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SAMIZDAT
impróprio para menores de 18 anos
Especial
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13
fevereiro
2009
ano II
ficina
Erotismo
O irresistível poder do
desejo
SAMIZDAT 13
fevereiro de 2009
Imagem da capa:
http://www.flickr.com/photos/
ssh/9639429/sizes/o/
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Sumário
Por que Samizdat? 6
Henry Alfred Bugalho
COMUNICADO
SAMIZDAT Especial - Humor 8
ENTREVISTA
Maria Isabel Moura 10
MICROCONTOS
Henry Alfred Bugalho 14
Joaquim Bispo 15
Pedro Faria 16
Caio Rudá 16
Giselle Natsu Sato 17
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA
Lolita, de Vladimir Nabokov 18
Henry Alfred Bugalho
Meninas Malvadas 21
Alian Moroz
António Botto 28
CONTOS
De Encantamentos e Feitiços 32
Volmar Camargo Junior
O Corruptor 36
Henry Alfred Bugalho
António Carpinteiro 42
Maria de Fátima Santos
Autor Convidado
No Elevador 70
Mariana Valle
O Jardim dos Amantes 72
Leo Borges
10 indrisos eróticos 78
Isidro Iturat
TRADUÇÃO
A Mulher de Véu 82
Anaïs Nin
Deitar com Ela 88
Paul Éluard
TEORIA LITERÁRIA
Erotismo, para além do sexo 90
Henry Alfred Bugalho
CRÔNICA
As Mulheres na Literatura Erótica 96
Giselle Natsu Sato
Auto-ajuda 98
Joaquim Bispo
A doçura desta dor 100
Joaquim Bispo
POESIA
Laboratório Poético e Erótico 102
Volmar Camargo Junior
Minha Cria 103
Carlos Alberto Barros
Um punhado de versos pretensamente
eróticos 104
Caio Rudá de Oliveira
Transa 105
Maria de Fátima Santos
Teu corpo 106
José Espírito Santo
oI 107
José Espírito Santo
Primeira vez 108
Maristela Scheuer Deves
SEÇÃO DO LEITOR
Agora o leitor da SAMIZDAT também pode colaborar com a elaboração da revista.
Envie-nos suas sugestões, críticas e comentários.
Você também pode propor ou enviar textos para as seguintes seções da revista: Rese-
nha Literária, Teoria Literária, Autores em Língua Portuguesa, Tradução e Autor Convi-
dado.
Escreva-nos para:
revistasamizdat@hotmail.com
Por que Samizdat?
“Eu mesmo crio, edito, censuro, publico,
distribuo e posso ser preso por causa disto”
Vladimir Bukovsky
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Comunicado
SAMIZDAT Especial
Humor
8 SAMIZDAT fevereiro de 2009
8
O lugar onde
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que entrem em contato
b - Teoria Literária ou até o final de abril, atra-
do Humor; vés do e-mail
4 - Não há limites
de palavras, mas como
se trata duma publica-
ção voltada para o meio
digital, solicita-se que
não sejam enviados tex-
ficina
www.oficinaeditora.org
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Entrevista
É colaboradora do Jornal do
Fundão.
Trabalha em parceria com
Matos Costa, seu ilustrador
constante e companheiro de
vida... Devido ao tema a que como se escrevem todos
este número da revista é os textos…, e porque,
Obra publicada: dedicado, a entrevista de pessoalmente, considero a
Maria Isabel Moura gira literatura erótica, a in-
Vinte maneiras diferentes de à volta do livro Todo o fantil e a policial as mais
contar a mesma história – Pré- começo é involuntário, difíceis e queria saber até
mio Nacional de Conto Manuel
descrito como um ro- que ponto eu as conse-
da Fonseca 1998;
mance erótico que foge guia dominar.
Todo o começo é involuntário, ao tom comum na litera-
com prefácio de Urbano Tavares tura portuguesa.
Rodrigues, Editorial Teorema, Sabemos que o conside-
2001; ra “apenas” erótico. Não
Vou dar pontapés na Lua, Porque escreveu este acha que a crueza car-
contos infantis, Edições Afronta- livro? nal de alguns trechos
mento, 2004. Maria Isabel Moura – (http://www.geocities.
Pelo prazer da escrita, com/arsenio_grilo/mou-
ra.html), aconselharia a
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da janela seja a de dentro leitores e a crítica por- MIM – Existirá sempre
dos nossos olhos, entrá- tuguesa? A forte heran- um mercado para o eró-
mos na poesia. ça católica de Portugal tico, já que sexo é vida e
é um obstáculo a ser queremos estar vivos.
superado pelos autores Quanto a eu escrever ou-
Falando da sua obra: de literatura erótica?
como se processa a po- tros livros eróticos, não
esia na sua prosa? Está E de leitores e críti- sei... para já brinco com
no todo da obra (o que cos brasileiros – ou, ao micro-relatos, e vasculho
qualifica todo o roman- menos, não-portugueses a minha infância naquilo
ce como uma grande – já recebeu algum que chamo o Alfabeto
metáfora) ou está em comentário? Sabe como das Saudades...
alguns pontos em que foi a receptividade des-
a narrativa se dilui em te seu romance fora de
Portugal? Qual foi o maior obstá-
expressão poética? culo que teve de supe-
MIM – Neste livro, a MIM – O estranho deste rar para consolidar a
escrita processa-se em livro é a discrição com sua carreira literária?
ondas, depois de um tre- que tem caminhado. Não Quais são os grandes
cho o mais cruento pos- tenho praticamente ecos desafios para um escri-
sível, segue-se a acalmia nenhuns, o que me tem tor, actualmente?
poética. Foi um processo espantado francamente.
Na altura do lançamento, MIM – Os desafios são
voluntário. os mesmos de sempre:
e exactamente por causa
Ao contrário, na literatu- da herança católica, es- ter leitores. E nem sequer
ra infantil, tento que todo perava algum escândalo, quero entrar na polémi-
o texto seja poético. mas fez-se um enorme ca de editor, distribuidor,
silêncio. Talvez este silên- escritor... Isso dá de ime-
cio seja bem mais signi- diato o cansaço de todas
Numa época dominada as respostas, de todos os
por imagens, pelo ci- ficativo do que todas as
polémicas. debates...
nema, pelos vídeos no
YouTube, existe espa-
ço para o erotismo em A publicação dum livro
palavras? Ou, melhor deste cariz criou obstá-
dizendo, para quem culos às suas posterio-
escreve? res publicações? E à sua
MIM – Para começar, vida pessoal? Coordenação da entrevista:
para mim mesma. MIM – Precisamente de- Joaquim Bispo
E, espero, desejo, anseio, vido ao enorme silêncio
que o espaço da literatu- que se fez à volta deste
ra continue a existir. A livro, não senti problemas Perguntas feitas por:
palavra escrita deixa todo de espécie alguma. Creio Henry Alfred Bugalho
o espaço aberto para o que o facto de ser prefa-
Joaquim Bispo
sonho, para o raciocínio, ciado por Urbano Tavares
para a recriação. No fun- Rodrigues tenha influên- Maria de Fátima Santos
do, para uma liberdade cia. Volmar Camargo Junior
que os audiovisuais não
dão.
Tenciona escrever mais
livros na linha deste?
Como é a recepção Existe mercado para o
das suas obras entre os erótico?
ficina
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Microcontos
A Visita
Henry Alfred Bugalho
- Deixa eu abrir tua blusa.
- ...
- Que peitinhos bonitinhos.
- ...
- Que pele macia.
- Tio, a mãe ‘tá vindo!
Eles se aprumam.
- E aí, o que vocês estão conversando?
- A Lili estava me contando sobre a escola. Pelo que
posso ver, essa minha sobrinha é ótima... aluna.
Espiando
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Henry Alfred Bugalho
Era um voyeur.
Brincava sozinho, vendo a vizinha trocar
de roupa.
Numa noite, ela abriu toda a cortina, ace-
nou para ele e se despiu.
Brochou.
A passageira
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alegre
Henry Alfred Bugalho
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O segredo
Joaquim Bispo
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Microcontos
Ejaculação Precoce
Pedro Faria
Contos Precoces
Caio Rudá
Sonho erótico
Acordou melado.
Necrofilia
Transæ
Caio Rudá
Passada uma década, ela lá, sentada com o namorado. Seu corpo havia ganhado mais
curvas e mais volume; meus olhos, mais volúpia. Seios cabíveis em minhas mãos des-
pudoradas, fina cintura e pernas longas e ousadas vestidas num short de palmo e meio,
convite ao sétimo pecado capital.
O namorado, um sujeito não muito bonito. No máximo um peitoral estufando uma ridí-
cula camiseta rosa. Sua vantagem deveria ser o sexo: ou bem dotado ou bom deitado. E
eu, com tais dádivas agraciado. Tê-la, apenas uma questão de oportunidade.
Esperei até que ela fosse ao banheiro, unissex como se previamente definido por Asmo-
deus. Copo no balcão, em delírios lascivos a segui.
Dentro da cabine, sua vasta pélvis encaixada em mim, de surpresa. Sem reação. Gostou.
Minhas mãos nas coxas largas. Virou-se e arriscou apalpar-me. Descoberto o volume.
Esboços de gozo no sorriso. Calças abaixo, pênis para cima. Mais que macias, mãos má-
gicas, fazendo crescer, inchar, enrijecer.
Não fosse o som da descarga ao lado, ela não teria sido espantada. Da minha mente.
http://www.flickr.com/photos/samueljudge/502040063/sizes/o/
Após a morte da mãe, vivia assombrada pelo medo. Temia o fardo dos pecados que
carregava. E as pragas da defunta carola. Na missa de sétimo dia, reuniu forças e foi ao
confessionário. Tremia, o lenço na testa enxugando o suor contínuo. Desistiu. Naquela
noite, o puteiro festejou o retorno de ‘’Maria Boqueteira’’.
Prova Final
Giselle Natsu Sato
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Recomendações de Leitura
Lolita
de Vladimir Nabokov
,
Henry Alfred Bugalho
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tinho, em “Lolita” também bases da hipócrita socieda-
não podemos ter certeza de americana, desmantela
até que ponto a narração a fachada dos costumes,
de Humbert é fidedigna. do puritanismo. O fato é
Humbert sempre se dirige a que se “Lolita” fosse um
nós leitor e a um juri ima- mero panfleto pedofilista, o
ginário; ele se defende; ele romance dificilmente teria
justifica seus atos; por isto, se tornado um dos maiores
não podemos esperar que clássicos da literatura do
ele esteja nos contando toda século XX.
a verdade, mas sim apenas
a verdade que ele quer que O erotismo de Nabokov
vejamos. não se funda em cenas se-
xuais, mas sim no confronto
Há uma crítica burra entre tabu e desejo, entre
que alega ser “Lolita” uma vontade e repressão, entre Lolita
apologia à pedofilia. Isto permitido e proibido - é o
Autor: Vladimir Nabokov
seria equivocado, se não conflito que todo ser huma-
fosse uma crítica absurda. no tem de empreender, seja Editora: Vintage
Nabokov está longe de de- para aceitá-lo ou reprimi-lo.
fender sexo com menores;
a crítica do autor é muito
mais profunda, atinge as
http://blog.syracuse.com/shelflife/2008/04/nabokov.jpg
Meninas
Malvadas
Alian Moroz um mundo de opções. Ao Basta dar uma olhada
logo da história esteve pre- com atenção. Quem sabe,
É possível escrever um sente em todas as formas de sentadas em algum café,
texto erótico e ao mesmo arte. O proibido, o que está por trás do livro Meninas
tempo, preservar o bom oculto por trás dos panos, Malvadas, observando o
gosto? Usar a sensualidade é o que nos excita. Aquilo entre e sai das pessoas...
como aliada e contar boas que existe muito além do Apresentação feita. Deite,
histórias? obvio, age como o impulso. role e deleite-se. É diversão
Somos naturalmente atraí- garantida, o prazer é todo
Giselle Sato, diz que sim. dos.
