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B O L E T I M D E A N Á L I S E D O E S TA D O D A A RT E E M R E L A Ç Õ E S I N T E R N A C I O N A I S
SUMÁRIO
Paz em Paris, 1919: a Conferência de Paris e seu
Carlos Rosa da Silveira
mister de encerrar a Grande Guerra
* MACMILLAN, Margaret. Paz em Paris, 1919: a Conferência de Paris e seu mister de encerrar a Grande Guerra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004, 672p.
ISBN: 85 20916 05 8
** Bacharelando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
1 Women of the Raj. New York: Thames and Hudson, 1996, 256p. ISBN: 0500278989; Canada and NATO: Uneasy Past, Uncertain Future. Waterloo, Ont:
3 A assinatura do tratado de paz no Salão dos Espelhos tinha um valor especial para os franceses, pois neste mesmo recinto havia sido assinado o armistício
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O iREL-UnB
Os estudos na área de relações internacionais e política exterior do Brasil fazem parte de uma das mais fortes tradições
da Universidade de Brasília – UnB. A vizinhança dos centros decisórios de poder nacional (Poder Executivo, Congresso
Nacional, Tribunais Superiores) e a presença do corpo diplomático acreditado junto ao governo brasileiro, permitem uma
projeção privilegiada para a reflexão especializada feita na UnB – tanto que o seu Departamento de Relações Internacionais
é o mais antigo e mais importante centro especializado do Brasil e um dos mais tradicionais da América Latina.
Fundada em 1974, a área de relações internacionais da UnB mantém um Bacharelado e um programa de pós-graduação
em Relações Internacionais (especialização, mestrado e doutorado), que já formaram mais de mil profissionais, em
sua maior parte atuando junto às agências do Governo Federal, no Ministério das Relações Exteriores, em organizações
internacionais, empresas públicas e privadas e organizações não-governamentais brasileiras e estrangeiras.
Para conhecer as atividades e detalhes dos programas de capacitação e de pesquisa do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília, visite a sua homepage em http://www.unb.br/irel
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* SENNES, Ricardo, As mudanças da política externa brasileira nos anos 80: Uma potência média recém-industrializada. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2003, 148p. ISBN: 85 7025 700 7.
** Bacharelando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
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país com relação a sua inserção maior autonomia dos sistemas consolidada. Sobressai ainda seus
regional, ressaltando a intenção regionais, o que seria de grande aspectos do âmbito multilateral ao
de se tornar preponderante ao interesse para as potências médias. bilateral e expõe colocações sobre
mesmo tempo que evitaria o O Brasil seria afetado, as fragilidades da nova matriz,
aumento da influência de outros principalmente nas mudanças de como, por exemplo, “(...) a falta
países. cunho econômico, ao passar por de participação ativa dos agentes
Diante disto, o autor várias crises financeiras na década sociais mais diretamente atingidos
apresenta os processos que de 80 e ter de reorientar seus por elas (...) e a postura de risco
acarretaram mudanças na inserção fluxos comerciais e, assumida em termos da
do Brasil e das demais nações posteriormente, sua política viabilidade econômica do país
recém-industrializadas no sistema externa em favor dos países do diante do mercado internacional”1.
internacional, que Primeiro Mundo, com a Diante da aparente
conseqüentemente influenciariam conseqüência de se distanciar do reaproximação do Brasil das relações
alterações em suas políticas modelo anterior que priorizava as Sul-Sul durante o início do
externas. Para ele, dois relações Sul-Sul. governo Lula, o livro configura-se
acontecimentos maiores – o Na sua parte final, o autor como uma estrutura teórica
reordenamento do sistema dispõe, em linhas gerais, a valiosa para a compreensão do
econômico internacional e o configuração da matriz emergente renascimento das estruturas
período final da Guerra Fria – da política externa brasileira, terceiro mundistas da política
permitiriam o surgimento de ainda não inteiramente externa brasileira.
1 SELCHER, W. O Brasil no Sistema Mundial de Poder. Revista de Política e Estratégia, São Paulo, v.1, n.1, p.32, 1983.
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Sobre o período da transição ampla abertura econômica e, por contra desigualdades acentuadas.
democrática, há certa lacuna outro, pelas contradições internas O Brasil começaria a procurar
histórica, que abrange as relações geradas da ditadura, o governo parceiros não convencionais e
exteriores do Brasil. Sob esse Sarney, ao mesmo tempo em que encontraria na Argentina forte
aspecto, Analúcia Pereira, doutora apresentava formulações e aliado, com o qual promoveria
em história, propõe uma análise iniciativas autônomas, encontraria acentuada integração, por meio de
sucinta, mas de grande valor barreiras na nova ordem vários acordos, que futuramente
acadêmico. Avalia, pois, traços de internacional, o que exigiria resultariam no MERCOSUL.
