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O desafio do relativismo cultural A moralidade varia em todas as sociedades, e é apenas um termo cémodo para os habitos que uma sociedade aprova, Rut Benepict, Padrdes de Cultura (1934) 2.1 Culturas diferentes tém cédigos morais diferentes Dario, um rei da antiga Pérsia, ficou intrigado com a diversidade de culturas que encontrou nas suas viagens. Tinha descoberto, por exemplo, que os calatinos (uma tri- bo de indianos) tinham o habito de comer os cadaveres dos pais. Os Gregos, é claro, nao faziam isso — cremavam os mortos e encaravam a pira funerdria como a forma natural e adequada de dispor dos mortos. Dario pensava que uma maneira sofisticada de entender 0 mundo tem de incluir uma avaliacao deste tipo de diferencas entre culturas. Um dia, para ensinar esta licdo, convocou alguns gregos que por acaso estavam na sua corte e perguntou-lhes quanto que- riam para comer os cad4veres dos seus pais, Eles ficaram ‘chocados, como Dério sabia que ficariam, e responderam que nenhuma quantia os poderia persuadir a fazer tal coisa. Dario cchamou ent3o alguns calatinos e, na presenga dos gregos, perguntow-thes quanto queriam para queimar os cadSveres dos seus pais. Os calatinos ficaram horrorizados e disseram a Disrio para nem sequer referir uma coisa to horriv Fsta histsria,relatada por Herédoto na sua Histéra,ilus tra um tema recorrente na bibliografia das eiéncias sociais: culturas diferentes tém codigos morals diferentes. © quo se pensa ser correcto mum grupe pode ser inteiramente odio- 50 para 05 membros de outro grupo e vice-versa. Devemos comer 0s carpos dos mortos ou queims-los? Se fassemos ‘gregos, uma das respostas pareceria obviamente correcta; mas se fGssemos calatinos a resposta contraria parecoria Igualmente certa, E facil dar outros exemplos do mesmo género, Penst-se nos esquimss (entre os quais 0 grupo mais vasto 0 inutte), Sao um povo remoto e inacessivel. Com uma populace de ‘apenas cerea de vinte ¢ cinco mil pessoas, vivem em povoa- dos espalhiados sobretudo ao longo da orla da América do Norte e de Gronelandia, Até a0 comeco do sécula xx, 0 mundo exterior poueo sabia» scu respeita. Os explorado- res comegaram entio a trazer consigo histdrias estranhas. (Os costumes esqiimés revelaratn-se muito diferentes dos nossos. Os homens tinham com frequéncia mais de uma ‘mulher, ¢ partilhayam-na com os convidados, conceden- do-as para passar a noite em sinal de hospitalidade, Além disso, no seio de uma comunidade um homem dominante podia exigir ¢ obter acesso sexual regular As esposas de outros homens, As mulheres, no entanto, podiam quebrar estes acordes abandonando pura e simplesmente os mari- dos € ligandorse « novos companheiras — podiam, isto & desde que os sous antigos maridos decidissem nao causa sarilhos. Tudo somado, a prétiea esquimé era um esquema volatil em quase nada semelhante Aquilo a que chamamos casamento. | Mas alo ram apenas os seus casamentos ¢ praticas que eram diferentes. Os esquimés pareciam igual ate ter menos respeito pela vida humana. O infanticidio, smplo, era comum, Knud Rasmussen, um dos mais de entre os primeiros exploradores, relatou 0 seu ry com uma mulher gue tinha dado a luz vintecrian- ‘maa tinha morto cez delas a nascenga. As bebdés do x9 feminino, descobriu Rasmussen, eram especialmente U(veis de ser anicuiladas,e isto era deixado simples social. Tambem as idosos, quando se tormavam jado fracos para ajudar a familia, exam deixados a0 /@ A neve para morrer. Parecia pois haver, nesta socie- e- muito pouco respeito pela vida Fara o piiblico om geral estas eram revelagoes pertur- joras. O nosso proprio modo de vida parece tao natural ‘que para muitos de nés ¢ difiel eonceber outras a viver de modo tao diverso. E quando ouvimres f de tas cosas, tendemos imediatamente a