
Lifib e Presidente da Conferencia dos Bispos da Franca, refarindo-se ao mes-
mo livro, afirmou, do seu lado, que 'mais urna vez os fiéis sao ofendidos na
sua f6'.
É difícil conhecer as verdadeiras intencoes de Salman Rushdie e a im
portancia da religiáb islámica na sua vida, mas 6 certo que o seu romance foi
comprovado como ofensivo para milhoes de crentes. A consciéncia religiosa
a a sensibilidade ofendida destes exigem nosso respeito. O amor á nossa fé
nos pede que deploremos no livro o que ele tem de irreverente e blasfemo.

276
"OS VERSOS SATÁNICOS" 37

Todavia nao será difícil compreender que a sacra l¡ da de da consciSncia


religiosa de cada individuo nao pode esquecer a sacralidade da vida dos ou-
tros homans.

Por conseguirte, a solidariedade para com aqueles que se sentiram feri-


dos na sua dignidade de crentes, náb pode náb ser acompanhada do anseio
premente de que as atitudes de odio sejam abandonadas, pois vém a ser uma
ofensa a Deus e aos princrpios da Ética natural.
O envolvimento de cidadábs inocentes em inaceitáveis reacoes que tan
to lugar ocuparam na imprensa dos últimos dias, náb deixa de ser menos
preocupante".
* * *

Como se vé, o texto repudia a ofensa as crencas religiosas do Isla (o


Catolicismo tem sido ofendido em filmes cinematográficos dos últimos tem-
pos), mas nem por isto aprova a ameaca de morte decretada por grupo islá
micos contra Salman Rushdie.
* * *

A Igreja dos Apostólos e Mártires, por Daniel-Rops, da Academia


Francesa. Traducao de Emérico da Gama. - Ed. Quadrante, Rúa Iperoig
604, 05016 Sao Paulo (SP) 1988, 160 x 230 mm, 598 pp.
A Editora Quadrante, com este volume, dá inicio a publicacáo da mo
numental obra de Daniel-Rops: A Historia da Igreja, em onze volumes. A
obra já foi traduzida e publicada em Portugal, mas, uma vez esgotada a edi-
cab, é reeditada no Brasil.
Este primeiro volume compreende os quatro prime i ros sáculos da Igre
ja, descritos em estilo muito agradável e em páginas ricas de documentacao,
através das quais transparece a fé do autor. A narracao é objetiva e fiel, des-
cendo por vezes a pormenores de grande interesse. Destacamos especialmen
te os capítulos fináis (IX-XII) do livro, que abordam a chamada "eracons-
tantiniana", que muitos autores interpretam erróneamente: Constantino
Imperador foi realmente um personagem misterioso e ambiguo, cujas facetas
Daniel-Rops apresenta muito vivamente; ao lado de gestos profundamente
cristaos de piedade e zelo missionário, conservou traeos fortes de paganismo;
aos poucos parece ter amadurecido para a pura fé crista". "Tendo optado por
Cristo em 312, num movimento súbito e quase involuntario, nao sería so-
mente depois, através de muitos obstáculos e incertezas, que teria tracado o
seu caminho para a luz definitiva? O seu batismo no leito de morte teria as-
sim o sentido de um verdadeiro e comovente fecho de abobada" (pp. 413s).
O texto é acompanhado de fotografías e ilustracoes assim como de ín
dice Analítico. Fazemos votos para que, quanto antes, vonham a lume todos
os tomos de tío importante e precioso estudo. em boa hora oferecido a to
dos os estudiosos pela Ed. Quadrante.
E.B.

277
Desafio candente:

As Seitas e seu Avanzo

Em símese: Oí novos movimentos religiosos (Gnose. Antroposofia,


Rosa-Cruz...) que se expanden) na sociedade contemporánea, apregoam a
Nova Era - a do Aquário - que se seguirá á de Peixes. Urna nova religiao
universal sincretista, mas de fundo pantefsta-monista, professando a reen
carnado, há de substituir o Cristianismo, segundo os novos arautos... Es-
peram a manifestado de um novo Messias (o Reverendo Moon, Maytreya,
Ishvara...}, baseando-se em teorías de Helena Blavatsky, Krishnamurti, Au-
robindo...