continuidade com as políticas dos enquadramentos. Deste modo, Além da China, outras
governos da ditadura militar, esbarraria em uma situação de parcerias seriam desenvolvidas e
assim como as rupturas derivadas impotência frente à conduta de representariam uma tentativa de
das transformações ocorridas no encaixe naquela conjuntura se obter alguma vantagem no
pensamento brasileiro de política internacional. O período ordenamento mundial, bastante
externa, em decorrência dos caracterizar-se-ia, então, pela nocivo aos países em
processos de redemocratização “adaptação e reação”, como uma desenvolvimento, principalmente
interna e mudanças estruturais tentativa de se ajustar à realidade pelas subordinações às políticas
por que o mundo passava à época. mundial distinta. monetárias da dívida externa e
Segundo ela, o governo José A autora faria referência à retaliações comerciais. Desse
Sarney (1985-90), devido ao seu agenda multilateral e ao projeto modo, o governo tentaria ampliar
caráter de transitoriedade de uma do modelo nacional- sua influência e promover sua
ditadura militar para a globalização/ desenvolvimentista, os quais inserção no cenário internacional,
neoliberalismo, apresentaria fortaleceriam os laços com países por meio notadamente da
pontos de continuidade com os de estrutura semelhante, abertura de seu mercado ao
mandatos passados, evidenciados, distanciando-se de um comércio mundial.
por exemplo, na preocupação com alinhamento automático com os Destaque-se, outrossim, a
a distância (desigualdade) norte-sul, Estados Unidos (EUA). participação ativa do Brasil em
bem como com a preocupação da Portanto, a estratégica seria inúmeros organismos
autonomia brasileira diante dos estreitar os laços com a América internacionais, onde, se
Estados Unidos. Latina e demais países periféricos. comparado ao restante da América
Fortemente marcado por A partir daí, o diálogo sul-sul Latina, possuía notável posição.
pressões da situação econômica fortalecer-se-ia com vistas a criar Segundo ela, os foros seriam locais
mundial cuja exigência era a uma corrente de “solidariedade” em que o governo exporia e
* PEREIRA, Analúcia Danilevicz. A política externa do Governo Sarney – A Nova República diante do reordenamento internacional (1985-1990). Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003, 98p. ISBN: 85 7025 699 X.
** Bacharelanda em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
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defenderia suas idéias, ao denunciar especialmente dos Estados pagamento da dívida externa.
e protestar contra as injustiças Unidos. Entretanto, ela ressalta No livro, portanto, observa-se
cometidas pelos países que, certo grau de continuidade análise percuciente, ainda que
desenvolvidos, como, por com gestões passadas recentes, se lacônica de período peculiar da
exemplo, no tocante à dívida mostraria incompatível com as trajetória nacional, com a hábil
externa. propostas das principais utilização de exemplos tanto de
Em suma, a autora chega potências, principalmente em continuidade bem como de
à conclusão de que a relação à autonomia que o Brasil alteração com vistas às gestões
redemocratização teria facilitado a tanto aspirava. Assim, a presença passadas. Deste modo, a autora
inserção do país no cenário do país no contexto mundial seria alcança o objetivo de dar
internacional, devido ao destacado feita por meio de retaliações considerável contribuição para a
posicionamento estratégico da comerciais e pressões do Fundo supressão parcial da antiga lacuna
América Latina que chamaria a Monetário Internacional (FMI) histórica existente de meados dos
atenção dos países desenvolvidos, por problemas vinculados ao anos 80.
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* SHAFFER, Gregory C. Defending interests: public-private partnerships in WTO litigations. Washington: Brooking Institution, 2003, 227p. ISBN: 0 8157 7831 7.
** Bacharelando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB – e editor-adjunto do boletim Via Mundi.
1 Cf: PREEG, Ernst H. Traders in a brave new world. The Uruguay Round and the future of the international trading system. Chicago: Chicago University, 1995.
2 TRACHTMAN, Joel P. The international economic law revolution. Journal of International Economic Law. Harrisburg, v.33, mar/may 1996.
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Tariffs and Trade (GATT) a criar Law. Na evolução desse sistema, States Trade Representative
procedimentos jurídicos nos quais portanto, as redes públicos- (USTR) – equivalente a um
entidades privadas podem fazer privadas americanas poderiam Ministério do Comércio – e as
petições ao governo para moldar a aplicação jurisprudencial entidades privadas americanas
questionar barreiras ao comércio das regras da OMC de forma que ativas no comércio internacional.
de países estrangeiros. O papel das proporcionasse mais vantagens Enquanto uma firma tem
entidades privadas na formulação aos Estados Unidos. Contudo, por interesse específico, o USTR
e implementação da política voltar-se cada vez mais para a representa sempre o interesse
comercial começa então ser tão tradição da Common Law, nacional. Dessa forma, ele
ativo que a negociadora canadense diminuir-se-ia, em grande medida, considera a interpretação dos
na Rodada Uruguai, Sylvia Ostry, a potencialidade dos americanos instrumentos legais da OMC
afirmou que “(...) os Estados em influenciar o sistema. baseado na gama maior de
Unidos não tem uma política Isso deriva do fato de que, por interesses de seus constituintes. A
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comercial. Eles têm clientes” . atuar em um sistema em que o resultante, apesar de poder ganhar
O autor, ao analisar a evolução da “precedente” tem importante muitos mais casos no sistema de
participação de entidades privadas relevância política para solução de controvérsias da OMC
na formulação e implementação contenciosos futuros, os EUA atualmente, é que os EUA, por
da política comercial, teve o zelo muitas vezes diminuem a sua saber do poder da jurisprudência
de entrevistar mais de cem belicosidade no sistema para ter em futuros casos, optam por certa
autoridades europeias e certeza de que o entendimento reserva em litígios que poderiam
estadunidenses para construir sua que se chega sobre uma regra ter impactos sistêmicos nos seus
argumentação. atual, não seria utilizada instrumentos de defesa comercial.