catogorizar como «retrogradas» ou «primitivas». Mas fa 03 antropélogos nada havia de particularmente sui endente nos esquimés. Desde o tempo de Herédoto que adores mais perspicazes se acostumaram & idela 4€ a8 concepgbes de certo e errado diferem de cultura ‘ealtura. Se partimos do principio de que as nossas 5 flicas serdo partilhadas por todos os povos em to- 08 tempos, estamos apenas a ser ingénuos Relativismo cultural Bets observagiio — «culturas diferentes 1m cddigos etais diferentes» — pareceu a muitos pensadores ser « [Pata comprocnder a moralidade. A ideia de verdade versal em étia, afirmam, 6 um mito. Tudo quanto exis- 0/05 costumes de sociedades diferentes, Nio se pode dizer que estes costumes esto «orrectoss on «incorrectoany pois isso implicaria ter um padrio indepondente de certo @ errado pelo qual poderfamos julgé-los. Mas tal padrag’ nfo existe; todos os padres sio determinados por uma cultura. O grande pioneiro da sociologia, William Graham Sumner, em 1906, colocou a questo assim: ‘A-maneira werta» & a mania que os antopassados utiliza: ‘vam onos fot transmitida. A tradieao é a ua propria garantia, Nao esta submetida & verficagio pela experiéneia, A nocd da ‘que ¢ certo eaté nos habitos do povo, Nae reside aléo deles, rndo provém de origem independente, para cs por & prova, ‘O que estiver nos habitos populares, seja © que for, sta certo, [sto 6 assim porque sdo tradicionais, e por io contém em 3} a autoridade dos ospttitos ancestrals. Quando abordamos 6 ‘nabitos populares a nossa analise chega ao fm. Esta linha de pensamento persuadiut provavelmente mais pessoas a serem cépticas sobre ética que qualquer outra coisa, © relativismo cultural, como tem sido chamado, esafis a nossa crenga habitual na objectividade univer: salidade da verdade moral, Afirma, com efeitu, que nao existe verdade universal em ética; existem apenas os véri0s cédigos morais e nada mais. Além disso, o nosso proprio e6digo moral ndo tem um estatuto especial: é apenas um entre muitos, Como veremos, esta ideia de base ¢ na réae lidade um conjunto de varios ponsamentos diferentes, importante separar os vérios elementos da teoria porque, durante a anilise, algumas partes revelam-se correctas er quanto outras parecem estar erradas. Para comecar, podé= ‘mos distinguir as sexuintes afizmagies, todas elas apresel= tadas por relativistas culturais: 1, Sociedades diferentes tem codigos morais diferentes} 2. 0 cddigo moral de uma sociedade determina o que Ecorrecto no seio dessa sociedade, isto 6, se 0 e6digo moral de uma sociodade afirma que carta acilo Tovrecta, onto essa acco é corrects, pelo menos nessa Sociedade 4, Nao hé qualquer padrao objectivo que se possa usar pera sjizar ium digo social come melhor do que butro: 4. O codigo moral da nossa pripria sociedad nao tom fetatuto especial, € apenas tum entre musts; 5. Nio hs uma «verdade universal» em dtica, isto 6, nao ha verdades morais acites por todos 0% povos fm todos os tempos, 6 fhmem arrogancia nossa tentar julgar a conduta de outros poves. Deverfamos adoptar uma atitide de tolerineia face 2s priticas de outras culturas ‘Apesar de poder parecer que estas seis proposigdes fa- zem natutalmente parte de um todo, sao independentes ‘umas das outras, na medida om que algumas podem ser falsas ainda que outras sejam verdadeiras. Nos pontos seguintes vamos tentar identificar 0 que esta correcto no relativismo cultural, mas vamos também denunciar 0 que est errado, 23 O argumento das diferencas culturais © relativisino cultural é uma teoria vobre a natureza da ‘moralidade. A primeira vista parece bestante plausivel. No entanio, como todas as teorias do género, pode ser avalia- di. mediante andlise racional; © quando analisamos 0 Telativismo cultural, descobrimos que nio ¢ tao plausivel

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