Vai além: propõe espiar seu.
pelo buraco da fechadura
e deixar a inibição de lado. Meninas Malvadas é um
Reais ou imaginárias, a livro erótico. Dentro do
escritora não revela. estilo ágil da escritora apre-
Existem pistas, detalhes senta enredos temperados
do cotidiano, o que torna a com humor, terror, suspense
leitura muito interessante. e dramas. As personagens
Se o leitor se identificar deste livro, se ainda não
com algum personagem, é sabem o que querem, estão
livre para seguir em frente. descobrindo o caminho.
São mulheres ousadas,
conhecem o próprio corpo
Para a escritora, sexo vai e desejos. Levam a camisi-
muito além do físico, está nha na bolsa e escolhem
na imaginação de cada um. os parceiros, sem medo de
O que torna tudo permi- ser feliz. Sônia, Jana, Angel
tido. Traições, vinganças, e tantas outras...Em comum,
fetiches, taras, romance e a audácia de saber como se
fantasias. Cenas do dia-a- Meninas Malvadas
goza.
dia, desejos escondidas no Autor: Giselle Natsu Sato
fundo da gaveta. São retra- Onde estão estas mulhe- Editora: Temátika
tos que formam um álbum res fantásticas, que abraçam
o mundo com as pernas e Publicação: 2008
delicioso. Vibrante e atual.
amam pequenas maldades?
Sexo é um tema que abre
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Autor em Língua Portuguesa
As Loucuras do
Minotauro Dalton Trevisan
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Dardejo a lingüinha de la- — ... Como está me vendo assim
gartixa sequiosa debaixo da — Uma empadinha recheada eu fico: todinho vestido. De
pedra. de camarão e premiada com colete abotoado e gravata.
— Sabe o que é acabar? azeitona preta. — ...
— ... — ... — Até de óculo. Só tiro o
— Sabe ou não? — Já viu canarinha branca paletó. Nenhum perigo para
se banhando de penas arre- você.
— Para mim é terminar
alguma coisa. piadas na sua tigela florida? — ...
Nem sorri.
— Você não sonha, amor? Conto extraído da revista
Playboy, Dezembro/1982.
— Todos sonham. Eu, ter o
meu cantinho.
— Não é isso. De olho aber- Fonte: Releituras
to. Visões eróticas. Em toda
família...
— É tarde. Preciso ir, doutor. do
-- Então me dá um abraço. w
gr nl
Assim. át
oa
is d
25
Autor em Língua Portuguesa
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Autor em Língua Portuguesa
António Botto
António Botto (1897-1959) nasceu e a Civilização. Frequentava o provavelmente, o
no Casal de Concavada (Abran- café Martinho da Arcada, local de mais distinto conjun-
tes). O pai trabalhava nos barcos encontro eleito por vários inte- to de poesia homo-
que atracavam nesse ponto do lectuais da época. Com Fernando erótica de língua
Tejo, pelo que é natural a sua inti- Pessoa elaborou uma Antologia de portuguesa.» Além
midade com o rio e a sensibilidade Poemas Portugueses Modernos. desta obra, publicou:
à natureza que revela nos seus Em 1947 exilou-se no Brasil, para Cantigas de Saudade
poemas. Com cerca de onze anos, fugir às perseguições homófo- (1918), Canções do
foi para Lisboa na companhia dos bas de que foi vítima, morrendo Sul (1920), Motivos
pais, que se instalaram no bairro atropelado no Rio de Janeiro em de Beleza (1923),
de Alfama, cuja atmosfera popular 1959, onde vivia na mais dolorosa Curiosidades Estéticas (1924),
se reflecte também na sua poesia. miséria. Piquenas Esculturas (1925), Olim-
Trabalhou em livrarias e foi fun- Por entre a sua vasta obra, que in- píadas (1927), Dandismo (1928),
cionário público. Descrevem-no clui teatro e contos para crianças, Ciúme (1934), Baionetas da Morte
como magro, de estatura média, é mais conhecida a obra poética, (1936), A Vida que te Dei (1938),
«dandy», e como tendo «um sen- em que avulta Canções, publicada O Livro do Povo (1944), Ódio e
tido de humor sardónico, incisivo, em 1921, que foi causa de agita- Amor (1947), Fátima – Poema
uma mente e língua perversas e ção nos meios intelectuais portu- do Mundo (1955), Ainda não se
irreverentes, e sendo um conversa- gueses e de condenação nos meios Escreveu (1959). No Brasil, a an-
dor brilhante e inteligente.» Cola- religiosamente conservadores da tologia Bagos de Prata foi publi-
borou em quase todas as revistas época, por ser uma obra explici- cada pela Olavobrás, editorial de
literárias de vanguarda – Contem- tamente pederasta. «Homossexual Curitiba.
porânea, Athena, Águia e outras assumido (apesar de ser casado
que o levaram a uma grande mas- com Carminda Silva), a sua obra
sa de leitores, como a Ilustração, Pesquisa: Joaquim Bispo
reflecte muito da sua orientação
a Portucale, a Magazine Bertrand sexual e no seu conjunto será,
http://www.flickr.com/photos/jfl/2700211106/sizes/o/
Andava a lua nos céus Aproximou-se; e em delírio Deram-se as bocas num beijo,
Com o seu bando de estrelas Procurou avidamente Um beijo nervoso e lento...
E avidamente beijou O homem cede ao desejo
Na minha alcova A minha boca de cravo Como a nuvem cede ao vento
Ardiam velas Que a beijar se recusou.
Em candelabros de bronze Vinha longe a madrugada.
Arrastou-me para ele,
Pelo chão em desalinho E encostado ao meu ombro Por fim,
Os veludos pareciam Falou-me de um pajem loiro Largando esse corpo
Ondas de sangue e ondas de Que morrera de saudade Que adormecera cansado
vinho À beira-mar, a cantar... E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Ele, olhava-me cismando; Olhei o céu! Bebia vinho, perdidamente
E eu, Bebia vinho..., até cair.
Placidamente, fumava, Agora, a lua, fugia,
Vendo a lua branca e nua Entre nuvens que tornavam
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Ouve, meu anjo
Na vidraça da janela,
Dá-me o infinito gozo
A chuva, leve, tinia...
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
Ele apertou-me cerrando
O aroma e o calor
Os olhos para sonhar…
Da tua carne, meu amor!
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!
E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
– Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!
http://www.flickr.com/photos/justinbess/2744253857/sizes/o/
Essa mulher
Nunca pode merecer-te;
A beleza -
Sempre foi
Um motivo secundário
No corpo que nós amamos;
A beleza não existe,
E quando existe não dura.
A beleza -
Não é mais do que o desejo
Fremente que nos sacode...
- O resto, é literatura.
Inédito
Conheço bem os teus nervos;
Deixaram nódoas de lume
Na minha carne trigueira;
Nunca te foram ao cu
- Esta carne que lembrava
Nem nas perninhas, aposto!
Laivos de luz outonal,
Doirada, sem consistência, Mas um homem como tu,
A aproximar-se do fim... Lavadinho , todo nu, gosto!
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Contos
De encantamento
www.revistaamizdat.com 33
vagos, ébrios, desvalidos, que a própria, a criatura endireitando a sobrance-
viúvos, policiais, qualquer que lhe estava roubando o lha, João sentiu subindo-
um – segundo sua própria sossego. Mesmo sem nun- lhe pela garganta as pala-
opinião – muito menos ca tê-la visto, pelas tantas vras de seu encantamento.
digno que ele, ouvir o e repetidas vezes que lhe Então, quando já penetrava
mesmo regozijo tardio, ouviu a descrição, soube no minúsculo vácuo entre
quase um novo gozo, “Ah, sem ter dúvidas de quem “Olá” e “ minha boneca”,
divina Margot...”. se tratava. E, mentalmente, Margot revidou: era uma
congratulou a capacidade contra-mágica.
A cisma de João Bico- de observação dos convi-
doce com a misteriosa e vas e à sua própria imagi- Dessas coisas que Deus
cobiçada Margot chegou a nação: a mulher não devia fez por acaso e que aca-
um ponto que ele, que até em nada à imagem que bam dando muito certo,
então nunca havia achado fazia dela – a quem, em a mulher foi munida das
necessário, gratificou a si sonho, fizera gemer como armas que, ao natural, são
mesmo por muitas horas, uma gata no cio. equivalentes muito mais
ora com a mão direi- eficazes que as usadas
ta, ora com a esquerda, (Para a preservação da pelos machos, e que para
imaginando-se a penetrar saúde dos nossos leitores, eles, só funcionam depois
a “maldita divina Margot”, e evitar que nossas leitoras de muito treino, como é
por trás, que era como possam sentir-se menos- o caso do “bico-doce” de
ele gostava de fazer. E fez prezadas, deixo-os à vonta- João. Pois, Margot, sem
isso com tanta intensidade, de para imaginar Margot contrariar o que se dizia
com tanto afinco que, após como uma Vênus, uma dela, era “divina”. E como
seis vezes ter derramado o Afrodite, uma Sherazade, uma força da natureza,
gozo pela casa, desfaleceu, ou como a encarnação Margot deu aquela me-
totalmente sem forças. do que possa ser a mu- xida no cabelo, seguida
lher mais apta a fazer um daquele olhar, meio de
Mal sabia ele que Mar- homem querer tê-la como viés, inquisitivo, perscruta-
got também estava infor- amante, ou, caso contrário, dor e convidativo, aquele
mada da existência do jogar-se de um viaduto.) ligeiro abrir e fechar de
garanhão, e que a fama lábios como quem engole
de sua lábia irresistível, e Num instante de ím- o último naco de sorvete,
quem poderá dizer, tam- peto, desses em que os deixando os lábios leve-
bém de seus atributos de homens parecem receber mente umedecidos daquele
homem, ultrapassara os uma carga extraordinária jeito. Claro está, todas as
limites da cidade. Também de coragem, da mesma mulheres fazem isso desde
ignorava João o fato de que os faz abrir túneis o primeiro casal – que só
que ela, a “divina” Margot, nas montanhas, man- foi expulso do paraíso por
o estava arrastando para dar foguetes ao espaço e causa dessa, ou melhor,
uma armadilha. pedir aumento de salário, daquela mexida no cabelo.
João aproximou-se de sua Mas, para Margot, a divi-
Dias depois, tendo re- musa. Puxou a cadeira
cuperado vigor suficiente na, tais eram os movimen-
oposta, sentando-se com tos ritualísticos de seu fei-
para ir até o boteco da es- malimolência diante dela;
quina tomar um café pre- tiço. E João, como se podia
eram os preparativos para esperar, foi enfeitiçado.
to, eis que João Bico-doce a dança do acasalamento.
encontrou, sentada a uma Passando de leve o indica- Sem se importar com o
das mesas, ninguém menos dor na ponta da língua e dono do boteco, livraram-
35
Contos
O Corruptor
36 SAMIZDAT fevereiro de 2009
36
Eu escovava os dentes, sar de nunca ter sido adepto de ensino privado da cidade,
quando minha mulher es- daqueles velhos preconcei- a maioria dos alunos per-
cancarou a porta do banhei- tos machistas, este fato me tencia ao mais alto estrato
ro, puxou-me pelo braço e diminuía diante dela, mesmo social daquele fim-de-mun-
me estapeou a cara com um que este apoucamento nunca do. A infra-estrutura surpre-
jornal enrolado. fosse verbalizado. endia, contudo, a arrogância
— Que isto, ‘tá louca? — Recebi com egoísta ale- da molecada também não
encolhido, eu me defendia gria a notícia da demissão ficava muito atrás. Mas ao
das investidas. de Júlia. Estávamos fodidos, pesar prós e contras, na mi-
privados da maior parte da nha concepção, ainda valia a
— Seu canalha, desgraça- pena termos nos arriscado.
do! — e, desenrolando o pe- nossa renda, minha esposa
riódico, esfregou-o na minha deprimida, contas atrasadas, Adianto que não sou
testa — estou indo para a a filha tendo de ser trans- nenhum homem bonito
casa da minha mãe. ferida dum ótimo colégio — passei dos trinta e cin-
particular para um colégio co, mechas grisalhas nas
Trêmulo, perplexo, apa- estadual, mas fui assolado têmporas e um pneuzinho
nhei o jornal e li a manchete por uma satisfação inco- incômodo —, mas também
da primeira página. mum, enfim, eu estava por não sou de se jogar fora.
cima da carne-seca em mi- Tive dias melhores, mas anos
nha própria casa. Também de casamento, um emprego
Professor depravado abusa
vislumbrei a oportunidade estressante e uma filha ado-
de aluna.
de, a longo prazo, contor- lescente põem qualquer um
narmos a situação e termos, pra baixo. Digo isto porque
E havia uma foto, não tanto Júlia quanto eu, uma bem sei do fetiche, se é que
muito definida, onde eu apa- vida muito melhor. posso definir assim, existen-
recia beijando uma menina. O e-mail dum amigo me te em relação a professores.