Em um estudo comparativo, posteriormente pelos seus O receio de muitos analistas
vai tentar compreender porque as adversários contra os seus que acreditavam que a presença
entidades americanas são mais interesses. O autor dá o exemplo do arcabouço jurídico americano
ativas do que as europeias em de quando os EUA tiveram um influenciaria a OMC a seu favor
construir essas redes e como a relatório de um conselho não procedeu. Contudo, visto sob
“cultura jurídica” do sistema afeta deliberativo favorável aos seus outra perspectiva, o autor enseja a
o desenvolvimento político do interesses em um caso contra a argumentação que leva à
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tratamento dos conflitos entre os Austrália . Apesar de seu conclusão de que o sistema
membros da OMC. O autor entendimento ter prevalecido, o funciona em detrimento dos
reconhece que os painéis da OMC governo estadunidense países em desenvolvimento, mas
aplicam gradativamente uma questionou certos entendimentos por razão diversa.
abordagem contextualizada, feitos pelos conselheiros que Como sabido, os processos de
estruturada no caso específico, em poderiam, em casos futuros, ser barganha e negociação no âmbito
detrimento a regras genéricas. aplicados contra seus próprios da OMC acontecem muito
Essa tendência representa arranjos de defesa comercial. raramente e os textos negociados
uma mudança de uma abordagem Desse fato, deriva-se aspecto são vagos pela própria forma de
do direito civil para uma relevante da dinâmica de compromisso político que se
alimentada influência da Common relacionamento entre o United desenvolve entre as partes
negociadoras. Em face da mais bem posicionados para Common Law não favorece
imprecisão da linguagem, o OSC influenciar a interpretação e necessariamente os países
acaba tendo que interpretar e, aplicação das regras ao longo do desenvolvidos; por outro, o papel
efetivamente, construir o quadro tempo. Se se analisa o histórico de que o OSC tem em decidir, em
normativo da OMC. A todos os casos da OMC, percebe- última análise, o entendimento
consequência é que casos se que os EUA participaram – específico das regras, sem dúvida
individuais da OMC funcionam dados de Janeiro de 2003 – de 97% alguma, funciona em detrimento
não somente para resolver a dos casos que resultaram em dos países em desenvolvimento.
controvérsia em questão, mas adoção do resultado do conselho Dessa forma, a chamada
também para interpretar e moldar ou decisão da apelação. A União legalização dar relações
as regras da OMC, já que não Europeia vem atrás com 81% de internacionais não coadunaria
existe âmbito legislativo ou participação. Por sua vez, nenhum com o ideal pós-moderno de
executivo no qual se possa realizar país de menor desenvolvimento retirar das relações internacionais
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essa tarefa . relativo – mais pobres do mundo – a categoria diferencial de poder. O
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Os governos que participam até hoje participou do sistema . que existe, portanto, são regras
mais ativamente do sistema de Conclui-se, por um lado, que mediadas por ela, sem exerce-las
solução de controvérsias da o fato do sistema caminhar cada diretamente, mas dissimuladas em
organização, portanto, estariam vez mais para o sistema da estruturas de governança.
6 LEITNER, Kara, LESTER, Simon. WTO dispute settlement 1995-2003: a statistical analysis. Journal of International Economic Law. Washington, v.7, n.1,
p.169-181, mar 2004.
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* CHESNAIS, François. Tobin or not Tobin. Porque tributar o capital financeiro internacional em apoio aos cidadãos. São Paulo: UNESP, 1999, 79p. ISBN: 85 7439 266 8.
** Doutorando em História das Relações Internacionais do Departamento de História da Universidade de Brasília – UnB – e professor colaborador do
Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.
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* MATTOS, Carlos de Meira. Geopolítica e Modernidade: geopolítica brasileira. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2002, 156p. ISBN: 85 7011 306 4.
** Bacharelanda em Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
1 MEIRA MATTOS, op. cit., p.90-1.
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DE CONSTRUIR UMA DAS uma revisão bibliográfica a partir estréiam no estudo da geopolítica
NAÇÕES MAIS PRÓSPERAS E do objetivo proposto, ao buscar e almejam ter contato com os
RESPEITADAS DO MUNDO’” – corroborar sua tese com seus principais fundamentos e
grifo do autor, p.106. argumentos dos mais ilustres autores. O próprio autor declara:
O livro ainda contém dois pensadores dos diversos campos “Em síntese, a geopolítica
anexos do professor doutor Philip da geopolítica. continua viva e seu estudo,
L. Kelly sobre o conjunto da obra O seu estilo direto e claro indispensável ao estadista e aos
de Meira Mattos. Por fim, observa- torna a leitura dinâmica, sendo formuladores de política”, p.34.
se que Meira Mattos apresenta indicado para pesquisadores que
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O fim da Guerra Fria revelou que eles não estão totalmente Como o comunismo era a
uma falha do racionalismo de errados, pois existem exemplos nova ameaça à democracia, os
realistas e liberais no estudo das históricos que se encaixam com Estados Unidos (EUA) passaram a
Relações Internacionais, ao suas palavras. Cita os exemplos da adotar tal estratégia para conter o
redescobrir-se o valor da história e Alemanha e França avanço soviético em várias partes
da experiência comparativa entre respectivamente: no primeiro do globo, inclusive na instalação e
sociedades no decorrer do tempo. caso, a política externa muda com manutenção de regimes
O livro tem, justamente, o intuito o passar do tempo, de acordo com autoritários em países periféricos.
