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Cabo verde é um arquipélago constituído por dez ilhas, sendo nove delas
habitadas e alguns ilhéus. Está situado na costa ocidental africana a cerca de quinhentos
quilómetros do cabo do mesmo nome no Senegal.
Segundo a tese oficial, Cabo verde foi descoberto pelos portugueses no ano de
1460. Mas ao longo do tempo surgira várias hipóteses sobre uma eventual ocupação ou
passagem de alguns povos para o nosso país antes dos portugueses. A hipótese mais
difundida surgiu no século XVIII, em que diziam que a ilha de Santiago já tinha sido
ocupado antes da chegada dos navegadores portugueses pelos Jalofos vindos do
Senegal. Estavam a ser perseguidos e durante a fuga a corrente marítima trouxe-os até à
ilha de Santiago. Entretanto, até ainda não foram encontrados nenhum vestígio que
ajude a comprovar esta hipótese. Outra hipótese levantada é que as salinas do Sal eram
exploradas pelos árabes antes da chegada dos portugueses, mas no entanto não queria
divulgar a descoberta para evitarem a concorrência.
Todavia, a tese oficial diz que Cabo Vede foi descoberto no dia 1 de Maio de
1460, pelos navegadores Diogo Gomes e Diogo Afonso. No ano de 1462, Diogo Afonso
descobriu as ilhas do Norte e Brava. Mas actualmente, a maioria dos historiadores
discordam, afirmando que António da Noli foi o verdadeiro descobridor de Cabo Verde,
contudo, não lhe foi atribuído o mérito, na altura, pelo facto de não ser português.
Santiago foi a primeira ilha a ser povoada, devido à sua localização geográfica,
abundância de água (em relação às outras ilhas), bons portos naturais, etc. A sua
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ocupação não foi nada fácil, uma vez que os portugueses queriam seguir o mesmo
modelo que adoptaram no arquipélago dos Açores e da Madeira. Isto é, queriam povoar
Cabo Verde apenas com colonos brancos vindos do reino, mas aqui não tinham as
mesmas condições climatéricas que os outros arquipélagos, pois, não havia: bons
terrenos para a prática da agricultura, sobretudo, para a produção dos produtos aos quais
os portugueses estavam habituados como o trigo, a cevada e a vinha; e os produtos que
estavam a procurar como o ouro, o marfim e as especiarias. Além disso, Portugal
também tinha pouca gente.
Com a carta de 1466, o rei deu muitos privilégios aos vizinhos 1 de Santiago com
o intuito de incentivar a fixação das pessoas na dita ilha. A carta de 1472 limitou os
privilégios destes e os obrigou a comerciar na costa da Guiné com os produtos “nadus e
criadus na terra”, ou seja, os produtos produzidos em Cabo Verde. Essa normativa
obrigou os vizinhos de Santiago a voltarem para o interior para produzir tais produtos,
para isso, era necessária mão-de-obra. A solução foi transformar parte dos escravos que
antes em Santiago eram apenas mercadorias em mão-de-obra e povoadores do interior
de Santiago e Fogo.
Em suma, podemos dizer que são esses dois grupos que contribuíram para a formação
de aquilo que hoje é Homem cabo-verdiano. Explicaremos como no próximo tópico.
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Aqueles que residiam na ilha de Santiago por mais de quatro anos com as suas respectivas famílias e que
possuíam bens na dita ilha.
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Como já tínhamos referido anteriormente, para a formação do Homem cabo-
verdiano contribuíram inicialmente povos vindos de duas áreas geográficas bastante
distintas. Em função da sua procedência vamos dividi-los em dois grandes grupos,
brancos europeus e negros africanos, e tentaremos averiguar a identidade étnica dos
indivíduos que entraram na composição de cada um.