Eu poderia correr atrás de convenceu a tentar a vida Talvez seja parte da posição
Júlia e resmungar a afirma- noutra cidade. Há três anos, de autoridade e saber, duma
ção mais utilizada por quem ele ensinava num colégio figura sapiencial, provedor
foi pego no flagra: “Não é interiorano e dizia-me estar de conhecimento, em opo-
nada disto que você está satisfeito, bom salário e vida sição à burrice do mundo
pensando!” pacata. Contava-me também cotidiano. Assim, atire a
ter aberto uma vaga para primeira pedra quem nun-
Poderia, mas não fiz. A ca foi apaixonada por um
surpresa de ver-me tornado professor da minha área e
que, se eu desejasse, ele po- professor!
celebridade de maneira tão
inusitada privou-me de qual- deria entregar meu currículo E comigo não era exceção:
quer reação. Sentei-me no nas mãos do diretor. mesmo na rede pública, eu
piso do banheiro, chorando e Conversei com Júlia e nos estava habituado a receber
rindo de raiva. entusiasmamos com a idéia. bilhetinhos, comentários
Rafaela, minha filha, desa- jocosos das menininhas,
As coisas não eram tão coraçõezinhos no canto do
simples de serem explicadas. provou a mudança, temia
perder contato com as ami- quadro-negro ao chegar em
Cagadas nunca possuem ló- sala-de-aula. Nunca, mas
gica, sempre ocorrem numa gas, mas quando expusemos-
lhe nossa real situação, ela nunca mesmo, levei a sério
sucessão sem explanação tais investidas. Ética profis-
racional, e foi deste modo compreendeu que era isto
ou a bola de neve das dívi- sional acima de tudo, mes-
que me enredei nisto. mo que algumas das alunas
das que se acumulariam.
possuíssem atributos sufi-
Mudamo-nos em janeiro cientes para porem à prova
Eu lecionava na rede e, dois meses depois, assumi
pública, recebendo aquele esta ética.
meu cargo na escola. As con-
notório salário de miséria, dições eram diametralmente
estava frustrado, necessi- opostas às quais eu estava Não me lembro exa-
tando dar um passo além. acostumado na rede pública. tamente quando passei a
Ganhava menos da metade Por ser a única instituição reparar em Talita. Ela era
do ordenado de Júlia e, ape-
www.revistaamizdat.com 37
aluna do terceiro ano, Ensino encarando, marotos, talvez garota e engolir a vergonha
Médio, não se destacava pela lendo meus pensamentos, de me achar um tarado. No
inteligência, mas também pois a mão que repousava entanto, a reação da menina
não compunha o grupo dos sobre a perna começou a me tranqüilizou, simples-
bagunceiros. Meu único brincar com a barra da saia, mente me ignorava, o que,
problema com ela era a subindo-a uns poucos centí- apesar de doloroso para as
incapacidade da menina em metros, e ela passou abrir e expectativas por mim ali-
ficar quieta e, por isto, logo fechar os joelhos, revelando mentadas, era a melhor atitu-
memorizei seu nome: e escondendo o que atraía de possível por parte dela.
— Por favor, Talita, dá minha atenção. Estava quase me esque-
para parar de conversar? — Fingi indiferença, apanhei cendo de tudo, mas, no final
e ela me fitava melindrada, um livro e simulei estar duma aula, Talita surgiu na
mascando chiclete em desa- absorto na leitura, mas, vez minha sala e me disse:
fio. ou outra, não resistia e meu — Professor, posso conver-
As provas bimestrais che- olhar era atraído por este sar com você?
garam. Ao aplicar a avalia- jogo de Talita. Às vezes, ela
estava concentrada na prova, Os alunos já haviam se
ção na turma dela, alunos retirado e, enquanto eu reco-
todos concentrados, meus sorrisinho safado; noutras,
cuidando-me, como se dis- lhia meu material, aquiesci:
olhos buscavam qualquer
movimento suspeito (não sesse: “eu sei de tudo”. — Estou com um sério
que eu fosse muito rigoro- O tempo da prova aca- problema, professor, e não
so com alunos colando) e, bou. Os alunos vieram e sei o que devo fazer.
acidentalmente, pousaram empilharam os papéis sobre Pensei que poderia ser
em Talita. Ela, cabisbaixa, minha mesa. Percebi que a algo relacionado às notas
cabelos loiros ocultando par- prova de Talita estava quase dela, pois o desempenho
cialmente seu rosto, maxilar toda em branco: dela era de regular para
movimentando-se no mascar — Estava difícil? — per- baixo.
do chiclete, caneta BIC os- guntei. — Eu sei como é, Talita,
cilando nos dedos nervosos.
— Acho que não — ela a fase pela qual você está
Então, avistei a outra mão
respondeu — Mas eu estava passando é barra, mas vai
sobre a coxa, pele lisinha, e,
pensando em outras coisas... passar. Acredite em mim,
obscurecida pela saia, na vão
— e sorriu para mim. também fui adolescente
das pernas entreabertas, a
e também não gostava de
calcinha branca. Fiquei sem reação, redu- estudar.
Contemplei a descoberta zido ao jovem que um dia
eu fora, sem traquejo para — Não tem nada a ver
por dois ou três segundos,
conversar com garotas, que com estudo, professor — ela
mas refugiei-me no meu
não sabia como se aproxi- molhou os lábios com a
livro de chamada. Porém,
mar delas. língua. Um péssimo sinal,
as faltas, notas e nomes de
pensei. Ela se aproximou,
alunos não me detiveram, — Hum — resmunguei. mas recuei um passo.
assim, voltei a buscar as co-
— E você, professor, em — Tive medo de vir até
xas adolescentes e o tesouro
que pensava? aqui... — ela acrescentou,
de algodão entre elas. Três
meses de abstinência de — Em nada, Talita — res- achegando-se ainda mais. Eu
sexo possuem este poder de pondi sem graça. até continuaria recuando,
tornar algo tolo, infantil, no porém fui prensado entre
maior dos estimulantes eró- Talita e minha mesa. Os pe-
ticos. Faz-nos imaginar o que Eu não conseguiria men- quenos seios dela se encos-
estaria por debaixo da peça surar como aquilo me afe- taram em meu tórax — Tive
íntima, imaginar carícias, faz tou. À noite, sonhava com as medo da sua reação.
o coração bater mais depres- pernas de Talita; de dia, mal
me concentrava nas minhas Eu queria que ela se calas-
sa e a respiração se acelerar. se, quer dizer, estava morren-
Das pernas, ascendi a vista atividades. As manhãs que se
seguiram foram angustian- do de curiosidade para ouvir
ao rosto de Talita e encon- o resto, mas tinha certeza de
trei os olhos azuis dela me tes, ter de entrar na sala da
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ao fazermos sexo no banhei- crucificado por puro falso pórteres debandaram da casa
ro do colégio. Quanto mais moralismo. A própria Talita de Talita e foi aí que encon-
perigoso, melhor. havia me confidenciado que, trei uma oportunidade para
Não sei onde estava com antes de mim, ela já havia conversar com ela, numa
a cabeça quando deixei a transado com cinco rapazes noite em que os pais dela
situação sair de controle. O diferentes e com uma moça, saíram para ir à missa. Su-
modo de conduzirmos nosso ou seja, aos dezesseis anos pus que Talita deveria estar
relacionamento apontava ela havia tido mais parceiros de castigo em casa, punida
para o desfecho que esta- do que eu com quase qua- pelos transtornos causados.
va por vir. Qualquer boçal renta; minha avó se casou Bati à porta e foi ela
perceberia o tipo de envolvi- aos quatorze anos e pariu quem a abriu. Ao me ver,
mento existente entre Talita uma dúzia de filhos; Charles assustou-se:
e eu, mas ninguém tinha Chaplin só traçava ninfetas;
dizem até que Maria, a mãe — Vai embora, professor.
coragem para nos desmasca- Não posso conversar com
rar, até aquela maldita foto de Jesus, quando se casou
com José, contava com ape- você.
aparecer no jornal.
nas doze anos. Exemplos não No entanto, não obedeci.
A sociedade na qual vive- me faltariam e eu já tinha Entrei e tranquei a porta.
mos é regida por normas e até uma solução para este
leis hipócritas: tudo é per- — Serei breve, Talita. Vim
escândalo: em poucos anos,
mitido enquanto não for a pedir para você fugir co-
Talita seria maior de idade,
descoberto. Bastou uma foto migo, podemos nos casar e
nós nos casaríamos e tudo se
para pôr tudo a perder. Pri- apagar tudo de errado que
resolveria. Não posso dizer
meiro, a cena da Júlia, quan- aconteceu.
que eu a amava, mas certa-
do ela esfregou o jornal nas mente estava apaixonado e — Casar com você? — ela
minhas fuças. Depois, uma era dominado por um desejo riu, mãos na cintura — Não
ligação do diretor da esco- incontrolável. Não podería- seja ridículo! Até parece
la, manifestando a insólita mos exigir mais do que isto. que eu me casaria com um
declaração: velho!
Mesmo estando proibido
— Porra, professor, se de entrar no colégio, aguar- Isto foi uma tremenda
você quer comer uma aluna, dei na saída, à espera de duma contradição, ela não se
tudo bem, mas seja discre- Talita, mas não a vi. Dirigi, casaria com um velho, mas
to, professor. Esta não é a então, até a casa dela, mas transava com um. Expus-lhe
primeira vez que isto ocor- jornalistas a cercavam, todos este meu pensamento.
re, mas um escândalo deste querendo uma nesga da — São duas coisas dife-
não podia cair nas minhas manchete. rentes, professor. Tudo não
mãos. Agora quem terá de
Liguei no celular da passou duma aposta com
tomar uma providência para
menina, mas fui atendido minhas amigas.
solucionar este pepino será
eu. Você já deve imaginar secamente: — Como assim? — fiquei
que serei obrigado a demiti- — Não posso falar com sem rumo.
lo. Os filhos-da-puta dos pais você, professor. Ainda não — Eu contei para minhas
de alunos vão comer meu viu a merda que aconteceu? colegas que você estava
fígado! Entendi a reação dela, espiando por debaixo da
Quer dizer, eu recebia afinal de contas, estávamos minha saia. Elas duvidaram.
uma confirmação de que todos sob pressão. Júlia saiu Falei que você estava lou-
sexo entre professores e alu- de casa, levando consigo quinho por mim e que me
nos era costumaz, desde que Rafaela. Não posso dizer comeria se eu quisesse. Elas
não caísse na boca do povo. que isto me abalou, nosso duvidaram. E aí fizemos uma
Talvez, até este diretor já casamento já estava com aposta.
tivesse a sua cota de meni- os dias contados há anos e, — Mas por que ficou
ninhas nas costas. Foi neste se não fosse este escândalo, comigo tanto tempo? — eu
instante que parei e refleti seria outra razão, talvez mais suava, minhas mãos tremiam
sobre o que eu havia feito de frívola, talvez mais grave. e era como se um torno
errado, e percebi que seria Após alguns dias, os re- espremesse meu cérebro.
