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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
rtstmétwtm
SUMARIO

9 Pecado e Santidade na Igreja


j

> "Senhor e fonte de vida"

' A única Igreja de Jesús Cristo

j Urna carta da África do Sul

A Igreja Católica Liberal?

: Cemiterios: jardins de lazer e pesquisas científicas?


j
j
i

ANO XXVII - OUTUBRO - 1986


PERGUNTE E RESPONDEREMOS OUTUBRO - 1986
Publicado mensal •■" ■ ' ■'•> ' N9293

Diretor- Responsável:
PECADO E SANTIDADE NA IGREJA 433
A Carta Encíclica
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia "SENHOR E FONTE DE VIDA" 434
publicada neste periódico
Diz-se:
Oiretor-Ad ministrador
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" 446
D. Hildebrando P. Martins OSB

Relativismo na fé?
Administracao e distribuicao: A ÚNICA IGREJA DE JESÚS CRISTO 458
Edicdes Lumen Christi
Um documento pouco conheddo:
Dom Gerardo, 40 - S? andar, S/501
Tel.r(021) 291-7122 UMA CARTA DA ÁFRICA DO SUL 464
Caixa postal 2666
Queé
20001 - Rio de Janeiro - RJ
A IGREJA CATÓLICA LIBERAL? 468

Discute-se:
Composicao e Impressao:

"Marques Saraiva"
CEMITÉRIOS: JARDINS DE LAZER
Santos Rodrigues. 240
E PESQUISAS CIENTÍFICAS? 475J
Rio de Janeiro
NOTA: O filme THÉRÉSE de Alain
Cavalier 479

Assinatura de 1986: CzS 100,00


Número avulso CzS 11,00
Para pagamento da assinatura de NO PRÓXIMO NUMERO
1986, queira depositar a imponen
294 - Novembro - 1986
cia no Banco do Brasil para crédito
na Conta Corrente n? 0031 304-1 A Consciéncia que Jesús tinha de Si e
de sua Missáo. - O caso "Charles Curran" -
em nome do Mosteiro de Sao Bento
"O Demonio anda soltó por ai!" - "Fatos e
do Rio de Janeiro, pagável na Agen
Mitos sobre a Virgem María".- Mae-Meni-
cia da Praga Mauá (n? 0435) ou en ninha e Catolicismo.
viar VALE POSTAL pagável na
Agencia Central dos Correios do
Rio de Janeiro. COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

RENOVÉ QUANTO ANTES COMUNIQUE-NOS QUALQUER


A SUA ASSINATURA MUDANCA OE ENDERECO
Pecado e Santidade na Igreja
Encontram-se na Tradicáo eloqüentes testemunhos de amor á
Igreja... Fazem eco especialmente aos escritos de SSo Paulo, que tem a
Igreja como "Esposa de Cristo, sem mancha nem ruga" (Ef 5,27) e como
nossaMSe(GI4,26).
Entre outros, destacam-se os dizeres de S. Cipriano (r 258), que
escreve:

"A Igreja é urna so Mae ¡mensamente fecunda. Nascemos todos do


seu ventre, somos nutridos com seu leite e animados por seu espirito. A
esposa de Cristo nao pode ser adulterada, ela é incorrupta e pura, nao
conhece mais que urna só casa, guarda com casto pudor a santidade do
único tálamo. Ela nos conserva para Oeus, entrega ao Reino os filhos que
gerou. Quem se afasta da Igreja e se junta a urna adúltera, separa-se das
promessas da Igreja... NSo pode ter Deus por Pai quem nSo tem a Igreja
por Máe" (Sobre a untdade da Igreja, cap. 4).
É digna de nota a referencia á "Igreja incorrupta e pura, que nSo
conhece adulterio". Com efeito; a Igreja é portadora de santidade inde-
fectfvel, que Cristo Cabeca Ihe comunica e que Ela faz transbordar sobre
todos os que se Ihe incorporam; Ela é sempre o sacramento universal de
salvacSo, instituido por Cristo e confiado a Pedro; Ela suscitou, educou
e formou multidao de santos... Todavía os limites da Igreja passam pelo
coracáo de cada um dos seus filhos; ora em cada cristáo há urna área de
afetos e tendencias aínda nao evangelizada ou ainda paga (somente a
Virgem María realizou plenamente a santidade da Igreja). Em conse-
qüencia, os cristáos pecam h revelia de Cristo e da Santa Igreja; nao obs
tante, a Igreja, qual Máe solicita, carrega os pecados de seus filhos. Isto
quer dizer que a Igreja nao existe sem pecadores. Mas Ela mesma, consi
derada segundo aquilo que a constitui (a unido com Cristo Cabeca para
ser o Corpo de Cristo prolongado), n8o comete pecado. Por conseguinte,
o pecado existe na Igreja; mas nao é da Igreja. Enquanto sao pecadores,
os homens nao sao Igreja, mas estáo na Igreja. Poder-se-ia dizer que os
pecados sao estranhos á Igreja, embora os pecadores estejam dentro da
Igreja.
Só nao haverá pecado - esse elemento heterogéneo! - quando a
Igreja conhecer a sua Páscoa definitiva, nao mais como peregrina, mas
como a Santa Jerusalém ornamentada como a Esposa que entra na ceia
da vida eterna (cf. Ap 21,1s).
É precisamente para esta imagem escatológica ou apocalíptica que
tendemos. É esta imagem que o cristáo tenta cada vez mais reproduzir
em seu intimo e em seu ambiente de vida!

E.B.

433
II "
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS
ANO XXVII - n? 293 - Outubro de 1986

Caita Endctka

"Senhor e Fonte de Vida"

Em síntese: A Encfclica "Senhor e Fonte de Vida" datada de 1&05/86


vem atender a um anseio suscitado pelo Concilio Vaticano II, que sublinhou a
acáo do Espirito Santo na tgreja e no mundo (ver Constituicáo Lumen Gen-
tium n> 4; Const Gaudium et Spes n- 26). O texto póe em relevo o dom do
Espirito Santo como fruto da Redencéo realizada por Cristo; aponía o Espirito
Santo como Aquele que esclarece as mentes dos fiéis frente ao pecado, cujas
expressóes sao particularmente violentas em nossos dias; recorda também
os textos de Sao Paulo que propóem o Espirito Santo como Mestre de oracáo
ou como Aquele que vem em auxilio da nossa fraqueza, já que nSo sabemos
como orar (Rm 8,26). A oracáo suscitada pelo Espirito Santo 6 ó grande apoto
da Igreja nesta fase problemática de lula entre a luz e as trevas ou entre a vi
da e a /norte. A Igreja continua fiel á sua origem no Cenáculo, onde os Apos
tólos com María aguardavam o Espirito Santo em oracáo. Ela pede incessan-
temente as gragas do Redentor para o mundo e clama pela consumacáo da
obra da salvag&o: "Vem, Senhor Jesús", exclamam o Espirito e a Esposa,
conforme Ap 22,17.

Aos 18/05/86 o Santo Padre JoSo Paulo II assinou a sua quinta


Carta Encfclica (circular), versando esta sobre o Espirito Santo (Dominum
et VMficantem ou DeV). Completa-se assim a trilogia: ene. Dives in Mi
sericordia (1980), sobre o Pai; ene. Redemptor Hominis (1979), sobre o
Filho; ene. Dominum et Vivificantem (1986), sobre o Espirito Santo. É
esta a quinta Encíclica num pontificado de oito anos. O estilo cíclico ou de
espiral do texto revela a característica pessoal de JoSo Paulo II. Trata-se
de urna vasta e profunda meditacSo bíblica e teológica sobre o Espirito
Santo; das 297 notas de rodapé, 225 se referem á S. Escritura. 0 tom é
doutrinário, mas também exortatório e pastoral; nao aborda temas con-

434
"SENHOR E FONTE DE VIDA"

trovertidos como o Filioque, a acáo do Espirito Santo fora da Igreja Cató


lica, os carismas e a sua distincáo...

A imprensa nem sempre focalizou a temática central da Encíclica.


Realcando a descricáo dos tragos sombríos de nossa época (que. sem dú-
vida, faz parte da Encíclica), os meios de comunicacáo quiseram ler nesse
documento "urna visáo trágica ou apocalíptica do mundo" ou também "a
mais dura condenacáo do marxismo até hoje proferida pelo S. Padre";
sao perspectivas parciais exageradas. A Encíclica póe, sim, em relevo a
luta entre o bem (vida) e o mal (morte) que perpassa a historia; observa,
porém, que terminará com a vitória da vida. Há, pois, um fio de esperan-
ca, que anima todo o texto desse documento; tal esperanca, porém, so"
atingirá plenamente o seu objeto na consumacáo da historia.

O texto compreende tres Partes: 1) o Espirito do Pai e do Filho da


do á Igreja; 2) o Espirito que convence o mundo quanto ao pecado; 3) o
Espirito que dá a vida. Pode-se dizer que a primeira Parte considera o
misterio da SS. Trindade e sua acáo na dispensacáo da graca aos ho-
mens, com base especial em Jo 14-16; a segunda Parte se volta para a
atuagáo do Espirito Santo no mundo e na historia; a terceira propfie apli-
cacdes concretas de ordem antropológica.

Vejamos agora de mais perto alguns dos traeos típicos da Encíclica.

1. Introducto (n- 1 e 2)

A Introducáo a presenta o propósito do documento: nos últimos


cem anos, tres eventos chamaram a atencáo para a apio do Espirito
Santo no mundo e na Igreja: a publicacao da Encíclica Divinum HludMu-
nus (1897) do Papa Leáo XIII, a da Encíclica Mystici Coiporis Chris-
tí (1943) de Pió XII e o Concilio do Vaticano II (1962-19651, que foi tido
como um novo Pentecostés; este suscitou a necessidade de urna aborda-
gem explícita da acáo do Espirito em nossos días, como notava Paulo VI
na audiencia de 16/06/73. Com efeito; a teologia ocidental acentúa muito
o binomio Crísto-lgreja (Cristo é a Cabeca do Corpo-Igreja), ao passo
que a teologia oriental enfatiza Espirito Santo-lgreja (o Espirito Santo é o
principio vivificante da Igreja). Consciente disto, Joáo Paulo II quis pre-
encher a lacuna, tendo em vista especialmente a aproximacüo do ano
2000, que há de ser um kairós, ou um momento oportuno de graca e re-
novacáo interior sob o impulso do Espirito Santo.

Parte I: O Espirito... dado á Igreja (n? 3-26)

Compreende sete subdivisóes, as quais versam todas sobre o mis


terio da SS. Trindade, que se deu aos homens na historia da salvacao.

43S
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

1.0 ponto de partida das reflexóes é o texto de Jo 16,1 s: "É de vos-


so interesse que eu me vá, pois, se eu nao me for, o Paráclito nao vira a
vos. Mas, se me for, enviá-lo-ei a vos". Estas palavras significam que Je
sús devia subtrair-nos a sua presenta visível, embora fosse muito desoja-
da pelos Apostólos (cf. Jo 16,5s); com efeito, se Jesús tivesse permaneci
do físicamente presente entre nos, a sua acfio teria sido limitada pela cor-
poreidade (que nao pode ser onipresente). Ao contrario, partindo para a
gloria do Pai, Jesús nao nos deixou órfSos, mas enviou-nos o Espirito
Santo; este é o dom do Cristo glorificado, o dom do Redentor, que deve
continuar a obra da salvacáo através dos séculos; é o outro Paráclito, Ad-
vogado ou Consolador dos fiéis (Jo 14,16). É o Espirito Santo que con
grega os homens de todos os tempos e lugares num so Corpo, chamado
"o Corpo de Cristo Místico" ou a Igreja; é pela acáo do Espirito Santo que
Cristo volta ou se torna presente de novo modo..., modo que se chama
"sacramental". - "Sacramento" é um sinal visível que assinala e comuni
ca a graca de Deus; neste sentido, a santlssima humanidade de Cristo, as-
sumida de María Virgem, é o Sacramento Primordial; este se prolonga na
Igreja, Corpo de Cristo (cf. Cl 1,24) e termina nos sete ritos-sacramentos
(Batismo, Crisma, Eucaristía, Reconciliafáo, Uncjio dos Enfermos, Ordem
e Matrimonio). Ora o Espirito Santo é o Autor da ordem sacramental; ám,
o Verbo se fez carne por obra do Espirito Santo, a Igreja é vivificada pelo
Espirito Santo e os sacramentos sao eficazes pela acáo do Espirito Santo.

0 Espirito Santo foi enviado aos homens em missáo1 visfvel no dia


de Pentecostés (cf. At 2) e é enviado em missáo inyisfvel ao coracáo de
cada cristáo que recebe os sacramentos. Isto quer dizer que até hoje o
Senhor Jesús envia o seu Espirito sempre que há um ¿atizado, urna
Crisma.

O envió do Espirito Santo por parte do Filho e do Pai e o envió do


Filho por parte do Pai (na Encarnagáo) sao o eco, no tempo, das proces-
sóes trinitarias: na eternidade o Filho procede do Pai, e o Espirito Santo
procede do Pai e do Filho. Assim a historia da salvado, com os misterios
da Encarnapáo e de Pentecostés, vem a ser como que o prolongamiento
da vida eterna de Deus, que se comunica do Pai ao Filho, e do Pai e do
Filho ao Espirito Santo.

Eis a linha central da Parte I da Encíclica DeV.

*A palavra "missáo" aquí tem o sentido técnico e etimológico de "envío"


(= minio do latím). A teología distingue a missSo do Filho, enviado pelo
Pai na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4) e a missáo do Espirito Santo, en
viado pelo Pai e o Filho como dom do Senhor Jesús glorificado (cf. Jo
7,37-39; 16.7).

436
"SENHOR E FONTE DE VIDA"

2. Salientemos agora um trapo particular desta secáo.

Os n-s 19-24 nos dio a ver que Cristo é o Grande Centro da histo
ria: a humanidade de Jesús recebeu o Espirito Santo em plenitude; Ele
foi ungido com o Espirito Santo (cf. At 10,38); os Profetas jé haviam pre-
dito o derramamento do Espirito e dos seus dons sobre o Messias (cf. Is
11,2). - Ora Jesús comunicou e comunica o Espirito aos seus discípulos
através dos séculos. Já na noite de Páscoa disse aos Apostólos: "Recebei
o Espirito Santo" (Jo 20,22). - É o Espirito Santo que deve continuar a
missáo do Senhor Jesús na térra. E de fato Ele a prossegue agindo na
Igreja. A propósito o S. Padre cita o Concilio, do Vaticano II:

"Como escreve o Concito, O Espirito Santo habita na Igreja e nos cora-


cóes dos fiéis como num templo (cf. ICor 3,16:6,19): e neles ora e dá teste-
munho da sua adocáo filial (cf. Gl 4,6: Rm8,1S-16.26). Ele introduz a Igreja no
conhecimento de toda a verdade (cf. Jo 16,13), uniSca-a na comunhao e no
ministerio, edifíca-a e dirige-a com os éversos dons hierárquicos e carismátí-
eos, e enriquece-a com os seus frutos (cf. Ef 4,11-12; ICor 12,4; Gl 5,22).
Faz aínda que a Igreja se mantenha sempre jovem: com a tonta do Evangelho,
renova-a continuamente e leva-a á perfeita uniáo com o seu Esposo" (n9 25.
Cf. Lumen Genthim/»* 4.J.

O Papa acentúa finalmente o valor do Concilio do Vaticano II: os


seus documentos "contém praticaménte tudo o que o Espirito diz ás
Igrejas em funcáo da presente fase da historia da salvacao" (n- 25). Há
breve insinuacáo dos desvíos ocorridos na aplicacSo das. normas do Con
cilio, mas o S. Padre nao insiste nestes traeos negativos da recente histo
ria da Igreja.

Parte II: O Espirito que convence o mundo


quanto ao pecado (ns 27-48)

Esta Parte do documento considera especialmente a face dramática


da historia atual, procurando incutir otimismo e confianga: o pecado é
apresentado com sua dramaticidade, mas também é visto como ocasiao
de maior efusáo da misericordia divina.

O ponto de partida desta Seccio é o texto de Jo 16,8s: "Quando o


Paráclito vier, estabelecerá a culpa do mundo a respeito do pecado, da
justiea e do julgamento: do pecado, porque nao créem em mim; da justi-
ca, porque vou para o Pai, e nSo me veréis; do julgamento, porque o
Principe deste mundo está julgado" (cf. n? 27-29).