de revisar o campo da política a ideologia de cada governo; no Tal estratégia é usada até hoje,
externa dos Estados através da segundo, apesar de suas mudanças como a guerra do Iraque e as ações
perspectiva das diferenças entre políticas – da Monarquia até a 5ª antiterroristas.
os regimes políticos. República –, sua política externa Ao abordar o totalitarismo,
Em sua primeira parte, os mostrou certa continuidade. diferencia o totalitarismo fascista
autores preocupam-se em dar base Para tentar desmentir a do soviético, porque o primeiro
para o início do debate, ao associação automática entre estaria diretamente ligado à
mostrar diferentes visões teóricas, democracia e cooperação e entre guerra, ao acreditar que foi decisão
para que se pudesse considerar o autoritarismo e guerra, Frank fala divina a criação de hierarquia
estudo do tema sob nova da síndrome de Munique. No entre os países; o segundo, por
abordagem. Partem da iniciativa momento em que as potências sua vez, busca os ideais de paz,
de que não há relação direta e democráticas poderiam evitar que igualdade, justiça social e não
automática entre regimes a Segunda Guerra Mundial viesse a precisa da guerra para provar
democráticos e política externa de ocorrer, seus líderes, seguindo o alguma coisa. Ele afirma que o
cooperação ou entre regimes ideal democrático, tentaram governo de Stálin era prudente,
autoritários e guerra. Mais resolver a crise na Europa pelos pois tinha a consciência da
adiante, mostram estudos de caso meios pacíficos, mas sem existência de um equilíbrio de
em visão comparativa, ao analisar resultados positivos. Para se evitar poder em escala internacional.
a política externa dos Estados do outras guerras – como a que Também Stalin tentou criar
ponto de vista de seus respectivos acabara de acontecer – os países uma imagem negativa dos EUA,
regimes políticos. democráticos recorreriam à força. voltada para a guerra, enquanto
Dentre os autores da Assim, para os países seu país dizia “não” a ela – a não
primeira parte, destaca-se Robert democráticos do pós-Segunda ser que fosse imposta – e dizia
Frank. Para explicar a relação Guerra, preferir-se-iam “guerras “sim” à revolução. A história
existente entre política externa e pequenas” para a preservação da mostra que, quando um ditador
regime político, Frank menciona o democracia do que tentativas contraria o concerto das nações,
ideal liberal e o realista e assinala pacíficas de parar o inimigo. ele acaba por ser derrotado –
* SARAIVA, José Flávio Sombra, ed. Foreign Policy and Political Regime. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2003, 364p. ISBN: 85 88270 12 9.
** Bacharelando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
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Waltz, cujo cinqüentenário Mais adiante, ele trata da desejo, o conflito, que por vezes
do presente livro celebra-se este segunda imagem, ou seja, do leva à guerra, está fadado a ocorrer.
ano, procura compreender as Estado. A proposição considerada A fim de alcançar um desfecho
causas da guerra através da então é a de que “(...) por meio da favorável nesse conflito, os Estados
análise, como sugere o título, por reforma dos Estados, as guerras têm de confiar em seus próprios
diferentes níveis ou, como ele podem ser reduzidas ou eliminadas dispositivos, cuja relativa eficiência
prefere chamar, por distintas para sempre”, p.105. Neste tem de ser sua constante
imagens: o homem, o Estado e sua momento, o autor se vale da preocupação”, p.198.
estrutura. A parte inicial é tradição liberal para expor o
dedicada à visão do homem, onde argumento e, simultaneamente, Waltz recorre ao pensamento
se afirma que “(...) o local das para refutá-lo. de Rousseau aplicado à política
causas importantes da guerra Assume-se que a fé na internacional. A guerra é apontada
reside na natureza e no democracia, ou em todo tipo de como uma conseqüência da
comportamento do homem. As organização das unidades que anarquia internacional. Enfatiza-
guerras resultam do egoísmo, de compõem o sistema internacional, se a estrutura política: o conflito
impulsos agressivos mal pode levar a dois tipos de ocorreria simplesmente, em sua
canalizados, da estupidez. As posicionamento: o não- visão, porque não haveria um
outras causas são secundárias e intervencionismo otimista – poder superior; deste modo, a
devem ser interpretadas à luz posição de Kant, Cobden e Bright força estaria sempre presente para
desses fatores”, p.24. Para tratá-la, – e o intervencionismo a solução de choque de interesses.
o autor recorre a Santo Agostinho, messiânico – Paine, Mazzini e Isto posto, o autor apresenta
Espinosa e Morgenthau, os quais, Wilson. De qualquer uma destas a tendência à política de equilíbrio
resguardadas suas diferenças, posturas, todavia, infere-se que a de poder, segundo a qual a “ (...)
apontam para as relações razão não seria suficiente para estratégia de todos depende da
internacionais com base na orientar os Estados à busca da paz estratégia de todos os outros”,
natureza humana. – asserção que Waltz procura p.248, e, assim, lança as bases
Waltz, como contrapartida, exemplificar com breve análise para o que seria sua Theory of
argumenta que não podendo a sobre a relação entre o socialismo International Politics, obra de 1979,
natureza humana ser modificada – e a Primeira Guerra Mundial. em que inaugura o realismo
diferentemente das instituições A parte última debruça-se estrutural – neo-realismo. A
sócio-políticas – não seria ela, sobre a terceira imagem, que é leitura desta obra é obrigatória
assim, a chave para alcançar a paz. relacionada à estrutura do Estado, para os que pretendem
Nesse sentido, previne contra a com o seguinte cenário: compreender o diálogo
ingenuidade de autores estabelecido pela escola realista
comportamentalistas e contra a “Com tantos Estados soberanos, das relações internacionais, em
falácia racionalista que sugere a sem um sistema jurídico que possa que se somam filosofia e ciência
“reorientação das mentes”, isto é, ser imposto a eles, com cada política e também para os que
a busca da paz mediante o Estado julgando suas queixas e queiram iniciar o estudo da
aperfeiçoamento dos homens e de ambições segundo os ditames de política internacional nos níveis
suas inclinações. sua própria razão ou de seu próprio propostos e analisados pelo autor.