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Contos
António carpinteiro
Maria de Fátima Santos
http://www.flickr.com/photos/jpujo/2285582061/sizes/o/in/set-72157603810786563/
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sempre depois de estar dobrado do tamanho que do relógio sobre a cómo-
dormindo o povoado, ela trazia pedalando: e tri- da, marca cinco menos
ouvia (e estava certa que plicado, ri-se ela assim um quarto. Maria Elisa
só ela ouvia) o guinchar pensando, de quando ele quase a ter outro orgas-
cada vez mais guinchan- aplaina madeira de pinho mo. “ O último”, pensa
do: era a bicicleta dele, ainda verde, dobrado o ela, que Maria Elisa teme
era António que peda- corpo magro no banco que seja essa uma noite
lava. “O meu homem”, da oficina. com ponto final. Cresce o
como Maria Elisa o cha- António que chega- ritmo do seu corpo so-
mava, nua sobre a cama, ra a mando do bilhete, bre o corpo de António.
doirada dos mares onde entrado pela varanda Desfaz-se o que sobra das
passara o mês das férias. que dá para o jardim do tranças. Penetram-se o
António percebera-a quarto onde Maria Elisa sexo dela e o sexo dele.
doida do seu corpo num o aguarda, virgem, que O cabelo esvoaça como
dia em que consertava é como sua mãe a sabe: se fora véu, como se fora
uma tábua solta no soa- Dona Apreciação que a teia. Embaraça-se. Toca-
lho do quarto: este, onde tem noivada com o filho lhe o traseiro: o rabo
se encontram, furtivos, do Senhor Garcias de- dela, rechonchudo, gran-
sobre o tapete de Ar- sembargador e dono de de. O rabinho casto nas
raiolos que Dona Apre- vinhas e montados. Casa- saias de pregas que Maria
ciação bordou em noites mento com data marcada Elisa veste quando ajoelha
de invernia. Maria Elisa para sete de Outubro. na Igreja. Dona Apre-
suada, corada, as tranças ciação ao lado da filha,
Num ritmo arfante
castanhas quase desfeitas orando ambas. Dirão da
enrolam-se os corpos
sobre o corpo nu. Ela e sua virgindade os deu-
deles no cone de luar que
António carpinteiro, a ses e os santos. E ali no
entra pela janela na noite
quem sobrou, na pres- quarto, diriam que Maria
aparvalhada, de húmido
sa de ter-se inteiro nela, Elisa está rezando ajoe-
e de quente, de um mês
uma peúga preta com os lhada no sobrado. Dobra-
de Agosto terminando.
elásticos lassos, calçada do em dois, o corpo que
Maria Elisa e António, na
no pé esquerdo. Nuzinho, deve ser guardado, casto,
acepção crua da palavra,
deitado de barriga, Antó- para o esposo. É o que
fodem. Pela noite dentro,
nio tem nádegas rijas: um diz o padre Frederico nas
na casa silenciosa, o que
rabo chocolate que é a sessões de preparação
eles fazem é uma luta
cor do carpinteiro e nem para o casamento. Maria
para encontrar o desejo
férias de mar ele teve. Elisa geme, o rabo endoi-
de cada um no outro: a
Todo pele e osso excep- dado, apertado, instado
sua carne desvendada
to aquele pedaço do seu pelas mãos do carpintei-
poro a poro, descoberta
corpo. ro, tomado pelo sexo dele,
em cada interstício, cada mordido dos seus dentes,
Em rodando a noite, dobra de pele. ratado das unhas longas
ou que seja no início, ou Enquanto isso, o reló- que ela roça, crava pelos
ela o repete, Maria Elisa gio da torre dá badaladas corpos de um e outro no
segura-lhe o pénis, lam- de um quarto. O verde desespero do desejo.
be, morde, goza de vê-lo luminoso no mostrador
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Contos
http://www.flickr.com/photos/noc/9354828/in/set-231799/
Ninguém está a ver!
Joaquim Bispo
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dade solitária, quando arranjar o copo de café deu a luz. Isabel dormia
vinha passar as férias com leite, para cada um, de lado, voltada para si
com os avós paternos, ali com que habitualmente e estava coberta ape-
perto, na Azinhaga. Os aconchegavam o estô- nas com um lençol.
seus olhos de adolescen- mago antes de deitar. O Aproximou-se e ficou
te também terão olhado que chamavam café não a admirá-la. Os cabelos
para as melancias quentes passava de uma mistura arruivados derramavam-
com pensamentos lú- de cevada, mas era recon- se pela almofada, o rosto
bricos? Ou a sua mente fortante. Desta vez, João adormecido enternecia, o
criativa de futuro escritor tirou uma cápsula farma- morro da anca alteava o
terá congeminado outras cêutica do bolso, abriu-a lençol, logo após o vale
maneiras mais engenho- e despejou o conteúdo da cintura. Sentou-se na
sas de gratificar os senti- num dos copos. Bebe- beira da cama. Era tão
dos e apaziguar o corpo? ricaram-nos, enquanto estranha esta situação.
assistiam a mais um bo- Estava ainda tenso, mas
cado da novela que a tia aos poucos ia ficando
Este ano, João alimen-
gostava. Desta vez, Isabel mais descontraído. Puxou
tava o desejo de ver a tia
começou a ser invadida o lençol até desnudar-
nua. Ela era muito bonita,
por um sono invencível. lhe os braços. A tia tinha
tinha olhos cor de mel e
Antes que se ficasse a uma camisa de dormir
uma boca pequena bem
dormir, despediu-se e foi cor-de-rosa que arqueava
desenhada num rosto
deitar-se. à altura do peito. Esticou-
cheiinho e, apesar de já
se para espreitar por
ter trinta e três anos, o
aquele decote invulgar-
seu corpo parecia tão O coração de João es-
mente amplo. As mamas
jovem como o da sua tava acelerado. Comprara
pareciam imensas. Ficou
professora de Português, uma caixa de hipnóticos
um momento absorto na
que tinha vinte e seis. a um colega, lera a bula
contemplação daquela vi-
Andava sempre de blu- e confirmara que uma
são tão desejada. Depois,
sas leves e largas onde as cápsula produzia um
com cuidado, empurrou
mamas, apesar do sutiã, sono profundo de umas
o corpo da tia até ficar
se deslocavam ao sabor quatro a seis horas, que
deitado de costas. Puxou-
das tarefas campestres não deixava lembrança.
lhe a camisa de dormir
que executava. Era muito Agora os dados estavam
para cima, até descobrir
excitante e, basicamen- lançados. Deixou passar
o peito. «Uauh!» Os bicos
te, era por elas que João três quartos de hora, para
grossos e rosados sobre
arquitectara um plano dar tempo ao medica-
os montes branquíssimos
arrojado e pouco éti- mento, depois dirigiu-se
eram mais perturbadores
co. Quando faltava uma ao quarto dela.
que alguma coisa que
semana para regressar a – Tia! – chamou a con- já tivesse visto. Sentiu o
Lisboa, tomou coragem firmar. – Tia Isabel! incómodo do seu pénis
para o pôr em prática.
Apurou o ouvido. tenso mas dobrado den-
À noite, a meio da nove-
Nada. Entrou no quarto tro das calças. Puxou-as
la da televisão, João foi
cautelosamente e acen- na cintura, meteu a mão
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do. Durante todo o dia similar à esperada, Isabel retesada do seu membro.
foi matutando naquele olhava para o ecrã, mas Vestiu o pijama e
súbito desejo de dormir. a sua cabeça estava a esperou ainda mais meia-
Uns olhares furtivos do processar decisões. Que hora. Depois, entrou no
sobrinho levaram-na a fazer? Tinha uma enorme quarto de Isabel que,
pôr a hipótese inverosí- curiosidade sobre o que o deitada e voltada para a
mil de ter sido drogada sobrinho andaria a fazer porta, de olhos fechados
por ele. Com que objecti- lá por casa enquanto ela mas de atenção bem aler-
vo? Resolveu ficar muito dormia drogada. ta, fingia dormir profun-
atenta. João, entretanto, es- damente. Não esperava
À noite, quando João forçava-se por conter o que ele entrasse no seu
foi preparar a beberagem nervosismo. A simples quarto, mas tencionava
do costume, Isabel ficou ideia de estar prestes a prosseguir a farsa até
a controlá-lo pelo reflexo encontrar-se com o corpo saber o que o sobrinho
difuso na porta da co- de uma mulher à sua dis- andava a tramar. João
zinha. Então, confirmou posição, poder explorá-lo acendeu a luzinha da
que o sobrinho tirava à vontade, sem olhares mesa-de-cabeceira que,
qualquer coisa do bolso desdenhosos nem reticên- protegida pelo abajur,
e fazia o gesto de a sacu- cias humilhantes, excita- derramou uma claridade
dir sobre os copos. Não va-o. Talvez fosse este o suave sobre a cama. A
podia beber daquele café! dia tão esperado em que tia estava linda a dormir
Quando João se sentou «perderia os três», que já tão suavemente como na
a seu lado no sofá e lhe o embaraçavam perante noite anterior. Tocou-lhe
estendeu o copo, Isabel a experiência alardeada os cabelos. Acariciou-os.
levantou-se anunciando: pelos colegas. Eram macios e levemen-
– Vou pôr um bocadi- Dez minutos depois, te ondeados. Cheirou-os.
nho de vinho do Porto e Isabel fingiu cabecear e Exalavam uma fragrância
natas; queres? foi-se deitar, como na inebriante. Encostou o
noite anterior. seu rosto ao da tia. Era a
– Não, tia, obrigado!
mesma macieza e quen-
Isabel moveu-se com Antes de se juntar a
tura que guardava como
diligência e precisão. ela, João foi à casa de ba-
lembrança das despedi-
Vazou o copo na pia, nho aliviar a tensão. Não
das e dos reencontros.
silenciosamente, resguar- queria falhar o objecti-
O seu pescoço cheirava
dando-se do reflexo que vo com uma ejaculação
a feno e a malmequeres.
denunciara o sobrinho, adiantada. Sentou-se na
Deitou-se de corpo esti-
pôs um pouco de leite do sanita, acariciando-se
cado encostado ao da tia
frigorífico, encheu com com gestos lentos, en-
e abraçou-a. Manteve-se
coca-cola, acrescentou quanto, de olhos fechados,
assim por minutos, ape-
natas de pacote e por fim recordava o corpo da tia.
nas a aspirar o aroma
juntou o vinho do Por- Pouco depois, um jorro
floral da tia, a sentir o
to. No sofá em frente do inundou a «boneca» de
seu corpo tenro cheio de
televisor, enquanto sorvia papel higiénico com que
ondulações, e a imaginar-
aquela bebida de aspecto envolvera a cabeçorra
se um dia casado com
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mecera, levantou-se e, si- pego, a meio da tarde, foi – João abre-me aquela
lenciosamente, foi ao pote vasculhar-lhe as coisas à garrafa de jeropiga que
dos chouriços, retirou procura da droga. Estava era do tio, se fazes favor.
um painho de tamanho numa das bolsas laterais O saca-rolhas está na
adequado, limpou-o bem da mochila. Era Flunitra- gaveta da esquerda.
do azeite e voltou para a zepam, um medicamento Apenas João saiu, Isabel
cama. Um quarto-de-hora hipnótico usado como trocou os copos e espe-
depois, a conjunção do tratamento da ansieda- rou. Depois deitou um
volume, da lubrificação de e da insónia. A bula gole de jeropiga no copo
oleosa, e das rugosidades afirmava que induzia o de onde iria beber.