É principalmente sobre o pecado e a denuncia do pecado existente


no mundo que o S. Padre insiste. Eis os traeos princip*vs desta Seccfio:

437
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

II. 1. Pecado original (n« 33-36)

a) O pecado entrou no mundo logo no principio da historia huma


na: é a transgressáo dos primeiros pais. O texto da Encíclica se estende
longamente sobre este assunto {n° 33-36) como que para incutir a reali-
dade e a importancia da culpa original num momento em que algumas
teorías tendem a esvaziá-la no panorama da teologia. Está claro que a
narracao de Gn 2-3 aprésenla ¡magens literarias como a da serpente que
fala, a da átvore da ciencia do bem e do mal, a da árvore da vida... O
texto da Encíclica expóe o sentido da árvore proibida e, conseqüente-
mente, o da transgressáo do homem. Com efeito, embora criado a ima-
gem e a semelhanca de Deus, o homem é sempre criatura, que deve
orientar-se pelo modelo do Criador e que nao é autónoma; ora o preceito
do paraíso (simbolizado pela proibicáo de urna fruta) quería lembrar ao
homem essa sua condicáo de criatura e provocar a correspondente obe
diencia dos primeiros pais; estes, porém, se insubordinaram por orgulho
(sem que se possa indicar qual o objeto concreto em torno do qual ver-
sou a desobediencia):

"A árvore do conhedmento do bem e do mal devia exprimir e lembrar


constantemente ao homem o Smite intransponfvel para um serenado. Éneste
sentido que deve ser entendida a proibicáo da parte de Deus: o Criador proibe
ao homem e á mulher comerem os frutos da évore do conhedmento do bem e
do mal. As palavras da instígacáo, ou se/a, da tentacSo, como formulada no
texto sagrado, induzem a transgredir essa proibicáo - feto 6, a superar o imi
te: 'Ouando o comerdes, abrir-se-áo os vossos olhos e tomar-vos-eis como
Deus (como deuses) conhecendo o bem e o mar.

A desobediencia significa precisamente passar além daquele Smite que


permanece intransponfvet para a vontade e uberdade do homem, como ser
criado. O Deus Criador é, de tato, a única e definitiva fonte da ordem moral no
mundo por Ele criado. O homem nao pode por si mesmo decidir o que ó bom e
o que é mau - nao pode 'conhecer o bem eomal como Deus'. Sim. no mundo
criado Deus permanece a primeira e soberana fonte para decidir sobre o bem
eomal"(n«36).

II. 2. Mentira e morte outrora e hoje (n?s 37-38)

0 pecado dos primeiros pais foi provocado pela mentira do tenta


dor, que Ihes propunha serem iguais a Deus mediante a desobediencia:
"NSo morrereis; Deus sabe que, no dia em que comerdes, vossos olhos
se abrirao e seréis como deuses, arbitrando entre o bem e o mal" (Gn
3,4s). A mentira levou os homens á morte. Jesús notava isto no Evange-
Iho ao dizer: "O diabo foi homicida desde o principio, e nao permaneceu

438
"SENHOR E FONTE DE VIDA"

na verdade, porque nele nSo há verdade; quando ele mente, fala do que
Ihe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,44).

Ora o drama do pecado das origens parece reproduzir-se através


dos tempos: ainda hoje a verdade 6 vilipendiada, sonegada ou trocada
pela mentira, que leva os homens a morte. Ainda hoje a imagem de Oeus
é falsificada como se fosse o rival do homem e adversario do crescimento
do género humano; o homem suspeita de Deus hoje como outrora, e isto
o leva á ruina ou á morte (á morte do homem decorrente da "morte de
Deus"):

" 'Deus sabe que, no día em que o comercies, abhr-se-áoos vossos o-


Ihos e vos tomareis como Deus, conhecendo o bem e o mar. Encontrárnosos
aqui exatamente no centro do que se poderia chamar o 'antí-Verbo', isto é, a
'antíverdade'. Com efeito, 6 falseada a verdade do homem: de quem é o ho
mem e de quais sao os limites intransponfveis do seu ser e de sua Bberdade.
Esta 'antiverdade' é possfvel porque é, ao mesmo lempo, falseada completa
mente a verdade sobre quem é Deus. Deus Criadorpassa a ser colocado em
estado de suspeigSo ou, melhor dito, em estado de acusac&o diretamente, na
consdéncia da criatura. Pela primeira vez na historia do homem, aparece o
perverso 'genio da suspeigSo'. Ele procura falsear o próprio Bem, o Bem ab
soluto" (n* 37).

Sabe-se quanto é poderosa a mentira em nossos dias, e quanto ela


procura afastar de Deus o homem, como se a religiSo fosse um fator
alienante. Assim percebe-se que o tentador se serve hoje das mesmas
armadilhas que ele outrora utilizou frente aos primeiros pais. "O homem
é desafiado para se tornar adversario de Deus!" (n° 38).

II. 3. Misterio da iniqüidado e misterio da piedade (nSs 39-42)

O misterio da ¡niqúidade suscita o misterio da piedade: a graca e o


amor salvlfico de Deus respondem ao pecado. Desta maneira o pecado
nao é a última palavra da historia, mas esta, a pos a queda de Adáo, é
como que recomecada pelo Criador, que instituiu um segundo AdSo, ca
paz de restaurar o homem na amizade com Deus.

"O Uvro Sagrado... fate-nos de um Pai que experimenta compaixSo peto


homem, como que compaiHlhando a sua dor. Esta imperscnitável e indizfvel
dor de Pai, em deñnitívo. gerará sobretudo a admirável economia do amor re
dentor em Jesús Cristo, para que, através do misterio da piedade, o amor
possa revelar-se mais forte do que o pecado na historia do homem. Para que
prevaleca o Domr (n939).

439
g "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

0 pecado á vencido pelo sacrificio do Cordeiro. Tal enfoque lembra


a parábola do filho pródigo (Le 15,11 -32) e a longa explanacáo da mesma
encontrada na Encíclica "Rico em Misericordia" do mesmo Joáo Paulo II.

II. 4. A Consaenda moral (n^s 43-46)

A temática do pecado sugere a da consciéncia, que também é am-


plamente considerada pelo S. Padre (n? 43-45). Esta é o santuario no
qual o homem se encontra a sos com Deus, cuja voz ressoa no seu íntimo
(Constituicáo Gaudium et Spes n° 16).

A consciéncia moral do homem nao é autónoma; nao é ela que de


fine o que é bem e o que é mal. Por isto deve procurar formar-se segun
do a lei de Deus, de modo a chamar pelo seu nome o bem e o mal.
Apontar o mal como mal é ato de coragem, mas, ao mesmo tempo, é
servico prestado aos homens. A propósito Joáo Paulo II cita a Constituí-
cao Gaudium et Spes, que soube realizar essa denuncia do mal existente
no mundo:

"Tildo aquilo que se opóeá vida, como sejam os homicidios de qualquer


especie, os genocidios, os abortos, a eutanasia e mesmo o suicidio voluntario;
tudo aquilo que constituí urna violáceo da integridade da pessoa humana, co
mo sejam as rwtilacóes, as torturas moráis ou físicas, as pressOes psicológi
cas; tudo aquilo que ofende a dignidade do homem, como sejam as condicóes
infra-humanas de vida, as prisóes arbitrarias, as deportacóes, a esclavatura,
a prostítuicio, o comercio de mulheres e dejovens, ou aínda as condicóes de
trabalho degradantes, que reduzem os operarios a meros instrumentos de lu
cro, sem ter em conta a sua personaSdade Svre e responsável... Todas estas
coisas e outras sementantes sao, na verdade, urna infamia; ao mesmo tempo
que corrompen) a civitizacao humana, desonram mais os que a oías se entre-
gam do que aqueles que sofrem a injuria, e ofendem gravemente a honra dé-
vida ao Criador (rf 16).

II. 5.0 pecado contra o Espirito Santo (n?s 46-48)

0 perdáo de Deus é oferecido a todo e qualquer pecador, exceto


aquele que, conforme a linguagem do Evangelho (Mt 12,31 s; Me 3,28s; Le
12,10), peca contra o Espirito Santo. NSo se trata de pecado táo grave
que nao possa obter perdáo, mas trata-se da recusa do perdáo, por parte
do próprio homem; se este nao aceita a graca de Deus, o Senhor nao o
forca a recebe-la: "Se Jesús diz que o pecado contra o Espirito Santo nao
pode ser perdoado nem nesta vida nem na futura, é porque esta nao re-
missáo está ligada, como á sua causa, á nao penitencia, isto é, á recusa
radical de converter-se" (n? 46).

440
"SENHOR E FONTE DE VIDA"

Por sua vez, esta obstinado no pecado se prende á perda do senso


de Deus; só pode ter exato senso do pecado quem tenha o senso de
Oeus. "O pecado do sáculo é a perda do sentido do pecado. E esta perda
vai de par com a perda do sentido de Deus... É a realidade de Deus que
desvenda e ilumina o misterio do homem" (n? 47).

é por isto que a Igreja nao cessa de implorar de Deus a gra^a de


que nunca venha a faltar a retidio ñas consciéncias humanas e nio se
embote a sensibilidade sadia diante do bem e do mal. Esta retidao e esta
sensibilidade estáo profundamente ligadas a acáo Intima do Espirito de
verdade.

Parte III: O Espirito que dá a vida (n^s 49-66)

Esta Parte final da Encíclica apresenta aplicacóes concretas dos


principios enunciados a vida da humanidade presente e futura. Nela po
demos distinguir cinco temas salientes:

III. 1.0 Jubileo do ano 2000 (n?s 49-54)

O Jubileu do ano 2000 evocará mais urna vez o nascimentó de


Cristo e o inicio da era crista. É data importante, para a qual a Igreja de-
seja preparar-se sob a acáo do Espirito Santo: assim como por obra do
Espirito Santo o Filho de Deus se fez homem, assim por a;3o do Espirito
a historia vai ao encontró do seu termo final. O Espirito estende a todos
os cristaos a filiacdo divina ou a configuracáo ao Cristo Jesús, o Primo
génito dentre muitos irmáos (cf. Rm 8,29): "Recebemos o Espirito pelo
qual clamamos: Aba, Pai!" (cf. Rm 8,15-17; Gl 4,6; Rm 5,5; 2Cor 1,22).
Mas n3o somente os que professam a fé católica, podem ser beneficiados
pelo Espirito; também aqueles que, fora do corpo visfvel da Igreja, igno-
ram sem culpa o Evangelho, mas seguem de corafáo sincero os difames
da sua consciéncia reta, podem chegar á salvacSo eterna:

'Aqueles que ignoram sem culpa o Evangefho de Cristo e a sua Igreja,


mas buscam a Deus na sinceridade do coracSo e se esforcam, sob a acáo da
gra$a, porcumprir na vida a sua vontade, conhecida atravós dos difames da
consciéncia, também esses podem alcancar a salvacSo eterna. Nem a Divina
Providencia nega os meios necessirios para a salvacSo aqueles que, sem
culpa, aínda nSo chegaram ao conhetímento explícito de Deus, mas pnxuram
com agrace divina viver retamente"'(Const Lumen Gmtlumn* 16).

As afirmacóes do texto ácima nao implicam relativismo doutrinárío,


pois supóem que haja ignorancia involuntaria do Evangelho da parte da-
queles que sao sinceros para com a sua consciéncia bem formada (a qual
é, em última análise, a voz de Deus para eles).

441
10"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

III. 2. O Espirito na conflitualidade da historia (nSs 55-57)

A afáo do Espirito Santo encontra resistencia dentro e fora do ho-


mem... Dentro do homem..., pois a carne se opóe ao Espirito, tendendo
nio raro a um comportamento desregrado. Fora do homem..., pois o
materialismo se opóe ao transcendentalismo, as trevas do erro se opóem
a luz da vida reta; as lutas de fora do homem tem su a raiz no coráceo do
homem. A este propósito o texto tece consideracdes sobre o materialis
mo dialético. Este é sempre ateu; tem a religiáo na conta de "ilusáo idea
lista", que deve ser combatida de todos os modos e com os métodos
mais apropriados para eliminá-la da sociedade e do próprio coracáo do
homem; é o desenvolvimento sistemático e coerente da oposigáo da car
ne ao espirito denunciada por Sao Paulo em Gl 5,22-25. - Quáo falsas
sejam as concepcóes do materialismo a respeito da religiáo, é evidencia
do pela psicología das profundidades, cujos mestres Viktor Frankl, Cari
Gustav Jung e outros p6em em relevo o papel da religiáo na estrutura-
gao da personalidade humana. Sao palavras de Jung:

"Dentre todos os pacientes que trVe e queja estavam na segunda me-


tade da vida, isto é, ácima dos 35 anos,- nenhum houve cujo problema, em úl
tima instancia, nao losse o de encontrar urna perspectiva religiosa para a vida.
Posso dizer com seguranca que todos eles adoeceram porque haviam perdi
do aquSo que as religues vivas de todas as épocas deram a seus ñóis e ne
nhum deles realmente se curou sem ter restaurado sua perspectiva religiosa".

Acrescenta Rollo May:

'Sempre me impressionou o tato de que oráticamente todo ateu vertía-


deiro com quem Bdei, demonstrou nudamente tendencias neuróticas". Eram
pessoas que nao tinham estrutura em lungáo da qual pudesse ser feito o
ajustamento de suas tendencias; sua vida carecía de objetivo, de diregio ou
de reterencial. "Esse estado neurótico pode ser deñnido peto termo religioso
de 'inferno'. A desintegracSo gradativa, o colapso da unidade, a lula contra si
próprio e ludo o mais é cortamente um inferno" (A Arte do Aconselhamento
Psicológico, p. 185).

0 confuto carne e espirito é também o de moite e vida. O materia


lismo professa a conceppáo de que a morte é o termo definitivo da exis
tencia humana; dal dizer a corrente existencialista que a vida humana é
exclusivamente um "exisitr para morrer" - o que nao raro gera o deses
pero e o suicidio.

Além disto, a morte tem seus vestigios e sinais em nao poucos as


pectos da historia contemporánea: corrida aos armamentos e perigo de
autodestruigáo nuclear, alastramento da miseria e da fome, prática do
"SENHOR E FONTE DE VIDA"

aborto e da eutanasia, terrorismo organizado em escala internacional,


guerras que ceifam ou prejudicam notavelmente a vida humana...

Apesar disto, "a Igreja acredita firmemente que, da parte de Deus,


haverá sempre um comunicar-se salvffico, urna vinda salvifica... por obra
do Espirito" (n? 56). Mais: a própria dor que aflige a humanidade suscita
um gemido do coracáo dos homens, que nao pode deixar de ser acolhido
pelo Senhor Deus: "gomemos em nos mesmos aguardando... a redencao
do nosso corpo" (Rm 8,23); "o proprio Espirito vem.em auxilio da nossa
fraqueza e intercede por nos com gemidos inefáveis, e aquele que pers-
cruta os coracóes sabe qual o desejo do Espirito, pois é segundo Deus
que Ele intercede pelos santos" (Rm 8,25).

III. 3.0 Espirito Santo e o homem interior (nes 58-60)

Em meio a todos esses conflitos, o homem interior, ou seja, a nova


criatura existente desde o Batismo é corroborada pelo Espirito Santo,
como observa o Apostólo em Ef 3,14-16: "Dobro os joelhos diante do
Pai... Ele vos conceda... que sejais poderosamente corroborados pelo seu
Espirito na vitalidade do homem interior." 0 dom do Espirito é particu
larmente perceptlvel naqueles que sofrem pressóes para sujeitar-se ao
"principe deste mundo"; sao os perseguidos por causa da sua fidelidade
a Cristo: "Em situacóes de perseguido... as testemunhas da verdade di
vina... tornam-se urna comprovacáo viva da acáo do Espirito da verdade,
presente no coracáo e na consciencia dos fiéis e, nSo poucas vezes, se-
lam com o próprio martirio a suprema glorificacáo da dignidade huma
na" (nS 60). A propósito convém lembrar, entre outros, os nomes de Sao
Maximiliano Kolbe, Freí Tito Brandsma, Edith Stein...