* WALTZ, Kenneth N. O homem, o Estado e a guerra: uma análise teórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 331p. ISBN: 85 336 1950 2.
* Bacharelanda em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
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Nos últimos três anos, vários direito internacional. Segundo o Esta negligência permitiu não
autores buscaram entender as autor, a crença na convergência só a ebulição de sentimento
implicações da política externa do harmônica não diminuiu após o antiamericano no Oriente Médio,
governo Bush para o mundo. fim da Guerra Fria; ao contrário, como também entre os seus
Neste livro, porém, Walter Russell com a vitória do liberalismo próprios aliados, divididos em dois
Mead, eminente estudioso da área proclamada por Fukuyama, grupos: um, como a Alemanha,
e membro do Council on Foreign passou-se a acreditar que ela seria que deseja maior força para as
Relations, se coloca outro desafio: acelerada. Todavia, isto mudaria instituições internacionais e vê os
entender a gestão Bush dentro do com os ataques de 11 de Estados Unidos como uma
contexto histórico maior da setembro. ameaça para a convergência
política externa americana e o seu Para ele, os ataques harmônica internacional; e outro,
possível legado. decorreram principalmente de dois como Rússia e França, adepto da
De início, Mead analisa o fatores: a substituição do fordismo tradicional política de poder, que
contexto histórico no qual Bush se pelo capitalismo milenar, tipificado tenta usar as instituições
encontrou após 11 de setembro de pela flexibilização da internacionais como instrumentos
2001. Primordial entre as suas regulamentação do mercado e pela para conter a hegemonia
preocupações é o fordismo, nome difusão da mentalidade americana.
atribuído por ele à forma de consumista gerada pelo próprio Enquanto se processavam
capitalismo caracterizada pela fordismo para outras instituições essas mudanças no campo
colaboração entre o Estado e o sociais, inclusive governos. As internacional, o autor afirma que,
mercado e a regulamentação do mudanças provocadas pelo novo nos Estados Unidos, se
segundo pelo primeiro. capitalismo gerariam desencadeava o ‘revivalism
Intimamente ligado ao conceito, ressentimentos no mundo inteiro americano’, movimento liderado
está a noção de convergência contra os americanos – maiores por conservadores que buscaram
harmônica, um círculo virtuoso no adeptos desta revolução; o reformular os termos do debate
qual o capitalismo traz maior segundo é a “década perdida” da político do país, ao trazer um
produtividade, melhores condições política externa norte-americana – renascimento religioso e moral,
de vida, mais educação, 1989 a 2001 – durante a qual os uma aceitação do capitalismo
fortalecimento da democracia, Estados Unidos (EUA), inebriados milenar e uma celebração do
dentre outros benefícios. No com a vitória sobre o comunismo, “espírito nacional”. Mead examina
plano internacional, a descuidaram da manutenção do o impacto deste movimento nos
convergência harmônica propicia seu “projeto” de construção de principais grupos políticos norte-
uma força cada vez maior para as uma ordem mundial estável, americanos: hamiltonianos –
instituições internacionais e o pacífica e próspera. nacionalistas econômicos que
* MEAD, Walter Russell. Power, Terror, Peace, and War: America’s Grand Strategy in a World at Risk. New York: Alfred A. Knopf, 2004, 226p. ISBN:1 4000 4237 2.
* Bacharelando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
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passam a aceitar e apoiar o das elites do resto do mundo em Estados Unidos. A liderança do
capitalismo milenar; relação ao país. Contudo, acredita país deverá ser exercida dentro da
jeffersonianos – isolacionistas; que os passos dados pelo governo estrutura das instituições
wilsonianos – internacionalistas Bush apontam a direção do que internacionais, que precisarão ser
idealistas, cada vez mais será a política externa dos Estados reformadas. O autor insiste em
preocupados com valores Unidos nas décadas vindouras, um apoio americano para reforma
americanos e menos com que deverá ser buscada não no da Organização das Nações
instituições internacionais; e esgotamento do revivalism, mas Unidas (ONU) – até
jacksonianos – nacionalistas sim de seu amadurecimento. pormenorizando uma proposta
populistas ansiosos para defender Para o futuro, apontar-se-iam relativa ao Conselho de Segurança
o individualismo tradicional dois desafios: a luta contra a – e também para o fortalecimento
americano. Essa tipologia ameaça terrorista e a revitalização de organizações regionais.
inovadora está entre as mais do projeto americano. Em relação Ademais, será necessário garantir
valiosas contribuições do livro, ao primeiro, Mead traça um a inclusão daqueles até agora
sendo poderosa ferramenta para paralelo entre a “guerra contra o excluídos dos benefícios do
organizar os debates sobre o tema. terror” e a sua antecessora, a capitalismo milenar. Só assim,
Mead, ao analisar a conduta “guerra metafórica”, isto é, a conclui, os Estados Unidos
do governo Bush após o 11 de Guerra Fria. Ele propõe a poderão assegurar a estabilidade e
setembro, vê uma política ressurreição da contenção como prosperidade no mundo.