Tais movimentos utilizam valores cristaos, como a Bfblia, a oracao, a


meditacio, a própria figura de Jesús Cristo — o que pode deixar o fiel cató
lico confuso. Daf a imperiosa necessidade de que os católicos se instruam
mais profundamente ñas verdades da fé e procurem vivé-las com toda a coe-
réncia. Na verdade, o fenómeno sincretista de nossos días vem a ser um tes-
temunho ehqüente de quanto está arraigado no coracio do homem contem
poráneo o sonso religioso; vé-se, porém, que Ihe falta o acompanhamento
da razio, capaz de distinguir entre verdade e fantasía religiosa. Desligada da
razio, a religiosidade pode desviarse do seu verdadeiro termo.

* * x

O fenómeno das seitas ou dos grupos religiosos frenéticos e misterio


sos chama sempre mais a atengáo do público e dos estudiosos. Ele diz muita
coisa aos católicos, poís afinal de contas é manifestacáo do ser humano; é
urna resposta do homem contemporáneo aos acontecimentos de nossa épo
ca. Torna-se, portanto, oportuno ler cuidadosamente o fenómeno das seitas
e procurar perceber o seu significado.

Faremos isto apresentando em traducáo portuguesa um texto que des-


creve algumas facetas do fenómeno; após o que nos deteremos em considera-
c5es correlatas.

0 texto se deve ao Grupo francés "Pastorale etSectes", que se reuniu


em 7/11/1988 no Secretariado Geral do Episcopado Francés para elaborar

278
AS SEITAS E SEU AVANQO 39

essas reflexoes. Estavam presentes a esso encontró os PP. Jean Vernette,


Pierre le Cabe I lee, Norbert Gauderon, Yvon le Minee, Damien Sicard, Claude
Cesbron e a Irma Yvonne Vitré. O texto foi publicado em La Documenta-
tion Catholique n? 1978, 19/02/89, pp. 21 Os.

I. AS SEITAS E A NOVA ERA

1. O tema da Nova Era nos novos movimentos religiosos

O tema da Nova Era, de ¡nspiracáo anglo-saxdnica, está amplamente


difundido na maioria dos países da Europa e da América do Norte (está me
nos propagado, por ora, nos ambientes de h'ngua francesa). Inspira a doutri-
na e as práticas de urna serie de grupos gnósticos e de "novas sabedorias
(sophiai)" ligadas á tradica'o paralela: Antroposofia, Teosofía, Rosa-Cruz,
Fraternidade Branca Universal, Atlantis, Ordem Martinista, Arcano. O tema
está também associado a movimentos que se referem ás religioes orientáis,
como a Raja Yoga ou a Meditacáb Transcendental, assim como os grupos de
Oesanvolvimento do Potencial humano, de Terapias Ufológicas1...

O seu grande objetivo é propor a supra-religiab mundial que assinalará


a transicáb para a Era do Aquário ñas proximidades do ano 2000 e o fim da
religíáb Crista* da Era dos Peixes. Esse será o Segundo Advento crfstico. Al-
guns dos seus mentores se apresentam pessoaimente como os novos Messias
para a Nova Era: o Revdo. Moon, bem condecido, e também Maytreya, o
Cristo anunciado por Benjamín Creme, Ishvara sustentado por Lifewave, e
muitos outros.

Cada adepto é convidado a realizar em si o Cristo interior, valendo-se


da Energía Divina e cósmica, que assegura a tríplice harmonía do individuo
consigo mesmo, com a hu maní da de e com o cosmos.

Daí a importancia atribuida ás técnicas do despertar espiritual ou de


exploracáb do espaco interior, pois o conhecimento de si é considerado o ca-
minho mais direto para o conhecimento de Oeus e do mundo.