III. 4.0 Espirito nos sacramentos e na oracao da Igreja (n?s61-66)

a) Nos sacramentos (n9s 61 -64)


Cristo nos subtraiu a sua presenca visfvel, mas enviou-nps outro
Paráclito, o Espirito Santo, que deu origem ¿ realidade sacramental ou á
realidade dos sinais senslveis que significam e comunicam a graca divina.
A Igreja é o Grande Sacramento, que prolonga, de ceno modo, a huma
nidade de Cristo ou o Corpo de Cristo (cf. Cl 1,24). Por sua vez, a acáo da
Igreja se realiza principalmente mediante os sete sacramentos, que reco-
brem a vida do homem todo desde o nascer até o passar para a Casa do
Pai e que tém seu centro na Eucaristía. É esta que, por excelencia, con
grega os discípulos de Cristo, corroborando-os na unidade e na caridade.
Dado que existem separacdes entre os cristáos, é necessário que todos os
discípulos de Cristo se empenhem por reconstituir a unidade dilacerada.

443
]2 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS". 293/1986

"A Igreja é um sacramento de unidade para todo o género humano" (n?


64). 0 Espirito Santo será sempre o Grande Artífice dessa unidade.

b) Na oracdotn? 66-66)

A S. Escritura se encerra com a repetícáo de um anseio que brota


do mais profundo do coracáo dos cristSos: "Vem, Senhor Jesús!" (Ap
21,17.20). E com estas palavras também que a Encíclica chega ao seu fim,
explanando, alias, o papel da ora?So na vida da Igreja e dos crístáos.

"O sopro da vida divina, o Espirito Santo, exprime-se e faz-se ou-


vir, da forma mais simples e comum, na oracáo" (n9 65). Em muitos ca
sos a oracáo, sob a acáo do Espirito, sobe do Intimo do homem com mais
pureza e profundidade porque o orante se vé despojado de todos os re
cursos (pessoal, aparelhagem, dinheiro...) que Ihe poderiam infundir es-
peranca ou seguranca humanas; Deus, nao raro, destituí os seus fiéis do
apoio das criaturas para que possam perceber melhor que, em última
análise, é Oeus, com a sua graca, quem realiza todo o bem no mundo.
Isto é especialmente verídico nos países em que a religiáo é perseguida.

"Sob a ac&o do Espirito, a oragéo sobe do coráceo do homem apesar


das ptofoipoBS e das persegwcóes, e mesmo malgrado as prodamaeOes ofi
ciáis, afirmando o carátar a-reügtoso ou até ateu da vida pública! A oragéo
continua a ser sempre a voz de todos os que aparentemente nao tém voz; e
nesta voz ecoa, sem cessar, aqueta torta clamor atribuido a Cristo pela epa
tóla aos Hebreus (cf. Hb 5,7)" (ri> 6S).

A consciénda dos males que flagelam os tempos atuais suscita a


a.firmacáo de que "a nossa época difícil tem particular necessidade de
oracáo" (n? 65). Esta tem sido praticada ontem e hoje por homens e mu-
Iheres que se consagram a Deus, "com grande proveito para a Igreja", na
Vida Religiosa; mas últimamente vem sendo redescoberta por movi-
mentos e grupos cada vez mais numerosos, que na oracáo procuram a
renovado da sua vida espiritual. Tal fato é síntoma significativo e con
solador: o S. Padre alude aqui implícitamente aos grupos de oracSo no
Espirito, aos Focolares, ao Neocatecumenato, ¿s Equipes de Nossa Se-
nhora e a tantas outras formas novas de espiritualidade que vém surgin-
do na Igreja sob a acáo do Espirito, com grandes frutos para a vida crista.
Eis as palavras textuais de S. Santidade:

"A nossa época difícil tem particular necessidade da oragSo. Se no de-


correr da historia, ontem como hoje, homens e mulheres em grande número
deram testermmho da importancia da oracáo - consagrándose ao touvor de
Deus e ávida de oracáo. sobretudo nos mosteiros, com grande proveito para
a Igreja - nestes úISmos anos val crescendo também o número das pessoas
"SENHOR E FONTE DE VIDA" 13

que, em movimentos e grupos cada vez mais desenvolvidos, p6em a oracáo


em primeiro lugar e neta procurar» a renovacSo da vida espiritual. Tratase de
um síntoma significativo e consolador, urna vez que desta experiencia tem de
rivado urna contribuicSo real para a retomada da oracáo entre os fiéis, os
quais, desse modo, foram ajudados a meihor considerar o Espirito Santo co
mo aqueto que suscita nos comeóos urna profunda aspiracáo a santidade".
(n'6S).

Estes dizeres, de certo modo, faíem eco ao Relatório final do Síno


do dos Bispos de 1986, que em sua Parte A, n- 4 lembrava a necessidade
urgente dos valores espirituais (oracio, penitencia, conversáo, carídade...)
para fazer frente aos desafios que a época presente lanca á Igreja. Ver PR
286/1986, p. 97.

A Igreja permanece fiel ao misterio do seu nascimento. Oriunda do


Cenáculo, onde os Apostólos perseveravam na oracio com María, Ela
nunca abandonou o Cenáculo. "Espiritualmente o acontecimento de
Pentecostés nao pertence so ao passado: a Igreja está sempre no Cená
culo, que Ela traz no seu coracBo... A Igreja persevera na oracSo com
María" (n? 66). Por isto Ela pede ansiosamente a consumacSo da obra do
Senhor Jesús: "O Espirito Santo e a Esposa dizem ao Senhor Jesús:
'Vem!'" (Ap 22,17). Esta oracio reveste-se de denso alcance escatológi-
co destinado a dar ptenftude de sentido é celebracio do Grande Jubileu
do ano 2000. "A Igreja deseja prepárar-se para esse jubileu no Espirito
Santo, assim como o Espirito Santo preparou a Virgem de Nazaré, na
qual o Verbo se fez carne" (n? 66).

Segue-se a conclusfio da Encíclica, que, após retomar traeos do


respectivo conteúdo, propde urna invocacSo ao Espirito:

"Otante dele ajoeiho-me, no final destas conskteracóes, implorando que.


como Espirito do Pal e do FBho. nos conceda a todos a bóncSoe a grapa, que
desojo transmitir, em nome da Santíssima Trindade, aos fílhos e Shas da I-
greja e a toda a familia humana" (n* 67).

A Encíclica DeV é cortamente um monumento de teología, que


muito se presta á meditacio e ao estudo dos fiéis cristios. Aborda urna
variedade de temas que compendiam toda a mensagem da fé. Ela p6e
o leitor diante do ámago da vida crista e desvenda-lhe o segredo da ple
na auto-realizacSo: a dodlidade ao Espirito, que move os homens feitos
filhos no FILHO em demanda do PAI (cf. Ef 2,18). Poder-se-ia acrescen-
tar, á guisa de fruto da leitura de tal documento, um texto paulino que a
Encíclica nSo cita, mas que ela insinúa de ponta-a-ponta: "NSo entriste
céis o Espirito Santo de Deus, pelo qual fostes selados para o dia da Re-
dencSo"(Ef4,30).

445
Diz-se:

"Em Cuba nao há Tortura"

Em símese: Por iniciativa da "internacional da Resistencia" realizou-se


em París um Júri presidido pelo escritor cubano Armando Valladares: destina-
va-se a avallar a situacSo real da ilha de Cuba, na qual se diz nao haver tortu
ra nem violencia da parte do Governo contra os cidadSos dissidentes. Foram
ouvidas doze testemunhas, que evocaram torturas moráis e físicas impostas
a militares de detidos naquele país. Desses doze, tres sao Religiosos violen
tados na condicSo de mensageiros da 1é. É o teor de tais depoimentos que
vai, a seguir, apresentado.

Os meios de comunicado social tém procurado apresentar urna


¡magem de Cuba quase idílica, criada pelo governo de Fidel Castro: o
comunismo ter-se-ia instaurado na ilha sem violentar a populacáo, ob-
tendo a quase unanimidade do consentimento dos habitantes de Cuba.
Ora tal ¡magem nao corresponde á realidade. Isto já foi evidenciado, em
parte, pelo depoimento do poeta Armando Valladares, transcrito em PR
288/1986, pp. 201-216. Nos últimos temóos, tém vindo i baila novos de
poimentos, dos quais a seguir vSo apresentados tres assaz significativos.

Tais testemunhos foram publicados em francés no boletirn Uaáons


Latino-américaines, 28, me Eugéne-Millon, 75015 París, mato 1986, n?
26, pp. 1 -5. A partir dessa fonte foram traduzidos para o portugués.

TRES DEPOIMENTOS

Por iniciativa da "Internacional da Resistencia" um Júri reuniu-se em Pa


rís sob a presidencia do escritor cubano Armando Valladares. Esse Júri. do
qual faziam parte Martín Gray, sqprevivente do ghetto de Varsóvia, Mana
Madalena Fourcade, Yves Montand, Jorge Semprun (antígo interno do campo

446
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" 15

de concentragSo de Buchenwald). PauHoup Sulitzer, Bemard-Henri Lavy,


Jean-Francois ReveL... quis julgar a pertinencia de urna declaragáo de Fidel
Castro a respeto dos Direitos Humanos em Cuba: "Nunca, disse ele a Freí
Betto, os inbmgos da Revotucéo puderam aduzir a prova de que se tenha tor
turado, maltratado ou teito desaparecer um só pristoneiro em Cuba".

Ooze antígos presos poKcos deram seu testemunho, dos quais alguns,
como Eduardo Capote, ñcararn deMos durante dezessete anos ou até vinte
anos como Abel Neves Morales! Entre eles há tres eclesiásticos: o Pe. Miguel
Ángel Loredo, católico, deudo de abril 1966 a (everelro 1976; o pastor adven
tista Humberto Noble Alexander, debelo de (evereiro 1962 a junto 1984 (22
anos) e o pastor Sergio Bravo, encarcerado tres vezes e condenado em 1966
a dezoito anos de prisáo (libertado em setembro de 1979).

Os seus testemunhos seo eloqüentes. Atestam a imponencia e a es-


tenséo do aparato de repressSo em Cuba (alguns prisioneiros fbram transferi
dos mais de dez vezes, o que Ihes permitíu verificara existencia de grande
número de prisóes e campos de concentracSo); os testemunhos religiosos
evidenciam, de modo especial, a intencSo, do poder comunista, de eliminar to
da forma de expressSo da té.

Seguem-se os depoimentos dos tres Religiosos e o comunicado final do


Júri. Estes quatro textos oTspensam todo comentario.

1. Sergio Bravo, pregador da Igreja Batista Oádental

Chamo-me Sergio Bravo. Sou de origem camponesa, e, como podéis


ver, de raga negra. Crente, milito atívamente no seio da Igreja Batista Ociden-
tai, da qual sou pregador leigo.

No exerefek) das rrinhas atividades de pregador, transmWndo a mensa-


gem da Salvacáo aos mais carentes e, especialmente, aos nomens do cam
po, eu me vi interpelado pelos mistares da Seguranca do Estado; considera-
vam que as minhas idéias obscurantistas perturbavam as mentes dos cam-
poneses, já que Deus nao existe e é mera invencáo da burguesía.

Apesar das ameacas, eu neo podía nem quería abandonar a minha mfe-
séo de cristBo e a pregacBo da palavra do Senhor.

Fui encarcerado pela primeira vez em 1960. Fique! preso durante dez
meses - de marco de 1960 até o comeco de 1961 - sem que me fomeces-
sem alguma expücacBo nem me entregassem á justica; queriam apenas dar
me urna BcSo.

447
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293H986

Urna vez libertado, recomecei a pregar aos camponeses e fui de novo


aprisionado. Dessa vez, passei por interrogatorios. Puseram-me diante de
urna mesa: do outro fado, diante de mim havia um agente da Poítía PoUSca,
que comecou por me esboíetear e me insultar em termos que nao seria de
cente repetir aquí; enquanto isto acontecía, alguns soldados me seguravam
pelos ombros para que eu nSo me mexesse. Durante quatro meses, fuisub-
metido a urna serie de interrogatorios, cuja fínaüdade era levar-me a contessar
crimes contra a Revotucáo que eles me imputavam e a denunciar outras pos-
soas tidas como conspiradoras.

Após esses quatro meses, fízeram-me comparecer diante de um tribu


nal, sem que eu tívesse o direito de me defender. Condenaram-me a tres anos
de cárcere.

Pregador na ilha dos Pintos

Levado para a prisáo da ilha dos Pinhos, conúnuei a pregar, dessa vez
aos prisioneros, as escondidas dos militares. Conseguirá iazer penetrar dan-
destínamene no cárcere urna pequeña Biblia, que eu utilizava ñas pregacOes.
Em outubro de 1961, um guarda invaéu repentinamente o barraco n9 3 em que
eu me encontrava e, como sempre. choveram bastonadas, bakmetadas e gol
pes de cácete. Nessa confusSo de pancadas, os pristoneiros tentaron esqui
varse como possfvel e, por isto, procuraram passarpara o andar inferior. A-
pavorado, eu estava descendo com os outros, quando me lembrei deterdeh
xado a Biblia sobre o teito, tora do esconderijo em que eu costumava guar
dé-la. Sem mais refíetir, subí de novo para salvar a minna Biblia, que era mais
importante para mim do que a própria vida.

Um dos guardas, porém. viu-me entrar na cela. Quando safdesta, ele


atírou em mim, e me feriu no pé. Caípor tena, sangrando copiosamente. Re-
voltados por este abuso, meus companheiros puseram-so a gritar. Boceando
urna insurreigéo dos pristoneiros, o guarda se reírou, recusándose a levar
me para o hospital. Eu contínuava a sangrar.

Meus companheiros médicos, encarcerados também eles, aproxima-.


ram-se de mim; mas, por falta de meios, só puderam examinar a ferida e tentar
estancar o sangue.

Por ñm, os guardas vieram procurar-me e me removeram para o hospi


tal de Nuevo Girona. Se bem que, de acordó com os módicos, a amputacéo
nño fosse necessária, cortaram-me a pema. Para os comunistas, seria perda
de tempo passar horas a restaurar veías e ñervos; por isto doctdiram amputar
me a pema.

448
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" «7

Na priste ds Pinar del Rio

Alguns meses depois, transportaram-me para a pñsSo de Pinar del Rio,


onde cumpri rrinha pena de tres anos, mas nSo fui libertado no fim. Um mes,
dois meses se passaram e eu permanecía no cárcere, sem receber explica-
gao akjuma. Oito meses depois, quando levavam os pñsioneiros ao reteitóño,
tomei minhas muletas e desci para tentar encontrar o Diretor da Prisáo ou o
chele da Ordem Interna a fim de que me expücassem por que eu neo era de-
volvido á tiberdade.

Fiz a pergunta ao léñente Remigio Gomales. Á guisa de resposta, ele


chamou uns guardas, disse-lhes algo que nao pude compreender, mas logo
soube de que se tratava. Atiraram-se sobre mim e anancaram brutalmente as
minhas muletas; cal; sem cuidado algum para com minhas condigóes de mu
tilado, comecaram a me pisotear, maltratando-me com pontapés. A seguir, to-
maram-me pela pema que me restava e me arrastaram peto corredor. Visto
que a minha cela ñcava no segundo andar, arrastaram-me também pelas es-
cadas; minha cabeca e minhas costas pulavam contra os degraus. Quando
eles me deixaram na cela, eu tinha o nariz e a boca a sangrar, e trazia marcas
das pauladas e dos hematomas em todo o meu corpo.

Ao verem-me sangrar, resolverán), algumas horas mais tarde, levar-me


para a enfermaría, onde ñquei dois meses.

Um da, fui chamado ao Gabinete do Diretor; o tenente Gonzalos tí es-


tava - aquele mesmo que dera ordem de me espancarem. Anunciaram-me
que iam dar-me a tiberdade. Apontaram para o meu dossié colocado sobre a
escrevaninha, dizendo-me: "Olha; aqui está o teu dossié. Nem vamos confe-
ri-to. Apenas te avisamos de algo: se tentares recomegar tuas atividades reli
giosas entre os camponeses, nao irás para a prisáo, nem serás levado a um
tribunal, mas serás fuzilado".