condicionada fortemente pelo princípio organizador do esforço Embora se possa argumentar
revivalism, tanto no desejo de antiterrorista: adaptada à contra várias de suas propostas e
espalhar valores americanos pelo realidade atual e dotada de caráter conclusões, não há dúvida de que,
globo, quanto pelos seus apelos mais afirmativo, ele crê que ela na presente obra, Russell Mead
populistas. De modo geral, seria um conceito capaz de ser apresenta uma visão coerente,
observa positivamente a política bem-aceito pelos seus aliados. dinâmica e própria da evolução e
externa de Bush, quando não Suas propostas para esse forward dos rumos da política externa
inevitável em prol das mudanças containment são ousadas, detalhadas norte-americana. Recomenda-se
internas e externas; porém, critica e bem-pensadas, ao englobar vivamente o livro não só aos que
duramente a sua implementação, dimensões políticas, militares e se interessam pelo estudo dos
especialmente quanto à culturais. Estados Unidos, porque as
inabilidade de justificar a guerra Ao debater a revitalização do transformações por ele
no Iraque, à incompetência no projeto americano, afirma que se vislumbradas e sugeridas não
trato diplomática com a Europa e vive em um mundo cada vez mais deixam intocadas nenhum
à falta de ação positiva para antiautoritário e menos disposto a aspecto da vida internacional.
combater a progressiva alienação aceitar a liderança unilateral dos
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Os organizadores da obra são situações em que os Estados internacional. A atenção dada pela
renomados acadêmicos de relações podem e usam seu poder militar e política externa do governo Bush à
internacionais: Art, professor de quais os efeitos militares da ameaça terrorista e proliferação de
política externa americana da revolução nuclear no modo armas de destruição em massa
Universidade Brandeis, é autor de operacional dos Estados – provoca uma revisão, por parte de
United States and coercive diplomacy destacam-se Jervis e Waltz sobre muitos acadêmicos mundo afora,
e International politics: enduring armas nucleares; sobre o papel do uso da força nas
concepts and contemporary issues, Na segunda, há a reflexão relações internacionais.
enquanto Waltz, professor da sobre as idéias levantadas Ao debate sobre o dever de
Universidade Columbia, tornou-se anteriormente, por meio de casos ingerência, soma-se a polêmica
referência com Theory of concretos de uso da força, desde a sobre a defesa preventiva. Depois
International Politics. Ambos têm I Guerra Mundial até a Guerra do de alguns anos de esperança na
conhecida produção sobre a Afeganistão – iniciada após o 11 década de 1990, foi desacreditada
ameaça e uso de força na política de setembro de 2001 – a possibilidade do funcionamento
internacional, sendo que Art sobressaindo os artigos de Louis efetivo da segurança coletiva sob
preocupa-se em analisar esses Morton – sobre a decisão de se égide da Organização das Nações
elementos na política externa usar a bomba atômica contra o Unidas (ONU). A nova doutrina
americana, ao passo que Waltz Japão em agosto de 1945 – e o de de segurança nacional – formulada
atenta para o papel das armas John Gaddis – relativo à Guerra do pelo governo americano após os
nucleares nas relações Vietnã. A última trata de três ataques terroristas à Nova Iorque,
internacionais pós-1945. Outros importantes questões da área de invasão do Iraque, atritos com a
renomados acadêmicos também segurança internacional no pós- Coréia do Norte e Irã e constante
contribuem com o livro como Guerra Fria: a preponderância ameaça terrorista – contribui para
John Lewis Gaddis, Morton militar dos Estados Unidos (EUA), aumentar a noção de insegurança
Halperin, Robert Jervis, Walter a proliferação de armas nucleares e global. Com a continuidade de
Laqueur, John Mearsheimer, Scott a ameaça do terrorismo, conflitos no Afeganistão e Iraque
Sagan e Jack Snyder. merecendo atenção o texto de – além do atentado de 11 de
O livro divide-se em três: Laqueur sobre a nova face do março deste ano em Madri –
estratégias do uso da força; terrorismo internacional. aumenta-se a percepção de que
estudos de caso sobre a sua Não há dúvidas de que, após segurança não se estabelece
utilização; e questões militares 11 de setembro, as questões de somente com a aplicação da força.
atuais. A primeira debate quais as segurança estão no topo da pauta
* ART, Robert, WALTZ, Kenneth, orgs. The use of force: military power and international politics. 6ª ed. New York: Rowman & Littlefield: 2004, 483p.
ISBN: 0 7425 2557 0.
* Bacharelando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
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Redação: editoria@relnet.com.br
Conselho Editorial: Antônio Carlos Lessa, Antônio Jorge Ramalho da Rocha, Alcides Costa Vaz, José Flávio Sombra
Saraiva, Pio Penna Filho.