Daf também um conjunto de práticas aparentemente hetoróditas, mas


unificadas pela vi sao de humanizacáb total (em perspectiva "holística"):2
vias de meditacao e medicina da alma. Yoga e artes marciais, astrologia e
channeling (comunicacáb com as entidades do mundo invisível), dominio do

1 Ufologia é o estudo dos objetos voadores nao identificados (Unidentified


Flying Objects). (N. d. T.)

2 Holon em grego significa tudo; donde holístico = globalizante. (N. d. T.)

279
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

corpo mediante o Tai Chi Chuan 0 as terapias suaves, e dominio da natureza


com a arta floral de Ikebana, ecología e vegetarianismo. Trata-se de congre
gar na unidade o que era diverso, incluindo todas as religi5es num sincretis
mo acolhedor e redutor. É um novo paradigma, um novo modo de ver todas
as coisas.

A conviccáb central desses grupos é de que a humanidade, nos albores


da era do Aquárío, está a ponto de entrar em nova fase de tomada de consci-
éncia espiritual e planetaria, de harmonía a de luz, marcada por mutacoes
psíquicas profundas sob a influencia das 'energías crísticas' já atuantes entre
nos.

É um milenarismo para o ano 2000, cujo Credo (nao explicitado), co-


mum a urna serie da movimentos, 6 da familia do esoterismo — ocultismo:
expectativa de nova fase do mundo anunciada pelas leis dos ciclos cósmicos,
reencarnacao e lei do Karma, naturaza divina da consciencia interior, urna
antropología que apregoa um corpo sutil, etéreo, astral e urna cosmología
dando lugar aos anjos eaos espirito:. A metafísica subjacente é estritamente
monista; a multíplicidade dos seres náb é mais do que a manifestacao iluso
ria (maya) da unidade ontológica do mundo, que ó de esséncia divina. Tema
vector de urna certa religiosidade ocidental, a Nova Era vem a ser urna uto
pia assaz vaga para que cada um nela projete as suas próprias aspiracoes reli
giosas; é comparável a urna nebulosa densa, mas de contornos imprecisos.

As fontes de referencia sao: Helena Blavatsky, A. Bailey, Alian Kar-


dec, Rudolf Steiner e Qurdjieff, além de Aurobíndo, Krishnamurti e Rene
Guénon.

2. Nova Era e Cristianismo

A Nova Era vem a ser um dos challenges, desafios importantes para o


Cristianismo nos próximos anos. Primeiramente, porque esses movimentos
sáb ciosos de efetuar o seu desaparecimento para dar lugar á futura religiao
mundial. Em seguida, porque esse tipo de sensibilidade religiosa tem muitos
traeos da gnose eterna. Por último, porque muitos cristábs praticamente per-
tencem também aos novos movi mantos.

Em conseqüéncia, o Grupo católico 'Pastoral e Seitas', tendo em vista


os fatos, enfatiza algumas exigencias pastorais:

1) Levar a sário as questdes levantadas pela Nova Era, sob pena de que
nao nos leverrr a serlo. É preciso saber, por exemplo, que a Biblia, o coracáb
do Cristianismo, é farta manta utilizada na Nova Era — o que também engaña
os crirtábs —, mas totalmente reinterpretada em perspectiva gnóstica. Assim

280
AS SEITAS E SEU AVANCO 41

se constituí tranquilamente uma nova religiosidade fora da Igreja, com audi


encia sempre maior.

2) Rever ligacoes erróneamente estabelecidas entre o Cristianismo e


concepcó*es (antropológicas, cosmológicas e metafísicas) rejeitadas pelas cor-
rentes da Nova Era. A antropología bíblica, por exemplo, permite travar um
diálogo promissor, que ná"o conseguiríamos se professáisemos concepcoes
cartesianas.

3) Incutir certos pontos de referencia fundamentáis da identidade cris


ta", principalmente naqueles cristábs que sáb tentados pelo duplo jogo: Crfls
na reencarnacáo ou na ressurreicáb? De quem és discípulo: de Jesús ou do
'Mestre'? Tua oracáb é dominio, imperativo sobre Oeus como fruto de uma
técnica, ou é acolhida e desprendimento de uma alma de pobre? O manda-
mentó do amor ao próximo é mais importante para ti do que a auto-realiza-
cáb? A salvacáb vem gratuitamente de Jesús Cristo ou do conhecimento que
acumulaste? Teu Deus é um Deus de bencáb? Que valor tem para ti a comu-
nidade? Conservas rigor, distancia e espirito crítico na avaliacáb do que te é
proposto? Aceitas nao dizer a última palavra sobre todos os assuntos?"