Nao respondí ás ameacas. Voltei é minha aldeia. A seguir, fui para Ha-
vana, onde continuei a pregar a Palavra de Deus porque isto eraeéa minha
mssSo. Fui de novo encarcerado. Dessa vez os interrogatorios foram muito
mais brutais. Eles me espancaram desde o primeiro dia. Tiraram-me as mule
tas e minha pema artificial para me obrigar a caminhar dando putos e piruetas.
Colocavam-me em celas totalmente escuras, em que se perdía a nogSo do
tempo e do espago. Os maus tratos sofridos petos ReBgiosos sao talvez os
mais crueis de todos.

Vive direito a um novo processo e af aconteceu algo sem precedente.


Haviam preparado urna corto dejulgamento em que todos, absolutamente to
dos, eram negros. Ató o advogado de servigo, um rrúStar designado por eles,
era negro; esse advogado, que supostamente seria meu defensor, disse que

449
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

eu era um elemento provocador de tumultos e que a Revotucáo devia ser ca


riciosa. Para nSo alongar demais o meu depoimento, eu vos direi apenas que
nao havia nenhuma prova, nenhuma acusacSo contra mim. A corte me acu
són de ser um "traidor da raga negra" e me condenou como tala dezoilo anos
deprisio.

Nosso objetivo, ao comparecer diante de vos, é dar a conhecer, antes


do mais, a prática sistemática da tortura em Cuba e desmentir categórica
mente a afírmacáo de Fidel Castro segundo a qual "¡amáis poóeremos provar
que a tortura existe em Cuba".

2. Humberto Noble Alexandor. adventista

Chamo-me Humberto Noble Alexander. Nastí aos 12/02/1934 em Sant


Germán, pequeña aldeia da provincia de Oriente (Cuba). A medida que eu me
adlantava nos estudos, gaigava os escalóos da Nerarquia adventista: prima-
ramente fui diácono, depois professor na Escola deFóe pastor assistente.

No día 20/03/1962, após um sermSo sobre a origem do pecado, vottava


para casa, quando cafnuma armadilha: tiraram-me brutalmente do meu carro
e levaram para a Secretaria de Seguranca do Estado. Segundo diziam meus
detentares, seria coisa de cinco minutos; estes cinco minutos vieram a ser
vinte e dois anos, cinco meses e orne días de cárcere.

Padecí torturas físicas e psíquicas; mandaram que me despisse numa


sala fría; a seguir, quando me vi diante de quem me interrogaría, diñgiram urna
lámpada de quinhentos watts contra o meu rosto. No decorrer das 72 primet-
ras horas, nao tive tempo nem para comer nem para dormir. Os interrogatorios
eram permanentes. Levavam-me de volta para a cela, apresentavam-me algo
para comer, mas, no momento em que jutgavam que eu ia comecar a comer,
etes me levavam de novo para um interrogatorio. Certa vez, quando o inquisi
dor eslava sentado á sua mesa, havia atrás de mim um oficial, cuja presenca
eu ignorava; ele me espancava, enquanto o outro me interrogava. Depois o in
quisidor dsse: "Dá-lhe um toque de telefone", teto consistía em darpancadas
violentas sobre as orelhas. Tais coisas aconteceram há 23 anos, mas até hoje
trago as conseqüéncias dos toques de telefone. No dia seguinte o oficial me
disse que recebera ordem de me matar. Atirou-se entáo sobre mim, e apoiou
um revólver sobre a minha témpora. Eu esperava que disparasse o tiro a
qualquer momento.

A seguir, fui mergulhado num lago de agua multo fria, com as máos ata
das, e amarrado por urna corda na cintura para que me fízessem mover-me
dentro da agua.

A partir de 1982, fíquei preso noG2 (Seguranca do Estado). LA perma


necí até mato completamente ¡solado, sem acusacSo definida contra mim. De-

450
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" '9

pois fui transferido para a prisáo de Alia Seguranga de La Cabana, onde um


piocesso de torga teve lugar, no decorrer do qual me deram finalmente a pala-
vra para me defender; quando acabei de falar, o Presidente me humilhou, din-
gindo-se a mim oestes termos: "Cala-te, negro!"

Vinte anos de prisáo

Fui condenado a vinte anos de prisáo, "por conspiragáo contra o Esta


do".

No cárcere de La Cabana, comecei a celebrar clandestinamente oficios


religiosos. Em conseqüéncia, sofri humilhagdes sem número. Destruiam osli-
vros religiosos que eu conseguía obter. Varias vezes queimaram a minha Bi
blia. Noutra ocasiáo, um carcereiro, surpreendendo-me a pregar, mirou-me
com a sua pistola. Atirou e feríu-me na máo esquerda. Recusaram propiciar
me cuidados médicos, caso nao aceitasse urna condigáo humilhante que me
propunham.

No comego de mato de 1963, fui posto em prisáo secreta e mandado


para urna cela subterránea; aos 6/04/1973, fui transferido para a prisáo-mo-
délo da Una dos Pinhos. Lá forgaram-me a trabalhar das quatro da manhá até
as seis da tarde. E nao raro até nove horas da noite. Exigiam resultados sem-
pre melhores no trabalho e, em vista disto, as "autoridades" aplicavam o gume
do facáo, a ponta das baionetas e recorriam até ás armas de fogo. Sou um
adventista do sétimo día. As autoridades nao o ignoravam, e, como eu recu-
sasse trabalhar no sábado, fui espancado com cabos eiétricos até desmaiar.

Em 1970 fui transferido para o cárcere de Alta Seguranga de Boniato, na


regiáo de Oriente, urna das mais duras de Cuba. Lá fuisubmetido a experien
cias biológicas durante dois anos, sem assisténcia médica.

Urna vez terminada a primeira etapa das experiencias biológicas, leva-


ram-me de novo para a prisáo de La Cabana. Fui encarcerado em diversos
cubículos e, finalmente, transferido para a prisáo de Alta Seguranga de Com
binado del Este - até a minha libertagao em 1984 -, onde de novo sofri tortu
ras.

Passei os últimos dez anos sem contato algum com o exterior. Durante
esses anos, participei de varias greves de tome para protestar contra as con-
digfes desumanas do encarceramento. Algumas greves duraram até tnnta e
sete días.

No lempo todo de meu encarceramento, conseguí continuar minhas ati-


vidades religiosas, mesmo clandestinamente.

451
?2 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

Nao tenho vergonha do Evangelho, poiséo poder de Deus, no qual se


encontra a salvacáo para todos aqueles que creém. Posso dizer hoje que toi
grabas a esta té que pude sobreviver a essa provacáo.

3. Miguel Ángel Loredo, sacerdote católico

Chamo-me Miguel Ángel Loredo. sou sacerdote e pertenco á Ordem


dos Franciscanos. Sou cubano, fílho de cubanos, e, com excecáo de um pe
ríodo em que fe meus esludos no eslrangeiro, sempre viví em Cuba.

Atualmente, após ter sido obrigado a deixar meu país, resido em Roma
onde taco urna especializacáo em Teología, antes de me mergulhar de novó
ñas tarefas próprias do meu ministerio em quatquer parte do mundo iá que
nao me permitem voltar a rrinha patria.

Sou grato por ter sido convidado a vir a este tribunal. Sou grato por es-
cutarem este testemunho pessoal em nivel táo qualificado. Nao é sempre
possfvel encontrar alguém que escute.

Creio que todo cubano é um testemunho vivo que pode ser apresentado
diante de um tribunal dos Direitos Humanos. Um testemunho que é urna acu-
sacáo. Chamaram a mim, creio, por causa da minha experiencia carcerária de
dez anos. Concretamente, em vista dos maus tratos físicos e das torturas de
toda especie que sofri. Eu quisera. porém, esclarecer o segvinte: nao sou urna
excecáo ás regras do respeUo devido á pessoa humana. Sou, antes um re
presentante banal - e nao predsamente o mais interessante - desses anos
de violencia e de torturas que, convém notar, aínda nao terminaran) em Cuba.

Meu depoimento refere primevamente o que sofri pessoalmente. Por


certo, nao excluo o que ouvi, vi e toquei com as minhas máos, o que sofreram
meus companheiros. Isso também. eu o sofri. e posso festemunhá-to na ori-
meira pessoa.

Nem odio, nem revanche

Quero que minhas palavras sejam ouvidas sem a carga emotiva de urna
revanche, de odio e de urna agressSo sofrida. Quero apenas contribuir para
esclarecer a situacáo de Cuba, por vezes apresentada como algo de aceita-
vel. Sinto o dever de protestar, com energía, contra os logros da propaganda
Desejo principalmente colocar-me ao lado dos oprimidos no meu país para
que possam exprimirse por sua própria voz.

Urna última observacáo: presto este depoimento em comunhéo com a


Igreja e a Ordem ás quais pertenco e que respeitaram e aprovaram o meu de-

452
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" 21

ver de (estemunhar. Mais: eslou contente por oferecer este depoiménto talan
do urna linguagem que a Igreja em Cuba jutga imposslvel neste momento por
causa das condicfes dittceis em que ela vive e que ela neo superou. Em co-
munháo também com todos os meus timaos, com os quais eu me encontró
diante de vos.

Resumirei agora a realidade do que viví, isto é, meu Iracasso e minha


condenacáo, os anos decorridos no cárcere, os acontedmentos que se de-
ram por ocasiáo da minha salda de Cuba.

No tocante ao meu processo, meu encarceramento toi acompanhado


por grande propaganda: fui acusado de ter abrigado no meu convento -ede
ter feito sairdo país - um piloto de aviagáo, Ángel Mana Betancourt, que tenta
ra apoderarse de um aviáo para deixar Cuba com a sua familia e as dos seus
cómplices; tena matado, nessa tentativa de fuga, o piloto e guarda do aparelho
visado.

Processo falsificado

Estas acusacóes, altamente falsas, levantadas contra mim, loram ar-


quitetadas para tentar envotver-me no caso, com o auxilio de um agente da
Seguranca do Estado, que dizia ser um dos meus discípulos espirituais e meu
penitente. Fui posto em prisSo secreta durante mais de dois meses, sofrendo
interrogatorios entre quinze e vinte veíes por dia: guardavam-me na escuri-
dáo, modificando o ritmo das minhas magras refeicóes que eu recebia, a fírrt
de me fazer perder toda nocáo de lempo, numa cela fría e muito estreita. Só
pude talar durante cinco minutos com um advogado antes dojulgamento. E foi
somonte depois que me deram a palavra para me defender, que me acusaram
de implicagóes políticas, acusacóes das quais eu nao tinha conhedmento. Fui
condenado a quinze anos de prisáo por agir em clandestinidade e cumpSckta-
de. Na verdade, esse processo tinha por fínalidade provocar a hostilidade da
populacáo para com a Igreja Oda como contra-revolucionaria e inimiga da na-
cáo. Procuravam, alias, um pretexto para ¡ustiñcar diante da opiniáo pública a
política de repressSo e de perseguicao movida pelo Govemo. No momento
estavam também reduzindo á inercia um sacerdote especialmente comprome
tido no trabalho ¡unto aos jovens.

Na prisáo, fui primeiramente enviado aos trabalhos toreados ñas pedrei-


ras da ilha dos Pinhos (bloco 20, brigada 80). Trabalhando sob o sol cubano
durante doze horas por dia, desmaiei quatro vezes por causa do esgolamento
e da tome. Obrigavam-me a trabalhar nu sem calcados, e até, urna vez, quan-
do eu sofría de flebite, com 40° de febre. Fui espancado multas vezes por dois
soldados... de punhos cerrados com baionetas e com facóes. enquanto a tro
pa nos cercava com armas pesadas. Emagreci tanto naquela época que eu
podía envolver meu braco entre meu polegar e meu dedo maksr.

453
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

Submetido a humilhagóes verbais repetidas vezes, vi também como


outros eram espancados, feridos e mortos. Ouando alguém moma, voltáva-
mos para o recinto de prisáo em silencio completo, sinal de lulo. Durante muilo
tempo, clandestina e muito esporádicamente celebrei a Missa servindo-me, á
guisa de cálice, de um prato de metal manchado pelo sangue de um dos meus
companheiros: Julio. Ele tinha trazido esse prato pendente da sua cintura até o
dia em que foi assassinado por ter recusado comer capim como um animal.

Vinte transferencias em dez anos

Inquéntos humilhantes acompanhados de pancadas - colativas e indivi


duáis -, o isolamento, as violacóes de toda especie da dignidade humana
completam esse esboco de quadro.

Durante os dez anos de prisáo, fui transferido mais de vinte vezes, seja
no interior de um mesmo cárcere, seja para outros estabelecimentos peniten
ciarios; altemavam-se as fases em que era agrupado com outros prisioneiros
e aquetas em que eu era ¡solado e posto em incomunicabilidade. Estávamos
por vezes táo amontoados que, para melhor respirar, tfnhamos que nos es
tender por térra - o que neo podíamos fazer por falta de espago; só tfnhamos
direito a um copo de agua por dia e a uma refeigáo que podía caber ñas pal
mas das máos.

Na prisáo de La Cabana, tínhamos que suportar convocacóes e cha


madas que se faziam a qualquer hora da noite, acompanhadas de chuva de
golpes distribuidos com barras de ferro para nos obligar a sair. Misturado com
prisioneiros de direito comum - que eram, antes, casos patológicos, pessoas
acusadas de crimes maiores -, vi-me obrigado a participar de quatro greves
de tome. A administragáo tentou acabar com a segunda - uma greve de tome
e de sede que faztamos na prisáo de Guanajay - fazendo-nos tragar fortes
doses de fumo. As duas últimas das quais participei, haviam sido motivadas
por uma escalada da violencia, que ameagava a nossa integridade física; uma
dessas greves durou 35 dias, durante os quais nao engotimos alimento ne-
nhum, nem mesmo uma pitada de agúcar. Durante mais de um ano, fui obriga
do a permanecer nu, na incomunicabilidade, dormindo no chao, porque eu re-
cusava vestir o traje que simbolizava nossa renuncia aos nossos direitos
mais elementares. Em certas momentos desse tipo de encarceramento, puse-
ram-me, por torga, o uniforme dos prisioneiros de direito comum; guardavam-
me amarrado, privavam-me de alimentos durante varios dias e encerravam-
me nos cubículos de Castillo del Principe.

Ouanto aos cuidados médicos, foram-me recusados diversas vezes,


principalmente quando eu sofría de uma inlecgáo que me obrigou a fazer-me
operar por um dos meus companheiros, que, para trabalhar na cirurgia, só ti-
nha uma navalha e pequeños tubos de anestésico dentario. Foi só após isto

454
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" 23

que me prestaram cuidados médicos num hospital - ñas vésperas de minha


salda do cárcere; aproveitaram a ocasiáo para me fazer retomar meu peso e
me restaurar físicamente.

Violencias inumeráveis

No tocante ao ¡solamente só a Ululo de exempto, quero dizer que nSo


me comunicaram a morte de meu pai, que deíxava minha mSe oráticamente só
nessa cidade de Havana, na qual eu me enconlrava encarcerado.

A serie de violencias que eu poderla descreverna base de experiencias


na própria carne, está tonge de se limitar ao que acabo de referir. Muito mais
importante ainda é o tato de que posso dar testemunho de torturas, mutilagóes
e maus tratos sofrióos por meus companheiros. Podemos estar certos de que
neste momento em que vos falo, em que me ouvis, com seis horas de dileren-
ca horaria, homens e mulheres estáo sendo vfíimas de violencias, de urna
maneira ou de outra, em varios lugares de Cuba. Prisioneiros anónimos e
ignorados hoje. Como nos mesmos temos anónimos e ignorados ontem. Mas
eu me deterei aquí no que diz respeito a mim, para concluir relatando suma
riamente as circunstancias de minha salda de Cuba.

Fui libertado, gracas a conversacóes - que eu nunca solicitei - realiza-


das pela Santa Sé. Fiquei em prisáo dez anos. Sempre afírmei o meu desejo
de permanecer no meu país, desejo que as autoridades cubanas respeitaram
durante um ano após a minha libertacáo. Depois, talvez por causa do meu tra-
balho de prolessorno Seminario de San Carlos de la Havana e das múltiplas
atividades pastorais que eu exercia junto aosjovens, os governantes comeca-
ram a pedir á Nunciatura Apostólica, e depois a Conferencia dos Bispos de
Cuba, o meu afastamento do país. Chegaram a propor a vinda de dais padres
para Cuba em troca da minha partida. Declararan} que nao podiám garantir a
minha vida em caso de confuto entre eles e mm. Montaram um conjunto de
acusacóes, chegando a me incriminar de modo francamente absurdo, pela
posse de explosivos e por organizar grupos contra-revolucionarios clandesti
nos. Também sofri pressóes diretas; convocavam-me para Interrogatorios;
prendiam os jovens da minha comunidade e antigos colegas de prisáo que me
visitassem. Por vezes, usavam de discriminagáo: os jovens que vinham á
Igreja, perdiam o seu ernprego. Também fizeram pressáo sobre as familias
desses jovens.