O colapso da União Soviética capitalismo iria se expandir sobre como base a idéia dos grandes
(URSS) e as modificações da ele na sociedade internacional ciclos de Kondratieff, que
economia internacional, iniciadas européia e a partir dos processos caracterizariam a evolução da
desde 1945 e intensificadas a imperialistas das grandes economia mundial ao longo do
partir de 1989, cada vez mais se potências entre 1815 e 1914. tempo, de continuada ascensão –
afirmam como marco das Além disso, as sociedades seriam fase A – e declínio – fase B – num
modificações do sistema mundial, transformadas no pós-Segunda intervalo mais ou menos regular
o que tem repercussões tanto do Guerra Mundial com o aumento de 50 anos cada. Mais adiante,
ponto de vista dos processos da participação política da classe identifica os cenários possíveis
históricos quanto dos estudos trabalhadora – sufrágio universal – entre 1990 e 2025, quando se
acerca das relações internacionais. bem como pela sua participação entraria numa nova fase A, assim
Wallerstein, bem conhecido pelo na distribuição do excedente – como as esperanças para a
clássico The modern world system Estado de bem-estar social – que periferia do sistema, em especial o
(1974), apresenta nos últimos seriam frutos da pretensa benesse continente africano, ainda
anos duas obras de peso, Após o liberal. fragilizado e esquecido.
liberalismo e Declínio do império Já o objetivo da obra é o de Mais à frente, retrocede na
americano, que são apresentar todos os elementos história para demonstrar o triunfo
complementares em seus formadores e caracterizadores do da ideologia liberal, que perduraria
objetivos e seguem a mesma liberalismo como tenaz dos entre 1789 e 1989. Aponta para a
tradição teórica (sistema-mundo) processos históricos que polarização do mundo das idéias
e metodológica (longa duração) de movimentaram o sistema mundial em torno do liberalismo que, ao
pensamento. Não por acaso ele é entre 1789 e 1989, ao mesmo servir de base para a legitimação
Diretor do Centro de Estudos tempo que avança para propor as do Estado-nação após a Revolução
Fernand Braudel, sediado na possibilidades futuras – cenários – Francesa, veria nascer e evoluir o
Universidade de Binghamton, em das relações internacionais do conservadorismo e o socialismo –
Nova York. século XXI, num mundo em que a ideologias concorrentes – como
A sua linha central de única certeza é a do colapso da apêndices do liberalismo. Todas
pensamento é que a base ideologia liberal. elas – em especial, o liberalismo –
ideológica das relações Para tanto, o autor divide-a se apropriam do conceito de
internacionais entre 1879 e 1989 em quatro partes: na primeira, desenvolvimento como parte
foi o liberalismo – capaz de debate os acontecimentos dos integrante de seu projeto político
engendrar as bases econômicas, anos 90 do século 20 e as entre 1945 e 1989, criando um
sociais, políticas e ideológicas do perspectivas para o sistema dos vínculos mais fortes entre o
mundo neste período – porque o mundial nos próximos anos. Toma centro desenvolvido – irradiador
1 WALLERSTEIN, Immanuel. Após o liberalismo: em busca da reconstrução do mundo. Petrópolis: Vozes, 2002, 271p. ISBN: 85 326 2834 6.
2 Mestre em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília – UnB – e professor do Instituto de Ensino Superior de Brasília – IESB.
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das ideologias – e a periferia do Estados Unidos (EUA) em moldar história e a vitória liberal, ou o
sistema – dependente do projeto este novo arranjo, bem como as choque de civilizações como
de desenvolvimento nacional. possibilidades que se impõem a principal motor da história.
Em sua terceira parte, avança eles mesmos como potência Ao contrário, ele demonstra a
a discussão no sentido de hegemônica decadente diante das complexidade da evolução do
apresentar o dilema histórico expectativas de mudança da sistema mundial, ancorado sim
imposto aos liberais. Por um lado, comunidade internacional. sobre o liberalismo, embora
a simbiose confusa entre duas O final da obra é dedicado à observe, no momento atual, uma
modernidades – a da tecnologia e comparação entre a morte do (des) ordem internacional, fruto
a da libertação –, enquanto aceita socialismo e o futuro do do esgotamento daquela ideologia
pelas sociedades, funcionou de liberalismo. Para o autor, que como paradigma de atuação das
forma adequada como amálgama analisa a revolução como grandes potências e da periferia do
para o projeto da estratégia e tática de mudança e o sistema. Como colocado por ele, o
internacionalização da economia marxismo no mundo pós- mundo sentirá falta do “(...)
capitalista até o ano de 1968, soviético, o fim do socialismo cimento ideológico fornecido pela
momento em que a revolução representaria o próprio colapso do antinomia wilsoniana-leninista”,
cultural desafiaria suas bases. liberalismo, que sofre p.129.
Daí em diante, o liberalismo continuamente com “angústias de Por fim, ao apontar as
passaria a enfrentar suas afirmação” em diferentes períodos tendências atuais e futuras do
contradições insuperáveis, da história, mas que vê o cenário sistema internacional, Wallerstein
semeadas desde 1789, em que a acentuar-se com o “período negro” não executa apenas um simples
geocultura do sistema mundial – a partir de 1989, momento em exercício de adivinhação, mas se
direitos humanos e os direitos dos que as incertezas e dúvidas quanto vale da formulação de cenários
povos – acabaria por fomentar ao valor do progresso são quase possíveis construídos a partir de
implicações revolucionárias, absolutas. bases teóricas – bifurcação e ciclos
contrárias ao sistema, ao invés de A crítica principal de de Kondratieff – e, sobretudo,
legitimar a economia capitalista Wallerstein ganha importância históricas – evolução da história
mundial. diante de tentativas menos das relações internacionais –
Assim, Wallerstein tenta sucedidas de outros estudiosos que como forma de questionar a base
identificar as alterações desta insistem na reificação de cultural e ideológica da sociedade
geocultura, como o peso dos conceitos e idéias, como o fim da internacional contemporânea.