naturais do enchido con- sono de forma rápida e
Passado um bocado,
cluíram o que o sobrinho intensa. Como efeitos
João cabeceava. Isabel
tinha iniciado. colaterais referia a amné-
ainda tentou que se fosse
sia para os eventos ocor-
deitar, mas ele, vergado
ridos sob a sua influência
Durante toda a ma- pelo sono, reclinou-se no
e avisava para o perigo
nhã, Isabel pensou no sofá e ali ficaria vestido
de vida que corria quem
que devia fazer. Podia até de manhã, se não
o associasse ao álcool.
simplesmente mostrar fosse o coração de tia de
«Filho da puta!» Sem ofen-
que não bebia o copo de Isabel. Foi buscar uma
sa para a irmã. Tinha-a
café, frustrando os pla- mantinha e o pijama
deixado beber o vinho do
nos do sacaninha. Mas dele, despiu-o, mas, quan-
Porto e não dissera nada.
também podia continuar do se preparava para lhe
a fingir que o bebia. O O dia de João foi de vestir o pijama, parou a
que a impedia de apro- redenção, um dia em que admirar o pequeno pi-
veitar as fodas do sobri- todos os temores e in- rilau dele, de cabecinha
nho? Perfeitas ainda não certezas sexuais tinham rosada meio escondida
eram, mas… A cavalo desaparecido. Todo o pelo prepúcio, repou-
dado… Nem sequer dia andou radiante e até sando sobre o escroto
precisava de se esforçar; cantarolou a caminho do escuro e enrugado pela
ele fazia tudo. Em rigor, pego. Nem se lembrou testosterona. Custava a
nem andava a foder com das melancias. Decidira creditar que aquilo, que
o sobrinho. Sem ninguém rapidamente que nessa agora parecia um batom
a ver, sem o João a saber noite foderia outra vez a em expositor de ouri-
da sua vigília, a situação tia, mas agora com mais vesaria, fosse o mesmo
não tinha esse pecadilho experiência. que na noite anterior tão
social. Ele é que andava a plenamente a preenche-
foder a tia. Só a incomo- À noite, quando João ra. Sentou-se na beira do
dava estar ali de perna pousou os copos de café sofá, pegou-lhe e baixou-
aberta, feita morta. Ape- na mesinha de apoio do lhe o prepúcio. A cabe-
sar de tudo, gostava de se sofá, Isabel decidiu que cinha cor-de-rosa fez-lhe
mexer mais. não queria andar a fo- pensar que um pénis era
Quando ele saiu para der «à Bela Adormecida». como se fosse um clítoris
dar um mergulho no Pediu: enorme. Tinham sorte
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Contos
Uma Noite
Guilherme Rodrigues
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O lugar onde
http://www.flickr.com/photos/ooocha/2630360492/sizes/l/
– Que importa meu – É hora de ir. Preciso.
nome e quem sou se
temos uma noite linda – Não o verei mais?
somente para nós? Não voltará?
ficina
cou se contorcendo e
gemendo. Arranhava,
apertava os lençóis
www.oficinaeditora.org
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56
Contos
Zulmar Lopes
a boa Literatura
é fabricada
ficina
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www.oficinaeditora.org
Contos
Marcinha se revolta
Pedro Faria
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o passa na entrada de sua gança, ela põe o objeto no Ela olha para ele satisfei-
boceta molhadinha, e fica chão e entra no quarto. ta, lhe dá a já tradicional
o esfregando contra seu Hipnotizada pelo tama- lambidinha na cabeça do
clitóris. José ensaia um nho do caralho do velho, ela caralho, e sai. Bernardo vol-
gemido, mas ela diz a ele tira sua cueca e começa a ta rapidamente a dormir.
para não gemer, porque chupá-lo, não acreditando No corredor, ela pega o
senão sua esposa acordaria. como uma pica podia ter objeto que carregava, um
Ele concorda, e aproveita aquele tamanho. Ela tenta copo, e vai até o quarto de
silenciosamente. Quase não enfiar o cacete o máximo Lúcio.
consegue manter seu silên- possível dentro de sua boca,
cio quando Marcinha senta Entrando, ela acende a
mas só consegue até um luz. Ele acorda assustado,
completamente sobre ele, pouco mais da metade. O
fazendo seu caralho ir bem e vê Marcinha na porta,
velho acorda, e vê a moça segurando um copo cheio
fundo naqueva rachinha lhe chupando.
apertada dela. Ela sobe e até a metade de um líquido
desce lentamente, lamben- - Eu sabia que você era branco.
do e mordendo seus lábios. uma putinha. Pode chupar, - Vê isso, seu viado? –,
Ela pega as mãos dele e as lambe essa pica, sua pira- diz ela, tentando manter a
coloca em seus seios, já fora nha. voz baixa para não acordar
da camisa. Acelerando o Excitada pelas palavras a casa toda. – Eu dei pro
ritmo, ela acha que não vai de Bernardo, ela chupa com seu irmão, pro seu pai e
conseguir não gemer, mas mais força e mais vontade. pro seu avô. Só queria te di-
se segura. Depois de alguns Passados alguns minutos, zer isso antes de ir embora,
minutos de cavalgada, ela se ele a pega, a vira de costas, seu corno moralista!
levanta e abocanha o pau arranca sua calcinha e enfia Ela então bebe o copo
dele, sentindo o gosto de de uma vez só seu pau na cheio com a porra de três
sua boceta, chupando com bucetinha dela. Ela solta gerações, bate a porta, e vai
voracidade, até ele rapida- um gemido um pouco mais embora, enquanto Lúcio,
mente gozar em sua boca. alto, mas não se importava. mais dormindo do que
Como fizera com seu filho Estava bom demais. O velho acordado, murmura insul-
mais novo, ela sorri para enfiava sem dó, ela achava tos antes do sono lhe arre-
José, e dá um beijinho na que seria rasgada ao meio. batar novamente e lhe dar
cabeça de seu pau, antes de E enquanto o fazia, a xinga- mais algumas horas de paz,
se levantar e sair. va de piranha, de puta, de até acordar e perceber que
De novo ela vai até a co- vadia, de boqueteira. E tudo aquilo não tinha sido um
zinha para se recompor. isso apenas a excitava mais. pesadelo.
Voltando para o quarto Vendo que iria gozar, Não tinha como ser.
de Lúcio com um objeto Bernardo a tira daquela po-
sição e lhe dá seu pau para O copo sujo de gozo fi-
na mão, ela passa por uma cara sobre sua escrivaninha.
porta aberta. Olhando em ela chupar.
seu interior, ela vê Bernardo, - Chupa! Eu quero gozar
o pai de dona Sônia, um se- na sua boca agora. Rio de Janeiro
nhor de 65 anos, dormindo Ela aceita, depois de Janeiro de 2008
de barriga para cima. Ela se ter gozado três vezes com
impressiona com o volume aquela pica dentro dela.
em sua cueca: Era maior
do que o de Lúcio, César e Ela chupa, e ele goza ra-
seu José. Notando que tinha pidamente em sua boca, um
mais uma chance de vin- volume enorme de porra.
Marcia Szajnbok
ECDISE
62 SAMIZDAT fevereiro de 2009
62
Abriu os olhos e ini- passos. Divertia-se em a moça, rindo. Como
ciou a contagem regres- fechar os olhos em al- jamais falava com estra-
siva: 30, 29, 28... Quando guns trechos do caminho nhos, apenas dirigiu a ela
pensou – “zero!” – o des- e, apenas pelo controle um olhar interrogador:
pertador tocou. Sorriu, numérico, adivinhar onde está rindo do quê? E ela,
orgulhoso da própria estava. “Bingo!”, festejava que falava muito, e sem-
precisão. Tomou a agen- consigo mesmo sempre pre, até mesmo quando
da, já aberta na data que acertava. E acertava não tinha interlocutor, foi
correta sobre o criado- sempre. Por isso, aquela respondendo à questão
mudo, marcou a lápis manhã de quarta-feira foi não proferida:
um pontinho e, no canto um verdadeiro divisor de
da página, contabilizou águas em sua vida mate- - Machucou? A gente
1567: um mil e quinhen- maticamente controlada. tem que tomar cuidado.
tos e sessenta e sete dias Nesta cidade todo dia
- há quase cinco anos, Após atravessar a aparece um buraco novo,
seu relógio biológico avenida, deveria seguir ou um poste, ou um
mantinha-se absoluta- 44 passos e então virar à muro. Outro dia, eu esta-
mente exato! direita. Decidiu fazer ali va indo para casa e...
a brincadeira dos olhos
Sem acender as luzes, fechados. Foi seguindo, Sem conseguir pres-
pegou roupas limpas. firme e convicto, 43, 44... tar atenção a tudo o que
A monotonia dispensa- e bateu de cara num obs- ela dizia, foi se deixando
va iluminação: todas as táculo! Demorou alguns levar apenas pelo tom
camisas eram brancas, to- segundos para compre- de sua voz melodiosa e
das as cuecas cor da pele, ender que aquilo era alegre. Era uma moça
as calças e as meias eram um tapume. Surgido da bonita, morena, esguia,
pretas, sem detalhes. O noite para o dia, fecha- os olhos transbordavam
café da manhã tampouco va o acesso à rua onde expressão.
comportava surpresas. trabalhava. Destacado
http://www.flickr.com/photos/homingpigeon/321872954/sizes/l/
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mentos. Ela andava gin- desmaiar. Uma espécie de todos os desafios que lhe
gando o quadril, movia as formigamento percorria- haviam proposto, a pon-
mãos enfatizando as fra- lhe todo o corpo. Tentava tualidade levada germani-
ses, arregalava os olhos, se concentrar: não perca camente a sério. Nenhum
jogava o cabelo para trás o controle, não perca o amigo íntimo demais,
com um movimento controle... O estômago não se pode confiar mui-
serpenteante do pesco- se contorcia, o mundo to nas pessoas. Nenhum
ço. Estava impressionado todo girava. Não con- enamoramento, a paixão
com aquele corpo – tudo seguiu evitar. O vômito nos desvia do bom equi-
nele comunicava. veio num jato. Sujou os líbrio. Nenhuma explosão
próprios sapatos, o bal- de ira, a violência nos
No balcão da padaria, cão da padaria, os pés da aproxima dos seres irra-
ela pediu: dois cafés. Pu- moça. Todos os olhares, cionais. Nunca passara
ros? Sim, puros. E ele ape- enojados, reprovavam-lhe por uma situação como
nas assistiu à cena, esque- severamente aquele ato. aquela. De fato, nunca
cido por um momento Tinha ganas de gritar, passara por situação
de que, até então, sempre de justificar, de explicar nenhuma. E agora, toda a
pedia um pingado. Sabo- que não fizera aquilo assepsia da vida parecia
reou o amargo da bebida de propósito, que sentia ter ido por água abaixo,
quente, e o cheiro que muito, que nunca passara mergulhada no mais pro-
subia da xícara misturou- por uma situação como saico dos produtos que
se ao perfume da moça e aquela... um corpo humano pode
ao aroma de pão recém produzir.
assado. Nunca passara por
uma situação como aque- Foi, novamente, o riso
Talvez tenha sido o la. Esse pensamento re- da moça que o acudiu.
excesso de cafeína e de verberava Via-se menino
olfato, talvez o exagero de comportado, adolescente - Ressaca em plena
expressividade que ema- contido, adulto regrado. quarta-feira? Mal, hein?!
nava daquela moça, ou Sempre tivera o esmero
o burburinho emocional Conduzido por ela,
de manter tudo em or-
que o invadia naquela entrou no cubículo es-
dem, a casa, o armário, os
manhã atípica. O mal- curo e malcheiroso que
estudos, a vida. E agora,
estar surgiu de repente. era o banheiro da pa-
isto! De que adiantara
Começou a suar frio, daria. Havia apenas o
tanto esforço? Para que
esfregava as mãos pro- vaso sanitário e uma pia
servira ter aberto mão de
curando a porta com o minúscula, sem sabonete,
tanta coisa? Dietas balan-
olhar. Tinha ímpetos de papel higiênico ou toa-
ceadas mesmo diante do
sair correndo, mas acha- lhas. Abriu ao máximo a
sorvete mais apetitoso,
va que, se levantasse, iria torneira, esperando um
a recusa automática a
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Contos
Dona Sonia
e o ponto G
Giselle Natsu Sato Finalmente descobri o melhor, ou pior, amargo
mundo da internet. De- uma sede de quase dez
pois de ter presenteado anos. Fogo eu sempre
todos os netos, comprei tive, mas a família deci-
um laptop bem boniti- diu que estou idosa e não
nho e cheio de recursos. posso mais ter desejo.