Por fim, sofri um acídente, em conseqüéncia do qual tive que ficar com a
perna estendida; o motorista nSo foijulgado. Muitas pessoas, tanto dentre os
clérigos como dentre os leigos, (disseram-me) ¡ulgavam que se tratava de um
acídente provocado. Por efeito deste, tive que me submetera urna cirurgia
e fícar em tonga convalescéncia numa cadeira de rodas, com muletas etc.

455
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

Devo dizer que os Bispos de Cuba sempre recusaram negociar minha


salda. Em nenhum momento me pediram abertamente que partisse. A Nun
ciatura Apostólica exprimiu-me varias vezes a sua satislacáo peto trabalho
que eu realizava. Todavía alguns Bispos disseram repetidamente a mim e a
Visitadores de Provincias da minha Ordem Religiosa que eu encontraría difi-
cutdades e que a Igreja em geral so/reria problemas se eu fícasse e perseve-
rasse ñas rrénhas atividades em Cuba.

Em junho de 1984, após urna conversa com meu Superior franciscano,


tomei finalmente a dotorosa decisao de sair de Cuba, consciente de que esta-
va aliviando tensóes e me abría a novas posibilidades pastorais para o meu
ministerio de padre.

4. A Resoluto do Júri

O Júri verifícou a concordancia de todos os depoimentos relativos as


condigóes de encarceramentos arbitrarios: á condenacáo por tribunais milita
res sem processos públicos e sem advogados de defesa: a interrogatorios de
varios días, acompanhados de pancadas, ferimentos e torturas; ás condigóes
de detengáo em campos de trabamos toreados, sem ahmentagáo suficiente,
sem vestes, sem cuidados médicos e, muitas vezes, em promiscuklade com
os prisioneiros de direito comum. Mais grave aínda era o encarceramento de
criangas a partir de nove anos de idade, de adolescentes expostos ás piores
torturas na promiscuidade dos campos.

Além disto, como certos depoimentos mostraram, as condigóes de ex-


torsSo de confissóes lembram de maneira impressionante os métodos aplica
dos por Hitler nos campos de concentragáo da Alemanha: imersáo, estrangu-
lamento, muWagóes, sem contaras ¡áticas de terrorismo intelectual que ten-
diam a obrigar os condenados a abjurar. Outros falos particularmente graves
foram relatados, especialmente a prática de experimentagáo médica em pri
sioneiros sob o controle de médicos soviéticos.

Resulta do conjunto dos depoimentos que os prisioneiros políticos nao


gozam do beneficio das leis intemacionais, particularmente daquelas procla
madas pela Declaragáo dos Direitos Humanos da ONU, na qualo Estado cu
bano está representado.

De outro lado, o Júri, diante dessas violagóes deliberadas dos direitos


do homem, estranha o silencio dos meios de comunicagáo ocidentais, que so-
negam á opiniáo pública falos táo graves, fatos que, na Europa Ocidental,
lembram trágicos acontedmentos récenles.

Além disto, nao é lícito que nos contentemos com esta denuncia sem
déla tirar conseqüéndas. A primeira destas é que Fidel Castro mentiu a opini-

456
"EM CUBA NAO HÁ TORTURA" 25

¿o publica internacional e que a sua afírmagéo de que nenhum prisioneiro loi


torturado ou maltratado em Cuba é falsa. A segunda conseqüéncia é que se
faz mister ajudar, por todos os meios, os prisioneiros políticos aínda encarce-
rados ñas condicóes denunciadas ñas sessóes deste tribunal; dever-se-á
exigir principalmente o respeito ao direito de defesa própria.

O Júri estima, por fon, que é imperioso constituir no plano internacional,


á semelhanca do que se fez na Europa, urna Corte Internacional dos Direitos
do Homem, pois, no momento atual, os regimes de ataduras militares comu
nistas violam sistemáticamente os direitos do homem, fortalecidos peto apoto
da URSS e pela cumplicidade ou pela covardia dos Estados democráticos.

Em conclusáo, prestando homenagem ao martirio dessas testemunhas


corajosas, que enfrentaram todos os riscos para dizer a verdade, toca agora
aos povos, pela sua vigilancia e pela sua acáo, apagar no mundo a tragedia
do comunismo totalitario. Nao se pode mais repetir o crime cometido antes da
segunda Guerra Mundial, quando os Govemos nao quiseram admitir a rea/í-
dade dos campos de concentragáo e dos horrores nazistas. Omitirse assim é
tornarse cómplice de tais crimes.

Os dizeres destas páginas sao eloqüentes por si mesmos, de modo


a dispensar qualquer comentario.

i NOVAS CORRENTES RELIGIOSAS

A FIM DE ESCLARECER O PÚBLICO A RESPEITO DAS


CORRENTES RELIGIOSAS E FILOSÓFICAS QUE SE TÉM
PROPAGADO NO BRASIL, A ED. SANTUÁRO PUBLICOU:
15QUESTÓES DEFÉ

A SERIE DE FOLHETOS "NOS E NOS".


AUTORÍA DE ESTÉVÁO BETTENCOURT O.S.B.

PEDIDOS Á EDITORA SANTUARIO, RÚA PE. CLARO MON-


TEIRO, 342, CAIXA POSTAL 04 - 12570 APARECIDA (SP)

457
Relativismo na fé?

A Única Igreja de Jesús Cristo

Este artigo se deve a D. Boavenlura Kloppenburg O.F.M., Bispo Auxiliar


de Novo Hamburgo (RS), que, com grande acume teológico, estuda certo re
lativismo eclesiológico que vai sendo ditundido em nossos dias. Com efeito,
segundo alguns, as diversas denominacóes cristas seríam equivalentes entre
si, de modo que ser catóSco, ser batista, ser presbiteriano, ser pentecostal...
nao laña diferenca diante de Deus. Segundo outros, nenhuma denominacéo
crista preenche todas as exigencias da tgreja que Cristo quis fundar, de modo
que esta só se realizará no fím dos lempos. Como fundamento destas propo-
sigóes erróneas, muitos invocavam dizeres do Concilio do Vaticano II: "A
Igreja de Jesús Cristo subsiste na Igreja Católica, Apostólica confiada a Pe
dro". Ora Frei Boaventura, como teólogo perito fexpert; do Concilio do Vati
cano II, explica o auténtico sentido de talpassagem do Concilio: este quis a-
firmar que. a Igreja Universal, confiada a Pedro, preenche todos os requisitos
da Igreja fundada por Cristo, ao passo que as outras denominacóes cristas só
satisfazem a alguns (ora mais, ora menos numerosos) desses requisitos.
Agradecemos a D. Boaventura a valiosa colaboracao.

1. O problema

"Até agora estávamos acostumados a nos considerar como a Igre


ja, única e verdadeira heranca do legado apostólico da fé crista", acusa o
Pe. Paulo Hornero Gozzi, S.S.S., na revista Vida Pastoral, de julho-agosto
de 1986, página 2. Tal modo de ver, porém, garante, já nao seria a dou-
trina oficial da Igreja Católica desde o Concilio Vaticano II. Cita entáo o
texto de um ante-projeto de documento sobre a Igreja apresentado ao
Concilio em 1962, no qual se ensinava que somente a Igreja Católica é
a única verdadeira Igreja de Jesús Cristo. Mas este texto, informa, "foi
totalmente rejeitado pelos Bispos", e "o que náó se conseguiu mudar em
quinhentos anos, alterou-se completamente em apenas dois anos de de
bates". A doutrina certa do Vaticano II agora seria esta: "A Igreja de
Cristo nao é mais a Igreja Romana, nem se identifica mais com ela pura e

458
A ÚNICA IGREJA DE JESÚS CRISTO 27

simplesmente, mas subsiste nela". Depois explica: "0 Concilio reconhece


e admite que pertencem á única, verdadeira e indivisivei Igreja de Cristo
todos os balizados que professam a verdade do Deus Trino e confessam
a Jesús Cristo como Senhor e Salvador, nao so individualmente, mas
também reunidos em assembléias (Decreto sobre o Ecumenismo, UR 1).
Isto porque nasceu também urna nova consciéncia da fundacáo da Igreja
e da entrega de seu governo, nao mais sobre Pedro e seus sucessores,
como aparecía no primeiro ante-projeto rejeitado, mas sobre os Apostó
los e seus sucessores. O papel de Pedro é coordenar o grupo de seus ¡r-
máos Apostólos para manté-lo unido (cf. Constituicáo sobre a Igreja,
Lumen Gentium, III, n. 18)".

Assim manipula-se o Concilio. O que Ihe é atribuido no número 1


do Decreto sobre o Ecumenismo, lá nao está. Se estivesse, seria real
mente doutrina inaudita. 0 documento, na alinea 2 do citado número 1,
fala nao da Igreja, mas do movimento ecuménico, afirmando entáo que
deste movimento participam "os que invocam o Deus Trino e confessam
a Jesús como Senhor e Salvador, nao só individualmente, mas também
reunidos em assembléias". O articulista simplesmente trunca o texto do
Vaticano II. E o que afirma com base no número 18 da Lumen Gen
tium (LG), também se distancia da doutrina do Concilio. No citado nú
mero 18, alinea segunda, o Vaticano II simplesmente reafirma a doutrina
do Vaticano I sobre a instituigáo, pecpetuidade, poder e natureza do sacro
Primado do Romano Pontífice, propondo-a "novamente para ser criada
firmemente por todos os fiéis". Deste contexto concluí o autor que o go
verno da Igreja nao mais repousa sobre Pedro e seus sucessores, mas
sobre os Apostólos e seus sucessores! O papel de Pedro seria apenas o
de "coordenar o grupo de seus irmáos Apostólos para manté-lo unido".
Na realidade, a doutrina sobre o Primado de jurisdifáo, explícitamente
reafirmada pelo Vaticano II, vai muito além da mera funcjio de coordena-
cáo. Definiu o Vaticano I que ao Sucessor de Pedro nao cabe apenas a
tarefa de inspecjio ou diregáo, e sim "o pleno poder de jurisd¡?áo sobre
toda a Igreja, nao só ñas coisas referentes á fé e aos costumes, mas tam
bém ñas que se referem á disciplina e ao governo da Igreja universal" (Dz
1831). Sem limite de tempo, pessoa, lugar e coisas, seu poder se estende
individualmente ou coletivamente sobre todos os fiéis, todos os pastores,
todos os ritos, em questóes de doutrina da fé, de moral, de governo, de
liturgia, de costumes (Dz 1827). E o Vaticano II, na Lumen Gentium, n.
22b insiste neste ensinamento: "O Colegio ou o Corpo episcopal nao tem
autoridade se nele nao se considerar incluido, como cabega, o Romano
Pontífice, sucessor de Pedro, e permanecer intacto o poder primacial do
Papa sobre todos, quer Pastores quer fiéis. Poís o Romano Pontífice, em
virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e Pastor de toda a Igreja, pos-
sui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode sempre livre-
mente exercer este seu poder".

459
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

Nem é verdade que aquele texto provisorio apresentado em 1962


ao Concilio "foi totalmente rejeitado pelos Bispos", pelo simples fato de
jamáis ter sido objeto de votacáo.

Mais desconcertante, todavía, é a conclusáo que o articulista da Vi


da Pastoral tira da substituido do verbo "est" (é) pelo verbo "subsistít
in" no atual número 8, segunda alinea, da Lumen Gentium: "A Igreja de
Cristo nao 6 mais a Igreja Romana, nem se identifica mais com ela pura e
simplesmente, mas subsiste nela". Também o Sr. Luiz Carlos Araújo,
Profecía e Poder na Igreja (Paulinas 1986) argumenta com o "subsistit
in", para inferir que "todas as Igrejas cristas estáo sendo, em graus dife
rentes, a Igreja de Cristo" (p. 21). Já antes, em Igreja: Carisma e Poder
(Petrópolis 1982), Frei Leonardo Boff, O.F.M., se baseara no mesmo
"subsistit in" para deduzir que a Igreja de Cristo "pode subsistir também
"em outras Igrejas cristas" (p. 125). Nega-se assim a doutrina de fé sobre
a unicidade da Igreja de Cristo.

2. Que ocorreu de fato no Concilio?

Na Comissáo de Doutrina, na qual eu estava presente na qualidade


de "peritus", encarregada da redacáo do texto sobre a Igreja, discutia-se
a segunda alinea do número 8. Nela se ensinava que a única Igreja de Je
sús Cristo, que no Símbolo confessamos una, santa, católica e apostólica
e que nosso Salvador, depois de sua gloriosa ressurreicáo, entregou a
Pedro para a apascentar e confiou a ele e aos demais Apostólos para a
propagar e reger, constituida e organizada neste mundo como urna so-
ciedade, "é a Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos
Bispos em comunháo com ele, embora fora de sua visfvel estrutura se
encontrem varios elementos de santificacáo e verdade". Após demorado
debate, do qual participei pessoalmente, o "este" foi substituido por
"subsistit in". Todo o resto do texto ficou exatamente como estava e aín
da hoje está. Por que se fez a mudanca? Na relacáo oficial, a Comisséo
explica que com este verbo o texto se adaptou melhor á afirmacáo acerca
dos "elementos eclesiais de santificacáo e verdade" presentes também
em outras denominacóes cristas, algumas das quais, como as orientáis,
sempre foram consideradas até mesmo como "Igrejas" (a locucáo "Igre
jas Orientáis" nao foi inventada pelo Vaticano II): "ut expressio melius
concordet cum affirmatione de elementis ecclesíasticis quae alibi adsunt".
(este grifo está no original).

Era, pois, intencáo do Concilio Vaticano II ensinar que a una e única


Igreja, como Jesús Cristo a quis e fundou, existe históricamente e como
tal é hoje cognoscivel; e que sua forma existencial concreta é a Igreja que '
está sendo dirigida pelo Sucessor de Pedro. Ao mesmo tempo, porém,

460
A ÚNICA IGREJA DE JESÚS CRISTO 29

reconhecia que varios elementos ("plura elementa") eclesiais queridos


por Cristo estáo presentes ("adsunt") em Igrejas e Comunidades separa
das de Roma. Isto é: a "eclesialidade" nao se identifica sem mais ("est")
com a Igreja Católica, mas incompletamente ou imperfetamente (segun
do o maior ou menor número de elementos eclesiais presentes); ela, a
eclesialidade, se encontra outrossim ñas Igrejas ou Comunidades separa
das. Num voto modificativo (o "placet iuxta modum") 19 votantes suge-
riram entáo que se dissesse "subsistit integro modo in", ¡sto é, a Igreja de
Jesús Cristo se realiza de modo completo, perfeito ou pleno na Igreja
Católica, insinuando que ela se realiza ñas outras denominacóes de modo
nao perfeito ou pleno. A Comissáo respondeu que tal doutrina se encon
tra mais adiante, no número 14. Veja-se sobre isso meu estudo A Ede-
siologia do Vaticano II, pp. 59-64, livro que a Editora Vozes retirou do
comercio.

Esta, pois, é a doutrina clara e firme do Concilio Vaticano II: "Úni


camente por meio da Igreja Católica, que é o auxilio geral da salvacáo, se
pode conseguir a total plenitude dos meios de salvacáo. Cremos que o
Senhor confiou todos os bens da Nova Alianca a um único Colegio
apostólico, a cuja testa está Pedro, a fim de constituir na térra um só Cor-
po de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos
os que de algum modo pertencem ao Povo de Deus" (UR 3e.).