II. COMENTARIO

0 texto em pauta sugere cinco ¡tens, á guisa de comentario:

1) Os movimentos religiosos modernos da~o ni'tido testemunho da sede


do Divino que agita o homem contemporáneo. A nossa época nao pode ser
tida como "pos-religiosa". Muito ao contrario; o senso religioso ¡nato em to
do homem vem a tona com mais veeméncia precisamente como réplica ás
tentativas de confinar o homem e suas aspiracoes no ámbito dos bens mera
mente materjais. Até nos países em que a propaganda anti-religiosa tem sido
mais acentuada registra-se a persistencia "teimosa" e contagiante do senso
religioso ñas geracoes antigás e jovens. A juventude, com todo o seu idealis
mo entusiasta, vai percebendo que as propostas materialistas, sem o cunho
do Transcendental, nao satisfazem ao coracá*o humano. A fenomenología
"rrrstica" de nossos dias corrobora a conviccá*o de que o homem é essencial-
mente um vívente religioso.

2) Verifica-se, porém, que a religiosidade contemporánea, efervescente


como é, está dissociada do raciocinio ou do uso do intelecto e muito im
pregnada de emotividade e sensacionalismo. Procura o oculto e o maravilho-
so (comunicapoes com o além, conhecimentos reservados a poucos iniciados,
profecías fantasiosas, chefes tidos como carismáticos, Messias, Salvadores
mirabolantes...). Parece que o homem de hoje está cansado de procurar a sal-
vacio pelos vías racionáis ou pela fé salvffica e apela para respostas mais

281
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

"¡mediatas", embora pouco ou nada sustentáveis aos olhos da sa razao e da


lógica. Dentro deste quadro se sitúa a divisao do tempo em segmentos regi
dos pelos pretensos signos do Zodíaco; estaríamos saindo de um signo
(Peixes), para entrar no do Aquário; na verdade, o pretenso anel que cercaría
a Térra (centro do sistema astronómico) e seria portador das casas do Zodía
co, nao existe; é expressao da mentalídade ptolemaica ou pré-galileana, mas,
apesar de tudo, quando se trata de alimentar a fantasía e fornecer pretensa
seguranga ao homem, tal suposicSo continua a ser professada. Quanto aos
discos voadores, sabemos que muita especulado subjetiva e falha se associa
á possibilidade de haver habitantes em outros planetas a visitar a Térra; a
Ufologia muitas vezes ná"o é ciencia pura, mas mística e fantasía á margem
de alguns fenómenos de índole ambigua. Ver o artigo seguinte deste fascí
culo.

É notoria a veeméncia das motivacoes religiosas; baseando-se nos valo


res transcendentais, elas tém nao raro o poder de mobilizar o mais íntimo do
homem. Desligadas do raciocinio, tornam-se ainda mais fortes, porque ¡sen-
tas de todo controle; tornam-se também menos exigentes (permttindo atitu-
des religiosas "facilitadas"), porque o subjetivismo formula e apaga as suas
próprias regras religiosas.

3) As novas filosofías e místicas sao de índole monistapanteísta: a


multiplicidade dos seres é a manifestacao ilusoria da unidade ontológica do
mundo, que é de esséncia divina, dízem os pan teístas. Isto significa que tudo
o que existe, inclusive o cerne do homem, é divino ou é a própria Divíndade
sob diversas formas. — O panteísmo é sistema religioso muito espalhado,
pois, identificando o homem com a Divindade, garante ao homem urna certa
autonomía; ele ná*o tem que prestar contas a um Deus transcendente e Cria
dor. É, porém, aberrante ou ilógico, pois Deus por defínícáo é o Absoluto,
o Eterno, e ná*o se pode confundir com o transitorio, relativo e contingente.
O panteísmo, porém, pode encontrar aceitacao num clima religioso antíinte-
lectual como o de nossos tempos.