Li por acaso os casos Minha vida agora são
quentes que acontecem filhos, netos e toda a cha-
on-line e queria experi- tice que abomino. Não
mentar. Apesar de não suporto novelas e não sei
ser uma mocinha, sou tricotar.
bem fogosa. Desde que o
falecido partiu desta para Em um site bobo de
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co. Nos meus sonhos, eles luzes e direcionei o foco Ele ia mandando e eu
criam vida e são amantes para a parte inferior do obedecia sem o menor
perfeitos. corpo. Era minha primei- pudor. O anonimato ga-
ra vez e estava excitadís- rantia a coragem de me
Uma e meia da manhã sima. Agradeci o hábito expor e partilhar com
recebi um e-mail deli- da depilação mensal. o desconhecido meus
cioso de um coleguinha, Ele elogiou e pediu que desejos. Os dedos entra-
várias fotos dele, nu, em eu focalizasse bem cada vam e saíam, apertavam
poses variadas. Engraça- detalhe. Não sei o que ele e buscavam pontos que
do como as pessoas são conseguia enxergar com ele dizia conhecer bem.
loucas enviando fotogra- a luz tão baixa, mas ele Foi quando toquei pela
fias e falando toda a vida. estava animado. Os dedos primeira vez o pedacinho
Logo em seguida, come- deslizaram para o meio de carne, logo na entrada
cei a conversar com um das pernas e deixei que da vagina, tateando senti
homem com o apelido ele ditasse as regras: a pele mais áspera que
de Carinhoso e Sedutor. o normal. Ali friccionei
Ele tinha um papo envol- - Quero que toque de e senti um prazer agudo
vente, conversamos um leve, só por cima... As- e doloroso. As solas dos
pouco sem falar sobre sim, sem pressa, agora pés queimavam e a sen-
sexo. Ele queria que eu vai usar só um dedinho e sação forte subia pelas
participasse, disse que a roçar o grelinho. Aumen- pernas. Senti que era uma
câmera estava quebrada e ta a luz um pouquinho, agonia sem fim aquele
ele insistiu: meu amor? toque. Foi tão súbito e in-
tenso que me desmanchei
- Se não quiser mostrar Pronto, aquele homem em gemidos altos. Já nem
o rosto, fique à vontade. lindo me chamando de olhava a tela e pouco me
Mas é bem melhor a dois, “meu amor”, desmontou importava o que ele fazia.
minha linda. a resistência. Joguei a luz Precisa gozar ou mor-
quase em iluminação reria. O orgasmo mais
- Eu gosto de olhar, é ginecológica e esperei. Já incrível chegou sofrido e
uma opção pessoal não sentia a umidade natural pouco a pouco, cresceu e
me exibir. aumentar só pensando no me engoliu. Perdi o fôle-
que viria:
- Se você se satisfaz go completamente entre-
desta forma, não está gue...
- Linda, minha flor
mais aqui quem falou. branquinha e delicada. Totalmente mole e
Ok? Eu apenas sugeri, Quase sem pelos e do satisfeita, vi que meu
mas a decisão é sua, meu jeito que eu gosto. Agora
parceiro também estava
amor. vamos brincar um pou- se recompondo. Fiquei
quinho. Vou pedir e você
Não sei o que deu na imaginando porque um
acompanha, pode ser?
minha cabeça, diminuí as homem tão bonito usava
- Normalmente a gran-
de maioria que gosta
deste recurso são pessoas
solitárias. É minha propa-
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Autor Convidado
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Autor Convidado
Leo Borges
O Jardim dos
Amantes
72 SAMIZDAT fevereiro de 2009
72
Eu lembro de meus oito ços, um véu no rosto. Seus Então, numa certa tarde em
anos, quando vi pela pri- trajes reluziam quase tanto que ela estava conversando
meira vez Samira, a vizinha quanto sua pele, mas mui- com minha mãe, paradas
de frente. Ela tinha o triplo to menos que seus olhos. perto do jardim onde co-
da minha idade, era casada, Nessas horas eu fazia o jogo lhia as flores, eu corri para
feições árabes; não era só das pétalas com alguns perto e disse, todo anima-
linda, era encantadora. De crisântemos vagabundos do: “Samira, eu também sou
noite eu ficava admirando que eu pegara no jardim. O seu amante!”.
pela janela aquela magnífi- bem-me-quer vencia sem-
ca mulher, buscando ângu- pre, mostrando o presságio - Que amante o que,
los para melhor admirá-la. tão natural quanto a vivaci- moleque! – gritou feroz-
Pra mim ela era a fada dade daquela dança. mente minha mãe. Não sei
das histórias infantis que como o safanão que ela me
tomou vida, uma entidade Minha mãe era mulher deu não desgrudou minha
que abençoava a todos com religiosa, mas não se im- cabeça do meu pescoço.
seu charme, beleza, carisma. portava com meu ingênuo Rodopiei zonzo. Ao reco-
Quando voltava da escola “namoro” com Samira. Até brar o equilíbrio, chorando,
eu passava no jardim pró- que certo dia ouvi uma vi Samira me defenden-
ximo à sua casa, arrancava conversa dela com uma do, brigando com minha
uma flor e parava à porta outra vizinha em que ela própria mãe, dizendo que
da minha rainha para ofe- falava da minha Sam. O ela nunca poderia ter me
recer-lhe, como uma ino- som daquele nome des- batido daquele jeito. Corri
cente oferenda de um guri pertou minha atenção e pra casa, pro quarto, pra
apaixonado. Muitas vezes parei escondido para tentar debaixo da cama, perdido
o marido atendia e achava entender melhor. Minha em meu mundo que, defini-
graça naquilo. Chamava mãe falou que Samira tinha tivamente, não tinha nada
Samira e mostrava a cena. um amante. Eu ri baixinho a ver com o mundo adul-
Eu ficava vermelho, mas e achei engraçado, porque to. Mas o fato de Samira
não perdia a oportunidade na verdade ela não tinha ter me defendido de uma
http://www.flickr.com/photos/pipdiddly/119482772/sizes/l/in/set-72057594102936305/
de receber um beijinho na ‘um’ amante. Ela tinha ‘vá- possível injustiça fez minha
testa da minha dançarina. rios’. Pelo menos na minha admiração por ela crescer
Sim, dançarina. Por vezes lógica de menino eu pensei e a dor serenar. A partir
a via dançando um rit- assim, achando ingenua- daquele momento eu tive
mo que, muito depois fui mente que a palavra aman- certeza de que ela era, de
saber, se chamava ‘dança te tinha a ver com a pala- verdade, minha amante.
do ventre’ para seu marido. vra amor, ou seja, coisa boa.
Muitos poderiam achar Ora, como Samira era uma Dez anos se passaram.
que ele era sortudo por ter pessoa querida por todos Durante esse tempo, mi-
aquela dádiva em casa, mas ali, todos eram, conseqüen- nha mãe deixou de falar
eu, mais que qualquer ou- temente, seus amantes! Saí com Samira, de convidá-la
tro, tinha a certeza de que alegre acreditando firme- para meus aniversários. Ela
ela dançava para mim. Do mente que eu também era não fez mal nenhum para
cárcere do meu quarto, via amante de Samira. Nesse Samira, mas fez mal para
seu corpo ondulando, orna- dia eu fiquei feliz, mais fe- mim. Não pude mais entre-
do com adereços nos bra- liz que em todos os outros. gar minhas flores para ela
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e nem enamorá-la pela ja- vidro do carona descendo. em que apareceu para me
nela. Que mundo estranho Era Samira. buscar um vendedor ambu-
o dos adultos! Tempo de in- lante de flores que passava
congruências onde “amante” - Entra! – ela disse. por perto percebeu e man-
significa “ódio” e “amor” um dou: “não vai levar flores
sentimento proibido, re- Meu coração bateu forte pra sua amada?”. Eu ri da
chaçado com violência, aos ao vê-la. Ela estava linda situação e comprei dele
cascudos e pontapés. como sempre num vestido aquilo que sempre havia
branco que realçava sua dado pra ela. Quando en-
Com dezesseis comecei pele morena. Perguntou trei no carro ela levou um
a namorar uma menina algumas coisas e fui res- susto, mas vi que adorara
da minha idade. Aqueles pondendo, alegre por estar a surpresa. O relógio mar-
namoros de mãos dadas, perto dela. Indagou se mi- cava pouco mais de seis da
igreja aos domingos, cine- nha mãe estava mais calma. tarde.
ma às vezes. Famílias con- Perguntou por minha noiva,
servadoras, devotas. Aos de- o que me deixou ansioso. - Vamos por um outro
zoito, ficamos noivos. Não caminho hoje. O trânsito
era o que eu queria, mas - Nunca mais recebi por aqui está muito ruim –
era muito mais conveniente flores suas – brincou, des- disse.
para todos. Eu não gostava contraindo.
de Suellen, a minha noiva. Eu não sabia que existia
Eu saía com ela, mas não a Fiquei sabendo que o outro caminho. O atalho
conhecia, não tinha intimi- trajeto que ela fazia para pareceu longo demais, até
dade sequer para ofertar- voltar do trabalho passava que percebi que na verda-
lhe uma margarida vadia. pelo meu. Então, as caro- de ele não existia. Fiquei
Seria até traição, pegar uma nas começaram a se tornar perplexo quando ela parou
flor do meu santuário e freqüentes. Ela me deixava o carro na entrada de um
dar para alguém que não dois quarteirões antes de motel. Eu não imaginava
fosse a minha Sam. Samira nossas casas para minha que aquilo fosse verdade.
continuava nossa vizinha mãe não ficar sabendo. Talvez fosse mais um outro
e, ainda que eu não levasse Minha mãe não mais me sonho dos tantos que eu já
mais flores para ela, era batia, mas qualquer apro- tivera com ela. Mas se fosse
essa, sim, a minha verdadei- ximação com Samira era realidade era uma realida-
ra mulher, não só dos meus visto como uma tentação de esquisita, porque, para
desejos, mas da minha diabólica. Tão ingênua a minha eterna angústia, ela
vida. Foi então, numa tarde minha mãe! Era Samira, era casada.