3. Documentos complementares

Quando Leonardo Boff, no citado livro, concluiu do "subsistit in"


que a Igreja de Cristo "pode subsistir também em outras Igrejas cristas",
um documento especial de Santa Sé sobre aquele livro (Notificacáo da
Congregagáo para a Doutrina da Fé. de 11-03-1985) rejeitou semelhante
exegese conciliar como "exatamente contraria á significacáo auténtica do
texto conciliar". E a Notificacáo sobre o livro de Leonardo Boff explica: "O
Concilio tinha escolhido a palavra subsistit exatamente para esclarecer
que há urna única subsistencia da verdadeira Igreja, enquanto fora de sua
estrutura vislvel existem somente elementa Ecctesiae, que - por serem
elementos da mesma Igreja - tendem e conduzem em direcáo á Igreja
Católica". E manda ver a Declaracáo Mysterium Ecclesiae. de 24-06-1973,
na qual se reafírmava:

"Os católicos tém o dever de professar que, por misericordioso dom di


vino, pertencem á Igreja que Cristo funüou e que é dirigida pelos sucessores
de Pedro e dos demais Apostólos, nos quais persiste íntegra e viva a primige
nia instítuicáo e a doutrina da comunidade apostólica e o patrimonio perene da
verdade e a santidade da mesma tgreja. Por isso nao 6 lícito aos fiéis imaginar
que a Igreja de Cristo seja simptesmente um conjunto - sem dúvida dividido.

■461
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

apesar de conservar aínda alguma unidade - de ¡grojas e comunidades ecle


siais; e de nenhuma maneira sSo livres para opinar que a Igreja de Cristo nSo
exista mais hoje em lugar nenhum, de forma que se deva considerá-la como
urna meta a ser procurada por todas as Igrejas e comunidades".

Pois, como ensina o Concilio, a Igreja, de fato, se encontra plena


mente lá onde os sucessores de Pedro e dos outros Apostólos realizam
visivelmente a continuidade com as origens (LG 8b); e a unidade, que é
um dom de Deus, de fato foi dada a esta Igreja "e nos eremos que ela
subsiste inamissfvel na Igreja Católica"(UR 4c), dotada "de toda a verda-
de revelada por Deus e de todos os meios da grapa" (ib. 4f). E o Concilio
Vaticano II é categórico quando assevera: "Por isso nao podem salvar-se
aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por Deus me
diante Jesús Cristo como instituicáo necessária, apesar disso nao quise-
rem nela entrar ou nela perseverar" (LG 14a). Mais severo aínda, adverte:
"Nao se salva contudo, embora incorporado á Igreja, aquele que, nao
perseverando na caridade, permanece no seio da Igreja 'com o corpo;
mas nao com o coracio'. Lembrem-se todos os filhos da Igreja de que a
condicio eximia em que estao se deve nao a seus próprios méritos, mas
a urna peculiar graca de Cristo. Se a ela nao corresponderem por pensa-
mentos, palavras e obras, longe de se salva rem, seráo julgados com
maior severidade" (LG 14b).

Em documento de outra natureza, a Declaracáo Digrótatis huma-


nae, sobre a Liberdade Religiosa, o Concilio nao é menos claro, porém
mais positivo: "Professa em primeiro lugar o Sacro Sínodo que o próprio
Deus manifestou ao género humano o caminho pelo qual os homens,
sen/indo a Ele, pudessem salvar-se e tornar-se felizes em Cristo. Cremos
que esta única verdadeira Religiáo se encontra (subsistere) na Igreja Ca
tólica e Apostólica" (n. Ib).

A Pontificia Comissáo Teológica Internacional publicou no ano pas-


sado Temas Seietos de Edestologia (veja-se o texto completo portugués
em SEDOC de abril de 1986, 921-966), dedicando o décimo capitulo ao
tema da unicidade da Igreja. Sua conclusáo é esta: "De nossa análise
consta que a auténtica Igreja nao pode ser entendida como urna utopia
que visaría a atingir todas as comunidades cristas hoje divididas e sepa
radas. A verdadeira Igreja, bem como sua unidade, nao sao exclusiva
mente urna realidade futura. Elas já se encontram na Igreja Católica, na
qual está realmente presente a Igreja de Cristo".

4. Conclusáo

A doutrina oficial da Igreja, por conseguinte, é sem dúvida esta: a


única Igreja de Jesús Cristo de fato subsiste de modo pleno somente na

462
A ÚNICA IGREJA DE JESÚS CRISTO

Igreja Católica; ñas outras Igrejas ou Comunidades separadas da Sé


Apostólica de Pedro, ela subsiste apenas parcialmente, em diferentes
graus de perfeicáo, segundo o maior ou menor número de elementos
eclesiais substanciáis nelas presentes.

E porque a Igreja de Jesús Cristo é urna só, a que foi edificada so


bre Pedro e que o próprio Salvador denomina "minha Igreja" (Mt 16,18),
e únicamente nela se encontra a plenitude dos meios de salva?§o e santi-
ficacáo, exorta o Documento de Puebla no n. 225: "Temos o dever de
proclamar a excelencia de nossa vocacáo á Igreja Católica", já que, como
ensina belamente no n. 227, ela "é o lugar onde se concentra ao máximo
a acSo do Pai, que, na forca do Espirito de amor, busca solícito os ho-
mens para partilhar com eles - em gestos de indizivel ternura - sua pró-
pria vida trinitaria".

Nossa abertura ao diálogo ecuménico nSo deve ser motivo para


atenuar a clareza e a firmeza de nossa fé católica. Ainda neste ponto o
Concilio Vaticano II é firme quando nos dá a seguinte regra: "É absolu
tamente necessário que a doutrina inteira seja lucidamente exposta. Nada
é táo alheio ao ecumenismo quanto aquele falso irenismo, pelo qual a
pureza da doutrina católica sofre detrimento e seu sentido genuino e
certo é obscurecido" (UR 111.
* * *

(continuacáo da p. 467)
Tornou-se um chavao alegar o conluio do Cristianismo com as torcas domi
nantes; quem o faz, nao se dá ao cuidado de examinar a historia com objetividade
e em toda a sua amplidao. Precisamente para dissipar preconceitos e equívocos a
respeito, a historiadora medieval Regirte Pernoud tero escrito algumas obras, entre
as quais "0 Mito da Idade Media", analisada em PR 289/1986, pp. 262-273.
O Cristianismo é essencialmente um movimento religioso, de origem e fina-
lidade transcendental e, por isto, n3o equiparável ao Marxismo, que é visceral-
mente materialista e ateu. Sonriente quem desfigura ou esvazia o Cristianismo, o
pode conciliar com o comunismo. A preocupacáo com o irmao e a justica social
no Cristianismo tém fundamento no amor a Deus (fundamento muito mais sólido
e válido do que o odio que inspira a luta de classes); o Marxismo nSo conhece o
amor ao próximo, mas, ao contrario, sacrifica o homem {também o proletario) ao
Estado e á sociedade coletivista. - De resto, a historia atesta que até hoje o Maxis-
mo, ao tomar o poder em qualquer continente, se voltou sempre contra a Religiao
(crista ou nao crista); esta tática é inerente ao comunismo, que nao pode conviver
com o transcendental e os ditames de humanismo que o senso religioso sempre ins
pira.
É lamentável a posicáo pre-conceítuosa, artificial e tSo pouco científica do
autor do livrinho.
Esteváo Bettencourt O.S.B.

463
Um documento pouco conheddo:

Urna Carta da África do Sul

Em síntese: Vai abaixo publicada urna carta proveniente da África do


Sul, que chama a atencáo pata o envoMmento de elementos espurios ou
segregacionislas, também eles. na lula contra o apartheid ou a segregacáo
racial existente naquele país.. O comunismo está interessado nessa luta, e
disposto a tomar o poder com o apoto de eclesiásticos iludidos. - Na verdade,
qualquer tipo de apartheid racial ou social ou político, é anticristáo.

Foi distribuida entre os Carmelos (Conventos de Carmelitas, casas


de oracáo) de llngua portuguesa a carta abaixo, proveniente de urna ex-
Carmelita que se sentiu chamada por Deus para atuar em favor da popu
lado negra da África do Sul. Este documento é significativo, porque póe
em relevo um aspecto da situacáo daquele pais que geralmente passa
sob silencio: vé-se que a opressáo exercida sobre os negros nao se deve
apenas ao Governo local, mas também á ingerencia de agentes soviéti
cos, que tencionam aproveitar-se das circunstancias para implantar o
comunismo na África do Sul, como fizeram em outras ex-colónias áfrica-
ñas. Verifica-se que os povos oprimidos passam, nao raro, de um tipo de
opressáo ou de colonialismo para outro, julgando conseguir assim a sua
libertacao; as condicoes de vida de muitos povos africanos ainda sao as
de colonias ... nao do mundo ocidental, mas dos regí mes soviéticos do
Leste Europeu e da América Central.

Eis o texto da carta em pauta:

50 Berg Street - fíosenttenvilte Johannesburg 2197


África do Sul

31 de Afeó de 1986
Visitacáo de María SSma.

S.O.S. - AJUDAI-NOS COM VOSSAS VALIOSAS ORACÓES a Nos-


sa Senhora, a Sao José, e a nossa Santa Mee Santa Teresa, para que

464
UMA CARTA OA ÁFRICA DO SUL 33

se/a evitado que nosso país seja vltima de uma revolucáo comunista,
talvez aínda este mes. especialmente a 16 de junho! Nos nao temos
outra esperanca que o milagre!

Minhas queridas Madres e Irmas.

Esta carta é um pedido urgente de oracóes pelo povo da África do Sul, e


especialmente petos pobres negros, que estáo sofrendo uma honivel e brutal
mtimdacáo das máos dos que apregoam serem seus "libertadores': o movi-
menta terrorista CNA, promovido pelos soviéticos, que se aprésenla como o
dos auténticos líderes da populacáo negra da África do Sul. Estes assim cha
mados "líderes" gozam de tito pouco apoto entre a populacáo negra que se
véem toreados a apelar para os mais horrfveis métodos, para torear todo o
mundo a aderir a seus sinistros empreendimentos, como apedrejar e queimar
vivas as pessoas, lazé-las em pedacos, esquartejar enancas, e a terrivel
"morte do colar", na qual um pneu com gasolina é posto ao pescoco da vñima
e incendiado, ás vezes depois de os bracos da vltima terem sido cortados, pa
ra evitar resistencia. Os comunistas se infíltram por toda parte, com suas
mentiras e desinfomacóes espantando um quadro totalmente falso de nosso
país no Exterior, com cenas de TV para consubstanciar suas mentiras. Com
ista, muita gente engañada passa a ter simpatía petos 'libertadores" do CNA;
a política suhaíricana é apresentada sempre sob uma péssima luz, enquanto
as terríveis atrocidades cometidas pelo CNA sao ignoradas, ou tácitamente
aprovadas. O CNA está planejando uma diabólica exibicáo de maUade e car
nificina a 16 de junho, e nossa populacáo negra está terriñeada para além do
imaginivel. A situagáo é táo seria que apenas oracóes nos podem ajudar, es
pecialmente oracóes a Mana SSma., e mais particularmente sob o Ututo de
Senhora do Rosario de Fátima. Eu sei que posso contar com minhas ir-
más Carmelitas do mundo todo, que nos ajudem a atrair o milagre que po
de salvar nosso povo dos horrores de uma ocupacáo comunista, e da conse-
qüente revolugSo violenta, com destruicSo de vidas e de valores da nossa ci-
viBzacáo crista, a nossa santa fé mais especialmente. Eu tenho trabajado
entre os pretos desde 1968, tendo sido euprópria antes uma Carmelita, e ten-
do sido chamada por Deus, como parece claro a mim, a deixar o Convento e
engajar-me no trabalho pelos pretos, especialmente como professora. Até re-
cernemente eu trabalhava no SOWETO, a maior área residencial de pretos na
África do Sul, indo e vindo cada día durante todos os meses das óesordens,
até que, infelizmente, a revolucáo tomou conta de nossa escola, e nño pude
mais continuar ensinando lá. O que eu vi e experimente) era demoniaco e mau
a um grau terrível. Changas que eu conheci lindas, felizes e queridas, foram
deformadas em irreconhecfveis monstros de odio selvagem. E foram defor
madas assim por aqueles que decidiram que as enancas negras devem ser a
Snha de frente da revolucáo: uns se tomaram os "Cantaradas" - como sao
conhecidos, e estes sao uma pequeña minoría, - outros, pobres inocentes vi-

465
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

Urnas forjadas sob ameaca de morie a engrossar a violencia de rúa. Poucos


pensam no daño espiritual dessas pessoas. mas esta nao é a preocupagío
desses cujo único objetivo 6 derrubar o govemo e estabelecer sua brutal tira
nía comunista. Eles tém pervertido nossas enancas negras, ensinando-lhes
odio a Deus ao ponto de sacrilegios serem cometidos com arrogancia. É hor-
rivelmente triste ver estas coisas acontecendo com criangas que nos ama
mos tanto e cujo progresso tanto desojamos. Agora, urna geracSo inteira pa
rece perdida, se nao duas ou mais, com negros "radicáis" manifestando urna
setvageria que era totalmente desconhecida em sua cultura tribal. Ao mesmo
tempo, a grossa maioria dos pretos e trancos continua fíela sua crenca crista
de que só Deus nos pode ajudar, e portanto, em número cada vez maior, es
tamos nos voltando para a oragéo. Nossa populacáo negra necessita espe
cialmente de urna tremenda coragempara vencer o estrangúlamelo do pavor
que Ihe foi imposto. Nos todos necessitamos de coragem, e eu própria corro
perigo de vida porque estou me opondo ao Comunismo. Infelizmente, alguns
altos prelados aquí lavorecem a vinda do Comunismo e fazem tudo a seu al
cance para mobilizar gente para apoiá-lo em nome do Evangelho, aplicando os
principios da Teología da Ubertacáo condenados pela Igreja. E os Bispos mo
derados parecem ter medo de (alar contra o Comunismo!

PEDIMOVOS ENCARECIDAMENTE: rogai a Nossa Senhora que nos


livre deste perigo!

Em Jesús e María unida a vos, e certa da torga de vossas oracóes,


despeco-me,

(a) Joana Píenaar

As observares fináis da carta sao importantes, pois mostram a


perplexidade que afeta mesmo as pessoas mais bem intencionadas; o
Comunismo quer escalar o poder com o apoio da Igreja, mas depois* se
volta tiránicamente contra Ela.

Completando os dizeres da carta da Sra. Joana Pienaar, transcre-


vemos noticias tiradas do jornal francés L'Homme Nouveau, edicáo de
¡ulho-agosto 1986, n° 905-906, p. 13: "Na África do Sul, sem comunismo
já se teña encontrado urna solucáo" (Houphouét-Boigny). Observa entao
Roben Lacontre, colaborador de Fígaro Magazine:

"Sejamos claros

1. O apartheid é infame, inlquo. Foi criado pela historia, como muitas


outras coisas Mames e infquas. Deve desaparecer.

466
UMA CARTA DA ÁFRICA DO SUL 35

2. O apartheid existe em outros países. Voces acreditam que os sovié


ticos suprimiram os salvo-condutos? Que os oiienta milhOes de mugutmanos
da URSS e as outras minorías nao russas podem habitar tranquilamente no
país de Moscou?...

4. ... Os objetivos soviéticos sao muito claros: utilizar todos os movi-


mentos agitadores para disseminar o tumulto, tazer explodir o regime existente
e levar ao poder os agentes de Moscou".

Sem dúvida, o apartheid ou a discriminado racial deve ser comba


tido e eliminado. É preciso, porém, que os cristáos estejam conscientes
da ambigüidade da situacáo da África do Sul e se empenhem pela autén
tica libertagáo da populacáo negra, que muitos querem explorar sob nova
forma de opressáo.

A propósito lembramos quanto foi dito a respeito da discriminadlo


ou segregacáo existente nos países soviéticos em PR 291/1386, pp. 378s.

Cristianismo e Marxismo, por Freí Betto. - Ed. Vozes, Petrópolis 1986,130


x 180 mm, 47 pp.

O autor quer provar a "conciliabilidade" de Cristianismo e Marxismo. Para


tanto, interpreta o Cristianismo nascente como urna forma de movimento social
ou socialismo, que tinha "notáveis pontos de semelhanca com o movimento mo
derno da classe operaría, pregando a iminente salvacüo da escravidSo e da miseria"
(cf. p. 17). Posteriormente o Cristianismo se teña tornado um sistema de apoio
aos maiorais contra os pequeninos (cf. p. 19). Mas o Cristianismo hoje volta a ser
um movimento popular de íibertacáo, como acontece na Nicaragua e na América
Latina em geral (cf. pp. 37-39).

Do seu lado, o Marxismo, diz Freí Betto, nao é necesariamente anticristáo,


mas é "a-religioso" (sem religiao), podendo conviver com um Cristianismo popular
ou social (cf. pp. 25-31). - Daí a conclusao:sao compatíveisentre si Cristianismo
e Marxismo (cf. pp. 42s).