1. Europeus
2
BALENO, Ilídio – “Povoamento e formação da sociedade”. In: ALBUQUERQUE, Luís de e SANTOS,
Maria Emília Medeiros (coord.) Historia Geral de Cabo Verde. Vol. I. 2ª ed. Lisboa / Praia. Edições
conjuntas do Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga e Instituto Nacional de Investigação
Cultural, 2001. P. 129.
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A população de origem portuguesa logicamente não era composta apenas por
gentes ligados a actividade comercial. À medida que a sociedade ia se desenvolvendo e
estruturando iam surgir outros agentes para o controle e regulamentação das actividades
comerciais que ai se desenvolviam, para a gestão político-administrativa, para a
assistência espiritual, para assistência sanitária, etc.3
Os europeus não reinos que estiveram em maior número nas ilhas são os
castelhanos, quer como moradores específicos, quer como estantes. Exerciam uma
grande influência na sociedade. Eles eram os principais compradores de escravos em
Santiago uma vez que eram proibidos irem resgatar na costa devido ao acordo celebrado
entre Portugal e Espanha mas esse acordo não os impediam de comprar em Santiago.
3
Idem. p.131.
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Eram também excelentes fornecedores de mantimentos e outros bens de consumo não
que não se produzem aqui.
Um outro grupo de brancos que encontramos aqui era os cristãos novos (judeus),
vindo do reino. Eram comerciantes e aqui continuaram a se dedicar a essa actividade.
Mas eles nunca eram bem aceite pelos dirigentes locais e pela igreja. Prova disso é a
proibição em 1515 da fixação de cristãos novos nas ilhas sem licenças especiais, mas
alguns investigadores acreditam que essa proibição não teve qualquer efeito, na medida
em que continuaram a vir e morar em Cabo Verde.
Para fechar esse tópico, gostaríamos de dizer que estes são os principais grupos
europeus que contribuíram para a formação do homem cabo-verdiano, sendo os
portugueses constituindo a maioria da população branca.
Finalizando o estudo sobre os brancos europeus, resta nos dizer que o seu
número nunca atingiu grandes proporções relativamente ao dos africanos. É de salientar
também que quase não havia mulheres brancas e aquelas poucas que havia (quatro em
1513) ou eram degredadas ou eram prostitutas.
2. Africanos
Nas regiões acima referido foram inventariados vinte e sete grupos étnicos e
alguns subgrupos. Entretanto, os comerciantes de Santiago tinham restrições de
mercadorias que podiam levar para a costa, e eles só iam em zona onde os seus produtos
eram mais bem aceite. Os principais produtos que eles levavam para a costa eram
algodão e os seus derivados (temos o exemplo de pano de terra). Este era muito
procurado na região do rio Casamansa (no Extremo Sul da actual República do
Senegal), rio São Domingos e rio Grande (actual Guiné Bissau). O grosso dos navios
armados em Santiago partia em direcção a essa região.
No rio São Domingos havia mais escravos de que os restantes, de ali vinham
para Cabo Verde Banhus, Buramos, Cassangas, Jabundos, Felupes, Ariantas, e Balantas.
Do rio Grande vinham Naluns, Bijagós e Burames. Ainda temos informação de que
havia alguns Jalofos no arquipélago. Também levanta-se a hipótese de ter havido em
Cabo Verde alguns africanos livres que acompanhavam os comerciantes. Segundo Elisa
Andrade, estes africanos desempenhavam o papel de intérprete dos lançados e dos
marinheiros de Santiago nos rios de Guiné4. É de referir que eles eram em números
bastante reduzido que não tinham um enquadramento destacado na sociedade insular.
Em suma podemos dizer que estes são os povos que ao cruzarem uns com os
outros formaram aquilo que hoje é o homem cabo-verdiano.
Como não existe homem sem cultura, gostaríamos de apontar aqui alguns
contributos que cada um desses dois grandes grupos humanos dera para a formação da
cultura do arquipélago.