muito chuvosa em que eu na verdade, meu anjo da
estava voltando do traba- guarda e era impressio- - Avisei a ele que vou
lho na papelaria, que um nante como ela me passava chegar mais tarde. Depois
carro parou ao meu lado. vibrações boas, fluídos que você liga pra sua mãe e pra
Eu estava com a mochila traziam calma e ao mesmo sua noiva e dá uma descul-
sobre a cabeça tentando tempo amor. Eu gostava de pa. Você vai aprender que
me proteger inutilmente da estar perto dela, de conver- em sua vida íntima nin-
água que caía abundante- sar com ela, de saber sobre guém deve se meter, nem
mente do céu, quando vi o sua vida. Numa das vezes sua noiva, nem sua mãe,
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Não demorou e eu esta- sobre minhas costas. Aquilo dentro de uma mulher foi
va passeando com minha fazia com que eu entrasse tão contagiante que acabei
língua nas adjacências de nela com mais vontade, perdendo a noção da situa-
sua virilha, maravilhado. sem receios nem hesitações. ção e pedindo ela infantil-
Mesmo de olhos fechados Minha mãe tinha razão! mente em casamento. Por
encontrei sua bucetinha Samira não era minha sorte ela demorou para se
pulsando interessada. O amante, era muito mais que recompor, para voltar ao
aroma lembrava o das isso. Seus gemidos se trans- normal e nem entendeu o
flores do jardim de nossa formaram em gritos rati- que eu disse. Ali nós éra-
rua, de nossas vidas. Lambia ficando seus sentimentos. mos mais que amantes,
aquela carne quente ouvin- Ela não mais mexia, dan- mais que cônjuges ou mais
do os gemidos de Samira, çava sob mim, rebolando, que namorados. Desisti
que soavam como canções, instigando, querendo tudo, do noivado com Suellen,
ruídos sem nexo que eram como uma puta totalmente arranjei um trabalho que
mais honestos que um “eu fora de si. Sua verve árabe me desse maior suporte
te amo”. Coloquei a língua era traduzida no gingado financeiro, de maneira que
para dentro, tirando rápi- de seu quadril, executando eu não dependesse tanto da
do. Não sei se fazia certo, uma dança do véu ou algo minha mãe. Mantenho o
mas o certo nessas horas é parecido. O pau entrava e caso com Sam até hoje. A
um acordo mudo entre os saía já com ardor, impreg- diferença de idade em nada
envolvidos. E nesse nosso nando o quarto com cheiro atrapalha e, sempre que
acordo não havia engano, de sexo, de carne, de alma possível, nos vemos, apesar
só certezas. entregue. Como era gos- de ela continuar casada. Por
toso comer aquela mulher, vezes pergunto a ela se va-
- Vem que você vai virar torná-la minha amante. Um mos continuar eternamente
homem comigo agora – sonho infantil que agora se juntos nessa vida nem tão
disse. realizava. secreta, mas certamente
incrível, no que ela sempre
Uma revolução que não - Mete que você é meu, responde:
daria para descrever acon- mete que você é meu – gri-
teceu dentro de mim quan- tava ela e eu acreditava - A eternidade sempre
do senti meu pau tocando mais do que nunca naquilo, acaba, mas a liberdade
sua buceta totalmente pois sentia que ela era mi- não. Essa só acaba quando
receptiva, tão úmida quanto nha também, e que sempre não houver mais flores no
feliz. Samira me abraçava havia sido. jardim.
com força ao tempo em
que jogava suas pernas por Meu primeiro gozo
Léo Borges nasceu em setembro de 1974, é carioca, servidor público e amante da literatura. Formado em
Comunicação Social pela FACHA - Faculdades Integradas Hélio Alonso, participou da antologia de crônicas
"Retratos Urbanos" em 2008 pela Editora Andross.
Conteúdo
http://oficinaeditora.org/2008/11/29/audiobook-da-oficina/
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Autor Convidado
10 indrisos eróticos
Isidro Iturat
EL CIMBREO
El movimiento parte en espiral
de la concavidad entre omoplatos
cuando camina la hembra hipersensual.
Miguel A. Garcia
LEDA EN EL ESTANQUE
¡Ah, qué hermoso cisne!
¡Qué plumaje tiene!
¡Mira, viene, viene!...
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MENAGE A T...
Justine se come la verga de Paul.
Morena, lleva la marca del sol
en los pezones, y en el caracol.
Miguel A. Garcia
BALADA DE LAS DOS HERMANAS
La hermana mayor besa con su boca
a Juan, el pastor.
Un caballo en la cuadra se desboca.
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Tradução
A Mulher de Véu
Anaïs Nin
tradução: Henry Alfred Bugalho
http://www.flickr.com/photos/artsilva/1879658945/sizes/o/in/set-72157610882778092/
Certa vez, George foi a Todos os três observavam
um bar sueco que gostava a atividade do bar — ca-
e se sentou a uma mesa sais bebendo juntos, uma
para desfrutar duma noite mulher bebendo sozinha,
ociosa. Na mesa ao lado, ele um homem a procura de
notou um belo e elegante aventuras — e todos eles
casal, o homem educado pareciam estar pensando as
e bem vestido, a mulher mesmas coisas.
toda de preto, com um véu Enfim, o homem bem
sobre a face resplandecente vestido iniciou um diálo-
e brilhantes jóias coloridas. go com George, que agora
Ambos sorriram para ele. teve a oportunidade para
Eles não diziam nada um observar melhor a mulher
ao outro, como se fossem e a achou ainda mais bela.
velhos conhecidos e não Mas justamente quando ele
precisassem conversar. esperava que ela partici-
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tirada de seus olhos antes Ela havia trocado de seios uma proeminência
de ele deixar o táxi, para vestido. Vestia um estonte- ainda maior. Suas costas
que não atraísse atenção do ante vestido de cetim que eram como de uma dança-
taxista ou do porteiro, mas deixava seus ombros des- rina, e cada contorno inten-
o desconhecido contava, sa- nudos e que era suspenso sificava a riqueza de seus
biamente, que o brilho das por uma alça. George teve a quadris. Ela sorriu para ele.
luzes da entrada cegariam impressão de que o vestido Sua boca era macia, carnu-
George completamente. Ele cairia com um único gesto, da e estava entreaberta. Ge-
não conseguia enxergar descobrindo-a como uma orge se aproximou e pou-
nada a não ser luzes bri- cintilante bainha, e que sou a boca nos ombros nus
lhantes e espelhos. por debaixo apareceria sua dela. Nada poderia ser mais
Foi conduzido a um dos pele reluzente, que brilha- macio que sua pele. Que
interiores mais suntuosos ria como cetim e que seria tentação a de puxar o frágil
que jamais vira — todo igualmente suave para os vestido de seus ombros e
branco e espelhado, com dedos. expor os seios que disten-
plantas exóticas, mobília Ele havia dito para si em diam o cetim. Que tentação
extravagante coberta em silêncio. Ainda não conse- despi-la imediatamente.
damasco e um tapete tão guia acreditar que esta lin- Mas George sentia que
fofo que seus passos não da mulher se oferecia para esta mulher não poderia ser
podiam ser ouvidos. Ele foi ele, um total desconhecido. tratada tão sumariamente,
dirigido por uma sala atrás Envergonhou-se também. que ela requeria sutileza e
da outra, cada uma em O que ela esperava dele? engenho. Nunca ele havia
diferentes nuances, todas Qual era sua busca? Tinha dado a cada um de seus
espelhadas, que perdeu toda ela algum desejo irrealiza- gestos tanta consideração e
a noção de perspectiva. Por do? arte. Parecia determinado
fim, chegaram à última. Ele a empreender um longo
se engasgou de leve. Ele tinha apenas uma cerco, e como ela não havia
única noite para dar todos dado sinal de pressa, ele se
Estava num quarto com seus dons de amante. Nun-
uma cama canopeada posta demorou sobre os ombros
ca mais a veria novamente. nus, inalando a tênue e ma-
sobre um tablado. Havia pe- Poderia ser ele aquele a
les no chão e brancas corti- ravilhoso olor que vinha do
descobrir o segredo da na- corpo dela.
nas vaporosas nas janelas, e tureza dela e possuí-la mais
espelhos, mais espelhos. Ele de uma vez? Ele imaginava Poderia tê-la tomado ali
estava contente por poder quantos outros homens ha- mesmo, de tão potente que
suportar estas repetições viam vindo a este quarto. era o encantamento que
de si, reproduções infini- ela lançava, mas antes ele
tas dum belo homem, para Ela era extraordinaria- queria que ela fizesse um
quem o mistério da situa- mente amável, com um to- sinal, queria que ela esti-
ção havia dado um brilho que de cetim e veludo. Seus vesse excitada, e não tenra
de expectativa e prontidão olhos era negros e úmidos, e maleável como cera em
que ele nunca conhecera. O sua boca fulgurava, sua pele seus dedos.
que isto poderia significar? refletia a luz. Seu corpo era
perfeitamente harmonioso. Ela aparentava uma
Não tinha tempo para se incrível frieza, obediente,
indagar. Ela tinha as linhas incisi-
vas duma mulher singela mas sem sentimento. Ne-
A mulher com que ele unidas a uma provocativa nhum arrepio em sua pele,
havia estado no bar aden- maturidade. e apesar de sua boca estar
trou o quarto, e assim que entreaberta para beijar, ela
ela entrou, o homem que o Sua cintura era delgada, não correspondia.
trouxera desapareceu. que proporciona a seus
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Neste momento, ele deles, e ela o sentiu em tinto homem se aproximou
estava tomado pelo desejo silêncio, encerrando-o. dele e sugeriu um agradável
de explorar e tocar cada Então ela apontou para o passatempo, observar uma
recôndito do corpo dela. Ele espelho e disse, rindo: magnífica cena amorosa, e
apartou a abertura do sexo como o amigo de George
dela com seus dois dedos, e — Olhe, parece até que era um voyeur declarado, a
deleitou seus olhos com a nós não fazemos amor, mas sugestão foi recebida com
pele brilhante, com o deli- sim que você apenas está imediata aceitação. Ele foi
cado mel a fluir, com os pe- sentado sobre seus joelhos, levado a uma casa miste-
los se encrespando ao redor e você, safadinho, você esta riosa, para um apartamento
de seus dedos. Sua boca se com ele dentro de mim suntuoso e, foi escondido
tornou mais e mais ávida, todo o tempo, e até tem ca- numa sala escura, de onde
como se houvesse se torna- lafrios. Ah, não posso mais ele pode ver uma ninfoma-
do um órgão sexual, capaz suportar isto, fingir que não níaca fazer amor com um
de satisfazê-la tanto que, se há nada dentro de mim. homem potente e particu-
continuasse a acariciar a Está me consumindo. Mete larmente bem dotado.
carne dela com sua língua, agora, mete!
O coração de George
ele alcançaria um prazer Então ela se jogou sobre parou.
totalmente desconhecido. ele para que ela pudesse re-
Enquanto ele mordiscava bolar sobre seu pênis ereto, — Descreva-a — ele disse.
sua carne com tal sensação obtendo desta dança eró- O amigo descreveu a
deliciosa, sentiu novamen- tica um prazer que a fazia mulher com a qual George
te que ela tinha calafrios gritar. E, ao mesmo tempo, havia feito amor, até mes-
de prazer. Ele a afastou de um relâmpago de êxtase mo o vestido de cetim. Ele
seu sexo, temendo que ela rompeu através do corpo também descreveu a cama
pudesse vir a experimentar de George. canopeada, os espelhos,
todo seu prazer meramente Apesar da intensidade do tudo. O amigo de George
ao beijá-lo e que ele fosse sexo, quando ele partiu, ela havia pagado cem dólares
impedido de se sentir den- não perguntou seu nome, pelo espetáculo, mas havia
tro dela. Era como se eles não pediu que ele voltasse. valido a pena e durou por
dois houvessem se tornado Ela lhe deu um leve beijo horas.
vorazmente famintos pelo nos lábios quase doloridos Pobre George. Por meses,
gosto da carne. E suas duas e o mandou embora. Por ele teve precauções com
bocas se fundiam uma na meses, a memória desta mulheres. Ele não conseguia
outra, buscando as línguas noite o assombrou e ele não acreditar em tal perfídia,
inquietas. conseguia repetir a experi- em tal encenação. Ele se
O sangue dela ago- ência com nenhuma outra tornou obcecado com a
ra fervia. A vagarosidade mulher. ideia de que todas as mu-
dele parecia ter causado Um dia, ele encontrou lheres que o convidavam
isto, enfim. Os olhos dela um amigo que havia aca- para seus apartamentos es-
brilhavam, sua boca não bado de ter recebido prodi- condiam algum espectador
conseguia largar o corpo gamente por alguns artigos detrás duma cortina.