Este livrinho de 47 páginas aborda assunto delicado e complexo de maneira


superficial, sem aduzir a documentacao adequada, mas contentando-se, por vezes,
com afirmacSes gratuitas. A sua concepcao de Cristianismo nascente baseia-se ñas
interpretac&es de Engels e Marx (pp. 17-19), sem recurso a algum historiador ou
especialista na materia. Desta maneira preconceituosa (nSo científica) o autor pre
para a conclusáo a que deseja chegar. (Continua na pág. 463)

467
Queé

A Igreja Católica Liberal?

Em tíntete: A Igreja Católica Liberal (ICLI é urna córtente derivada


do ramo jansenista - "Velho-católico", Que é cismático e tem suas origens
nos sécalos XVIII-XIX. Foi na Inglaterra, por obra do bispo anglicano Char
les Gore, que a ICL se constituía em 1916. A sua mensagem conserva ele
mentos típicos do Catolicismo (pretensamente o episcopado, a Eucaristía, o
ministerio sacerdotal...), juntamente com traeos do hindúismo (reencarna-
cao, salvacSo universal...) e principios do liberalismo racionalista e relati
vista dos tempos atuais; ora estas tres modalidades de pensamento se anu-
lam entre si, de modo que é impossivel definir o que a ICL tem de especifi
co e novo a dizer ao mundo de hoje.

Tem-se espalhado no Brasil urna denominacao religiosa dita "Igreja Ca


tólica Liberal" (ICL); celebra seu culto e realiza sua catequese, deixando
muitas pessoas perplexas a respeito da ¡dentidade desse movimento religioso.
Em vista disto, apresentaremos a origem e a doutrina dessa denominado, va-
lendo-nos de impressos distribuidos por membros da mesma*.

1. Origem da ICL

Eis como os próprios escritos da ICL apresentam a origem dessa fac-


cao:

/ Esses impressos tém os seguintes títulos:


"Igreja Católica Liberal — Diocese do Brasil — Informapáo Ceral 1985"
(citado como INF¿
"Igreja Católica Liberal - Fórmula Abreviada da Eucaristía" (citado co
mo FAEA
"Igreja Católica Liberal - Breve Explicacao" (citado como BEA

468
IGREJA CATÓLICA LIBERAL 37

"A Igreja Católica Liberal possue Sucessffo Apostólica valida a reco-


nhecida, derivada da Igreja Católica Apostólica Romana, através da Igreja
Velha-Católica da Holanda (Sé arquiepiscopal da Utrecht), queseseparou de
Roma há mais de dois sáculos.

Estabelecida na Gra-Bretanha e Irlanda no inicio do sáculo XX, ñor-


ganizou-se em 1916, atualizando-se e adotando o nomede IGREJA CATÓ
LICA LIBERAL.

A Igreja Católica Liberal é urna comunidade crista... completamente


independerse e autónoma" flNF, fascículo nSo paginado).

Explicitemos estes dizeres:

A Igreja Católica' foi sacudida pelo Jansenismo nos séculosXVIl-XVIH.


Esta correóte de pensamento devia-se a Cornélio Jansénio (1585-1638), que
escreveu o livro Auguitinus, publicado postumamente (1640). Esta obra
professava idéias heréticas a respeito da natureza humana (totalmente deterio
rada pelo pecado), a propósito da graca (¡rresistfvel) e da predestinacSo (res-
trita a poucos homens). O Jansenismo foi condenado por Inocencio XI em
1653. Os jesuítas, como baluartes do pensamento da Igreja, se Ihe opuseram
com grande zelo. Aos poucos os jansenistas foram-se envolvendo noutra con
troversia - a do Galicanismo (criacao de urna Igreja nacional na Franca) - o
que tornou muito sutil e prolongada a controversia. Esta ardeu tanto na
Franca como na Holanda: em Utrecht (Pafses-Baixos), havia urna sede epis
copal cujo titular — Pedro Codde — suspeito de Jansenismo foi destituido pe
la Santa Sé; a sede estando vaga, o Conselho da diocese, sem consultar Ro
ma, houve por.bem eleger em 1703 para o cargo de arcebispo o Vigário Ge-
ral Cornélio Steenhoven; este recebeu a ordem episcopal de um bispo fran
cés suspenso (Dom¡ñique Marie Marlet). A Santa Sé, porém, náb reconheceu
o novo titular. Contudo este persistiu na sua funcao; donde se originou o cis
ma jansenista, que até hoje perdura e conta cerca de 12.000 fiéis.

Ora em 1870 reuniu-se o Concilio do Vaticano I, que profnulgou o


primado de jurisdicao do Romano Pontífice e a sua infalibilidade quando
fala ex cathedra sobre assuntos de fé e Moral. Urna faccSo de sacerdotes e

Católica, geralmente chamada Romana, porque pastoreada pelo


Bispo de Roma, sucessor de SSo Pedro, a quem Jesús confiou as chaves do
Reino doscéus (Mt 16,1&19;cf. Le 22,31s; Jo 21,15-17). O adjetivo Roma
na nao restringe a catolicídade ou universalidade da única Igreja fundada por
Cristo.

469
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

leigos católicos nao aceitou tal definicáo, abrindo assim o cisma dos chama
dos "Velhos-Católicos", que tinha á frente o sacerdote I nací o Dollinger. Es
tes se aproximaram dos jansenistas holandeses; elegeram para si um bispo,
José Hubert Reinkens, que foi receber a ordem episcopal na Holanda em
1873. Em 1889, os Velhos-Católicos e os jansenistas assinaram urna Decía-
racao de Principios comum, segundo a qual só reconhecem os Concilios
Ecuménicos celebrados antes de 1054 (ano em que os bizantinos se separa-
ram de Roma).

Os Velhos-Católicos se estenderam para a Inglaterra, onde fundaram


urna missao chefiada pelo bispo Arnold Harris Mathew, que recebeu sua or
denadlo episcopal em Utrecht aos 28/04/1908 por parte de um bispo janse
nista. Foi neste contexto velho-católico-jansenista que em 1916 se originou
a "Igreja Católica Liberal", ramo independente de qualquer outro dentro do
Cristianismo. O seu grande doutrinador foi o bispo anglicano Charles Gore,
que editou o livro LUX MUNDI (LUZ DO MUNDO), de varios autores; foi
Gore quem deu o título de Liberal á forma de Cristianismo por ele patroci
nada numa tentativa de conciliar o pensamento cristao com a filosofia libe
ral modernista, condenada por Pió X em 1907'.

A Igreja Católica Liberal diz contar com quarenta e um bispos, espa-


Ihados por quarenta e um países. No Brasil tem um Bispo diocesano com seu
Vigário Geral e igrejas ou cápelas em Brasilia, Santa Catarina, Rio Grande do
Sul, Rio de Janeiro, Sao Paulo, Sergipe. Afirma estar na linha da sucessao
apostólica, pois seus bispos foram ordenados por bispos validamente ordena
dos e sucessores dos Apostólos.

Examinemos agora

2. A Doutrina da ICL

Os jansenistas e os velhos-católicos deixaram-se influenciar forte mente


pelo protestantismo. O mesmo. porém, nao aconteceu com a ICL, que diluiu
extremamente a mensagem crista e assumiu o panteísmo e o reencarnado-
nismo das crencas indianas. É significativo o Rito abreviado da Liturgia Eu-
carística da ICL: conserva oracóes á SS. Trindade, a fórmula de consagracáo
do pao e do vinho, a Comunháo..., mas professa um Credo despojado de

O modernismo era urna córreme de pensadores que guardava os nomes


tradicionais da mensagem crista (fé, pecado, redencao, grapa.. .), mas os es-
vaziava de seu conteúdo teológico, para dar-lhes um sentido racionalista ou
meramente filosófico.

470
IGREJA CATÓLICA LIBERAL 39

qualquer referencia a SS. Trindade e ao sacrificio expiatorio de Cristo1. Eis


o respectivo texto:

"Oremos que Deus é Amor, Poder, Verdade e Luz. Que urna justica
peiietta regula o mundo. Que os seus filhos um día chegarao aos seus pés,
por muito que se tenham transviado. Sustentamos a paternidade de Deus e a
fratemidade humana. Sabemos que tanto melhor serviremos a Deus quanto
melhor servirmos ao homem nosso irmao. Por isso, a sua béncao repousa so
bre nos, ( i) bem como a sua paz para sempre. Amém".

Embora o boletim INF afirme a prática dos sacramentos, dá-nos a sa


ber que na ICL "se reconhece o direito de seus membros a urna completa li-
berdade na interpretacao dos Credos, Escrituras e TradicSes bem como de
sua Liturgia e do Sumario de Ooutrina. Nao pede a seus membros a aceita-
cao de urna crenca comum, senaó a boa vontade para orar juntos por meio
de um ritual comum. Acolhe em seus altares a todos os que sincera e reveren
temente deles se aproximan) para participarem dos sacramentos, quer perten-
cam a algum Credo religioso ou a nenhum, desde que se sintam chamados ao
servico de Deus".

Apesar de todo esse liberalismo, a ICL propoe fórmulas que denun-


ciam o patrimonio cristáo de suas origens, mescladas com afirmacSes pante-
i'stas, que absolutamente nao sao conciliáveis com a mensagem crista. É o
que torna inconsistente ao extremo a doutrina da ICL.

O panteísmo aparece nos seguintes dizeres:

"Qualquer pessoa se pode filiar como MBMBRO da Igreja, pois as reli-


gioes sao energías cósmicas, ¡á comidas na SEMENTÉ UNÍ VERSAL, quando
se manifesta um Universo. Assim sendo, as ReligíBes foram criadas para o
HOMEM para acelerar o desenvolvimiento do ser humano em geral e nSo a
urna determinada élite" (INF).

"Todos os Grandes Rituais estao baseados num Ritual Primordial e en-


contram-se de tal modo ligados com este Divino Ritual da Criacao que cada
ato, palavra ou gesto que se executa com o Ritual de aquí embaíxo se corres
ponde com urna realidade muitíssimo Maior de Aquele Ritual Eterno lá de
cima.

1 Sabemos que os principáis misterios da fé crista sao: 1) Unidadee Trinda


de de Deus; 2) Encarnafio, Paixáo e Morte de Nosso Senhor Jesús Cristo.

471
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

Assim, desta maneira, deste nosso Ritual humano flui urna continua
corrente até Ácima, que se une com Aquele Grandioso e Poderosissimo Fo-
go Criador, que é a manifestacao de Deus em Seu Universo.

Por outro lado, como o Ritual executado aquí na térra está harmoni
zado com o Grande Ritual de Cima, é capaz de transmitir algo das Divinas
Forcas Criativas ao Mundo circundante, tendo como centro o lugar onde é
realizado, ao mesmo tempo que beneficia todos aqueles que receberam a
Honra e Privilegio de participar de tSo Magna e Maravilhosa Obra" (\Uf).

"A religiSó tem sido buscada como um meio de salvacáo, o que é um


conceito demasiadamente restritivo, visto que todos temos nossa origem em
Deus e a Ele voltaremos quando perfeitos. Os servicos religiosos tém como
objetivo, alcancar esta perfeicao visada pela Leí da EvolucSo. Na Igreja Cató
lica Liberal o conceito essencial éode cooperario com Deus na obra evolu
tiva, portanto é um conceito de servico e nSo de salvacáo própria" (BE).

0 texto cita pensadores antigos, abonando a filosofía dos mesmos:

"Orígenes foi também um Universalista, quer dizer, acreditaba que


todos os homens serao SA L VOS, porque sao divinos em esséncia ".

"Giordano Bruno (1548-1600) foi um defensor do sistema de Copér-


nica, porém também ensinou que a natureza vive e é divina. Deus é a onipe-
netrante alma de todas as coisas, o pequeño e o grande e. porsua vez, imá
nente e transcendente" (\W).

O panteísmo inspira-se em fontei hinduístas, que s3o citadas explícita


mente no Informativo:

"Achamos oportuno as palavras do AVATAR CHRISNA, fundador do


Induismo, religiSó miienarda india, há mais de 20.000 anos, sendo portanto
a mais antiga religiao do planeta ainda em atividade. palavras essas que repre
sentan) urna auténtica joia da literatura védica cuja mensagem chegou até
nos: 'Pouco importa o caminho pelo qual os homens me procuram, pois
sempre é meu qualquer caminho que eles sigam' ".

Com o panteísmo, é professada pela ICL a reencarnado e, finalmente,


a salvacSo de todas as criaturas:

"Orígenes (185-257) foi considerado o primeiro grande teólogo da


Igreja. Ensinou doutrinas bem familiares para os católicos liberáis. Orígenes
foi mais conhecido por seus ensinamentos sobre a oré-exsisténcia. Pensava-se

472
IGREJA CATÓLICA LIBERAL

geralmente que nao ensinava a reencarnado como se entende agora. Po-


rém, as seguintes citacdes de seu DE PRINCIPIIS parecem implicar que a en
sinava, pelo menos em parte: 'A alma nao tem principio nem fim... Toda a
alma entra neste mundo fortalecida pelas Vitorias ou debilitada pelas derro
tas da vida anterior.. . seu trabalho neste mundo determina seu comporta-
mentó no mundo que se hé de seguirá este... Todos, em sua devida hora e
por sua própria vontade, regressario a Deus, incluindo o diabo e os Anjos
Caídos; regressarSo finalmente salvos e entSo Deus estará todo em Todos'"

É de notar que Orígenes propds tais idéias (preexistencia e reencarna-


gao das almas, salvacao universal) como hipóteses. Foram seus discípulos -
• os chamados "origenistas" (nao raro, mongesque ná*o freqüentavam escolas
teológicas) — que fizeram de tais teorías proposicoes sólidamente afirmadas.
O Concilio de Constantinopla II (553) condenou formalmente o origenismo,
ou seja, as teses atrás enunciadas.

Vé-se, pois, que a doutrina da ICL é estranhamente eclética, ou mes-


mo contraditória: de um lado, afirma nao ter nenhum dogma e atender a to
do homem que simplesmente "considere a religiao como urna atitude que
deve ser vivida mais do que urna crenca a ser professada" (INF). Doutro la
do, propoe seus dogmas ou artigos que a razSb nSb alcanca, mas so a fé pode
professar, tais como a reencarnacao, a'satvacfo universal, o valor da Liturgia
e dos sacramentos como ocasüfo de nos por em contato com "um Ritual
Eterno lá de cima" (INF). .. Assim elementos clássicos do Catolicismo se
mesclam com elementos religiosos heterogéneos (hinduístas, principalmen
te) e com principios da filosofía racionalista (que por si bastariam para anu
lar os anteriores), é difícil entender como numa só mente se possam combi
nar tantas assercóes contraditórias entre si. Verifica-se, alias, que, quanto
mais recentes sao os ramos que infelizmente se separam do tronco cristío
iniciado por Jesús Cristo e confiado a Pedro Apostólo, tanto mais diluidos e
pobres sao em seu conteúdo; cada vez menos se encontram neles os elemen
tos típicos e essenciais do Evangelho.

3. A sucessSo apostólica

A ICL reivindica para si a sucessá~o apostólica e, por isto, validade do


seu sacerdocio ministerial e validade dos sacramentos por ela administrados.

A propósito observamos:

A sucessSo apostólica nffo é o simples fato de que as ordenacoes epis-


copáis sempre foram ministradas validamente de geraclo em geracSo e assim

473
42 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

chegaram até nos a partir de Pedro, Tiago, Joao...; com efeito, a sucessío
apostólica nao é um fluido que passa de um Bispo para outro pela imposicáo
das míos. Além da validade das ordenacóes através dos séculos, a sucessao
apostólica requer comunhao de fé e de tarefas com os demais Bispos ou com
toda a Igreja; principalmente se exige comunhSo com o centro de referencias
de toda a Igreja, que é Pedro e seus sucessores.