Esse fundo panteísta faz que as novas correntes religiosas conservem


vocábulos clássicos da teología e da espiritualidade, atribuindo-lhes, porém,
sentido novo ou desvirtuado: assim o adjetivo "crístíco" ("energías crfsti-
cas") nada tem que ver com o conceito crístáo de Jesús Cristo; "meditacao",
no sentido hindú panteísta, é o exercício de esvaziamento ou total silencio
interior, para que o eu divino do individuo possa ser descoberto mais fácil
mente; "oracao" é o exercício da mente que se poe em sintonía com as on
das cósmicas, a fím de captar ou obter as suas influencias benéficas...

4) 0 tema da reencarnacao se prende ao do panteísmo, pois, se tudo é


Deus, é o homem mesmo quem se salva; e, se nao se salva numa encarnacáo,

282
AS SEITAS E SEU AYANCO 43

há de se salvar em outra(s)... É esta unta proposicao afirmada teóricamente,


sem apoio na experiencia dos homens; nenhum argumento de ordem concre
ta é capaz de provar a reencarnacao, pois ninguém se lembra do que foi em
existencias pregressas; todos os casos de regressao de idade aduzidos como
prova da reencarnapSo sá"o explicados pela parapsicologia como livre associa-
cá"o de impressóes colhidas na vida presente por pessoas postas em sonb hip
nótico. — Além do mais, a tese da reencarnapSo p5e o homem diante de um
mecanismo "divino" muito impessoal e indigno de Deus; tenha-se em vista
a lei do Karma, segundo a qual quem é pobre hoje é tal porque abusou da
riqueza em vida anterior ou foi grande pecador; quem é doente hoje, abusou
da saúde em encarnacao anterior ou foi grande pecador...

Mais: a reencarnacáo supSe o dualismo, ou seja, a oposicáo entre espi


rito (realidade boa) e materia (realidade má). Os espirites se reencarnam pa
ra expiar seus pecados no cárcere do corpo ou da materia; o grande anseio
dos reencamacionistas é avadir-se do ciclo das reencarnapoes ou do ámbito
do mundo material.

Estas considerapoes bem mostram como a densa nebulosa de contor


nos imprecisos, que sao as novas idéias, carrega em si falhas graves, que nao
resistem ao crivo de serio raciocinio. O que elas tém de positivo, é eviden
ciar que o homem do sáculo XX conserva seu senso religioso e místico con-
génito, desorientado, porém, pela falta da luz de sadio raciocinio.

5) Em conseqüéncia, compete aos fiéis católicos

a) procurar conhecer cada vez melhor as grandes verdades da sua fé;


disto nao pode deixar de resultar profunda alegría... pois "conhecer a Deus
é viver". Dado que a Biblia se tornou um livro utilizado por nao cristaos,
convém que os fiéis católicos a saibam ler com entendimento, apreenden-
do o reto sentido de suas páginas. Esclarecidos a respeito de seu Credo, po-
derao evitar mais fácilmente os percalcos das novas propostas e dar mais ní
tido testemunho da sua fé. É certamen te urna das grandes conclusoes que a
problemática atual sugere: é imperiosa a necessidade do estudo sistemático
da doutrina revelada por Jesús Cristo e entregue a sua única Igreja;

b) procurar viver coerentemente tais verdades a fim de que "o mundo


creia" (Jo 17,21). Já que o mundo de hoje está contagiado pelo antüntelec-
tualismo, apresente-se-lhe ao menos a vivencia prática e concreta dos fiéis
discípulos de Cristo para que possa ter acesso ao puro patrimonio da fé.

0 Senhor Deus é Ele mesmo o Tutor da sua Palavra consignada no


Evangelho e apregoada pela Igreja. Ele acompanha o Barco de Pedro em
meio'ás tempestades e tudo dirige para que da própria tentapáo os discípu
los fiéis tirem proveito e crescimento na vida crista (cf. ICor 10,13).