dele. Então ele finalmente e que o convidou para um
a tomou, enquanto ela se drinque. Ele contou a Ge-
oferecia, abrindo sua vulva Conto extraído da obra “Del-
orge a espetacular história ta de Vênus”.
com os adoráveis dedos, duma cena que testemu-
como se não aguentasse nhara. Ele estava gastando
mais esperar. Mesmo então dinheiro abundantemente
eles suspenderam o prazer num bar quando um dis-
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Tradução
Paul Éluard
tradução: Marcia Szajnbok
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Teoria Literária
Erotismo,
para além do sexo
Henry Alfred Bugalho
henrybugalho@gmail.com
http://www.arterotismo.it/AgostineCaracci/car07.jpg
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objetivo é o prolongamen- versais, ou seja, no cerne Pornografia e erotismo,
to do estímulo, ao invés das interdições sociais, a ou a historicidade do
da satisfação dum clímax. primeira delas relaciona- erotismo
se ao sexo. Apesar de as
razões por detrás da proi- Um dos primeiros
Erotismo e tabu bição do incesto serem problemas que surge, ao
bastante pragmáticas, esti- se discutir o erotismo, é a
mular a exogamia (Claude eventual distinção entre
É fundamental compre-
Lévi-Strauss), o que permi- “erótico” e “pornográfico”.
endermos que erotismo
te um sistema de trocas
não existe sem tabus. Via de regra, define-
entre famílias e incentiva
Os tabus são interdi- uma maior harmonia se erótico como aquela
ções sociais de atos, pala- social, deste primeiro tabu representação sutil, ou
vras, objetos, ou assuntos sexual derivaria uma série que subentende o sexo,
considerados ofensivos de interdições: nudez, enquanto que o pornográ-
numa comunidade. falar sobre sexo, restrições fico seria uma reprodução
sexuais, repúdio aos ór- crua, ou até exagerada, do
O primeiro a trabalhar gãos sexuais, entre inúme- coito.
exaustivamente o tema ras outras.
foi Sigmund Freud (1856- Certamente que ne-
1939); segundo ele, as Em parte, o apelo do nhuma resposta definitiva
origens dos tabus são des- erotismo reside nesta pode ser dada sobre o
conhecidas e transcendem proibição, neste cons- assunto, pelo fato de que
o âmbito das religiões, trangimento em torno da o limite entre um e outro
são provenientes, possi- sexualidade, duma prática situa-se num ponto-cego,
velmente, de sociedades condenada ao ambiente num campo bastante dis-
pré-religiosas. privado e regida por nor- cutível.
mas de conduta aceitáveis. Na verdade, erotismo
O incesto é identificado
como um dos tabus uni- e pornografia dependem
de três fatores principais:
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Apesar de o erotismo ros resultados.
possuir várias formas de
manifestação, seja coti- Um texto erótico não
dianamente, enquanto fornece, pela própria
elemento das práticas natureza da leitura, seus
sexuais dos indivíduos, segredos de uma só vez.
ou seja de modos mais O leitor precisa explorá-lo
extraordinários, como linha após linha, palavra
dos êxtases místicos de por palavra. Esta delimi-
religiosos (associação feita tação permite o autor
por Bataille), o meio mais controlar a excitabilidade
corriqueiro ainda costuma do que diz, confere-lhe o
ser através da Arte. poder de ditar o ritmo, de
estabelecer como e quan-
O erotismo está pre- do deflagrará o estímulo,
sente no cinema, nas artes a cena erótica.
firmarmos, categorica-
a
plásticas, na fotografia, na
mente, onde começa e Alguns preferem uma
dança, na música, na tele-
acaba o “erótico”. Enquan- escrita direta, utilizando
visão e na literatura. Esta-
to autores como Marquês um jargão mais vulgar,
mos em constante contato
de Sade, D. H. Lawrence, outros optam pela suti-
com o erotismo, sendo as
Nabokov ou Henry Miller leza, por um léxico eufe-
artes visuais as principais
foram considerados por- místico. A qualidade não
detentoras deste filão.
nográficos por seus con- reside nestes pólos, mas
Cenas eróticas chocam,
temporâneos — por vezes sim como o autor se arti-
ao mesmo tempo em que
até sofrendo sanções, cula através deles.
atraem. Anúncios publi-
como aprisionamento ou
citários tendem a associar Mas talvez a grande
censura —, e em nossa
seus produtos à sexualida- importância do erotismo
época a literatura deles é
de; cenas eróticas na TV resida naquilo a que ele
erótica (mesmo que possa
aumentam a audiência; na se contrapõe: o erótico é
ser considerada pornográ-
salinha escura do cine- a contraparte da normati-
fica por alguns leitores),
ma, a cena erótica causa zação imposta a nós pelo
não temos garantia algu-
incômodo, todos seguram trabalho e pela rotina, é
ma de que aquilo por nós
a respiração, na tentativa uma de nossas válvulas
considerado pornográfico
de disfarçar a excitação. A escape.
hoje será classificado, no
imagem possui um poder
futuro, como erótico. O erotismo é um mo-
difícil de ser recriado em
outros formatos. A ima- mento de libertação; é
gem é instantânea, é atra- aquele instante no qual as
Arte e erotismo vés da visão que temos o amarras dos tabus, da mo-
conhecimento imediato do ralidade, do permitido, do
Nossa primeira concei- mundo. convencional se afrouxam.
tuação de erotismo esta- Uma vida de puro ero-
beleceu um vínculo entre No entanto, foi a Lite- tismo seria insustentável,
estesia e sexualidade. ratura que produziu os mas uma sem erotismo
melhores e mais duradou- algum seria insuportável.
As mulheres
na literatura erótica
Giselle Sato
97
Crônica
Auto-ajuda
Joaquim Bispo
98
98
3. Se a sua mulher vai fazer pastéis de massa tenra,
filhós ou outra receita que obrigue a amassar farinha,
ofereça-se para amassar. A lisura e a consistência da
massa transmitem ao seu tacto a ilusão de carnes
tenras de uma mulher, só que, com massa, você pode
dar livre curso às mãos sem medo de magoar. Des-
frute, mas não dê a entender que gosta mais de amas-
sar que de comer.
99
Crônica
Joaquim Bispo
http://libraridan.files.wordpress.com/2008/07/st-theresa-in-ecstasy-cornaro-chapel.jpg
www.revistaamizdat.com 101
Poesia
LABORATÓRIO POÉTICO
e erótico
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
Sedução
Entrega-se
Mostra-se vil
Frágil, febril,
Tão hábil quanto inutilmente
Entrega-se inteira
Paulatina, imprecisa
Insensível e intensamente
Minha cria
Carlos Alberto Barros
Beije-me os pés,
Os meus dedos lamba,
Vem, me deixe bamba.
E me faça ébria;
De teus lábios, serva;
De teu membro, ama.
Em meus seios, mama:
Minha cria és!
103
Poesia
Um punhado de versos
pretensamente eróticos
Caio Rudá de Oliveira
Lapso
a razão é débil:
subjaz aos instintos atiçados
dilui-se no sangue fervente
exala no aroma dos corpos
perece ao pré-gozo
e retorna...
quando o prazer são ecos
pelo quarto
http://www.flickr.com/photos/demetriusgonzalez/3202539606/sizes/o/
Utopia
No rosto, um semblante
de vitória
No peito, um sentimento
de satisfação
No passado, a virgindade
Transa
Maria de Fátima Santos
www.revistaamizdat.com 105
Poesia
http://www.flickr.com/photos/demetriusgonzalez/2531060383/sizes/o/
Vem
www.revistaamizdat.com 107
Poesia
Primeira vez
Maristela S. Deves
http://www.flickr.com/photos/demetriusgonzalez/2274930848/sizes/o/
Me fez sentir diferente
Ficaram meus lábios doloridos
E no corpo, um prazer dormente.
S A M I Z D AT
SOBRE OS AUT
ORES DA
SAMIZDAT
SOBRE OS AUTORES DA
SAMIZDAT
s
erto Barro esenhis-
Carlos Alb e n o r d estinos, d
, filh o d mado,
Paulistano i s t a p l ástico for
empre, a r t l como
ta desde s a v i d a profissiona
Começou s u eu ras-
escritor. t ã o , j á deixou s
, desde e n turais,
educador e a s e C entros Cul
G’s, Es c o l edagógi-
tro por ON s a r t í sticos e p
traba l h o fluência
através de q u e t ê m forte in
riênci a s ganiza
cos – expe A t u a lmente, or
SOBRE sobre seus
escri
t
t
r
o
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.
ã o p a ra criança
s, estuda
e escreve
OS AU oficinas de
ilus
m H i s t ó r i a da Arte
TORES
pós-gradua
ção e
internet.
SA-
cações na
DA
para pu b l i
il.com
ador@hotma
carloseduc pot.com
nome.blogs
http://des
www.revistaamizdat.com 109
109
Giselle Sato
Giselle Sato é autora de Meninas Malvadas, A pequena
bailarina e Contos de Terror Selecionados. Se autodefine
apenas como uma contadora de histórias carioca. Estudou
Belas Artes, Psicologia e foi comissária de bordo. Gosta
de retratar a realidade, dedicando-se a textos fortes que
chegam a chocar pelos detalhes, funcionando como um
eficiente panorama da sociedade em que vivemos.
gisellenatsusato@gmail.com
s
Joaquim Bispo Guilherme Rodrigue
Ex-técnico de televisão, Estudante de Letras na
ado
xadrezista e pintor amador, Universidade do Sagr
de
licenciado recente em His- Coração, em Bauru, on
sempre morou . Nutre
tória da Arte, experimenta guas,
agora o prazer da escrita, grande paixão por Lín
,
em Lisboa. Literatura e Lingüística
ca
áreas em que se dedi
cada vez mais .
o
Henry Alfred Bugalh
a pela UFPR, com
É formado em Filosofi ra e
pecialista em Literatu
ênfase em Estética. Es as
atro romances e de du
História. Autor de qu
.
coletâneas de contos
Nova York, com sua
Mora, atualmente, em
sua cachorrinha.
esposa Denise e Bia,
.com
henrybugalho@gmail
www.maosdevaca.com
r Deves
Maristela Scheue
pequena ci-
Gaúcha nascida na
eçou a sonhar
dade de Pirapó, com
logo aprendeu
em ser escritora tão
ipalmente, con-
a ler. Escreve, princ
suspense
110 SAMIZDAT fevereiro
tosdeno s gêneros mistério,
2009
110 ônica s.
e terror, além de cr
Caio Rudá
hoje
Bahiano do interior,
Es tuda Psico-
mora na capital.
Fe deral
logia na Universidade Pedro Faria
dia
da Bahia e espera um Estuda Matemática na Univer-
o. En-
entender o ser human sidade Estadual do Rio de Janeiro,
ac on tec e, vai músico amador e escritor quando
quanto isso não
co di fi-
escrevendo a vida, de dá na telha. Nascido e criado no
ist cia.
ên
cando o enigma da ex Rio.
do, prê-
Não tem livro publica
e sequer
mio, reconhecimento punksterbass@hotmail.com
a. Mas
duas décadas de vid http://civilizadoselvagem.blogspot.com/
tencial
como consolo, um po
.
asseverado pela mãe
v.camargo.junior@gmail.com
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/vcj
m
/ Zulmar Lopes
Zulmar Lopes é carioca. Forma
do em jorna-
lismo pela Universidade Gama
Filho, trabalha
como assessor de imprensa. Alm
a provinciana e
coração suburbano, encontra-s
e provisoriamen-
te exilado na cosmopolita Copac
abana, bairro
fonte de inspiração de personage
ns e situações
que compõem seus con www.revistaamizdat.com
tos. Escreve para fugir 111
do marasmo.
Também nesta edição,
textos de