Dos africanos, apesar das repressões por parte das autoridades e consideradas
gentílicas pelas mesmas, recebemos:
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ANDRADE, Elisa – “Cabo Verde: povo, cultura e identidade cultural”. In: Revista Cultura. Nª 1. Praia.
Ministério da Cultura. Setembro de 1997. P.23.
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mútuo. Os associados prestam moral e material em caso de doenças ou
de morte e auxiliam na construção de casa ou os trabalhos de campo.
• O batuque, cujo balancear das ancas é ritmado pelo bater das palmas das
mãos sobre um almofado que as mulheres apertam fortemente entre as
coxas, é sempre acompanhado de um cântico improvisado, o finaçon, que
dez em quanto é interrompido para dar lugar a um intenso rapicado que
por vezes leva os dançadores ao transe: é a tchabeta que, parece, vem do
termo bantu ku-beta, que designa o batuque.5
5
cf. Idem. p. 27.
10
Do nosso continente ainda herdamos: os esforços das tarefas quotidianas
entregues as mulheres, enquanto os homens, terminados os trabalhos de sementeira se
dedicam ao repouso ou a actividades de carácter social; o hábito de transportar as
crianças às costas, a utilização do pau e do pilão, o tear, a técnica de tingir os panos (que
estão sendo recuperados e desenvolvidos pelo artesanato moderno e oferecidos aos
turistas), a cerâmica e algumas técnicas de cultivo.
6
ANJOS, José Carlos Gomes dos - Intelectuais, literatura e poder em Cabo Verde: lutas de definição de
identidade nacional. Praia / Porto Alegre. INIPC E UFRGS / IFCH. 2002. pp.156-157.
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defende a ideia de que somos africanos, enquanto o segundo e alguns outros intelectuais
do Barlavento defendem uma identidade mestiça para o povo cabo-verdiano.
Outro intelectual que vai na mesma linha dele é o Francisco Mascarenhas que
diz o seguinte: nós cabo-verdianos conseguimos, através de dois ou três séculos, ser
diferentes do europeu e do africano. Lográmos uma identidade própria, rica,
expressiva, dinâmica8.
7
AAVV. “Dinâmica da Cultura Cabo-verdiana” In.: Emigrason Nº 38/39. Iª série. 1996. p.47.
8
LIMA, Mesquitela – “Cabo-verdianidade”. In: revista Charme. nº 8. Mindelo. Julho/Agosto. 1996. p.
19.
9
VEIGA, Manuel. “Cabo Verde: Que Cultura, que direito, que dinamismo”.in: Pré-textos. Número
especial . Praia. Ministério da Cultura. 1997 p. 318.
10
Idem. p. 314.
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IV. SITUAÇÃO ACTUAL DA QUESTÃO E PERSPECTIVAS
FUTURAS
Para afirmarem que Cabo Verde tinha uma identidade própria, os intelectuais
Cabo-verdianos criaram vários conceitos. Uma delas é a Cabo-verdianidade.
Este termo tem sido utilizado várias vezes por homens da cultura Cabo-verdiana
como léxico cultural para exprimir conceitos jamais vistos nos dicionários. Objectivo de
muitos é querer impressionar aos menos atentos de que estes vocábulos fictícios rimam
com a cultura Cabo-verdiana.
Este conceito surgiu com os nativistas. Eles defendiam que Cabo Verde tinha
uma cultura, uma língua e uma identidade própria.
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Este debate em torno da identidade do Cabo-verdiano não parou com os
nativistas. Os claridosos também se preocupavam com isso. Eles defendiam uma
identidade mestiça para o povo Cabo-verdiano. A Cabo-verdianidade aqui é entendida
como a especificidade da cultura Cabo-verdiana dentro do contexto colonial português.
Para eles a cultura Cabo-verdiana não é nem Europa nem África, e sim Cabo-verdiana.
11
ALMADA, David Hoffer – Cabo-verdianidade e Tropicalismo. Recife. Fundação Joaquim Nabuco.
1992. P.85.
12
Idem. p.87.
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