283
A"Ordemdos49":

"A Cidade dos Sete Planetas"

por Polo Noel Atan

Em tíntese: A "Ordem dos 49" apresen tase como continuadora dos


planos de Polo Noel Atan. Sete seres extra-terrestres terao doutrínado este
escritor para que colabore com eles na instaurado da paz e do amor sobre
a Térra. Tendo visitado a "Cidade dos Sete Planetas" na Cordilheira dos
Andes, maravilhoso acampamento de seres espadáis. Polo Atan foi solici
tado por eles para difundir na Térra o anuncio de "urna Fraternidade Au
téntica alicercada na Grande Verdade de Unidade Mental e Espiritual". O
vidente Polo resolveu escrever suas experiencias na Cidade dos Sete Plane
tas em livro do mesmo título, que vem a ser a razio de ser e a cartilha básica
da "Ordem dos 49" (49, porque Polo viu 48 seres espaciáis, aos quais ele
se agrega como o 49? companheiro).

A "Ordem dos 49" ou a "Acfo Mental Interplaneteria" foi fundada


em 22/10/1977, para dar continuidade ás experiencias de Polo Noel Atan
(pseudónimo?), que diz ter estado em contato com seres extra-terrestres na
Cidade dos Sete Planetas, situada na Cordilheira dos Andes. Os seres espa
ciáis disseram a Polo que vieram a Térra para ajudar a humanidade a deixar
as guerras e o odio para no futuro viver o amor, e pediram a Polo Noel Atan:
"Ajude-nos a ajudar voces!" Ora a Ordem dos 49 tem precisamente a finali-
dade de propagar as revelacdes eos pianos dos extra-terrestres e arregimentar
os homens para a colaboracSo. A designado "Ordem dos 49" se deve prova-
velmente ao fato de que Polo diz ter estado com 48 seres espaciáis (homens
interplaneterios, conforme a p. 229 do seu livro); o 49? seria o próprio Po
lo. A Ordem declara nSo ter vínculos religiosos nem políticos; nSo proibe
as crencas religiosas de seus membros, nao exige juramentos nem possui se-
gredos. Aceita candidatos de qualquer rapa, cor, religiSo, cultura ou condu-
ta moral.

284
"A CIDADE DOS SETE PLANETAS" 45

O livro básico da "Ordem dos 49" ¡ntitula-se "A Cidade dos Sete Pla
netas".' Narra o primeiro contato que Polo diz ter tido com os extra-terres
tres, e propóe as idéias inspiradoras da Ordem. Á guisa de ¡nformacáo, passa-
mos a transmitir, ñas páginas subseqüéntes, o conteúdo de tal escrito, ao que
acrescentaremos breve comentario.

1. O conteúdo do livro

Polo Noel Atan diz que certa vez, tendo ido á Amazonia como turista,
foi colhido por seres estranhos que o levaram á Cordilheira dos Andes, onde
encontrou urna Cidade Maravilhosa, ou, melhor, o acampamento de seres in
terplaneterios, oriundos de outros planetas e destinados a promover a paz e
o amor sobre a Térra.

A principio. Polo assustou-se grandemente, mas foi-se habituando ao


respectivo ambiente; fez amizade com sete entidades (seres humanos), vin-
dos cada qual de um planeta, que viviam a quarta dimensáo e a realidade do
"Homem Quaternário". Falavam com a mente apenas, mas ¿ambém podiam
comunicar-se mediante palavras. Tal cidade teria sido fundada pelos "Gran
des Sacerdotes Atlantes", habitantes do pretenso continente "Atlántida",
hoje desaparecido.3

Polo chegou a viajar num disco voador com um dos extra-terrestres;


foi instruido por eles a respeito da colaborado que pode e deve prestar á
instauracáo de nova era, em que se estabelecerá a humanidade: "Já esta
mos na era em que se estabelecerá a Fraternidade Auténtica sobre a face da
Térra, alicercada na Grande Verdade da Unidade Mental e Espiritual" (p.
VIII do livro respectivo). O homem deverá passar da terceira para a quarta
dimensáo e constituir o Reino Hominal, que ficará além dos Reinos mine
ral,-vegetal e animal.