As comunidades separadas (cismáticas ou heréticas) sempre procura-


ram ter a aparéncia de sucessao apostólica, a fim de justificar e valorizar o
seu culto sagrado e o seu ministerio pastoral. Tal é o caso, ainda hoje, das
Igrejas Católicas Apostólicas Brasileiras, que dizem derivarse de O. Carlos
Duarte, ex-Bispo de Maura, mas que nao guardam a comunhao com a Igreja
Universal; nao possuem a sucessao apostólica propiamente dita. Tal é o caso
também dos Bispos "patriotas" instituidos por governos comunistas e sagra
dos por um Bispo "colaboracionista". - Entre os elementos constitutivos da
sucessao apostólica, seja realcada a comunhao de fé; é necessário que o Bis
po conserve intata a doutrina transmitida desde os tempos dos Apostólos.
Essa comunhao é expressa pelo fato de que toda ordenacio de Bispo supóe
a presenca de tres Bispos concelebrantes.

Eis o qué podemos dizer sobre a Igreja Católica Liberal. Seria desejável
que nao utilizasse o apelativo "Igreja Católica..." para se autodesignar, vis
to que esta expressáo já é consagrada pelo uso de vinte séculos para designar
a única Igreja de Cristo fundada sobre a Rocha, que é Pedro. A existencia
dessa nova corrente religiosa entre nos evidencia, mais urna vez, a enorme
necessidade de que os discípulos de Cristo se aprofundem na mensagem do
Evangelho e possam "dar razao da sua esperanca a todos aqueles que a pe-
dem"(1Pd3,15).

474
D¡scute-se:

(emitérios: Jardins de Lazer


e

Pesquisas Científicas
Em tíntese: O projeto do Deputado Freitas Nobre, que tem em vista
transformar os cemitérios em áreas de lazer e pesquisas científicas, fere nao
somonte a consciéncia crista, mas também valores fundamentáis do ser hu
mano como tal. Em última instancia, equivale a reduzir o cadáver á condicSo
de adubo para árvores frutíferas e decorativas; além disto, descaracteriza os
cemitérios, que nio sao necessariamente lugares de tristeza, mas sim lugares
de recolhimento, meditacao, salutar e oracio. A reflexio sobre a morte, Ion-
ge de corresponder a masoquismo ou pessimismo, é extremamente útil a to
do homem, pois se diz com razio que a morte é a única certeza que o ho
mem tem desde que nasce. Tal reflexio deve ser instituida por quem tem
saúde e lucidez de mente, e nao hi de comecar quando a doenca grave difi
culta o pleno funcionamento do ratíotlnio e dos afetos.

0 Deputado Freitas Nobre elaborou um projeto de leí segundo o qual


os cemitérios seráo transformados em parques de lazer e de pesquisas cien
tíficas. Com efeito; os defuntos háb de ser enterrados em posicifo vertical; em
cima dos cadáveres colocar-se-ao estrume e adubantes, de modo a tornar o
solo fértil; e neste se plantario árvores e vegetáis de diversos tipos destinados
a proporcionar bem-estar a quem deseje passear, e materia de pesquisas bioló
gicas, botánicas e zoológicas a quem estude flora e fauna. Quem o quiser,
poderá comer as frutas (mangas, laranjas, abacates. . .) produzidas nocemi-
tério.

0 projeto vem sendo discutido calorosamente, pois é algo de original


no Brasil, embora nao seja novidade (como dizem) em outros países. Conse-
qüentemente surge a pergunta:

Que dizer?

1. Antes domáis, podemos reconhecer.no Deputado Freitas Nobre, a in-


terrcáo de tirar dos cemitérios a sua índole tristonha e acabrunhadora; esta

475
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

seria trocada pela de um lugar de utilidade pública, aproveitado para fins so-
ciáis e científicos; a tétrica imagem da morte assim se dissiparia, um pouco
ou muito, na mente do público.

2. Todavía nao seria lícito esquecer graves inconvenientes que tal projeto
acarretaria para a sociedade:

a) Respeito ao corpo humano

Em perspectiva crista (que é também a de um auténtico humanismo),


o corpo humano merece respeito nao somente em vida, mas também depois
da morte. Nele e por ele alguém "se realizou"; a alma humana desenvolve
suas virtualidades e procura atingir a sua plena identidade mediante o corpo;
o misterio profundo ou o sacrário da personalidade humana é inseparável da
realidade corpórea da mesma.1 Por isto o corpo humano, após a morte (ou
depois que a alma ¡mortal o deixa para comparecer diante de Oeus), nfo po
de ser tratado como lixo, muito menos. . . como estéreo ou adubo. Mas há
de ser considerado com respeito e dignidade.

Durante muito tempo, até 1964, a Igreja se opós á cremaclo dos cadá
veres porque esta era propugnada por pensadores nao cristSos com a inten-
cao de menosprezar o corpo humano; os materialistasqueriam, mediante esse
processo, dizer que o homem é mera materia, de modo que, quando deixa
de viver e ser útil, merece ser queimado, como um detrito imprestável; cf.
PR 215/1977, pp. 468-478. Em 1964 foi suspensa a proibicao de incinerar
os cadáveres no Direito da Igreja, porque em nossos dias se vé que tal proce-
dimento nao está necessariamente ligado a urna filosofía anticrista; pode ser
sugerido por razoes de higiene, de urbanismo, de economía. .. compatíveis
com a mensagem do Evangelho.

A ressurreícao dos monos ou da carne, que a fé crista professa, nao é


prejudicada pela cremacao dos cadáveres; mesmo sem cremacSo, estes se dis-
solvem na térra. . . A teología ensina que Oeus reconstituirá o corpo huma-

Sabemos que o ser humano é um composto de corpo e alma; agüele é


material, esta é espiritual. Bnquanto o corpo tem condicoes de saóde ou de
bom funcionamento, a alma permanece nele e desenvolve nele as suas virtua
lidades. Quando, porém, o corpo está irremediavelmente desgastado (o cora-
cao pira, por exemplo), a alma (que nSo morre) separase do corpo e conti
nua a viver no além, colhendo o que semeou na vida presente. 0 corpo se
decompoe, reduzindo-se aos seus elementos (calcio, ferro, hidrogénio, oxi-
genio, carbono...).

476
CEMITÉR1OS: JARDINS DE LAZER 45

no a partir do que a Filosofía chama "a materia prima". . ., pura potencia,


que, unida á alma humana (forma substancial), se torna o corpo individual e
próprio dessa alma1. Portanto, qualquer que seja o destino dado ao cadáver,
Oeus restaura o ser humano na sua identidade psicossomática (ou espiritual
e material) no dia da ressurreigao final. Em conseqüéncia, vé-se que ná*o é a
expectativa da ressurreica*o que se opSe a esta ou aquela maneira de tratar os
cadáveres; mas é, sim, o respeito devido ao corpo humano, templo do Espiri
to Santo, "utilizado por Este para toda obra boa" (como diz S. Agostinho),
que exclui a equiparacáo do cadáver a lixo ¡ndesejável.5

b) Cemitério: lugar de tristeza?

A palavra "cemitério" vem do grego koimetérion = dormitorio. Ela


traduz a consciéncia que os cristaos tém, de que a morte nao é urna ruptura
ou a extincao da vida, mas é um "sonó" que terminará com a ressurreigao
no dia da parusia (segunda vinda de Cristo) e do juízo final. A alma humana,
separada do corpo após a morte, continuará a viver consciente e lúcida no
estado de bem-aventuranca ou de desgraca que ela tiver preparado para si
mesma (ela nao cai no sonó ou no torpor); mas o corpo humano é que pare
ce cair num sonó, do qual despertará quando Cristo o chamar para a ressur-
reicao (cf. Jo 5,25-28). O cemitério, portanto, deve ser na"o um lugar de tris
teza (pois a vida nao nos será tirada, mas trocada), mas, sim, um lugar de re-
colhimento e oracSo; trata-se de algo.que lembra aos homens o sentido da
vida presente, ajudando-os a construir a reta escala dos valores sem ilusao
a respeito da transitoriedade das criaturas. Tal meditacao é salutar; deveria
mesmo ser incentivada, pois, como se diz, "a morte é a única certeza que
temos desde que nascemos"; fugir da ref lexao sobre a morte é enganar-se a si
mesmo numa atitude imatura; é preciso que o homem maduro saiba convi-
ver com a idéia da morte, que o espreita e o pode arrebatar a qualquer mo
mento. Quem pensa na morte que o espera, dispoe a sua vida de maneira
harmoniosa ou de tal sorte que a morte nao seja urna ruptura ou um hiato
assustador, mas, ao contrario, um ponto de chegada, de consumacao, de pie-
nitude. Por isto um projeto de urbanismo que descaracterize os cemitérios
identificando-os com parques de lazer e de pesquisa científica, é nocivo ao
próprio homem, porque Ihe subtrai urna ocasiao de perceber o sentido da
vida e da morte — percepcao esta que é de importancia capital. É precisa
mente quando tem saúde e boas condicoes de reflexio que o homem deve

1 Ver Curso de Iniciacao Teológica por Correspondencia, módulo 34 (C.p.


1362, 20001 Rio}.

2Em linguagem crista, diz-se com Sao Paulo que o corpo é o templo do Es
pirito Santo (cf. ICor 6,19).

477
46 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

pensar na realidade inevitável da morte; se comeca a fazé-lo quando esta se


aproxima mediante doenca grave, talvez nao tenha as condicoes físicas ou
psíquicas necessárias para este exercício.

c) Respaito as familias e aos morto»

O projeto do Deputado Freitas Nobre tende a fazer esquecer nao so-


mente a morte, mas também os monos; a mansao dos monos perdería a sua
identidade. Ora isto vem a ser desrespeito aos falecidos como também ás res
pectivas familias. Estas tém o direito de visitar o túmulo dos seus monos, de
rezar por eles e de se concentrar sobre a sua memoria num clima de paz e
de reverencia. Tal direito é ¡nalienável; seria conculcado se os cemitérios se
tornassem parques de lazer e récriacao. é preciso que as autoridades públicas
nao imponham aos cidadüos medidas que ofendam as conciencias e os prin
cipios básicos do humanismo (para ná*o dizer:... do Cristianismol.

Quanto ao sepu11amento em posicáo horizontal ou vertical, é algo de


totalmente secundario, contanto que se respeite o cadáver ( o respeito exige
que este seja enterrado com roupa ou vestido). Também é indiferente a fé
crista o uso de caixao ou de lencol para envolver o corpo morto; a rigor, po-
der-se-ia dispensar até mesmo o lencol (mortalha) para o cadáver a ser enter
rado, contanto que isto nao significasse que os restos mortais sao estéreo.

Sao estas algumas ponderales que o projeto Freitas Nobre sugere;


embora inspirado por be las intencoes, afeta valores nao só do cristao, mas
do ser humano como tal.

478
NOTA

" Thérése ": um Filme de Álain Cavalier

O Festival cinematográfico de Carines (maio 1986) teve como ponto


alto - coisa estranha! - um filme sobre Santa Teresa do Menino Jesús de
Usieux, ou Santa Teresinha.

É o que refere Mons. Vilnet, arcebispo de Lille, e Presidente da Confe


rencia dos Bispos da Franca no Boletim Diocesano de Lille n? 11 (13/06/86);
deixamos que o relator nos fale em seu estilo próprio e muito significativo:

"Coisa surpreendentei. . . Os críticos cinematográficos nSo se cansar»


de elogiar um filme francés que acaba de ser apresen tado ao festival de Cari
nes. O seu título? Tao breve quanto possível: Teresa. Seu cenarlo? Nenhum
a nao ser a biografía de urna jovem do fim do sáculo pastado, que se enclau-
surou no exiguo espaco de um Carmelo, onde e/a morreu de tuberculosa, na
flor de seus anos.

No día da morte de Teresa de Usieux (pois é déla que se trata), urna


das Religiosas perguntava o que a Priora poderia escrever no noticiario ne
crológico que deveria ser enviado a todas as comunidades carmelitas...'

Um ceno Alain Cavalier valeu-se dessa existencia de Teresinha. Ao seu


filme, vista a opiniao dos críticos, desejamos ampia rsceptividade...

Qual é a chave desse filme sedutor que corría o risco de ser insípido?
Alain Cavalier mesmo responde: As Carmelitas dedicam seu amor a um ho-
mem que nao deixou de repetir como em refrió: 'Eu sou a Vida. Eu sou a
Vida. Eu sou a Vida'.' Tal homem as encanta e, por vetes, as abandona. Ca-
bem-lhejunto a elas todos os papéis: o de esposo, o de pai, o de filho...

1 Tao modesta e apagadamente tinha vivido Teresa de Listeux! (Nota do


tradutor).

479
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 293/1986

O cenarista atribuí a urna co-lrma de Teresa esta verif¡cacao, cujo cara-


ter humorístico nada tem de sacrilegio: 'Dígase que todas estao empolgadas
por alguém que morreu hi dois mil anos e de quem nSo se sabe nem mesmo
se existíu\'

'Quem dizem os hornens que eu sou?' perguntava o Cristo aos seus dis
cípulos. Hoje aínda nos, que fazemos profissSo de fé no Cristo, somos assim
interpelados.

E o próprio Cristo nos interroga: 'Quem dizeis que eu sou?Teresa res-


pondeu: "Tudo V"

Os comentaristas cinematográficos observam aínda o seguinte: a artista


Catherirte Mouchet, que representa S. Teresinha, traz em sua vida pessoal o
mesmo cunho de simplicidade e profundidade que ela assume no papel de
Teresinha; é por causa disto que ela representou tSo bem a Santa. A verifica-
cao de tais fatos dá-nos a ver que parece que o mundo de hoje, por mais ma
terializado que esteja, é, nao obstante, sensível aos auténticos sinais de trans
cendencia: o misterio de Deus, bem apresentado, fala-lhe profundamente.
Oir-se-ia que se comprova assim mais urna vez a observacáo de S. Agostinho:
"Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coracáo enquanto nao
repousa em Ti" (ConfissSes I 1).

Estéváo Bettencourt O.S.B.


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D. PEDRO MARÍA DE LACERDA


ÚLTIMO BISPO DO RIO DE JANEIRO NO IMPERIO
(1869- 1890)

Para elaborar o presente livro, o autor, D. Jerónimo de Lemos


O.S.B., além de consultar ampia bibliografía, viu também o arquivo de D.
Lacerda, lendo sua correspondencia, escritos, e preciosa documentacáo
até hoje inédita, bem como jomáis daquele tempo, gracas ao que pode
contribuir para urna perspectiva inteiramente nova sobre a pessoa e
acontecimentos da época em que viveu esse bispo, que, durante mais de
vintén nos dirigiu espiritualmente os destinos da extensa diocese de Sao
Sebastiáo do Rio de Janeiro, a qual, naquela época, nao se restringía ao
assim chamado Municipio Neutro, mas abrangia todo o Estado do Rio e
Espirito Santo, e territorios das provincias de Santa Catarina e Minas
Gerais.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 1830, nela faleceu a 12 de


novembro de 1890, quando ocorrerá o 19 Centenario de sua morte, tres
dias antes de se completar um ano da Proelamacáo da República. Foi ele
o último Bispo do Imperio, Conde de Santa Fé, a reger a diocese em
questáo, e o último capeláo-mor.

O leitor poderá avaliar o interesse que tal obra desperta, através


dos capítulos que a constituem, cujo índice aqui transcrevemos:

I. O Lar dos Lacerdas. II. Nascimento e Estudos. III. Doutor em


Teologia. IV. O Episcopado. V. Monsenhor Félix. VI. Sagracao e Posse.
Vil. Pastoral de Saudacáo. VIII. Ainda a voz do Pastor. IX. Algumas pro
videncias. X. No Concilio Vaticano I. XI. Padre Almeida Martins. XII. Ex-
plicacóes do Prelado. XIII. Zelo do Pastor. XVI. A volta do Filho Pródigo.
XV. A Questáo Religiosa. XVI. Retrocedendo. XVII. D. Freí Vital. XVIII.
Supremo holocausto. XIX. Figuras que passam. XX. O Internuncio San-
guigni. XXI. Visitas Pastorais. XXII. Continuacáo do mesmo assunto.
XXIII. O adeus a D. Vicoso. XXIV. D. Lacerda e os Religiosos. XXV. A Ro
sa de Ouro. XXVI. O Internuncio Spolverini. XXVII. Arcebispado e Cardi-
nalato. XXVIII. O. Joáo Esberard. XXIX. O sucessor de D. Lacerda. XXX.
Consumpcáo e Morte. APÉNDICE: Relacáo das Paróquias da Diocese de
S3o Sebastiáo do Rio de Janeiro no tempo de D. Lacerda NOTAS FON-
TES.

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