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Cartas
Razão do seu aparecimento
Géneros de cartas
Objectivo
Fernando Pessoa
Cartas de amor a Ophélia
Queiroz
O Correio
Conclusão
Este trabalho foi-nos proposto pela professora Elisabete
Miguel, no âmbito da disciplina de Língua Portuguesa,
dando-nos como tema Cartas de Amor. Neste trabalho não
nos baseamos apenas neste tipo epistolar, pois falamos de
cartas no geral.
Propomo-nos desenvolver as informações que adquirimos em
relação aos diversos géneros de cartas, a sua génese e
objectivo. Apresentamos também algumas cartas de Fernando
Pessoa para Ophélia Queiroz. Concluímos o nosso trabalho
com um breve historial, no tempo e no espaço, dos Correios.
Antigamente, familiares e amigos, tinham muito
mais dificuldade para comunicar pois a distância
tornava tudo muito difícil, usavam de engenhos
vários para atingirem os objectivos desejados. Com
o decorrer dos tempos, o aperfeiçoamento de meios
de transporte, melhorias de rede viária a
comunicação por escrito passou a estar ao alcance
de um maior número de pessoas e os Correios para
isso deram um precioso contributo.
Há diversos géneros de cartas, destacamos:
Fernando
Ophéliazinha: 01/03/1920
Fernando Pessoa
Meu querido Bebesinho
23/03/1920
Fernando
Fernando
Ophélinha: 29/11/1920
Agradeço a sua carta. Ella trouxe-me pena e allivio ao mesmo tempo. Pena,
porque estas cousas fazem sempre pena; allivio, porque, na verdade, a
unica solução é essa - o não prolongarmos mais uma situação que não tem
já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao
menos, fica uma estima profunda, uma amisade inalteravel. Não me nega a
Ophelinha outro tanto, não é verdade?
Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o
Destino fosse gente, a quem culpas se attribuissem.
O Tempo, que envelhece as faces e os cabellos, envelhece tambem, mas
mais depressa ainda, as affeições violentas. A maioria da gente, porque é
estupida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque
contrahiu o habito de se sentir a amar. Se assim não fosse, naão havia
gente feliz no mundo. As creaturas superiores, porém, são privadas da
possibilidade d’essa illusão, porque nem podem crer que o amor dure,
nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por elle a estima,
ou a gratidão, que elle deixou. Estas cousas fazem soffrer, mas o
soffrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de
passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes
da vida?
Na sua carta é injusta para commigo, mas comprehendo e desculpo;
decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com magua, mas a
maioria da gente - homens ou mulheres - escreveria, no seu caso, num
tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha
tem um feitio optimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade.
Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será
sua a culpa.
Quanto a mim…
O amor passou. Mas conservo-lhe uma affeição inalteravel, e não
esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus
modos de pequeneina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua indole
amoravel. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe
attribúo, fossem uma illusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a
terem sido, seria desprimor para mim que lh’as attribuisse.
Não sei o que quer que lhe devolva - cartas ou que mais. Eu preferia não
lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memoria viva de
uma passado morto, como todos os passados; como alguma cousa de
commovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos annos é
par do progresso na infelicidade e na desillusão.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não
me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma
recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro,
como dois conhecidos desde a infancia, que se amaram um pouco
quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras affeições e
outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a
memoria profunda do seu amor antigo e inutil
Que isto de “outras affeições” e de “outros caminhos” é consigo,
Ophelinha, e não commigo. O meu destino pertence a outra Lei, de
cuja existencia a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez
mais á obediência a Mestres que não permittem nem perdoam.
Não é necessario que comprehenda isto. Basta que me conserve com
carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei
na minha.
Fernando
Terrivel Bebé: 09/10/1929
Gosto de suas cartas, que são meiguinhas, e tambem gosto de si, que
é meiginha tambem. E é bonbon, e é vespa, e é mel, que é das
abelhas e não das vespas, e tudo está certo, e o Bebé deve escrever-
me sempre, mesmo que não escreva, que é sempre, e eu estou
triste, e sou maluco, e ninguem gosta de mim, e tambem porque é
que a havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao principio, e
parece-me que ainda lhe telephono hoje, e gostava de lhe dar um
beijo na bocca, com exactidão e gulodice e comer-lhe a bocca e
comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu
hombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe
desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto
final até recomeçar, e porque é que a Ophelinha de um meliante de
um cevado e (…) e eu gostava que a Bebé fôsse uma boneca minha, e
eu fazia como uma crença, despia-a, e o papel acabava aqui mesmo,
e isto parece impossivel de ser escripto por um ente humano, mas é
escripto por mim.
Fernando
Vibora: 08/02/1920
Recebi a tua carta má, e, na verdade, não percebo como foi que
nos não encontrámos nem hontem nem antes de hontem.
Differença de relogios? Não creio, porque não notei, quer num dia
quer noutro, ao chegar á Baixa, que o meu relogio estivesse tão
errado.
Escrevo-te só estas linhas para te dizer que estarei amanhã ao
meio-dia em ponto no fim da Av. das Cortes. Vães ao escriptorio da
R. da Victoria á 1. Isto deve dar-te tempo. O peor é se vães
acompanhada. Em todo o caso esperar-te-hei até ás 12 1/4.
Oxalá estejas melhor; mas isso não é desgosto, é viboridade, ou
seja maldade.
Sempre e muito teu
Fernando
Estou escrevendo do Café Arcada ao meio dia e 3 quartos. Porisso
escrevo pouco (contra o meu costume) para ver se passo na tua
rua não muito longe da uma hora.
O correio é um sistema de comunicação que tem como função o envio
de cartas, pacotes, etc. Nesta troca de comunicação existe um remetente
(pessoa que envia), e o destinatário (pessoa que recebe), podendo estes
estarem ou não distantes.
Só a título meramente exemplificativo, da antiguidade referimos :
O Antigo Egipto, onde foram criados os primeiros correios, os
documentos eram entregues a um mensageiro que percorria a pé,
incluindo longos caminhos, até ao local onde o destinatário se
encontrava. Para descansar durante as caminhadas, paravam apenas
nas estações de pernoite que estavam espalhadas pelo percurso.
Os Cretenses e os Fenícios foram as primeiras populações a utilizarem o
pombo e a andorinha como “correio”.
Este trabalho, deveras gratificante, permitiu-nos
aprender mais sobre o tema proposto, “As Cartas “, em
geral e as de “Amor,”em particular, bem como a história
dos Correios.
Lemos algumas cartas de Fernando Pessoa a Ophélia
Queiroz, e aqui, para ilustrar, reproduzimos algumas.
Por fim, reflectimos sobre o valor e limites da expressão
dos seus sentimentos das cartas, para nós, jovens , nos dias
apressados de hoje.