O autor refere-se á Fraternidade Branca, constituida por seres terres


tres que habitam lugares recónditos da Térra e acolhem os seres visitantes
extra-terrestres.

Finalmente, após instrutivo contato com os extra-terrestres. Polo foi


despedido para que voltasse para junto dos seus familiares, com o seguinte
programa:

1 Bdicao da Ordem dos 49, 2a. tiragem em 1986. A sede da Ordem fica em
Piradcaba {SP).

2 De acordó com os críticos mais abalizados, a Atlántida nunca existiu; ela


se deriva de falsa interpretacao de escritos de PlatSo. Ver a propósito Pfí
256/1981, pp. 184-188.

285
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

"És um Célica. O que existe dentro de ti, va i saciar os que estío se-
dentos. Vai..." (p. 235).

De tal experiencia procede a Ordem dos 49, como dito.

Pergunta-se agora:

2. Que dizer?

Como se percebe desta breve símese, o livro é altamente fantasioso.


Corresponde ao espontáneo anseio de todo homem, estimulado pela ingrati-
dSo dos nossos tempos, de encontrar urna solugáo para os problemas que
atualmente afligem a humanidade: visto que os horizontes terrestres sao
sombríos, muitas pessoas apelam para intervencoes retumbantes do além so
bre a Térra; a promessa ou a pretensa narragao de tais intervencoes despena
nos contemporáneos a esperanza já esmorecida pelos males presentes. Verifi-
ca-se, porém, que o relato de Polo Noel Atan é muito mais imaginoso e fan-
tasista do que lógico e históricamente verossfmil. A tal Cidade Maravilhosa é
urna utopia, um sonho projetado sobre a Cordilheira dos Antes, sem que
haja pravas de sua existencia nem possibilidade de averiguacao da proposicáb.

A mentalidade do autor está impregnada de pensamento ocultista: Po


lo diz que conheceu o que ninguém mais conhece entre os moríais terrestres.
Além disto, usa terminología confusa no tocante á Religiao:

Fala de "Entidades Divinas vindas á Térra" (p. 10); fala do "Grande


Arquiteto do Universo, Deus" (p. 244); fala do "Mestre dos Mestres Jesús
Cristo" (p. 244); fala também da "Fagulha Divina, sede energética da forca
cósmica e quarto aspecto do homem" (p. 244); fala da "Mente Total, Deus"
(p. 244)... Tais expressSes tém sabor pan teísta, ou seja, derivam-se da cor-
rente de pensamento que identifica entre si a Divindade, o homem e o mun
do. Quanto ao título "Grande Arquiteto do Universo", sabe-se que é de orí-
gem maconica.

Em suma, o livro na"o resiste ao exame da lógica serena e objetiva. É


muito mais o fruto da fantasía e da emogao do que do raciocinio e das pes
quisas científicas. Poderá ¡mpressionar a quem esteja aberto ao maravilhoso
desligado de senso crítico, mas nao se ¡mpoe a quem Ihe aplique um mínimo
de exigencias da sá razao. Alias, os assuntos ligados á Ufologia ou ao estudo
de discos voadores (Unidentified Flying Objects) tém-se prestado ao exercí-
ció da imaginacSo e alimentado tendencias místicas pouco fundamentadas,
principalmente entre os adeptos do Espiritismo, para os quais os "desencar
nados" habitam planetas distantes e se manifestam aos telúricos para aju-
dá-los.