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O capitalismo, simplesmente, nas palavras de Giddens “(...) uma tradição, da religião neste novo
é uma via irracional para dirigir o negociação baseada em princípios contexto social? Qual a função da
mundo moderno, porque ele (...) uma tentativa de descobrir as política?
substitui a satisfação controlada preocupações e interesses Do estudo de As conseqüências
das necessidades humanas pelos subjacentes um ao outro, da modernidade, entender-se-iam
caprichos do mercado1 identificando uma variedade de as transformações estruturais bem
Qual a relação existente entre possíveis opções, antes de como as relações entre estas e as
o projeto de emancipação restringir algumas delas”2. operadas individualmente. A
feminina/crise da masculinidade e Assim, a idéia de intimidade – transformação da intimidade
a ordem política global? A “(...) revelação de ações e emoções complementa o leque de
proposição pareceria absurda se os improváveis de serem expostas a transformações no mesmo âmbito
ambos processos não estivessem um público mais amplo”3 – parece individual. Por fim, Risk society:
contidos em um mesmo contexto ser um ótimo ponto de partida towards a new modernity, a priori,
social caracterizado pela tanto para os que buscam traz a interconexão de dois níveis
democratização. É extremamente entender o contexto social em analíticos (estrutural e agente) a
interessante notar como os que se inserem seus próprios partir da idéia de “modernidade
princípios que norteiam a problemas quanto para os reflexiva”, também trabalhada por
democracia política são estudantes que anseiam Giddens. Antes de prosseguir a
convergentes e aplicáveis aos vislumbrar interconexões entre as apresentação dos autores, é
relacionamentos interpessoais. transformações existentes em interessante deixar claro que a
Igualdade política, restrição/ diferentes níveis analíticos. análise se restringirá à idéia de
proscrição ao uso da força, criação Mas qual a relação que existe “reflexividade”.
de um “espaço comunicativo” entre as modificações na idéia de Giddens possui uma extensa
onde as partes possam expor intimidade e as transformações lista de livros publicados, entre
abertamente suas opiniões e sociais que levaram os sociólogos a eles o que institui novo marco
finalmente iguais oportunidades decretar um novo tipo de sociedade teórico: A Constituição da Sociedade,
econômicas para o alcance de pós-industrial, pós-escassez e leitura obrigatória para os alunos
objetivos e potencialidades pós-material? Como se organizam de relações internacionais dedicados
individuais permitem, sejam as os agentes e estruturas nesta nova ao (des)construtivismo4. Além
partes Estados ou indivíduos, um sociedade? Qual o lugar do disto, ele é um dos idealizadores
relacionamento mais “íntimo” ou conhecimento científico, da do projeto da Terceira Via,
* GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Universidade Estadual de São Paulo, 1991. 177p. ISBN: 85 7139 022 3; GIDDENS,
Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Universidade Estadual de São Paulo, 1993. 228p. ISBN:
85 7139 017 1; BECK, Ulrich. Risk society: towards a new modernity. London: Sage, 1992. 260p. ISBN: 0 8039 8346 8.
** Mestrando em Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB.
1 GIDDENS (1991), op.cit., p.140.
3 Idem, p.153-4.
4 Cf: KATZENSTEIN, Peter, KEOHANE, Robert, KRASNER, Stephen. International Organization and the study of world politics. International Organization,
5 Cf: GIDDENS. The third way: the renewal of social democracy. London: Polity Press, 2000, 166p; GIDDENS. Para além da esquerda e da direita. São Paulo:
Universidade Estadual de São Paulo, 1996, 296p.
6 No presente texto, alta-modernidade, que diz respeito às características da modernidade incorporadas às instituições e relações sociais, e modernidade tardia
8 O resultado da cooperação encontra-se em: BECK, Ulrich, GIDDENS, Anthony, LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem
social moderna. São Paulo: Universidade Estadual de São Paulo, 1997, 264p.
9 BECK, GIDDENS, LASH, op. cit., p.29.
10 De fato, a tradução não é das mais primorosas como se vê no caso de “conhecimento perito” – expert knowledge. Apesar disto, manter-se-á a tradução do
12 Idem, p.35.
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13 Ibidem, p.45.
14 É importante frisar que há uma diferença substancial entre risco, risco criado e perigo. Risco seria definido como o rol de possíveis cursos de ação futuros
dados a partir de um esforço reflexivo individual, diferentemente de perigo, que pressupõe ameaça às possibilidades futuras de ação. Entretanto ocorre que,
na modernidade, grande parte dos riscos é construída ou produzida, ou seja, a maioria dos riscos a que a humanidade está hoje exposta é por ela própria criada
e é resultado da modificação do meio ou como Beck expõe: “Risk may be defined as a systematic way of dealing with hazards and insecurities induced and
introduced by modernization itself”, p.21.
15 Esta revisão crítica do papel do conhecimento científico é operada essencialmente no campo da filosofia da ciência. Entre os diversos autores que tratam
do tema, podem-se citar Nietzche – O nascimento da tragédia e Assim falou Zaratustra – e Foucault – A microfísica do poder.
16 ROCHA, Antônio Jorge R. da. Relações internacionais: teorias e agendas. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2002, p.48.