286
Fala o Conselho Episcopal Latino-americano:

Projeto "Palavra - Vida"


e outros Temas...
0 Conselho Episcopal Latino-americano, em 10/02/89, reunido em
Bogotá mediante os seus representantes habilitados, houve por bem emitir
a seguínte Nota de Imprensa, importante a varios títulos:

COMUNICADO DE IMPRENSA1

"Ao concluir a Reuniáb ordinaria de Coordenacáo, na qual participa-


ram os Bispos membros da Presidencia do Conselho Episcopal Latino-ameri
cano (CELAM), os Presidentes dos Departamentos e os Responsáveis das
Secoes e Secretariados deste Organismo de Servico ás 22 Conferencias Epis-
copáis Latino-americanas, julgamos conveniente e oportuno dar a conhecer
quanto segué:

1. Em espirito de profunda gratidáb ao Senhor, celebramos os vinte


anos da II Conferencia Geral do Episcopado Latino-americano, em Medellín,
e os dez anos da III Conferencia, em Puebla, acontecimentos providenciáis
que marcaram tao profundamente a vida das nossas Igrejas. Nesse mesmo es
pirito, preparamo-nos para celebrar, se Deus quiser. a IV Conferencia Geral
do Episcopado Latino-americano, em 1992.

2. Ante os ataques infundados, injustos e desrespeitosos de que foi


objeto o Santo Padre por parte de um grupo de teólogos europeus, cujo pro-
nunciamento julgamos nocivo á fé e á comunháb eclesial, escrevemos urna
carta a Sua Santidade para Lhe expressar o nosso profundo respeito e a
nossa fidelidade.

3. Com alegria tivemos conhecimento de diversas iniciativas, suscita


das pelo Espirito Santo, para celebrar o V Centenario da chegada do Evange-
Iho de Cristo ao 'Continente da esperanza'.

4. O projeto 'Palavra-vida', preparado pela direcáb da Confederacao


Latino-americana de Religiosos (CLAR) e destinado aos Religiosos eás Re-

1 Transcrito de L'Osservatore Romano de 19/02/89, p. 3. Aos 25/04/89 o


CELAM g a CLAR publicaran) outro documento, do qual daremos noticia
no próximo número de Pfí.

287
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 325/1989

ligiosas da América Latina, produziu em nos grave preocupacáo, pelas con-


saqQencias negativas que ele poderia ter ñas nossas Igrejas, se nao fosse opor
tuna e devidamente corrigido. Já fizamos chegar a nossa inquietudeá Con-
gregacáb para os Religiosos, ás Conferencias Episcopais e á Direcao da
CLAR.

O projeto 'Palavra-vida', tal como está concebido, tem em si defeitos


fundamentáis, que hoje náb seriam por nos lamentados, se se tivesse observa
do a norma requerida pelos mesmos estatutos da CLAR, a saber, de obter a
aprovacáb episcopal antes da sua publicacáb. Entre as deficiencias de fundo,
assinalamos sobretudo o método proposto para ler a Sagrada Escritura, mé
todo que náb interpreta a Palavra de Deus á luz da fé e do magisterio da
Igreja, mas antes propoe urna leitura ideológica e redutiva, que cortamente
náb favorece a 'nova evangelizacao' para a qual o Santo Padre nos convocou.

Bogotá, 10 de Fevereiro de 1989".

* * *

COMENTARIO

No texto ácima destacamos os tres seguintes pontos:

1) A prospectiva da celebracSo do quinto centenario da evangelizado


da América Latina (12/10/1992). . . Deve suscitar o zelo dos pastores e dos
fiéis no sentido de entreterem ou reavivarem a chama da fé trazida pelos
primeiros missionários. Há muito que fazer em nossos dias, especialmente
através dos recursos modernos dos meios de comunicacáo, inclusive o radio
e a televisao. Se Deus entregou ao homem tao poderosos instrumentos, sir-
vam á Palavra de Deus, que é Verdade e Vida; a finalidade precipua de tais
recursos há de ser construtiva no pleno sentido do vocábulo (o que incluí
evangelizacáb).

2) A fidelidade a Cátedra de Pedro, fator de unidade da Igreja. . . A


palavra fidelidade vem de fides, fé. É da fé fiel e firme que o cristao vive
(cf. Rm 1,17), subordinando os criterios meramente racionáis e humanos
aos do plano de Deus.

3) Rejeicao de um Projeto de Leitura Bíblica em perspectiva ideológi


ca, ou seja, distorcendo o texto sagrado para que sirva a teses de índole só-
cio-polttico-econdmica. Muito sutilmente tal Projeto desvia os livros sagra-

(continua na pág. 259)

288
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